Capítulo 18- "Eu vou morrer"
Antes de iniciar o capítulo, eu gostaria de explicar o porquê não estou postando tão frequentemente como antes. Eu estou indo no meu tempo. Faz tanto tempo que não tenho férias de verdade, que nem sabia o que era respirar... Decidi escrever no meu tempo, para que não fosse nada forçado. Espero que compreendam ❤️
🔹✳️🔹
-Do que você está falando?- pergunto, me fazendo de desentendida. Talvez seja uma armadilha.
- Bíblia. B-Í-B-L-I-A - Filipe diz, me explicando como se eu fosse uma criança.
-Espera, você... -digo incrédula, sem nem saber como terminar a frase.
-Eu sou cristão Zoe. Achei que tivesse percebido a dica da Rosalita no dia em que ela chegou na sua casa- ele ri.
Agora tudo faz sentido. A Rosalita disse que havia ensinado tudo que Filipe sabia, não seria estranho se isso incluísse sua fé em Jesus.
Agora faz ainda mais sentido que ele nunca tenha se declarado para minha irmã, ou tenha tentado ter um relacionamento com ela. A Rosalita me explicou um pouco sobre a importância de professar a mesma fé da pessoa com a qual você se relaciona.
-Mas, como? Quer dizer.. Por que... Ai meu Deus- digo confusa.
-Zoe minha amiguinha. Seguinte... Eu sou cristão, a Rosalita também e agora você também, certo? O @70×7 enviou ela para a sua casa, porque você precisa de alguém para te guiar até o caminho. Eu quis ajudar também, te trazendo até aqui. Eu tento influenciar sua irmã há muito tempo, mas ela é dura na queda. - ele diz isso como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
- Por isso nunca se declarou para a Lays? - o pego de surpresa.
- Nunca me permiti isso, nem sentir na verdade, embora tenha um carinho e um cuidado muito grande com ela. Não seria certo. Continuei sendo amigo fiel, assim como na infância, mas tentando influenciá-la. Recebi ordens para ajudar sua família também, como podia. Sei que um dia ela será encontrada, mas até lá, imponho os meus limites.
Dou um sorriso. Achei muito respeitoso e honesto da parte dele.
-Mas, como sabia que eu queria uma bíblia? Eu falei isso alguns minutos antes de você entrar- questiono.
-Aí eu não sei, eu só cumpri ordens- ele diz calmamente.
Me aproximo dele.
-Você sabe quem ele é?- pergunto.
-Não... - ele diz. E parece estar sendo sincero- Nem a Rosalita. A gente só recebe ordens e queremos ajudar. Você parece ser importante.
-Importante? Por que?- pergunto.
Ele fica muito tenso, sem saber se pode ou não dizer algo. Mas no fim ele acaba cedendo.
-Parece que você tem alguma coisa que ninguém mais tem, e eu não estou falando de nada figurativo- ele diz rindo- é uma chave.
-Chave? Que chave?- arregalo os olhos.
-Bom, se nem você sabe, como vou saber?- ele ri.
Que chave? Do que ele está falando? E por que o @70x7 acha que está comigo?
Ai ai, as coisas só se complicam.
-Bom, e a Bíblia. Onde está?- pergunto.
-Tá na sua frente- ele diz com o tom de ironia.
-A bíblia está dentro da casa?- pergunto impaciente.
Ele revira os olhos.
-Não, sua boba, a Bíblia é a casa...
[...]
Filipe me faz ficar diante da porta fechada da casa. Por mais que ela seja muito antiga, parece que alguém limpa aqui, para tentar conservá-la.
Ele abre a porta e então eu vejo.
A casa está quase vazia, tirando alguns tapetes limpos no chão e algumas almofadas bem arrumadinhas. Parecem espaços onde as pessoas podem se sentar e se reunir.
O que me chama atenção não é isso, e sim a quantidade de coisas escritas nas paredes.
-Bem vinda a sala Gênesis- Ele diz, quebrando o silêncio.
-O que?- digo- Gênesis?
Ele ri, parece estar se divertindo com isso.
- No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
Gênesis 1:1-2... - ele lê- Gênesis é o primeiro livro da Bíblia, e a Bíblia vai se espalhando por toda a casa. Alguns cômodos tem mais livros escritos nas paredes, outros tem apenas um... Que é o caso desta sala.
Começo a varrer o lugar com o olhar. E percebo o quanto está ideia é genial, meio estranha, mas genial.
-Por que se chama Casa Cross?- pergunto.
-Sabe o William Cross? O presidente do nosso país antes da guerra? Essa casa era dele- ele diz- Durante a guerra, ele já havia perdido toda a família nas explosões. Por algum motivo, a casa dele foi uma das construções que não foram destruídas. Ele temeu a solidão, mas continuou crendo em Cristo... Alguns dizem que ele teve uma visão de como nosso país seria no futuro e outros dizem que ele apenas não quis enlouquecer, por isso escreveu a Bíblia toda nas paredes, no tempo em que ficou confinado aqui. Vendo o país sendo destruído.
-Ele copiou a Bíblia inteira?- me espanto.
Filipe balança a cabeça confirmando.
-Uau... Mas e depois? O que houve com ele?
-Ele passou um ano sozinho, sem ninguém. Os sobreviventes haviam fugido ou se escondido. Ele ficou aqui, até sua morte... Não sabemos do que ele morreu, tudo o que sabemos sobre a história, ele escreveu em diários que estavam no porão. Mas obviamente, ele não pôde escrever a causa da morte né?
Filipe consegue ser brincalhão até nessas horas. Eu bato nele e ele reclama.
Passeamos sobre a casa e ele me conta que os cristãos que existem em Ketsy vem sempre aqui em segredo, e cuidam do lugar. Algumas pessoas planejaram hologramas falsos para que ninguém indesejado (Mark) encontrasse.
Fico me perguntando se talvez eu encontre o 70×7 aqui de surpresa, quem sabe?
Chegamos até um quarto que tem uma placa na porta escrito "Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão"
Eu leio uma passagem que já tinha visto no diário da Jasmim:
"Confie no Senhor de todo o coração; não dependa de seu próprio entendimento. Busque a vontade dele em tudo que fizer, e ele lhe mostrará o caminho que deve seguir. Não se impressione com sua própria sabedoria; tema o Senhor e afaste-se do mal."
Provérbios 3:5-7
Eu fico fascinada com o lugar, tento ler, mas são tantas histórias que eu me perco. Quem é Sansão? E por que ele tem cabelo grande? O que Davi tem a ver? Jonas dentro de um grande peixe? Que?
Filipe percebe minha confusão e vai me empurrando para fora dos quartos rapidamente, até chegarmos ao porão. Onde fica apocalipse.
-Tem dragões nesse livro?- digo- e fizeram o favor de colocar o livro mais assustador no porão?
-Me pergunto a mesma coisa- ele ri.
Depois de um tempo andando e conhecendo o lugar, ele me explica que eu posso vir aqui sempre que eu quiser, contanto que eu seja discreta. Disse que é melhor eu não contar para ninguém, nem para os meus amigos, pois é muito perigoso.
Enquanto estamos saindo do porão, escutamos um barulho de carro lá fora e o barulho da porta da sala se abrindo.
-Quem será?- cochicho.
-Não sei, mas é melhor não arriscar encontrar alguém indesejado, ou então verem a filha do comandante aqui- ele diz bem baixinho.
Nos esgueiramos até o porão novamente e fechamos a porta. Não sabemos quem era, mas ele não parece ter ido muito além da sala Gênesis, pois logo ouvimos o barulho do carro indo embora.
Corremos até a sala, com os nossos corações acelerados. E quando chegamos lá encontramos uma caixinha no chão.
Eu vou tocar e Filipe dá um tapa na minha mão.
-Ai!!!- brigo- o que foi?!
-Você é doida? E se for uma bomba?- ele diz e eu refiro os olhos.
Começo a analisar a carinha e vejo do dos lados, tem desenhos de asas. Eu sei de quem é.
-É dele- digo sorrindo.
-Ele quem?
-70×7- respondo.
-Bom, deve ser para você- Filipe diz- talvez eu não deva ver.
Ele tem razão, o 70×7 sempre foi muito reservado com as coisas que mandava para mim. Guardo dentro da bolsa e saímos dali.
[...]
-
Não acredito que ele ou ela, estava tão perto... - digo no carro.
-Bom, acho que ele (ou ela) não iriam querer que descobríssemos.
-Pelo menos agora sabemos que ele(a) tem carro.
-Isso não quer dizer nada- ele ri- até você dirige, então até o Angel pode ser o 70×7.
-Está me comparando com o Angel?- digo rindo, incrédula.
-Estou- ele ri e eu bato nele. Ele reclama e continua dirigindo.
-Estamos indo até a Lays não é?- digo.
Ele apenas fica em silêncio, porém balança a cabeça.
[...]
Quando chegamos ao hospital, minha mãe vem até mim e me abraça. Ela me leva até o quarto em que a Lays está.
Eu não achei que fosse tão grave a ponto de ela ficar internada.
Eu entro e eles me deixam sozinha com ela. Me sento na cama e nós duas ficamos em silêncio.
Ninguém tem coragem de falar nada, eu tenho medo de perguntar qualquer coisa. Ela apenas começa a chorar depois de alguns minutos e eu fico sem reação.
Nunca vi ela assim, ela sempre foi tão forte.
Então ela me olha e simplesmente diz:
-Eu vou morrer...
-Morrer?- me assusto- Por que?
-Ninguém sabe exatamente... Eu só sei que meu coração está falhando.
-Falhando?
-Ele não está bombeando sangue suficiente para o resto do meu corpo, e isso está fazendo alguns dos meus órgãos falharem também.
-Mas eles podem fazer algo né? Remédios, cirurgia... Não é?
-Só um transplante de coração. Mas precisa ser compatível comigo, o que é complicado... Não tem muitos corações que sejam compatíveis comigo.
Meus olhos se enchem de lágrimas e eu a abraço.
-Mas vai ficar tudo bem- digo- vamos achar um...
Ela beija minha testa e diz:
-Mas se não acharmos, prometa que não vai deixar o papai comer as minhas uvas.
Em um momento tão ruim, ela ainda me faz rir.
Eu não sei bem o que está acontecendo. Como uma coisa tão boa e outra tão ruim podem acontecer juntas em tão pouco tempo?
Eu não sei. Mas vou falar com Deus sobre isso, talvez Ele me diga algo, ou talvez não...
Eu também não sei, só sei que passar esse momento sem Ele, seria ainda pior.
[...]
Quando eu cheguei em casa. Meu pai tinha saído, Angel estava dormindo no canto e Rosalita estava descansando no sofá. Eu nem me atrevi em acordá-la. Acho bom que ela se sinta em casa.
Subi para o meu quarto e chorei.
Apenas chorei ao me lembrar que perdi uma irmã e que provavelmente posso perder outra.
Mas quando eu chamei por Deus, mesmo sem sentir Ele. Eu pude perceber que fui me acalmando aos poucos.
Eu lembrei do presente na bolsa e abri a pequena caixinha. Dentro havia uma chave dourada.
Seria essa a chave?
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