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Capítulo 13- @70×7?

Ter amigos é tão bom... Não tenha medo de fazer amigos, mas saiba escolher bem.

🔹✴🔹


Eu encontro com o meu pai perto do Parque natural de Ketsy. Fico observando o rio Set até meu pai chegar. O rio Set faz a divisa entre duas cidades em Ketsy, uma delas é a cidade de Marah. Marah foi uma da partes em Ketsy que não conseguimos restaurar, pelo contrário, ela é cheia de substâncias tóxicas no subsolo e a entrada lá é proibida e totalmente perigosa. Por isso ninguém atravessa o rio Set, jamais.

-Filha, o que eu disse sobre se meter nisso?- meu pai diz bravo comigo.

-Pai, ela é minha amiga, o senhor sabia disso?- digo decepcionada.

-Eu soube ontem depois do baile, o presidente me explicou o que houve e eu cumpri as ordens.

Meus olhos lacrimejaram e eu fico decepcionada com o meu pai. Como ele apoiou uma ideia absurda dessas?

-Como você descobriu?- ele pergunta entrando no carro.

-Eu tenho meus talentos- digo, mentindo.

-Até parece, você não sabe nem fazer uma pesquisa na internet- Ele diz de maneira irônica, mas com razão - Sei que seus amigos te ajudaram. Zoe, fique longe de tudo isso.

O encaro.

-O senhor apoiou o Mark? Só pra ele ficar bem na fita?- pergunto.

-Vai entender que é mais complexo do que isso, filha- ele diz e suspira.

[...]

Seguimos a estrada até chegarmos a casa presidencial. É uma casa tão grande que daria um campo de futebol.

Eu nunca gostei de vir aqui, não só porque é grande e assustadora, mas porque o Gabriel mora aqui também.

Passamos pela segurança, que é bem rígida, e seguimos por uma grande rua que caminha pelos jardins da mansão.

-Avisei Mark que viríamos- meu pai diz- Filha, não diga nada... Deixe que eu cuido disso.

Confirmo com a cabeça, mas nós dois sabemos que eu não consigo ficar de boca fechada.

Meu pai estaciona o carro, e vamos até a entrada interior da casa. Quando chegamos lá, Mark, Mirian (esposa dele) e Gabriel estão nos esperando.

O sorriso de Mark é sempre igual, sempre parece que ele ganhou na loteria e a esposa dele também. Agora o Gabriel, ele tem cara de antipático desde sempre, não consegue disfarçar, pelo menos não comigo.

-Sejam bem vindos!- Mark diz, usando uma voz parecida com a de um apresentador de TV.

Dou um sorriso falso de volta. Ele cumprimenta meu pai, aperta minha mão e eu ganho um abraço da Mirian.

-Não consegue ficar longe de mim, não é burrinha Ross?- Gabriel fala baixinho e eu tento não lhe dar uma má resposta na frende do presidente.

-Meu coração bate de amor por você, eu nem consigo controlar- digo de maneira fria e sarcástica, ele apenas ri.

Enquanto caminhamos, observo Mirian ao lado de Mark. Ela parece ser uma mulher dócil e ela é muito elegante e possui uma classe indiscutível.

-Não esquece que você precisa voltar aqui, precisamos fazer o trabalho, minha mãe ficou animada com essa bobagem de história da família- Gabriel fala baixinho e eu reviro os olhos.

Mirian e Gabriel se despedem de nós quando chegamos a sala principal, e apenas eu, meu pai e Mark seguimos ao nosso destino.

Entramos em um elevador e descemos por bastante tempo, até chegarmos no andar do subsolo.

Mark coloca a digital dele em um escaner na lateral do elevador e a porta se abre para aquele andar.

O que é tão confidencial que precisa ficar tão escondido? Quando a porta se abre, vemos um carro parado em um grande túnel escuro.

-Entrem. - ele diz e o seguimos.

Mark liga o carro e os vidros escurecem, para que eu não veja o caminho por onde estamos passando. Como eu estou no banco de trás, ele aperta um botão e uma parede fina aparece dividindo os bancos da frente com os de trás. Então eu fico no completo escuro, por muito tempo, apenas esperando chegar.

[...]

Quando chegamos, meu pai abre a porta para mim e eu percebo que ele parece um pouco temeroso com o que eu estou prestes a ver.

O ambiente é pouco iluminado e as paredes são revestidas com puro aço. Vejo várias portas trancadas, protegidas por seguranças.

Quando viramos o corredor, nos deparamos com uma sala bem grande. Vejo vários computadores e pessoas vidradas nas telas.

Há uma representação holográfica de toda Ketsy. Em todos os momentos, eles digitam vários códigos e eu vejo algumas mensagens do @70×7, e quando eu vejo algo na tela principal que me chama atenção, Mark me pede para avançarmos.

Quando passamos pelo último corredor, é quando meu coração acelera. Vejo várias pessoas presas em prisões com paredes de vidro.

Muitas pessoas, muitas mesmo. Alguns batem nos vidros, mas não é possível nem ouvir sons ou vibrações. Eu vejo suas bocas se movimentando, pedindo socorro.

Eu fico tão assustada, que seguro a mão do meu pai. Ele olha para mim como se sentisse muito por eu estar vendo aquilo.

-Por que estão aqui?- pergunto baixinho, porém, Mark escuta.

-Porque aqui em Ketsy as pessoas precisam aprender a obedecer, se não, terei que fazer o possível para manter a ordem- Mark diz.

Meu sangue ferve, por perceber o quanto ele é frio e o quanto essas pessoas estão sofrendo.

Quando estamos quase chegando aonde ele quer, ele diz:

-Achei bom você vir aqui- Mark diz- Você parece uma jovem inteligente, talvez nos ajude.

Fico curiosa com o que ele está se referindo.

Então chegamos em uma sala muito protegida, com dois seguranças na porta. "Tico e Teco", eles são tão altos que parecem duas colunas de mármore bloqueando o caminho.

-Abram- Mark diz e os dois abrem a porta.

Quando entramos, meu coração se despedaça ao ver Júlia em uma cadeira, algemada.

[...]

Tento correr até ela, mas meu pai me segura e tem um vidro dividindo a sala, para nos "proteger".

Ela fica feliz ao me ver, seus olhos lacrimejam e demonstram muita dor. Não imagino o que tenham feito com ela.

Ela não está mais como antes, ela está pálida, abatida e com alguns hematomas. Que tentaram cobrir com o macacão preto.

-O que vocês fizeram com ela?- pergunto sem forças e com muita raiva.

-Só o necessário- Mark diz.

Olho para ele com rapidez, espero que ele não perceba o quanto estou com raiva.

-Por que ela está aqui?- pergunto. Meu pai não parece nada feliz por eu estar falando, ele pediu para que eu ficasse em silêncio e eu não obedeci- O que ela fez?

Júlia não fala nada, ela apenas me olha com tristeza.

-Temos provas que indicam que ela está ligada ao @70×7, ou até mesmo seja o @70×7- ele diz.

-Que provas?- pergunto.

-É muito raro nós captarmos qualquer sinal, mas captamos um sinal vindo do celular dela no dia da invasão no baile.- ele diz.

Eu olho para a Júlia, sua expressão é enigmática.

-Não podemos comprovar, porque alguém pode ter usado o celular dela para tentar incriminá-la, mas eu prefiro acreditar na segunda opção... Só quero que ela confesse- Mark diz ríspido- e você vai nos ajudar a arrancar isso dela.

[...]

Contra a vontade do meu pai, Mark me deixa sozinha na sala com a Júlia. Sei que tem câmeras aqui, então não posso falar nada prejudicial à ela.

-Júlia... -deixo lágrimas escaparem e me aproximo do vidro- O que eles fizeram com você?

-Não se preocupe com isso- ela diz tentando não chorar- Está tudo bem...

-Não, não está!- digo- Você é o @70×7?

Ela ri, mesmo com dor.

-Zoe, você é muito esperta... Acha mesmo que sou eu?

Eu sei que não é ela, algo me diz isso.

-Não...- digo- Mas...

Ela me interrompe e olha para os lados. Ouço um click da porta sendo trancada, e vejo as luzes vermelhas das câmeras apagarem.

-O que houve?- pergunto.

-@70×7- Ela diz- Quer que eu converse com você, mas sem que os outros vejam. Então bloqueou as portas e desligou as câmeras.

-Como você sabia?- pergunto.

-Recebi um bilhete de vidro ontem, sabia que você viria- ela diz.

-Você também recebe?

-Só quando necessário- ela fala- Mas acho que não existe ninguém com quem o @70×7 fala mais do que com você?

-Você sabia dos bilhetes?- digo e ela confirma com a cabeça- Sabe quem é? É um menino? Menina?

-Não posso contar Zoe, não agora- ela diz- você vai ter que descobrir sozinha...

-Eu sinto muito Júlia... -Digo chorando, não queria que ela estivesse assim. Eu nem posso ajudá-la.

-Não fique assim Zoe- ela sorri- eu só vim para cá por sua causa... Eu estou aqui para cuidar de você. E tem outras pessoas para isso também.

-O que? Quem?- pergunto curiosa.

-Preste bem atenção, o último bilhete que você mandou para ele no baile foi respondido, o @70×7 mandou alguém pra ajudar você.- ela sorri- Mas Zoe, não se esqueça, não se trata de saber quem ele é... Se trata de conhecer Jesus.

-Mas eu não sei como- digo- eu não tenho recursos, perdi o diário que eu tinha... E mais, só tem acontecido coisas ruins desde que eu comecei a me envolver com Deus...

-Zoe, Deus ouve quando você fala com ele- ela diz- Ele ouve cada pensamento seu e por mais que você não entenda, ele está usando tudo que está acontecendo agora para te levar até aonde ele quer...

-Eu não mereço. Eu não consigo fazer isso, e se eu não for suficiente para Ele?

Ela sorri e diz:

-Deus não te quer só pela sua capacidade, Ele usa as pessoas mais inusitadas e imperfeitas, para que quando as coisas grandes acontecerem, a gente entenda que o mérito é d'Ele e não da pessoa...- ela diz- Você quer aceitá-lo?

Penso bem na pergunta, mas penso nas circunstâncias e nos riscos...

-Não estou pronta... - digo cabisbaixa.

Ela sorri e diz:

-Tudo bem... Não quero que faça isso por pressão, na hora certa você vai entender- ela diz.

Então escuto batidas fortes na porta.

-O que está acontecendo aí?- eles falam e tentam abrir a porta.

Júlia me olha com lágrimas nos olhos e diz:

-Zoe, seja forte, tá? Vamos nos ver de novo em breve. Não confie em todo mundo...- ela diz- E por favor, tenha cuidado com...

Ela é interrompida pela porta sendo derrubada por seguranças. Assim que todos entram, Júlia começa a se desfazer como grãos no ar. Era só um holograma... Ela deve ter fugido antes de chegarmos aqui.

Todos nós observamos cada grão desaparecer, e eu senti grande alívio por saber que minha amiga ficaria bem.

E enquanto vemos isso, uma pergunta ecoa pela minha mente:

Tomar cuidado com quem?

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