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Capítulo 9 - Conhecendo Christian

Quero dedicar este capitulo à ap__marques. Obrigado por me ajudares...obrigado por seres quem és.

Pov Ana

Quando finalmente nos separamos por falta de ar, ficamos a olhar-nos pelo que me pareceu ter sido uma eternidade. Nunca me deixei levar assim com ninguém, nem com o José o meu primeiro e último namorado. Ele foi e é talvez o único amigo que tenho, conhecemo-nos desde pequenos e depois de tudo o que me aconteceu nunca me consegui entregar a 100% a ninguém. José sempre respeitou esse meu limite e o máximo que rolava entre nós era uns beijos mais quentes e umas caricias. Com Christian foi diferente, foi estonteante e sinceramente se ele quisesse ir mais além eu acho que teria ido, apesar de todos os meus medos e fantasmas.

- Desculpa Ana.- ele tenta afastar-se, mas eu não deixo e abraço-o, não sei porquê mas sinto que ele precisa disto.

- Eu ia almoçar, quer vir comigo? Quem saiba lhe faça bem desabafar...

- Tens a certeza, acho que não sou grande companhia neste momento.- ele diz olhando para mim com uma cara de cãozinho abandonado e não podia ficar ainda mais lindo...

- Tenho. E pode tirar essa cara de caozinho abandonado que estou vacinada contra isso...- e dou-lhe um meio sorriso de lado ao que ele corresponde com um sorriso lindo.

Fomos até um café aqui perto mesmo, conversámos muito mas nunca sobre o que se passou na reunião ou sobre o nosso beijo. Deixei para lá, ele estava de novo feliz, e foi isso a que me propus naquele elevador quando o abracei, fazê-lo esquecer do que se tinha passado. O telemóvel dele tocou várias vezes mas ele nunca atendeu, queria perguntar-lhe quem estava a ligar tão insistentemente, mas quem era eu para o fazer. Ao fim de um tempo, estava na hora de voltar para o trabalho, mas Christian ficou de novo com uma carinha tão triste que estava a ser difícil deixá-lo. Decidi fazer algo que esperava não me vir a arrepender.

- Queres ir dar um passeio? Há um lugar que gosto muito de ir quando estou assim triste.- disse-lhe olhando para ele que deu um sorriso bem leve, como se uma luzinha de esperança lhe aparecesse no fim do tunel escuro em que ele se encontrava.

- E o trabalho? Não quero colocar-te em problemas com o meu pai, já basta ele estar furioso comigo, e sei que assim que chegar a casa vou ouvir um bom de um sermão...- para um pouco parecendo estar a reflectir em alguma coisa...- Já viste eu um médico de 30 anos a levar um sermão do pai, patético certo?

- Ei! Não fiques assim. E em relação ao trabalho não te preocupes.- e com isso pego no telemóvel e ligo para o meu chefe...- Estou, Dr. Grey, peço desculpa, mas é que acabei de me sentir mal aqui no café...queria saber se poderia ir para casa?....Obrigado....Não, não se preocupe, eu pego um taxi. Obrigado mais uma vez.- e desligo o telemóvel.

- Tu acabaste de mentir para o meu pai?- eu encolho os ombros, às vezes temos que quebrar algumas regras...- E o pior é que o conseguiste enganar...nem a Mia o faz tão bem como tu.

- Acho que passar muito tempo a ouvir conversas lá no escritório como omitir, ou fugir à verdade sem mentir ajudou. Vamos, o lugar não é longe e prometo que vai gostar.

Embora Christian quisesse ir de carro, eu neguei-me. O dia estava lindo e andar um pouco fazia-nos bem. Quando lá chegámos já não tinha muita gente, normalmente à hora de almoço o espaço enchia-se de pessoas para almoçar: amigos, namorados, casais com ou sem filhos. Era o meu local secreto, aquele que vinha sempre para encontrar alguma da paz de espirito que perdi ao longo destes anos, e nunca tinha trazido alguém até aqui. Bem não desde que o meu pai se foi.

- Isto é lindo Ana. Não tinha ideia que havia um lugar assim tão...- ele ficou sem conseguir dizer nada, mas percebi que ele gostou daqui tanto ou mais que eu.

- Pacifico.- Ele olhou para mim e assentiu...- Eu amo este lugar, traz-me boas memórias. Vamos sentar-nos.- Vou até uma zona de relvado e sento-me à sombra de uma árvore encostando-me nela. Quando dou por mim, Christian está deitado com a cabeça sobre as minhas pernas.- Quer falar agora...- e de novo o telemóvel toca e vejo que é o Dr. Grey, ele desliga de novo...- Talvez fosse melhor pelo menos enviar uma mensagem, ele deve estar preocupado.

- Não. Eu sei o que ele vai dizer...- novas lágrimas caiem dos seus olhos, e a única coisa que coisa que posso fazer é abraçá-lo...- Fiz tudo errado Ana, sei que o meu pai deve estar furioso e com razão.

- O seu pai adora-o, não que ele fale comigo sobre isso. Mas já o ouvi falar de si com Ethan e até com os associados do escritório. Ele tem orgulho em si, do médico que é.

- Ana, eu coloquei o escritório em problemas...- olho para ele assustada, problemas como assim? Será que o meu emprego está em causa?

Ele começa a desabafar comigo sobre o seu casamento com a ainda esposa, aquela Cobra Cascavel. Como se conheceram, apaixonaram e casaram. Eles eram um casal feliz pelo que Christian me conta, nada fazia prever que um dia eles pudessem estar a um passo do divórcio. Depois conta-me o que ela fez: que engravidou, escondeu e se desfez do bebé como se não fosse nada. Para completar a cena macabra, ainda confessou que o bebé pode não ser de Christian, ela traiu-o. Traiu um homem lindo, amável e...não consigo parar de chorar.

Como é que uma mulher, uma mãe consegue fazer o que ela fez. Na verdade alguém que faz o que aquela Cobra Cascavel fez, não é nem mulher nem mãe. É um simplesmente um ser desprezível, nojento, que me dá asco. E aquele bebé, o que terá sido feito dele? Onde estará ele?

Nesta altura já estamos os dois sentados frente a frente, ele contando o que tinha combinado com Ethan, e como tudo correu mal, como desiludiu o pai e como vai desiludir a mãe se perder o hospital. Christian fez o que fez naquela reunião para recuperar aquela bebé, apesar de saber que pode não ter o seu sangue ele quer criá-la, e se eu já nutria um certo carinho por ele, neste momento eu verdadeiramente o idolatro.

- Christian, tudo o que fez foi por amor. Um amor muito maior que todo o dinheiro que possa ter. Tenho a certeza que os seus pais vão entender.

- Sim, fiz tudo por amor. Amor por alguém que pode nem ter o meu sangue Ana, mas eu não me arrependo. Eu quero aquela menina comigo, eu quero amá-la como minha filha mesmo que ela não tenha o meu sangue.

- Christian...- eu olho para ele, e toda aquela sensação que tive ao vê-lo no elevador volta mil vezes pior. Sei que talvez esteja a cometer o pior erro da minha vida, mas não dizem que os maiores erros por vezes são os melhores, então eu decidi que vou cometer este. Aproximo-me dele e beijo-o, um beijo que começa leve e suave e depressa se transforma em algo forte e cheio de paixão.

Sinto as mãos de Christian sobre o meu corpo, primeiro no meu pescoço, passando pela nuca, depois vai descendo pelos meus ombros, chegando ao fundo das minhas costas até colocar as mãos nas minhas nádegas. O meu corpo todo aquece, enquanto sinto Christian a apalpar-me: com uma mão o meu rabo e com a outra um dos meus peitos. De súbito a minha mente leva-me para uma outra realidade, uma que por muitos anos que passem eu não consigo esquecer, que apesar de fazer parte do meu passado, eu revivo constantemente no presente.

- Não...para. Por favor para...- afasto-me o quanto antes, sinto-me toda a tremer. Será que vou estar sempre a reviver o meu passado no meu presente. Porque é que tem que ser assim. Sinto-o a aproximar-se de mim e colocar a mão sobre as minhas costa, como que a querer confortar-me ou a pedir desculpas.

- Ana. Desculpe-me eu pensei que...- eu interrompo-o e afasto-me de novo, eu sei que se ele continuar a tocar em mim a qualquer momento a minha crise de pânico vai surgir.

- A culpa não é sua, eu sou...eu estou partida, por dentro. Ainda me dói aqui...- digo apontando o meu peito, mantendo-me longe de qualquer toque...- Talvez seja melhor ficarmos por aqui.

- Não podemos pelo menos ser amigos?- pergunto-me com aqueles olhos cinzentos que me encantam e enfeitiçam. Amigos? Será que posso, que consigo?

- Eu não sei se isso será uma boa ideia...- e desta vez é ele que me interrompe.

- Ana, eu não te vou forçar a nada que não queiras. Mas, por favor não te afastes de mim, eu preciso de te ter na minha vida...- levanto o sobrolho como assim "precisa de mim"...- Eu estou a passar por muita coisa: é o divórcio, a traição, a procura por uma bebé que pode ou não ser minha filha. E não sei como, nem porquê mas estar contigo faz-me sentir bem, traz-me uma paz que pensei que tinha perdido há anos.

- Eu não sou nada disso que tu disses, tu não fazes ideia o quão partida eu estou por dentro. E apesar de tudo ter acontecido há dez anos, é como se o vivesse todos os dias. É como reviver o passado no presente, percebes?- e abaixo o olhar, ele coloca as suas mãos na minha face, fazendo-me encara-lo olhos nos olhos...

- Eu não sei o que se passou contigo, e espero que um dia me aches merecedor de o saber e que me deixes ajudar-te. Contudo, se exite algo que sei é que TU me fazes bem.- e assim que acaba de me dizer tudo isto dá-me um beijo: leve, suave...ao separar-se Christian puxa o lábio inferior, o que me faz sentir de novo aquele calor bom. Como eu gostava, como eu queria conseguir derrubar todas estas minhas muralhas e entregar-me a isto que sinto.

Andamos um pouco mais pelo jardim, e de facto parece que estamos no paraíso, assim que saímos do mesmo Christian arranja-me um táxi, deixei o meu carro na Grey House e como disse que estava doente e que ia para casa não podia ir buscar o carro. Assim que entro no mesmo dou a minha morada e não consigo evitar em olhar para trás, Christian quer mais, quer-me a mim. O caminho até minha casa parece que leva uma eternidade, quando paramos pago a corrida e saio. Reparo que está um carro parado à porta que não conheço, deve ser do tal "amigo" da dona Carla.

Entro e ouço barulho na cozinha, devem estar a fazer o jantar, tento subir antes que alguém dê por mim não me sinto capaz de ver ninguém. Claro que isso seria impossível de acontecer. Assim que começo a subir as escadas, uma Paula eléctrica desce pelas mesmas quase levando-me com ela.

- Oi, Manana.- reviro-lhe os olhos, odeio quando ela me chama assim...- Já conheceste o "namorado" da mãe? Ai, Ana ele é lindo...

- Menos Paula, por favor. Já agora diz à mãe que já cheguei, vou só tomar um banho e tomar um remédio para a dor de cabeça.

- Estás doente...queres que chame a mãe?- e de repente está com a mão na minha testa para ver se tenho febre.

- Eu estou bem, é só uma enxaqueca bem forte. Vai lá dizer à mãe que já cheguei e que já vou ter com vocês à cozinha.

Continuo a subir e entro no meu quarto, o meu santuário. Fecho a porta, e corro para a minha cama onde finalmente consigo deitar toda a angustia, dor, frustração, raiva, ódio...como eu odeio aqueles dois seres, eles destruíram a minha vida, destruíram-me a mim por dentro e por fora. Choro, como se todo o oceano vivesse dentro de mim e estivesse neste momento a transportar para fora dos meus olhos.

Sinto um aconchego, um carinho, sei que é a minha mãe, consigo sentir o seu cheiro, o cheiro que sempre me acalmava no passado.

- Ana...já passou minha querida.- Ela continua a abraçar-me, e eu deixo-me levar neste afago, neste aconchego que ela me proporciona.

- Eu nunca vou conseguir ser feliz mãe. Eu nunca vou conseguir...o meu passado vai sempre estar misturado com o meu presente...

- Tu vais ser feliz minha querida, vais sim...só precisas de confiar.- ela olha para mim bem fundo nos meus olhos...- Ana, queres voltar a ver a Dra. Flyn, talvez te faça bem.

- Talvez.- levanto-me...- Eu vou tomar um banho, já desço.- depois de falar isto começo a pensar como é que ela soube que eu estava a precisar dela...- Mãe, como é que...

- A tua irmã. Ela chegou à cozinha e disse que tinhas chegado e que estavas num dia difícil. Sabes que para mim basta essas palavras para saber que não estás bem.

- A Paula é uma terrorista muitas vezes, mas eu amo aquela miúda.- digo dando um sorriso cheio de amor e ternura, porque a minha irmã pode ser tudo: rebelde, arisca, sapeca, um verdadeiro terror, mas eu amo aquela menina de paixão.



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