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Capítulo 8 - A Reunião

Pov Christian

Assim que entro na sala de Ethan, ele olha para mim como se estivesse à espera que lhe contasse alguma coisa, mas podia esperar sentado porque eu não lhe ia contar nada do que se passava comigo. Até porque para ser o mais sincero possível, nem eu conseguia perceber o que se passava. Aqueles olhos enfeitiçavam-me sim, atraiam-me com certeza, no entanto, era apenas isso uma atracção.

Quanto ao meu pai ficou fulo ao ver-me abraçado com ela, só não percebi o porquê. Era apenas um abraço, deu-me a desculpa de Ana ser a melhor assistente de sempre, e que fora a única com quem a minha mãe nunca tinha tido ciúmes. Porém, sinto que havia mais há mais qualquer coisa naquela extrema preocupação do meu pai, parecia até que estava a protege-la do bicho papão.

- O que foi aquilo com a Anastácia? Olha que o teu pai castra-te se sabe dessas trocas de olhares?

- Aquilo não foi nada, simplesmente estivemos a conversar esta manhã. Eu cheguei aqui cedo, não conseguia dormir, ela já cá estava e começámos a conversar até...

- Até? Podes continuar eu estou a adorar ver essa tua carinha de apaixonado. Mas tenho que te pedir por favor que não a magoes, a Ana é uma boa miúda.

- Eu não estou apaixonado Ethan, Ana é apenas uma amiga...ou acho que vai ser uma boa amiga. Gostava de saber essa vossa necessidade de a proteger?

- Isso vai ter que ser ela a contar-te, só te posso dizer que o Dr. Carrick Grey gosta dela como se ela fosse uma filha. Bom vamos tratar da reunião?- Eu assinto e Ethan continua...- Tens a certeza que é isto que queres? Sabes que é arriscado o que estamos a fazer?

- É a única forma de conseguirmos saber onde está a minha filha sem que a Amélia receba alguma coisa que seja minha.

- Amélia é esperta, ela vai perceber. Temos que pensar no que fazer caso ela não assine o papel da entrega total da guarda da bebé, para além de ter um Dr. Grey furioso...

- Caso isso aconteça...e só caso não consigamos que ela assine...dou-lhe o que ela quiser. Ethan, eu não lhe quero dar um centavo do que é meu, mas se isso for a única forma de ter a minha filha comigo...eu dou-lhe tudo o que tenho. E quanto ao meu pai eu resolvo-me com ele depois.

- Christian, estás a dar a tua fortuna por um bebé que nem sabes...- olho para o Ethan furioso, eu sei que aquela menina é minha, eu sinto. Mas mesmo que não fosse, ela merece uma família, merece um pai, uma mãe, avós, tios...e eu vou-lhe dar isso, vou ser pai e mãe se necessário.

- Nem te atrevas a acabar essa frase. Ela é minha...mesmo que não tenha o meu sangue a correr-lhe nas veias...ela é minha.

De repente começamos a ouvir vozes lá fora. Primeiro de Hannah, secretária do Ethan, depois a da Amélia com a sua voz estridente e de "Tia de Cascais". Como é que eu aguentei estar casado tantos anos com esta mulher, eu sinceramente não sei. Passado uns segundos ouvimos a voz doce e melodiosa de Ana, pedindo que Amélia se acalmasse e informando que a reunião seria na sala do meu pai. Olhei para Ethan que olhou para mim e naquele momento toda a pressão que senti quando me levantei hoje de manhã voltou, não sei se vou conseguir enfrentar isto. Sento-me, porque sinto que a qualquer momento vou cair, as pernas tremem-me e o meu coração está dolorido. Como é que nunca percebi quem ela era na verdade? Como pude ser apaixonado por ela?

- Sei o que estás a pensar. E não és só tu que te sentes assim, eu conheço a Amélia há mais tempo que tu, porra fui eu que vos apresentei. Eu não a reconheço, ela não era assim...

- Tu não tens culpa Ethan. Talvez ela até tenha razão no que me disse, eu tinha pouco tempo para ela, entre administrar o Hospital e ser médico...eu talvez não fosse o marido que ela queria ou precisasse.

- Nem penses nisso. Ela sempre soube que tu amavas a tua profissão e o facto de ficares mais atolado de trabalho, nunca significou que a amasses menos. E nada, mesmo nada, justifica o que ela fez com aquela bebé. Bom e agora vamos porque aquilo ali deve estar em chamas.

Assim saímos em direcção à sala do meu pai, mas quando chegámos Ana estava a sair de lá, e parecia nitidamente que deitava "fogo pelas ventas". Ethan pergunta-lhe se Amélia já tinha chegado, e ela responde algo que me fez ficar de boca aberta.

"- Se está a falar da Cobra Cascavel, vestida como se fosse para a cama dormir...sim já chegou e já entrou.- responde-lhe Ana, e eu contenho-me para não cair na gargalhada."

"- Cobra Cascavel?! Vestida com o quê?- pergunto tentando apenas dar um pequeno sorriso."

"- Sim, Cobra Cascavel e daquelas que morde só porque lhe apetece mesmo. Quanto ao resto, entre e veja com os seu olhos se aquilo ali não parece um pijama...com licença, preciso de trabalhar."

Olhamos um para o outro, enquanto uma Ana furiosa volta para a sua secretária. E chegou a hora de enfrentar os meus monstros, neste caso está mais para bruxa, mas enfim. Ethan é o primeiro a entrar, e eu vou atrás dele, tento com todas as forças ignorar o que Amélia está a falar, ou a gritar no caso, e vou para o meu lugar na mesa.

- Dr. Robinson , queira instruir a sua cliente que não se deve dirigir ao meu cliente por favor, a não ser que seja estritamente necessário.

- Como?- pergunta Amélia...- Ethan, estás a brincar comigo certo? Queira ou não Christian ainda é meu marido.

- Mas não por muito tempo, porque eu não suporto a ideia de pensar que ainda tens o meu nome.- digo-lhe com nojo, um nojo que nunca pensei que pudesse sentir por alguém.

- Pois meu querido, mas por enquanto ainda o tenho, apesar do teu pai o negar. Vamos acabar logo com isto, que acordo é esse que queres fazer comigo?

- Amélia, é comigo que vais falar e não...- percebo que Ethan tenta evitar que eu perca o pouco controlo que ainda tenho.

- Enganas-te Ethan, a conversa é entre mim e o Christian.- e virando-se de novo para mim...- Então qual é o acordo que queres fazer comigo Christian?

- Eu dou-te tudo o que quiseres, e quando digo tudo é tudo...- o meu pai olha para mim de olhos completamente abertos, ele não sabe do que planeei com Ethan.

- Christian. Tu não podes dar tudo o que é teu para esta...esta mulher...- olho para ele de forma que ele possa perceber apenas com um olhar que está tudo controlado, que sei o que vou fazer, ou pelo menos espero que sim.

- Como estava a dizer. Dou-te tudo o que quiseres, mas em troca tens que me dar a minha filha, quero a minha filha comigo e a guarda total dela. Só tens que assinar esse papel e tens tudo o que quiseres.

- Posso ler esse papel. Afinal sou o advogado da Sra. Grey, tenho o dever de a proteger de alguma artimanha vossa.- e despois desta frase vejo o meu pai saltar da cadeira...

- A minha empresa é uma das melhores da cidade, e não lhe admito acusações dessas...- o meu pai está furioso, o que ele não sabe é que aquele contrato tem na verdade uma peculariedade que não referi...- e os meu advogados são pessoas integras, não lhe admito essas acusações.

- Pai, por favor. Prometeste...- peço-lhe calmamente, se bem que sei que vai ficar furioso comigo e com Ethan.

- Aqui tem...- Olho para Ethan, sei que o advogado vai perceber que naquele acordo para além de Amélia me dar a guarda total da bebé, renuncia qualquer direito aos meus bens.

- Sra. Grey, não pode assinar isto.- Amélia olha para o advogado e olha para mim...- Se o fizer para além de estar aceitar conceder a guarda total  da criança, está a renunciar a todo e qualquer direito sobre os bens de Mr. Grey.

Olho para o Ethan e para o meu pai, vejo que o ultimo está com má cara. Coloquei a reputação dos escritórios em causa, mas foi a única forma que encontrei de a fazer assinar o acordo para que me desse total poder sobre a minha filha. Não a quero nem a 1km de distancia dela, se puder haver um oceano inteiro será pouco. Não me arrependo de o ter tentado, não deu certo e agora tenho que tomar uma decisão, que sei que também não vai agradar o meu pai.

- Eu não acredito que me ias enganar. Eu sabia que isto era bom demais para ser verdade...eu sabia. Christian tu não sabes do que sou capaz...

- Tu foste capaz de te desfazer de um bebé, sangue do teu sangue...do meu sangue.

- Oh! Mas a questão está aí, ela pode não ser do teu sangue Christian. Do meu eu tenho a certeza pois fui eu que carreguei aquela coisa dentro de mim durante oito meses...mas do teu sangue eu não te garanto.

- Amélia...tu...traíste-me...afinal o que Gia contou para a Mia é verdade...- já não consigo controlar-me mais, eu quero matar esta mulher, quero...sinto Ethan segurar-me.

- Sim, é verdade sim. Traí-te e não me arrependo. Tu nunca estavas em casa Christian, a tua vida era o hospital. Eu estava constantemente sozinha ou com a Nora.

- E decidiste trair-me em vez de falar comigo, em vez de juntos resolvermos as coisas.

- Eu tentei, eu tentei resolver as coisas Christian. Mas tu dizias sempre que ser médico era o teu sonho, a tua vocação. Mas largares a administração daquele hospital também nunca foi uma opção, não podias magoar os sentimentos da mamã.

- Para, eu já não quero saber. Eu só quero a minha filha, onde é que ela está?

- Achas mesmo que neste momento eu te vou dizer, depois de me tentares enganar...eu não sei se ela é tua filha ou não, mas podes ter a certeza que nunca a vais encontrar.

Estou perdido, o tiro saiu pela culatra e Amélia "está com o pão e o queijo na mão". Não tenho escolha não posso perder a minha filha, não posso...a minha mãe que me perdoe, mas entre o hospital e a minha filha eu tenho que escolher aquela criança mesmo que ela não seja minha. Olho para Amélia, que está com um sorriso de quem ganhou a guerra, olho para Ethan e para o meu pai...sei que vou desiludi-lo e magoa-lo ainda mais com esta decisão, porém é a única coisa que posso fazer.

- Que seja. Dou-te o que quiseres, mas antes de teres o que seja em teu nome eu quero a minha filha comigo e o papel da guarda total na minha mão. E pode ser o teu advogado a redigir o acordo.

- Christian, não podes fazer isso, não podes...- o meu pai olha para mim como se não acreditasse no que eu tinha acabado de dizer, interrompo-o porque não quero mais ficar aqui.

- Está decidido e não vou voltar atrás. Amélia quando o acordo estiver pronto liga-me. Com licença.

Vou a correr até aos elevadores, as portas estão a fechar mas ainda consigo entrar. Ouço o Dr. Carrick a chamar-me, mas não quero saber a minha decisão está tomada. E não podia nem conseguia ficar ali nem mais um minuto, sentia que ia enlouquecer a qualquer momento. Quando entro nem me apercebo que está ocupado, apenas carrego rapidamente no botão de fecho de portas, não quero responder a perguntas, não quero ter que me justificar com ninguém. Viro-me e vejo-a, as lágrimas já me caiem. Dizem que os homens não choram, pois eu choro e neste momento é a única coisa que consigo fazer, além de olhar para aquele azul imenso que está á minha frente.

Os nossos olhos conectam-se de novo, e acabo por me afastar. Não posso fazer isto, não posso...ou será que posso? Viro-me de novo e não me seguro mais, eu tenho que fazer isto, preciso de sentir aqueles lábios, de acalmar o meu coração. Coloco as minhas mãos no seu rosto e ataco os seus lábios. E que lábios, sabe a doce e a chocolate...podia viciar-me neste beijo.


E assim como magia, tudo o que se passou naquela sala foi esquecido e o meu coração parou...parou de sentir: dor, mágoa, culpa...tudo o que sentia era paixão e calma...uma calma que há muito não sentia. Ana ao início tentou resistir, contudo acabou por se entregar àquele beijo. Ali eu lhe entreguei o meu corpo e a minha alma, e soube que a partir dali eu sou dela, mas será que ela é minha?

"Tia de Cascais" - Cascais é uma cidade no distrito de Lisboa (capital de Portugal), e onde ficam as melhores praias dos lado Norte do Tejo. O uso desta expressão deve-se ao facto de anos atrás Cascais ser a cidade dos chamados "novos ricos" e considerarem-se eles próprios importantes por residirem naquela cidade. Assim sendo, tinham a tendência de se vestirem muito bem e ter uma voz esganiçada e para lá de irritante. Falando sempre com um ar de supreioridade com os demais.

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