Pov Paula

Depois de tudo o que aconteceu naquele dia, tem sido difícil viver, sim acho que apenas sobrevivo. Tenho pesadelos constantes com aquele dia, no que podia ter feito para evitar a morte dela, talvez não devesse ter usado o colar, talvez não devesse ter tentado largar do Bob. Talvez se tivesse feito alguma coisa de diferente, talvez ela ainda estivesse aqui connosco.

Claro que a Ana não sabe destes pesadelos, só o Dr. Flynn que me aconselhou a escrever sobre os mesmos, a escrever o que sentia quando os tinha, ou apenas a escrever o que me ia na mente nos momentos em que me sentia ir abaixo. E assim o tenho feito, muitas vezes são apenas desabafos...outras vezes poemas que vou escrevendo sobre o que sinto, porém percebi que realmente escrever faz-me bem, é como se através da escrita conseguisse livrar-me de todo o peso que carrego nos ombros.

Na ultima visita que fiz ao Flynn antes da viagem falei-lhe desta minha descoberta, de me sentir livre ao escrever. Claro que o senhor doutor complicado tinha logo que dizer que era óptimo e tal, mas que não era totalmente saudável, porque sim eu estava a livrar-me de muitos fantasmas, mas continuava a esconder tudo para mim. Olhei para ele, sem perceber o que ele me estava a dizer. Quer a dizer a ideia de eu escrever o que sentia tinha sido dele, e agora diz-me que não adiantava nada...que eu continuava a esconder, a carregar todo o peso em mim?

Ele explicou-me então: sim, era verdade que o escrever, o colocar para fora o que eu sentia, nem que fosse para uma folha de papel era óptimo, maravilhoso e um passo gigante, porém, se eu continuava a ser única a ler esses meus "desabafos" para quê então escrever? Era como se realmente nada mudasse...era apenas uma ilusão. Fiquei a pensar nisso que ele me disse no meu caminho para casa nesse dia, mas eu ainda não me sentia preparada para falar com ninguém tudo o que sentia cá dentro, bem cá no fundo.

A verdade é que eu vivia com uma máscara na cara: à frente de todos, principalmente da Ana e do Tay eu era a Paula de sempre, sorridente, palhaça, impulsiva, intrometida...mas por dentro, no mais profundo do meu ser eu estava quebrada, completamente despedaçada. Mas como é que eu podia dizer o que me ia no coração a alguém? Como é que eu podia dizer que talvez eles tivessem errados? Que talvez a culpa da sua morte tenha mesmo sido minha.

O convite de Christian para esta viagem foi algo que me surpreendeu, claro que eu ia amar conhecer a Europa, quer dizer qual é a adolescente que não ia amar fazer uma viagem destas. Mas ao mesmo tempo fiquei com alguns macaquinhos no sótão, e falei com o Tay sobre eles, ele era o pai que eu nunca tive, e como tantas vezes ouvi a minha mãe dizer "Deus escreve direito por linhas tortas" ou "Quando Deus fecha uma porta ele sempre abre uma janela", e ele foi essa minha janela.

Uns dia antes da viagem o Christian veio falar comigo, e pediu-me para fazer uma surpresa à Ana. Quando ele me contou o que ia fazer, eu concordei logo, e acho que Ana vai adorar. Fiquei de pensar numa forma linda de ele fazer essa surpresa e vou incluir a outra surpresa que ele tem para ela...espero que a Ana não enfarte, porque vai ser muita emoção.

Quando finalmente chegou o dia eu estava ansiosa, quer dizer ansiosa é pouco...eu estava mesmo tendo um ataque de felicidade misturado com ansiedade e um pouco de euforia. Mas quem estivesse no meu lugar também estaria: vou viajar para a Europa, tipo logo eu que nunca saí de Seattle, e para completar o pacote maravilhoso vou num jacto privado.

Lá dentro é magnifico, para começar é super elegante...e as cadeiras têm até um I-pad cada uma. Vou-me sentar numa que a assistente de bordo me indica e fico pasma o I-pad está com o meu nome. Ela dá-me uma papel e percebo que é a password para entrar no mesmo "PIRATINHA"...sério que o "Grey" não podia inventar outra...quando dou por mim Christian está ao meu lado dizendo que eu iria dormir ali mesmo no sofá que pelos vistos se transforma em cama. Finalmente descolamos, claro que eu já estou numa de ver filmes...

- Paulinha...ei...- a Ana retira-me os auscultadores...- Paulinha, podes ficar um pouco com a Malu? Ela está a ver a "Masha", não deve dar muito trabalho?

- Claro que fico, vou ver também. Não percebo porquê, mas aqueles desenhos são tão estúpidos mas fazem-me rir que nem uma perdida.

- Obrigada. Eu vou descansar um pouco com o Christian...

- Descansar...sei...depois quero detalhes desse teu descansar...

- Paulinha...nós já voltamos. Obrigada.

- Obrigada nada...quero a meu pagamento mais tarde...- digo-lhe isto já ela está a caminho do suposto quarto onde irá fazer tudo menos descansar com o Sr. Grey. Vou para ao pé da Malu e fico um tempo a ver os desenhos com ela que acaba por adormecer. Deito-a no berço que o avião tem lá instalado para ela (o Grey pensou em tudo...nossa) e volto para o meu filme.

Ao fim de umas horas Malu acorda, um pouco rezigona. Sei que devia chamar a Ana, mas com jeito consigo acalmar a fera e decido ver o filme da Cinderela com a Malu, se eu disser que ela falou o filme todo sobre a ida à Disney é apenas o início...ela não se calou um segundo. Bem verdade seja dita, até eu estou entusiasmada com essa visita.

No fim dos três filmes da Cinderela, sim até a Cinderela segue a moda da trilogia, começamos as duas a imitar os ratinhos e a cantar a musica que eles cantam no ultimo filme da trilogia. Estávamos tão entretidas, que nem percebemos quando Ana e Christian regressaram lá do seu ninho de amor. No fim da nossa "magnifica" actuação tivemos direito a um coro de palmas e de "Bravos" que fez a Malu ficar ainda mais feliz.

https://youtu.be/cwZnWpUYtWk

Jantámos os quatro e no final antes de nos irmos deitar, a princesa quis porque quis cantar mais uma musica comigo. Desta vez cantamos uma mais lenta, e ela acabou por adormecer ao colo da Ana. E assim passamos parte da viagem, se tudo corresse conforme esperado amanhã de manhã estaríamos bem perto de descobrir qual seria a primeira cidade europeia que visitaríamos.

Sou acordada por uma linda princesa a dar-me festinhas...ela sorri, enquanto Ana e Christian estão sentados a tomar o seu pequeno-almoço. Assim que me vê de olho aberto a minha pequena abraça-me.

- Tita...ja domiu muto...- diz ela sorrindo.

- É a "Tita" é uma preguiçosa princesa...- dia a Ana com um sorriso.

- Aqui a preguiçosa nunca fui eu...a ultima a levantar-se lá em casa eras tu. A mãe pedia-me sempre para te ir chamar...- percebo o que acabei de dizer...acabei de falar no passado..."pedia"...sim pedia, porque nunca mais vai pedir, nunca mais vou ouvir a sua voz...e as lágrimas simplesmente acabam por cair...sinto Ana a abraçar-me...

- Ei...paulinha, eu sei o que estás a sentir, eu sinto o mesmo. Pirata, olha para mim...- e nessa altura levanto o meu olhar para ela...- Ela não ia gostar de te ver assim...

- Eu sei...mas é dificil...eu...eu nem me despedi dela Ana. Eu estava...a dormir...nem...

- Paulinha, a mãe onde quer que esteja sabe que tu a amavas...ou melhor a amas. E eu sei que ela vai estar sempre connosco...aqui.- e aponta o meu coração.

- Tita...naum chola. Ó a Malu impesta...- e minha princesa dá-me a sua chucha e a sua fraldinha...e todos nós nos rimos...- Papá, mamã, Tita...naum é pa lil...

- Desculpa docinho da Tita.- e puxo-a para o meu colo...- A Tita agradece, mas eu nao preciso da tua chucha princesa. Sabes do que preciso?

- Naum...- diz ela a olhar para mim...

- Um abraço gigante e um beijinho igual àquele que me desta para eu acordar...

- Eu dou tita...mutos..mutos...- e abraça-me e dá-me mil e um beijos...depois de toda esta melguice fomos comer...quando de repente começámos a ter uma paisagem linda na janela...eram montanhas e mais montanhas...e no seu topo ainda se conseguiam ver alguma neve.

Comecei a pensar em países que tivessem montanha e neve...mas o único que me conseguia lembrar era a Suíça, claro era isso estávamos nos Alpes suíços, só podia ser isso. Christian não se descosia, e eu estava cada vez mais chateada com ele, Olívia apareceu para nos pedir que colocássemos o cinto e desta vez até Malu colocou o dela em vez de ir para o cola de Ana. Assim que aterrámos eu não podia acreditar onde estávamos...

Salzburg, na Áustria, eu simplesmente fiquei em choque, como é que o Christian sabia da minha paixão por este filme...eu simplesmente amo "Musica no Coração" e estar aqui onde tudo aconteceu...foi...é simplesmente algo que nunca pensei que fosse possivel. Atiro-me literalmente para o colo dele.

- Eu não acredito que estamos na cidade onde foi filmado "A Música no Coração"...eu...vamos ver tudo? Vamos aos jardins, e ao mosteiro, e à casa...e...

- Calma Paulinha. Sim vamos a esses sítios todos...mas vamos conhecer outras partes da cidade também. Aqui é a cidade berço de Mozart, por isso vamos também assistir a alguns concertos.

- Sério...não posso ficar no hotel. Eu fico com a Malu enquanto vocês vão a essa cena chata de concerto?

- Paula. Um concerto de música clássica é lindo e é cultura. Só te faz bem ouvir um pouco...e a Malu também vai, quero que ela conheça a boa música também e não apenas...

- Nem te atrevas a dizer mal da minha música...porque não tenho culpa que vocês "cotas" não apreciem a musica maravilhosa do séc. XXI

- Bom podemos deixar de discussões sobre quem ouve boa música. E prometo-te Paula o local onde vamos ouvir "essa cena chata", tu vais querer ir...

E assim saímos em direcção ao carro que já estava à nossa espera, Christian e Ana forma à frente e eu fui atrás com Malu. Ficamos a saber que o nosso hotel não seria no centro da cidade, pois Christian achou melhor um local mais calmo, onde pudessemos estar mais à vontade. No início fiquei um pouco chateada, porque eu queria estar perto de todos aqueles locais lindos que tinha visto no filme...mas quando vi o Hotel, acho que parei de respirar durante segundos...

Era simplesmente de cortar a respiração, só se via verde, montanhas e tinha um lago enorme, Ana tal como eu estava de queixo caído. Entrámos e fomos até à recepção, e foi aí que tudo ficou ainda mais estranho, vieram buscar a nossa bagagem e colocaram num carro tipo daqueles de golf, mas com a diferença que apenas tinha os dois lugares de frente, atrás tinha tipo uma cesta para colocar as malas.

- Vamos, eles levam as malas e nós vamos a pé aproveitando para conhecer um pouco dos espaços do hotel.

- Christian?- pergunta Ana, olhando para Christian com aqueles olhos dela bem abertos, eu tenho medo quando Ana me olha assim...- Para onde estão a levar as nossas malas? O hotel não é aqui neste edifício?

- Sim, a recepção do hotel e os quartos são aqui, porém nós não vamos ficar num quarto...

- Christian Grey. Agora chega, eu não arredo pé daqui enquanto não me disseres para onde levaram as nossas malas.- Ana está furiosa, acho que o Christian esgotou com a paciência dela...

- Tu não me deixaste acabar Rainha...nós não vamos ficar num quarto de hotel, vamos ficar num Chalett...este hotel tem alguns espalhados pelo terreno e eu aluguei um. Achei que seria melhor para termos controle nestas meninas aqui...- diz olhando para mim e para Ana, que literalmente se atira para o colo do meu digníssimo cunhado...só não se esparralharam no chão porque ele conseguiu equilibrar-se...

- Eu amo-te...muito...- e começam num mel que só visto, e eu aqui de vela. Sério se foi para assistir a isto mais valia não ter vindo...graças a Deus temos um Grey mais ciumento ainda...

- Papá...pala...a mamã é mia...laga ela...- e a nossa princesa ciumenta agarra-se a Ana assim que esta sai do colo de Christian...

- Não dás a mamã um pouquinho ao papá? - pergunta Christian a uma Malu que não despega de Ana.

- Naum...- e agarra-se ainda mais...

- Já foste Christian...esquece. Só ainda não sei quem é que tu perdeste: se a filha pela mãe, se a mãe pela filha?- E assim a rir, com Malu ás cavalitas de Ana, continuamos o nosso caminho para o tal Challet.