Capítulo 19 - A Dor Retorna
Pov Carla
O dia hoje estava difícil, primeiro a Dra. Grey liga-nos pra avisar que hoje não iria na clinica. o que significava mais trabalho para os outros médicos, e para nós enfermeiras pois teríamos que ligar aos pacientes que não dava para encaixar e remarcar as consultas. E se tinha aqueles pais que compreendiam bem que médico também tinha a sua vida e seus problemas, havia aqueles que só mesmo tendo uma paciência de santo.
Para melhorar o meu dia recebi um telefonema da escola da Paula, para ir até lá. Claro que na altura me assustei, até porque eles não quiserem dizer-me nada por telefone, e com todo o nosso historial eu fico sempre angustiada. Deixei tudo nas mãos da Dra. Greene e da enfermeira Luh, minha colega de trabalho e melhor amiga e fui a correr para a escola da minha filha.
Assim que lá cheguei fui recebida pela directora de turma da Paula, e percebi pela cara que ela me fez que algo de grave se passava. Fui encaminhada para a enfermaria e não foi preciso nem entrar para ouvir os gritos da Paula. Algo se passou com a minha menina, entro naquela sala e o que vejo lembra-me da Ana nesta idade, mas Paula ela nunca teve estes ataques, sempre a protegemos daqueles dois monstros.
- A Ana...eu quero a Ana. Eu quero...a minha...irmã...- Ela está deitada na maca com a enfermeira da escola e uma das auxiliares tentando que ela se acalmasse.
- Paulinha...por favor, tu tens que te acalmar. Nós já chamámos a tua mãe, mas tens que te acalmar.
- Eu...quero...a...minha...irmã. Eu...quero...a...Ana...- a Paula já soluçava, quase que nem respirava...- Eu...quero...a...minha...irmã.
- Paula, filha.- aproximo-me dela e assim que me vê Paula levanta-se e atira-se literalmente para cima de mim.
- Mãe...mãe...a Ana...onde...ela...está...eu...quero...a...Ana.- a única coisa que eu podia fazer era abraça-la.
- Shiuuu!!! Paula, a mãe está aqui. Tem calma meu amor, olha para mim...conta à mãe o que se passou, porque é que estás assim.
- Mãe...eu senti, eu senti aqui...- e aponta para o coração...- Eu senti...a Ana...ela não esta bem...Eu quero a Ana...
- Paulinha, a Ana está bem. Ela deve estar a trabalhar...
- Mãe...eu senti. Eu não estou doida mãe, liga a Ana, por favor....
Por muito que eu achasse toda esta preocupação de Paula fora do normal, e completamente desnecessária decidi fazer o que ela me pedia, se ouvir a voz da irmã a acalmasse então era isso que eu iria fazer. Peguei na minha mala, que tinha mandado de qualquer forma para cima de uma mesa que estava na enfermaria, e peguei no telemóvel. E foi aí que vi tinha inúmeras chamadas não atendidas do escritório do Dr. Grey. Tentei num instante arranjar uma forma de ligar para lá mas sem ser à frente de Paula.
- Deixei o telemóvel no carro...Paulinha vou num instante buscar. A mãe já vem, ficas aqui com a enfermeira...- percebo que ela não me quer deixar ir...- A mãe já volta, prometo.
Dou-lhe um beijo, e saio da enfermaria com a directora de turma da minha filha atrás de mim. Quando ela percebe que afinal eu tenho o telemóvel comigo, fica algo surpresa. Eu ignoro o seu olhar e ligo para o numero que tanto me ligou.
- Escritórios de Advocacia Grey, Bom Dia.
- Bom Dia, eu queria falar com a minha filha por favor. Anastácia Steele.
- Senhora Steele, aguarde um minuto vou transferir a chamada.- a voz da rapariga estava estranha, e se antes eu não estava assustada até agora neste momento estou apavorada.
- Senhora Steele, fala a Hannah secretária do Dr. Ethan. A Dra. Grey pediu que lhe ligasse...
- Hannah, pode por favor dizer o que se passa. Eu liguei para falar com a minha filha e quem me atende és tu...o que se passa?
- Bem...o que se passa em concreto eu não sei. O que sei é que Ana está bastante nervosa, ela não reage, chama por si, diz que tem que ir buscar a Paula e...- ela para um pouco e depois continua...- bem ela diz que alguém voltou...
Pelo que Hannah me descreve, sei que Ana está a ter um ataque de pânico. Mas há anos que ela não tinha um destes que me descreve, "...alguém voltou..." Será que é verdade? Ou será que é apenas mais um delírio de Ana? Não, ele não pode ter voltado...não pode.
- Hannah, daqui a 20 minutos estou aí. Por favor não a deixem sozinha, mas não lhe toquem, ela não suporta o toque de ninguém quando está assim.
- Quem está com ela neste momento é o Dr. Christian. Ele conseguiu acalma-la, ma eu vou dar-lhe as indicações.
Desligo a chamada e fico a olhar para o telemóvel, Christian com Ana? Acalmando Ana?...Nem eu muitas vezes conseguia acalmar estas crises. Continuo a olhar para o telemóvel, eu não posso levar Paula até à Ana, eu não sei com ela está...mas para onde eu levo a Paula, e se a conheço bem ela vai perceber que algo se passa. É aí que me lembro, Tay. Com o telemóvel na minha mão marco o numero dele, e espero que ele me atenda.
- Carla, amor estou no meio de uma reunião...passa-se alguma coisa?
- Tay, eu preciso de ti...- e neste momento eu não me consigo aguentar mais, deixo vir tudo o que estava preso dentro de mim: angustia, ansiedade, preocupação...e medo. Um medo incontrolável que o delírio de Ana fosse verdade...fosse real.
- Carla. Carla estás a ouvir-me? Onde estás? O que é que se passa?- Eu sei que ele está a ficar preocupado, mas eu não consigo dizer nada, é como se tudo estivesse a regressar. Se realmente "ele" estivesse de volta, o que será que isso representaria para nós três? Sinto alguém a retirar-me o telemóvel, mas nem para protestar eu tenho força...- Carla...Carla...
- Aqui é a professora da aluna Paula Steele. Eu estou a falar com quem?...Eu não sei o que se passa mas talvez seja melhor vir até cá...
- Não...- grito...e pego de novo no telemóvel...- Tay, eu explico-te assim que estivermos juntos, mas eu preciso que vás ter comigo até aos escritórios da Grey House.
- Da Grey House? Carla, por favor podes dizer-me o que se está a passar?
- Jason Taylor, por favor sem mais perguntas e vai ter comigo lá. Eu vou só buscar a Paula e vou já para lá. Eu prometo que assim que estivermos juntos eu explico...- desligo a chamada e vou até à enfermaria, não sei o que vou dizer à Paula, só sei que vou ter que ir para a Grey House e vou ter que a levar comigo. Assim que entro, vejo Paula deitada, parece que finalmente adormeceu.
- Conseguimos que ela tomasse um calmante, mas não se preocupe é bem fraco...acho que adormeceu mesmo pelo cansaço de todo o stress pelo qual passou.- diz a enfermeira
Bem e de certa forma talvez seja melhor ela estar a dormir. Peço apenas que alguém me ajude a levá-la para o carro e assim que ela está no carro, parto rumo ao escritório do Dr. Carrick Grey. Quando chego posso ver Tay à minha espera, saio do carro e logo ele vem ter comigo.
- Carla, o que é que se está a passar? O que aconteceu com a Paula, não é muito normal ela estar a dormir a esta hora?
Jason podia estar na vida das minhas filhas há pouco tempo mas já as amava como um pai. Como o pai que Ana teve e perdeu cedo demais, e o pai que Paula nunca teve. Abraço-me a ele e é ali que reencontro a paz, a sensação de segurança que perdi há 20 minutos atrás depois de saber do que aconteceu com Ana, e principalmente com a possibilidade de "ele" ter voltado.
- Eu preciso de ir ver como está a Ana, ela teve...um episódio...um ataque de pânico. Podes ficar com a Paula, por favor?
- Mas o que aconteceu com ela? Não é normal ela...
- Tay, por favor. Não me faças mais perguntas, eu preciso primeiro de ver o que aconteceu com a Ana. Ela não tinha um ataque destes há muitos anos, e alguma coisa a fez...e eu espero que não seja o que eu estou a pensar.
- Achas que pode ser "ele"? Achas que depois de tantos anos...- pergunta-me Tay com um olhar de preocupação mas também de raiva.
- Eu não sei, mas eu preciso de ir. Mas não posso levar a Paula, teríamos que explicar muita coisa e neste momento o principal é perceber o que se passou com a Ana.
- Tudo bem, vai eu vou tentar distrair a Paula caso ela acorde...- e quendo já estava para ir embora ele segura no meu pulso...- Ninguém vos vai magoar de novo, eu prometo.- sinto os seus lábios juntarem-se aos meus num beijo leve e apaixonado...- Eu amo-te.
E depois daquela declaração que sei que é verdadeira, e sei no mais intimo do meu ser que Jason Taylor nos vai proteger de tudo e de todos, e eu não podia estar mais feliz por finalmente depois de tanto tempo, depois de Ray, eu ter reencontrado o amor. Se bem que como diz o povo tem que haver sempre um "mas" em tudo...e o nosso é Bob e Leila. Assim que sou autorizada a subir, encaminho-me para o elevador até ao andar dos escritórios de advocacia onde Ana trabalha.
- Bom Dia, eu sou a mãe de Anastácia Steele. Eu...
- Sim, claro. Venha por aqui...ela está na sala do Dr. Ethan.- a rapariga da recepção encaminha-me até à sala do tal Dr. Ethan.- Hannah, está aqui a Senhora Steele.
- Mia! O que estás a fazer aqui? Eu...
- Olá Carla, eu vim com a minha mãe. Foi ela que a trouxe para aqui...não sabia que era tua filha. Ela adormeceu, depois de ter conversado com o Christian.
- Como? A Ana nunca deixou...ela...- vou até à minha menina e passo-lhe as mãos pelo cabelo, como eu gostava de lhe tirar todo este sofrimento, toda esta dor, todos estes monstros de dentro dela.
- Carla, vejo que já chegaste. Aconteceu alguma coisa à Paulinha, eu soube que tinhas ido busca-la.
- Ela está bem, quer dizer fisicamente. Eu não sei como, mas ela pressentiu que algo se passava com a Ana. Deixei-a no carro a dormir com o meu...namorado.- digo algo encabulada, afinal ter a idade que tenho e ter namorado é...estranho.
- Mia, vai ter com o teu pai ao escritório, tens lá duas princesas que estão curiosas por conhecer a Tia.- Mia sai e Grace vira-se para mim. Eu e Grace construímos uma amizade ao longo dos anos, foi ela que me ajudou a fugir daquela situação que eu vivia com Bob. Ela e Carrick ajudaram-me quando todos me viraram as costas.- Acho que chegou a hora de contar à Paula o que aconteceu no passado...ela tem o direito de saber e...
- Não. Eu nunca lhe vou dizer...ela nunca vai ficar a saber que...não...- e de repente Christian que até agora estava apenas a ouvir a minha conversa com a mãe interrompe.
- Eu sei que algo de grave se passou, e pelos vistos a minha mãe e até o meu pai estão ao corrente de tudo. Aliás agora percebo o porquê da super-protecção que o Dr. Carrick tem pela Ana. Mas se tudo isto envolve aquele casal eu preciso de saber...não só pela Ana, mas pelas duas meninas, sendo uma delas minha filha, e que com toda a certeza foram maltratadas por esse...
- Christian. Eu sei que estás nervoso e...
- Nervoso é pouco...estou furioso, estou com um ódio enorme...de mim, de Amélia, do mundo. Eu não consegui proteger a minha filha, e não a consegui proteger a ela.- diz Christian olhando para minha menina.
- Que casal? De quem é que estão a falar? Grace, era "ele" tu viste-o...- agora sim estou a começar a ficar com medo.
- Não, a minha mãe estava aqui neste mesmo escritório. Eu não sabia quem eram até Ana desabafar algumas coisas, e falar o nome deles: Bob e Leila.
E eis que o meu maior pesadelo voltou, depois de anos sem saber daqueles dois. Foram 8 anos em que vivemos felizes mas sempre com medo que o passado retornasse e virasse o nosso presente de novo. E agora ele estava aqui de novo...choro, as lágrimas caiem-me sem que eu consiga contê-las.
- Carla...ele não vai voltar a tocar em vocês. Vamos falar com o Carrick, ele vai fazer alguma coisa eu sei que sim.
- Tu sabes o que vai acontecer...eu não posso continuar aqui. Nós temos que sair de Seattle ainda hoje.
- Não...- ouço alguém gritar e quando olho para onde vem o grito percebo que Ana acordou, e em vez de vir ter comigo para minha surpresa, ela abraça-se a Christian.- Christian...
- Shiuuu! Está tudo bem...- se me contassem eu não iria acreditar, Ana está abraçada a Christian depois de tudo o que se passou no nosso passado, ela que nunca mais conseguiu suportar o toque de ninguém...- Eu estou aqui, eu não vou a lado nenhum.
- Eu não quero sair daqui, eu não quero ficar longe de ti Christian. Não quero...
- Ana. Filha ele já sabe onde estamos, ele pode...eu nem sei o que ele pode fazer. Temos a Paula, nós temos que a proteger.
E neste momento entra no escritório uma morenita parecendo um furacão e lança-se para cima de Ana. Esta mal tem tempo de largar Christian e abraçar a irmã que se agarra a ela como carrapato. Nunca vi a Paulinha assim, tão aflita...
- Ana, você está bem. Me diz que está bem...eu senti aqui...- diz Paulinha indicando o seu coração...- que não estava bem...Aninha fala comigo?
- Shiuu. Eu estou bem...eu estou...foi só um mal estar só isso...
- Não, não foi...eu sei que não foi. A mãe está a chorar também, o Tay não me queria deixar vir até aqui. Eu sou adolescente mas não sou burra, parem de me tratar como se fosse uma bebé.
- Tudo bem...- olho para Ana, ela não pode contar, não pode...- Mas não aqui, que tal se formos para casa? Lá eu e a mãe contamos-te todo o que tens que saber.- ela olha para Christian, abraça-o...- Ligo-te depois...
- Eu quera ir contigo, mas preciso de ir até ao hospital com a minha mãe, preciso de ter a certeza que...- vejo Ana a dar-lhe um beijo no canto da boca e estou espantada...
- Vai tratar da tua filha, ela deve estar em primeiro lugar neste momento...mais tarde falamos.
Eles despedem-se e seguimos para o meu carro, enquanto Tay pega no carro dele e nos segue. Ana e Paula vão abraçadas o tempo todo, a minha pequenina não larga a irmã de jeito nenhum. E eu vou a pensar, a pensar em tudo o que se vai passar naquela casa, não posso acreditar que a Ana vai contar tudo à Paula, depois de tantos anos escondendo que aquele monstro nos fez, de esconder a verdadeira origem de Paula. Não eu não posso deixar, ela não pode fazer isso connosco...a verdade vai destruir a Paula.
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