Capítulo 15 - Passado
Pov Ana
O dia amanheceu lindo, e hoje ao fim de tantos consegui ter uma noite sem pesadelos. Não sei se por finalmente ver a minha mãe e a minha irmã felizes, se porque talvez esteja a ver que também eu possa ser feliz um dia. Ontem no final da nossa noite de jogos, e birras de Paula por ter perdido, decidimos que hoje faríamos um piquenique. Desde que o meu pai morreu que o deixámos de fazer a dor de não o ver ali era grande, quer para mim, quer para a minha mãe.
Mas a vida prega-nos partidas às vezes más e outras vezes boas. E a chegada de Jason Taylor tinha sido uma lufada de ar fresco nas nossas vidas, a minha mãe estava feliz como há muito tempo não a via. E minha piratinha nem se fala, finalmente ela tinha o pai com quem sempre sonhou, não desgrudou do Jason um minuto sequer durante a noite, e hoje quando me foi acordar foi a primeira coisa de que falou, e estava com as pilhas todas.
- Ana, acorda.- e continua a chamar-me para ver se acordo...- Ana, temos que ir, o Tay já chegou...- diz ela enquanto me abana para eu acordar.
- Paula, para...eu já acordei. Mas que irmã chata eu fui arranjar...- digo-lhe sentando-me na cama fingindo estar emburrada.
- É, sou chata então pede outra para a mãe. Porque eu já pedi, mas desta vez quero um irmão, aí ele vai-me defender de ti.
- Defender de mim? Porquê? Ah! Paulinha eu adoro-te, não sejas assim comigo...minha maninha linda...e muito dramática.- e atiro-me para cima dela começando a fazer-lhe cócegas, ela contorce-se e passado algum tempo abraço-a e lhe dou um beijo na sua bochecha fofa que sou capaz de apertar até ficar vermelha.
- Ok, Ok. Deixa lá de me dar graxa, e vê se te despachas. Eu quero ir para o nosso piquenique em família.
- Sim Senhora Dona Paula. É para já...- e corro para me ir arranjar, já a minha piratinha sai a correr do quarto a gritar que já tinha cumprido a sua missão.
Depois de todos termos tomado um bom pequeno-almoço e ter tudo o que precisávamos para o nosso tão esperado piquenique em família saímos de casa rumo ao meu jardim preferido. Era ali que eu, a minha mãe e o meu pai fazíamos os nossos passeios de domingo. Era um lugar mágico, mas sobretudo um lugar cheio de memórias. Depois da morte do meu pai nunca mais fizemos estes passeios, não sei se pela tristeza se pelo facto de sentirmos que a família não estava completa. Mas com Jason, ou Tay como Paula já o tratava, era como se finalmente o puzzle estivesse completo de novo.
Quando chegámos a minha mãe fez questão de ir para o mesmo lugar que sempre íamos, e guiou-nos até lá como se nunca tivesse deixado de ir àquele local. quando estávamos quase a chegar, vi alguém sentado a olhar para o nada...eu reconhecia-o mesmo se estivesse de noite, era Christian. O primeiro homem que depois de tantos anos me conseguiu tocar sem que eu tivesse qualquer ataque de pânico. Peço licença aos três que me acompanham, explicando quem é, e vou ter com ele.
- Uma moeda pelo teu pensamento.- acho que o assustei, ele vira-se...
- Só uma moeda, pensei em outro tipo de prémio.- Diz dando aquele sorriso lindo que eu adoro.
- E que tipo de prémio estavas à espera?- Pergunta-lhe mantendo-me em pé, ele levanto-se e percebo que repara na minha mãe, em Jason e em Paula.
- Talvez...um abraço?- Pergunto com algum receio.
- Hum!! Tudo bem, posso substituir a moeda por um abraço.- E chegando-me mais perto abraça-o.- Como estás? Quer dizer aquela situação toda: divórcio, a tua filha?
- Parado. Muito parado...esta espera mata-me um pouco todos os dias.- Percebo quando uma lágrima lhe cai pela cara.
- Christian, vai ficar tudo bem, eu sei que sim. O Dr. Grey e o Ethan têm-se esforçado muito nisso, acho que aquele escritório parou só para tratar desse assunto.
- Isso é sério?- ele olha para mim surpreso, nunca pensei que ele achasse que o Dr. Grey o fosse deixar sozinho nesta luta.
- Sim.- De repente a minha pirata aproxima-se...
- Ana, vamos...eu estou com fome. E se não formos a correr perdemos o lugar para o piquenique.
- Desculpa Christian, parece que tenho uma irmã bastante esfomeada.- Viro-me para me ir embora, mas uma ideia mirabolante vem-me à cabeça...- Queres almoçar connosco? A minha mãe faz sempre comida para um batalhão.
- Não sei, estás com os teus pais e a tua irmã. Não quero impor-me...vai aproveitar o domingo com a tua família.
- Não sejas parvo, anda. Por favor, a sério é um favor que me fazes...- faz o um bico que sei que ninguém resiste, e ele acaba por aceitar.
Apresento-o à minha mãe, ao namorado o Jason Taylor e por fim apresento-lhe a Paula que fica eufórica porque eu também tenho um namorado. Claro que a minha mãe lhe corta logo as assas antes que ele voe alto nas suas fantasias. Depois do almoço maravilhoso que tivemos, a minha mãe e Jason decidem ir dar uma volta, claro que a boa da minha irmã começou logo a brincar com os dois dizendo que queria mais um irmão, mas que tinha que ser um rapaz pois para irmã já me tinha a mim, todos se riram, mas Ana logo a fez descer à terra.
- Que é? Eu quero mesmo um irmão, e rapaz...porque não ia aguentar ter outra melga chata atrás de mim.
- Paula! Eu um dia ainda te costuro essa boca, a quantidade de barbaridades que saem dela é de bradar ao céu.
- O que foi, eles não estão a namorar?- assinto...- Então para casar não vai faltar muito, eles não são novos por isso têm que se despachar, porque eu quero um irmão.
- Paula, primeiro a mãe não vai casar de novo. E depois não sei se ela quer ter mais filhos, por acaso já lhe perguntaste?
- Não, mas se eu lhe pedir não vão dizer que não. E porque é que ela não pode casar de novo?
- Paula, esquece esse assunto, por favor.- mas porque é que a Paula está a insistir tanto no casamento da minha mãe. Ela nunca poderá casa de verdade com Jason, simplesmente porque legalmente ela ainda é casada com aquele monstro.
- Não percebo porque é que a mãe não pode casar, mas tudo bem, eles não precisam de casar de verdade, podemos fazer só uma cerimónia entre nós. Tipo, uma cerimónia de compromisso familiar, onde nós quatro nos comprometemos a ser uma família.
- Paula, esquece isso. Eu não sei onde tu inventas tanta asneira. Toma, vai comprar um gelado, porque sinceramente já não consigo ouvir tanta idiotice junta, e não te demores.
Paula sai com um sorriso na cara e ficamos os dois sozinhos. Os nossos olhares encontraram-se e foi como se tudo evaporasse à nossa volta. Era como se houvesse um conexão entre eles que fosse inquebrável. Aproximámo-nos, e consegui sentir a nossa respiração acelerada, e aos poucos fomos juntando os nossos lábios, de início bem de leve, mas eu sentia o seu coração bater mais forte e podia sentir que o meu também estava acelerado, e quanto mais os nossos corações batiam mais nós tínhamos a necessidade de aprofundar o beijo. E o que começou por ser apenas um beijo leve e calmo tornou-se algo quente, intenso e apaixonante. Quando dei por mim já as nossas línguas se enrolavam, dançando quase um tango dentro das nossas bocas.
As suas mãos que estavam na minha nuca começaram aos poucos a descer pelo meu corpo, não consigo resistir em tentar aprofundar ainda mais aquele beijo e coloco as minhas mãos na sua nunca, os nossos corpos estão mais juntos que nunca e consigo ouvir o bater frenético do meu coração, e agora está tudo tão claro para mim...eu estou apaixonada por este homem. Mas não posso, não quero sofrer de novo, por isso afasto-me e embora me sinta mal em me separar de Christian, sinto também uma leve onda de pânico a invadir-me.
- Christian...Christian para por favor...eu não consigo...- aos poucos ele solta-me...- Desculpa, desculpa...- e lágrimas correm pela minha face, as quais ele limpa com os seus dedos.
- Ei! Princesa, não quero que peças desculpa, e muito menos que te sintas mal. Eu nunca senti o que sinto por ti. Ana, eu amo-te e sei que talvez ainda não estejas pronta para me amares, mas eu vou esperar o tempo que for preciso, eu vou esperar por ti.
- Christian...eu...- não sei o que dizer então abraço-o, como se eu não o fizesse ele fugisse de mim, como se o fosse perder pela minha insegurança, pelo meu medo.- Eu gosto muito de ti...eu não sei se é amor ainda, mas tu foste o primeiro homem a tocar em mim desde que...
- O que aconteceu contigo Ana? Quem é que te fez mal?- e agora é ele que me abraça, é como se neste abraço eu sentisse a sua necessidade, a sua vontade de me proteger de tudo e de todos...- Desculpa, se não estiveres pronta para me contar eu percebo, eu só quero que saibas que eu estou aqui...ninguém mais te vai magoar.
E ficámos ali abraçados, combatendo os nossos demónios em silêncio mas juntos. Ao fim de um tempo a minha mãe, Jason e Paula voltaram, a minha pirata não deixou os pombinhos muito tempo sozinhos. Sentaram-se todos de novo e começámos a jogar um jogo de mímica, claro que Paula era a mais entusiasta na brincadeira e assim o tempo depressa passou.
Quando estávamos já a pensar em ir embora, o telefone de Christian tocou...e á medida que ele ia escutando as lágrimas iam caindo pela sua face, até que depois de desligar ele simplesmente caiu de joelhos e chorou como um menino perdido. E enquanto a minha mãe, Jason e Paula ficaram a olhar para ele, eu colocou-me de joelhos e comecei a passar a minha mão na sua cara limpando as lágrimas que caiam.
- Christian! Christian, o que se passou? Fala comigo...estás a assustar-me?- ele olhou para mim e simplesmente me abracei.- Christian...
- Conseguimos. Vou tê-la nos braços amanhã...Ana vou ter a minha filha nos braços amanhã.
- O Ethan conseguiu? E o divórcio? E a Cobra-Cascavel?- e de pois de me ouvir chamar aquela mulher de Cobra-Cascavel sorriu no meio das lágrimas
- Ela não vai ficar com hospital, pelo menos isso consegui salvaguardar. Vou-lhe dar uma mesada, mas só isso. Eu nem acredito que vou ter a minha menina comigo...ela vai amanhã ao escritório para eu assinar o novo acordo e...leva a minha menina.
- Estou feliz por ti, só não consigo aceitar que ainda tenhas que dar alguma coisa àquela Cobra.
- Pela minha filha eu dava-lhe até o mundo se fosse preciso. Ana nada é mais precioso que o amor, que a família...- abraça-me de novo e choramos os dois...- Eu tenho que ir, os meus pais e o Ethan estão à minha espera, mas amanhã vemo-nos no escritório.- levanta-se, ajudando-me também a levantar-me.
- Sim, claro e eu vou amar conhecer a tua menina. Até amanhã.- E abraça-o.
- Até amanhã. E Ana...- e continuando no seu abraço diz-me bem baixinho no meu ouvido para que só eu consiga ouvir...- Lembra-te eu vou esperar por ti o tempo que for preciso.
E assim o nosso piquenique chega ao fim, Jason deixa-nos em casa, e no caminho eu conto o que se tinha passado com Christian. Combinamos que para a semana faríamos um outro jantar mas desta vez com a presença de Amanda, a filha de Jason. Assim que chego a casa vou para o quarto, estou cansada, realmente cansada física e emocionalmente. Foi muita coisa para assimilar: o facto de ver a minha mãe finalmente feliz, de saber que Paula vai ter o que sonhava ter um pai, mas principalmente perceber que o que sinto por Christian não é só atracção, que é mais, muito mais. Não sei se posso dizer que seja amor, porém com certeza é algo que está a crescer. E assim adormeço pois sei que no dia seguinte o vou voltar a ver e com aquele sorriso que aprendi a amar.
Quando no dia seguinte cheguei ao escritório, depois de deixar uma Paula eléctica pelo fim de semana que tivemos, percebi que já havia um movimento anormal no mesmo. Assim que arrumo as minhas coisas e me viro vejo aquele com quem esta noite sonhei - Christian. E ele estava com aquele sorriso, aquele que me cativa um pouco mais todos os dias.
- Bom Dia Ana. - diz ele abraçando-me.
- Bom Dia Christian, e aqui no escritório é melhor mantermos alguma distância, não quero perder o meu trabalho.
- Desculpa, mas é que estou tão feliz. Ela está achegar...eu vou...eu vou...- ele está visivelmente nervoso mas feliz.
- Ei vê se te acalmas, ainda te dá um ataque cardíaco antes de conseguires abraçar a tua filha.
E neste instante entra Amélia com o advogado e um casal. Entre eles vêm duas meninas lindas, uma menina que parece ter por volta dos 11 anos que dá a mão à mais pequena. No final do "cortejo" vem um casal, e é quando finalmente os consigo que todo o meu mundo estremece. Como? Porquê? Ao fim de tantos anos...eu não consigo ter qualquer reacção, apenas sinto as pernas a ficar sem força. Christian cumprimenta todos, e encaminha-os para a sala de reunião, sem nem olhar para mim. Ao passar por mim ele riem-se e ele pisca-me o olho e lambe os lábios, numa atitude nítida de quem me quer.
No momento em que eles entram eu simplesmente deixo-me cair na cadeira, estou em pânico, sem forças nem para chorar. Hannah que vem ter comigo naquele momento ao me ver assim tenta ajudar-me, mas eu não consigo sair daquele estado de letargia. O que é que eu vou fazer agora? Ele encontrou-nos, ele voltou...e eu não sei o que ele vai fazer.
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