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Capítulo 10 - Explicações

Este capítulo fala muito em Família...e para mim família é algo muito importante.

POV Christian

Não consegui perceber a atitude da Ana, nós estávamos bem, consegui desabafar com ela como nunca consegui com ninguém até hoje. Estar com a Ana é como se tudo ao meu redor se transformasse, é como se a vida ficasse por breves momentos mais leve, como se tudo na terra parasse, todo e qualquer movimento. Porém, quando o beijo começou a ficar mais intenso, quando comecei a aventurar-me mais pelo seu corpo, sentia-a ficar trémula como se a qualquer altura ela fosse gritar, mas foi ela que iniciou aquele beijo, foi ela que teve a iniciativa não eu.

Mas, de repente ela simplesmente parou, se afastou. Consegui ver nos seus olhos medo, pânico parecia estar a reviver algo que viveu no passado mas no presente, naquele momento. Foi assustador, e ao mesmo tempo fez-me querer protegê-la ainda mais, abraçá-la e nunca mais a soltar.

-  Ana. Desculpa-me eu pensei que...- mas ela interrompe-me...

- A culpa não é sua Christian. Eu sou, eu estou...partida, por dentro. Ainda me dói aqui...- diz apontando o seu peito...- E talvez seja melhor ficarmos por aqui.

- Não podemos pelo menos ser amigos?- pergunto-lhe, esperando do fundo do meu coração que consiga, pelo menos, ficar ao seu lado como um amigo, porque eu já não consigo pensar a minha vida sem ela, sem aquele olhar que me acalma, que me dá a paz interior de que tanto preciso.

- Christian, eu não sei se isso será uma boa ideia...- e desta vez sou eu que a interrompo.

- Ana, eu não vou forçar nada que tu não queiras. Mas, por favor não te afastes de mim, eu preciso de te ter na minha vida...- ela levanta o sobronho como que me questionando...- Eu estou a passar por muita coisa: o divorcio, a traição, a procura por uma bebé que pode ou não ser minha filha...e não sei como nem porquê mas estar contigo faz-me sentir bem, traz-me uma paz que pensei que tinha perdido há anos.

- Eu não sou nada disso que diz, não faz ideia o quão partida eu estou por dentro. E apesar de tudo ter acontecido há dez anos, é como se o vivesse todos os dias. É como reviver o passado no presente, percebe?- e abaixa o olhar, coloco-lhe as minhas mãos na sua face, fazendo-a encara-me olhos nos olhos...

- Eu não sei o que se passou contigo, e espero que um dia me aches merecedor de o saber e que me deixes ajudar-te. Contudo, se exite algo que sei é que TU me fazes bem.- e assim que acabo de lhe dizer tudo isto dou-lhe um beijo: leve, suave...

Andamos um pouco mais pelo jardim, que de facto parece que estamos no paraíso, assim que saímos do jardim chamo um Táxi para a levar para casa, uma vez que ela deixou o carro junto do edifício do Grey Law e seria estranho ela ir busca-lo já que disse ao meu pai que se estava a sentir mal e que iria para casa. Despedimo-nos, mas durante um tempo o nosso olhar manteve-se ligado. Eu queria mais, queria-a ela. Mas será que ela me queria a mim?

Vou andando até á Grey House para ir buscar o meu carro. Sei que vou ter que enfrentar os meus pais, que vou ter que enfrentar talvez até mesmo Ethan e Elliot, pois tenho a certeza que o chamaram. Olho para trás por um momento, como eu a queria do meu lado para enfrentar o que aí vem. Chegando ao edifício dos escritórios entro no carro e dirigo-me para casa.

Como esperava assim que paro em frente de casa, consigo ver os carros de Ethan e de Elliot, respiro fundo umas três vezes para me acalmar, sei que vai ser dificil explicar tudo o que fiz principalmente ao meu pai. Sei que a minha mãe está arrasada com a possibilidade de poder perder o Hospital que o meu avô construiu, contudo, sei que por muito que lhe custe ela vai entender que se o faço é pela minha família, pela minha filha. Saio do carro e mal chego á porta consigo ouvir o meu pai aos gritos com Ethan.

"- Vocês não pensaram no que este plano absurdo poderia fazer ao escritório? Claro que não! Do Christian eu até podia esperar isto, mas de ti Ethan..."

"- Eu sei, sei que foi um plano algo arriscado, mas nós pensamos que..."

"- Pensaram, pensaram...ouve Ethan eu só não te demito, porque te tenho como um filho, mas se isto tomar proporções grandes e afectar o escritório eu..."

Não posso permitir que Ethan sofra por algo que parcialmente a culpa é minha, até porque parte, senão toda a culpa foi minha, eu tive a ideia. Eu quase que o obriguei a aceitar toda esta maluqueira, e ele bem que tentou impedir-me, ele sempre disse que era arriscado, que podiamos estar a colocar o nome do escritório em risco. Mas, que outra opção eu tinha, eu quero a minha filha comigo, mas só de pensar que tinha que dar a Amélia o quer que fosse me irritava. Tudo saiu fora do que planeámos, vou ter que dar tudo o que Amélia quiser e nem sei se vou conseguir ficar com a minha filha algum dia. Quando entro todos me veem menos o meu pai que está de costas e que continua a gritar com Ethan.

- Eu espero sinceramente que aquele advogado, e principalmente a Amélia não se lembrem de processar o escritório...- continua o meu pai.

- Chega pai!- grito, e este vira-se...- A culpa não foi do Ethan. Ele tentou impedir-me, mas...

- O que raio é que te passou pela cabeça Christian? Colocares o escritório em causa? E aquela proposta que fizeste à Amélia? Christian...

- Chega. Sei que errei, sei que coloquei o escritório em maus lençois. Mas, em relação ao que disse à Amélia, não vou voltar atrás com o que disse...

- Christian, filho...- a minha mãe olha para mim, vejo que tem lágrimas nos olhos, sei que está a sofrer por saber que pode perder o hospital.

- Mãe eu não tenho alternativa. Tu...- e virando-me para o meu pai...- vocês ensinaram-me que o mais importante era o amor, a família. E eu quero a minha filha comigo...ela é a minha família.

- Christian, isto é um absurdo. Estás a dar tudo de bandeja a uma...àquela...

- Cobra Cascavel...- murmuro baixo, mas alto o suficiente para todos ouvirem...- foi o que Ana lhe chamou...- encolho os ombros, e ao recordar a voz de Ana ao dizer aquelas duas palavras dão-me força para enfrentar o que seja.

- Que seja, tu nem sabes se aquela criança é mesmo tua...- grita o meu pai. Até o meu pai me atira a traição de Amélia na minha cara...

- Não vás por aí.- aviso-o encarando-o com uma cara séria...- Ela é minha...eu sinto...aqui.- digo colocando a minha mão no peito.- Não me perguntem como, mas eu sinto.

- E se não for tua? E dás tudo o que tens à...Cobra Cascavel, e no fim aquela bebé não for tua?- olho para o meu pai...e uma lágrima desce pela minha face.

- Eu também não sou do teu sangue, vais-me dizer que me amas menos do que amas Elliot, ou Mia?

- Claro que não filho.- diz a minha mãe abraçando-me...- Tu és tão nosso filho como os teus irmãos. Não é porque não foste gerado dentro do meu utero que te amo mais ou menos. Tu és meu filho Christian, nasceste do meu coração...

- Eu sei mãe. E queria que percebessem que apesar de saber que aquela menina possa não ter o meu sangue eu amo-a desde o momento que soube da sua existência. E se tiver que dar tudo o que tenho eu dou...e sinceramente espero que mesmo não me apoiando consigam entender que o que faço é por amor, amor à minha filha, pois é assim que a considero independentemente de tudo o resto.

- Christian...- o meu pai vem ter comigo e com a minha mãe...- Eu nunca fiz distinção entre vocês os três, e tu sabes bem. Sempre me orgulhei dos meus TRÊS filhos, e esta tua atitude de querer ficar com a bebé apesar de poder não ser tua, enche-me ainda mais de orgulho.

- Pai...- mas ele interrompe-me...

- Ouve filho, sei que fizeste o que fizeste por amor, amor de pai, mas ceder àquela Cobra...eu não me conformo que ela possa ficar com algo que foi o teu avô, a tua mãe e tu que construíram e fizeram crescer.

- Eu não queria, eu juro que não lhe queria dar nada. Mas neste momento para mim o mais importante é a minha filha.

- E nós vamos apoiar-te meu amor.- diz a minha mãe abraçando-me de novo...- Afinal é da minha neta que estamos a falar. Por falar nisso tiveram noticias do Welch?

- Bom, acho que é a minha vez de falar, finalmente...- diz Elliot, que até ali se tinha mantido calado...muito calado a meu ver.- Eu fui ter com o Welch hoje depois do pai me telefonar a contar o que se tinha passado. Bem parece que ele conseguiu o nome do homem que levou a bebé.

- Isso é sério Elliot?- Deus, será? Será que vou achar a minha filha sem ter que dar nada áquela cobra.

- Sim. Parece que o homem se chama Bob Adams. Pelo que Welch descobriu é casado com uma tal de Leila Wilks.

- Wilks?- a minha mãe faz uma cara estranha...- Esse nome não me é estranho...mas não me lembro de onde o conheço.

- E que mais Welch descobriu sobre esse homem?- Não consigo perceber se eles já sabem que ele é, porque é que a minha filha não está comigo?

- Christian, não é assim tão fácil. Não podemos chegar do nada em casa de ninguém sem provas, eu não sou advogado Christian mas temos que ter provas que é a mesma criança.

- O seu irmão tem razão...- diz o meu pai olhando para nós, porém ninguém percebe onde ele quer chegar...- O que ninguém estava à espera muito menos Amélia é que eu gravei a nossa reunião. Tenho tudo o que precisamos para apresentar ao juiz e ficarmos com a guarda total da menina. Amanhã mesmo Ethan e eu vamos ao tribunal e entramos com o pedido da guarda da menina.

Abraço a minha família, aquela que me abriu os braços em pequeno, que me acolheu de coração aberto. Esta é a minha família, posso não ter o mesmo sangue a correr nas veias, e o que é que interessa se não temos a mesma constituição genética, se não compartilhamos características cromossómicas. Família não se baseia simplesmente em moléculas, células ou cromossomas...

Família é muito mais que isso, é onde a nossa história começa, são aqueles que na nossa vida nos querem na deles, são aqueles que nos aceitam como somos. São aqueles que fariam qualquer coisa para nos ver sorrir  e que nos amam incondicionalmente. A minha é sem dúvida o meu refugio que prevalece de pé mesmo quando as maiores tempestades passam pelas nossas vidas, é a ancora que a todos momentos me prende à felicidade e à esperança. Não somos perfeitos, longe disso, discutimos, brigamos, podemos até deixar de nos falar por uns tempos, mas no final somos Família.

- Ei! Abraço de família e não esperam por mim...- diz Mia, que literalmente se atira para cima de nós...- Posso saber o porquê de tanta demonstração de carinho?

- Porque somos uma Família...- respondo e dou-lhe um abraço bem apertado...- Eu adoro-te miúda...- e pegando-lhe ao colo rodopio pela sala.

- Para Chris...chega...põe-me no chão...- Mia grita, e esbraveja enquanto eu continuo a rodopiar.- Christian, põe-me já no chão...estás possuído hoje, eu vou para o meu quarto porque por hoje chega de demonstração de amor.

Mia sobe para o quarto dela, e eu tento acalmar o meu coração. Eu vou conseguir ter a minha filha comigo, conseguimos encontrar aquele homem, o primeiro está completo. Olho para o jardim imenso da casa dos meus pais, e começo a imaginar uma menina linda a brincar ou a correr no meio das flores da minha mãe...depois surge-me a imagem de uma mulher com uma barriga linda de grávida correndo atrás da minha filha, brincando com ela. Quando esta se vira, vejo que é a imagem de Ana, linda, com aqueles olhos azuis ainda mais azuis e brilhantes, um sorriso lindo sai dos seus lábios, e uma barriga de quem está no final de uma gravidez.

Uma família...a minha família. Como eu gostava que tudo o que estou a imaginar fosse verdade, fosse realidade. E neste momento percebo que daria tudo para que o meu sonho fosse real e não apenas uma ficção, uma cena fantasiosa da minha mente. Sim decididamente eu estou completamente apanhado por ela...pela minha Ana.

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