Parte 2 - Capítulo 26: Uma nova realidade
Este é o lugar onde a cura começa
Quando você chegar ao local onde você está partido por dentro
A luz encontra a escuridão
Healing begins-Tenth Avenue North (mídia acima)
Dois meses depois
Nova Iorque - Manhattan - EUA
Os vestígios deixado pela tempestade de neve passada, agarram-se aos arvoredos desfolhados, forra as cadeiras levemente fixadas ao chão e cobre as beiradas do lago do Central Park. O enorme jardim verde se converte num sugestivo campo de gelo. A nevasca consegue surpreender essa manhã gélida, contudo, de tempos em tempos, maravilhosamente cinematográfica.
Não é em vão que Nova Iorque abrigue um significativo número de turistas, tanto estrangeiros como nacionais, na atual estação, sobretudo através das apaixonantes decorações natalícias e a enorme emblemática Christmas Tree colocada anualmente no Rockefeller Center, expondo o glamour da requintosa Manhattan.
Outra grande atração global que a cidade carrega no inverno, é a insubstituivel passagem de ano que acontece na Times Square. Os amantes são os que mais aderem a esse momento, onde a seguir a contagem regressiva e o familiar Happy New Year escrito pelos fogos de artifícios que se espalham pelo céu, casais trocam o primeiro beijo do ano. Eu também não fujo dessa classe, daria de tudo para viver isso ao lado de minha Jasmin. Infelizmente tive de me manter numa cama hospitalar no dia 1 de janeiro.
O telefone celular apita roubando-me dos devaneios mentais e retirando-me atenção da rua. Dou uma meia volta, na cadeira de rodas onde sento, e saio da varanda frienta, que se transformara no meu lugar predileto de nosso mais recente apartamento. Atravesso a parede de vidro deslizante, que separa a varanda da sala de estar, conduzindo-me a pratileira que acolhe um vaso de babosa e tomo o smartphone.
— Meu amuleto, bom dia. — A voz que soa do celular é o suficiente para me esquentar o peito. — Como se sente hoje?
— Melhor agora. — Ouço sua leve risadinha satisfatória — Onde você tem estado, boneca? Acordei sem vê-la na cama e apenas deixou um bilhete explicando que iria sair, aonde não expecificou.
— Ah amor, eu tive de antecipar a volta para San Francisco. Ocorreu uma emergência, não quis-te acordar por isso não avisei antes. Me desculpe, Willie.
Imagino o biquinho que seus lábios desenham e a expressão tristonha estendida em seu rosto, sempre que ela chama-se desse jeito e sorrio. Sua voz ecoa novamente:
— Amanhã virei pegá-lo, muito cedo, para voltarmos juntos. Tudo bem para ti? — Indaga hesitante.
Agrupa-se um silêncio em questão de tempo restrito. De ambos os lados da linha.
Porquê tão de repente? Tive a convicção de que estaríamos voando Para San Francisco, os dois e amanhã. Anseei e idealizei Jas acompanhando-me na última consulta que tenho agendada, antes do médico autorizar-me a viagem. Tenho ciência de que sou um marido massante numa cadeira de rodas! Cada instante naquele hospital é torturante, contudo ao tê-la do lado a aversão contida dentro de mim é dissipada ao saber que o amor da minha vida está por perto, e tem batalhado comigo.
Estimo demasiado como ela aperta-me a mão, quando estou entre as paredes neutras e o chão deprimente do quarto clínico, como maneira demonstrar que está comigo, embora isso tenha sido uma grande injustiça para ela. Essas são as palavras que pretendo expressar, porém digo:
— Não se preocupa minha musa, está tudo sobre controle. Resolva as coisas por aí, eu estou muito melhor. Aliás, nem precisa regressar. Vou pedir ao Shaun para viajar comigo, irei pagar um extra a ele.
— Mas... Não não, nem pensa...
— Sem mas, é uma ordem senhorita. — Acrescento, cortando seu raciocínio — Não é bom que a mãe do meu filho saía viajando constantemente. Deve descansar em casa, eu posso estar numa cadeira de rodas, mas ainda tenho meios de mandar homens para impedi-la de sair. — Brinco, irónico.
Ela ri, sinto alívio ao vê-la relaxada. Pela primeira vez não repreendeu os deboches que faço de mim próprio. Talvez seja algum progresso, dos quais um dito psicólogo havia mencionado, antes de eu dispensa-lo. A calmaria do homem, visivelmente académico, mas intolerável ao meus ouvidos, era um extremo de irritação.
Não preciso de nenhum indivíduo, que nunca passou pelo mesmo que eu, tentando me convencer ou instruir sobre o que eu deva fazer aos olhos dele. É louvável saber que algumas pessoas conseguiram superar, levando a cabo suas instruções, mas isso não funciona comigo. Ainda existe uma perturbadora sensação de que esteja-me afogando dentro do meu próprio corpo.
Não compreendo o vazio que esteja corroendo-me, é como se a essência de vida que havia em mim fosse embora sem eu poder controla-la. Agora eu enxergo o mundo através de lentes quebradas, está tudo fragmentado no interior de minha alma e o pior é que nem eu sei explicar o por quê disso. Até para mim parece não fazer sentido, como uma terapia poder-me-ia ajudar? Se voltei a orar depois de conseguir escapar vivo daquele acidente fatal? A resposta é não.
— Hey, está usando seu poder para me chantagear, Sr. Brown? Para sua informação, mesmo que esteja numa cadeira de rodas você ainda é o cara mais gato de toda Califórnia, Nova Iorque, Illinois, Ohio, Washington, Massachusetts, Pensilvânia, Maryland, Connecticut, Flórida, Colorado, Nevada, Minnesota, Oregon… — Suspira fundo devido a falta de ar, já que falava sem pausas, eu desconsegui privar o riso enquanto ela prossegue:
— Carolina do Norte, Nova Jersey, Louisiana, Michigan, Geórgia, Indianápolis, Tennessee, Texas, Arizona, Montana, Idaho, Utah, Alasca, Missouri, uhh — deu outro longo suspiro — concluindo, quero dizer que você é o cara mais galinbelo, que traduzindo é: gato, lindo e belo, de todos os Estados Unidos da América.
Alcei a voz com um riso inadiável.
— Uau, eu pensei que diria todos os 50 Estados, — falo sem conseguir-me livrar do riso — e galinbelo, amor? Aonde foi tirar isso, no livro como ser a esposa mais bajuladora do mundo?
— Dessa vez, rimos em uníssono.
— Ah ah, — Ela nega convincente — Fui tirar tudo isso no livro como ser a esposa do homem mais fenomenal dos sete continentes.
— Você é a melhor coisa que me aconteceu! — Emito as palavras com seriedade.
— Nossa, eu não sabia que você iniciara a mentir.
Nós rimos. Ela não falou, mas sei que disse isso para quebrar o gelo e procurar-me distrair de toda essa pressão pela qual temos passado. Jas tem ciência de que não falei tal coisa da boca para fora, mas é real. Essa cadeira de duas rodas, onde insiro meu físico, é a prova adequada de que, para mim, sem ela todo o universo se torna paralelo. É impossível não lembrar do momento que soube que o homem com o qual está casada fora quase um suicida, me odeio por manchar a vida dela com essa recordação negra.
O rosto de minha esposa apresentava ceticismo, os lábios carnudos se juntaram impossibilitando a emissão de qualquer som. Cogitei pedir para que dissesse alguma coisa, mas optei-me manter calado. Ela estava apavorada, através de seus olhos caramelos eu sabia que não reconheceu quem era aquele homem que estivera prestes a suicidar-se! Logo isso que é para si uma das maiores atrocidades da vida. Jasmin defende o direito a vida, acredita que não existe nada tão perdido que não haja de ser superado.
Ela fizera parte de imensas comunidades contra o suicídio e autoajuda para pessoas depressivas. É tão generosa e humanista, que me sentia (até o momento me sinto) indigno de merecer seu amor. Sua reação fora mais uma prova de tal fato, pois ao contrário do óbvio minha Jas não me julgou, sentou ao meu lado e abraçou-me com afeição e emergência dizendo:
— Está tudo bem, já passou. — Jogou minha cabeça em seu peito e beijava meus cabelos — Obrigada por desistires dessa ideia no final. Deus o guardou no incidente e também o perdoou muito antes de pensares em fazer aquilo, amuleto. Todos nós temos momentos de fraqueza, o importante é que arrependeu-se daquilo tudo, eu te admiro ainda mais por isso. Nós vencemos essa, meu amor.
Eu chorava alto por estar diante de tanta misericórdia, bondade e sobretudo graça de Deus, junto ao carinho e ternura de minha esposa. Sentia-me tão sujo e envergonhado que as palavras fugiram e só restava o choro do remorso. Era doloroso ouvir os soluços dela se misturarem aos meus. Jasmin estava sofrendo por mim. Fora o puro sabor da redenção, eu sabia que Deus estava-me oferecendo mais outra chance de recomeçar com Ele, mas eu a recusei.
Assim que superei a última cirurgia e após certas terapias para vencer o traumatismo craniano, finalmente comecei a falar e a primeira coisa que decidi fazer fora contar para a minha esposa o que realmente aconteceu. Os médicos deduziram que fora uma tentativa direita de suicídio. Jasmin não acreditava nessa justificativa que soou tão absurda para si ao ponto de ameaçar processar o hospital por injúrias contra pacientes.
Ela pôs as mãos ao fogo para defender que eu não era alguém que maquinava contra própria vida, não existe razão maior para me detestar. Mesmo que abomine admitir e esteja amplamente envergonhado, os profissionais de saúde não estavam errados de todo. Foi um acidente tropeçar na ponte, porém havia sido algo bárbaro contra eu próprio que levou-me por lá. Arrependi-me no final, mas as intenções iniciais estão assombrando e condenando-me.
Se não fosse a intervenção Divina eu deixaria minha esposa viúva com menos de três meses de casada e meu filho órfão. Como conseguirei viver com isso? Lembro-me de quando abri os olhos e fitei a minha Jas esteirada na poltrona vizinha da maca que abrigava meu corpo. Conseguia ouvir o coração explodindo através dos bips do monitor cardíaco, nunca na minha vida estive tão perplexo. Havia sido comprovado de que ela estava morta! Perguntava-me se fora uma extrema alucinação ou se estivera tendo uma experiencia próxima da morte. Tantas questões surgiam e nenhuma resposta fora clara até ela despertar assustada com um sorriso no rosto que estava sendo imbuído por gotas lacrimais. Então foi quando disse:
— Não acredito que decorou o quarto do nosso filho — soltou um riso abafado pelo choro —, mesmo sem ainda sabermos o sexo. Eu nunca parei de acreditar em nós. Você não tem culpa de nada, meu amor, o que aconteceu comigo foi um acidente, eu não tenho nada para te perdoar porque jamais fiquei magoada contigo. Por favor, meu amuleto continue lutando. — Ela soluçava — Preciso de ti mais do que qualquer outro humano. Eu nunca te odiei, pois simplesmente o amor que tenho por ti recusa-se a isso, eu te amo, sempre te amei e continuar-te-ei amando. Eu preciso continuar a te dizer isso por mais cem anos, então proíbo-te de me abandonares.
Era incapaz de pronunciar som algum e mover qualquer parte do corpo. Mas conseguia sentir lágrimas quentes e miúdas deslizarem em minha face, e foi ali que eu soube o que estava acontecendo, era ela de carne e osso. O calor de sua voz, que emanava meu ouvido e pescoço, junto a convicção de suas palavras provavam aquilo. Miraculosamente minha esposa enganou a morte, ela estava viva!
O táxi move-se vagarosamente, através de tal ocorrência, aproveito a falta de pressa para encarar as ruas de San Francisco pela janela do automóvel. Os incorruptiveis bondinhos, um dos principais cartões-de-visita da cidade, ostentam seu charme continuando a atrair um nobre número de passageiros.
Enxergo uma mulher de cabelos escuros encaracolados e olhos apertados pegando na mão de um garotinho, que possui os mesmos traços que ela excepto pelo cabelo curto e franjado, a animação da moça é notória enquanto ambos sobem no meio de transporte público. Ela usa um gorro escrito *I Luv SF presumo que seja uma turista hispânica.
A padaria francesa La boulange onde usualmente compro as baguettes, croissants, chausson o pommes e o pain au chocalat, o quitute francês favorito de Jasmin, delicia o olfato de quem passa por perto com o imaculado cheiro de café forte e de massa folhada acabada de sair do forno. As cadeiras e mesas de madeiras, fixadas no lado de fora do estabelecimento, com paredes em tom bege conseguem se aproximar a um dos típicos cafés parisienses.
A cidade californiana é abraçada pelo tempo frio, contudo o aglomerado de pessoas envoltas de uma food truck, que serve com labor burguers e hot dogs, é sugestivo. Os fregueses seguram em copos plásticos de bebidas que fumegam, ou refrescos em temperatura ambiente e os gelados para os mais corajosos.
— Uau, agora conheço a razão de San Francisco ser conhecida também pela comida, pois quanto mais andamos mais fome sinto. — Shaun reclama e expele o ar pela boca.
Eu rio.
— Te entendo, amigo. Passei pelo mesmo quando cá mudei-me, as ruas estão recheadas por estabelecimentos de comidas. Mas olha, na Union Square tem o restaurante The Rotunda at Nelma Marcus a comida de lá é excelente e se tem uma agradável vista da cidade enquanto degusta-se de uma boa refeição. — O motorista fica atento ao que digo e parece concordar com a cabeça — Foi onde minha esposa e eu jantamos pela última vez, que tal passarmos por lá? Acredito que irá gostar. Faço questão de pagar, será cortesia minha por saíres de NYC para ajudares-me.
— Boa comida e de graça, por que não te conheci mais cedo, cara? — Levou uma das mãos ao rosto balançando o pescoço — Eu sou um feliz e orgulhoso nova-iorquino, mas admito que estou apaixonando-me por San Francisco, talvez seja uma paixão, uma intensa paixão de inverno. — Sussurra as últimas palavras como se alguém fosse denunciá-lo.
Caio na risada unidamente com o taxista.
Num dia parcialmente nublado, aposto, os exames médicos do Saint Germain Hospital apontaram que eu estava com danos cerebrais drásticos. Deixa-me fazer um desenho, eu era um homem visivelmente acordado, porém havia lesões em meu cérebro que levaram-me ao estado vegetativo persistente e como se não bastasse viver como um moribundo, eu apenas teria menos de seis meses de vida ou seja tinha os dias contados. História animadora, ahm?
Não obstante, uma pequena luz embaçada iniciava a raiar no fundo do túnel. A equipe de um prestigiado neurocirurgião de Nova Iorque estava a ter boa fama em um tratamento cirúrgico experimental para pacientes que estavam na mesma condição. Meu seguro de saúde cobria tal tratamento, então os médicos de San Francisco sugeriram que fosse transferido para Manhattan e estar sobre os cuidados daquele doutor, parecia ser minha única saída.
Não havia nada como garantido, aquela opção era vantajosa e também teve um pequeno contra. Quero dizer, se eu passasse pela cirurgia sugestiva tinha 10% de certeza que daria certo e as outras percentagens garantiam a saída de um cadáver no bloco operatório. Me sinto péssimo ao saber que Jasmin teve de lidar com essa escolha, contudo por ter autorizado o tratamento tenho a chance de recomeçar com ela e acompanhar o crescimento do nosso filho. Bom, pelo menos procuro-me convencer disso.
Nas semanas intensas sobre cuidados clínicos e cirúrgicos, os resultados começavam a emergir e nesses pressupostos pedi para que me dessem alta do hospital, estava a ser exaustivo e massacrante demais. Comecei a seguir as instruções médicas em casa a nove dias atrás e sempre na supervisão de Shaun, o enfermeiro que me foi recomendando pelo neurocirurgião
.
— Obrigado mais uma vez, Shaun. — Agradeço ao jovem esguio de cabelos castanhos-claros e olhos negros que assente pouco antes de entrar no elevador.
Fico parado sobre a porta imaginando a reação de Jasmin ao me ver chegando em casa antes do previsto, decidi chegar mais cedo para a surpreender.
— Bem-vindo ao lar, meu amor. — O estrondo de explosão de garrafa de champanhe surge, assim que acendo a luz do apartamento.
Tudo vira surreal. Eu visualizo minha esposa sorrindo com satisfação, posicionada atrás das letras 3D que ocupam a carpete da sala e desenham as palavras bem-vindo ao lar, meu anjo dos olhos azuis. O queixo fica caído e os olhos pasmam enquanto encaro a linda mulher a centímetros de distância. A gravidez deixou-lhe ainda mais irradiante, a pele de cor amêndoa embeleza o rosto hidratado, o vestido midi justo de cor vermelha aperfeiçoa o quadril, que sofreu um aumento ligeiro, e ostenta a barriga de quatro meses. Ela está uma autêntica musa. Perfeita, é a única palavra que o dicionário disponibiliza para descrever como ela está.
Mas ainda assim, não é tudo! O aroma dos inúmeros buques, formado por rosas vermelhas nas laterais e arcos de rosas brancas no centro que se espalham por todos os cantos do chão amadeirado da sala até o corredor, delicia-me o olfato. Percebo três cestas enorme, sobre a mesa de centro, onde contêm variados tipos de queijos e chocolates europeus exóticos, frutos silvestres e secos, biscoitos diversos, bebidas sofisticadas, sem álcool, e taças com laços vermelhos legendadas com eu te amo, quadros moldados com fotos nossas, e corações com breves escritas de amor. Os pequenos candeeiros iluminam todo o cómodo. Ela deve ter gastado uma fortuna nisso tudo, a casa parece a uma loja com artigos sugestivos para o dia dos namorados.
Totalmente cético sorrio atolado e cubro a face usando as duas mãos, embaraçosamente vergonhoso. Esse é o tipo de coisa que jamais ocorreu-me, nunca haviam-me feito algo parecido. Ela antecipou sua volta para preparar algo assim p'ra mim. Como não me sentir amado e desejado?
— Consegui-te deixar sem jeito, nê gatão?
Minha amada enche duas taças com o champanhe sem álcool, carrega um buque mais elaborado que estava sobre o tapete veludo, penso ser o mais volumoso dentre todos e o único que contém somente rosas vermelhas, e me entrega.
— Mas… você é uma… sua… — Gaguejo atónito fitando o conjunto de rosas. Ela abre uma risada gostosa. Pela primeira vez as palavras me falham.
— Amo quando ficas sem palavras. — Jas sorri, um sorriso terno e doce que reflete o brilho espelhado no carinho do seu olhar.
Deixo o ramo de flores no sofá e sinalizo para que ela sente-se em meu colo.
— Senti sua falta. — Com cuidado, ela assenta sobre as coxas se divertindo com minha face corada, boba e extremamente cética. — Brindemos a sua volta. — Oferece-me um copo que choca contra o que ela segura.
— Você é a principal razão de eu ter vontade de lutar, — meu olhar faz uma curta viagem pela cadeira de rodas — contra isso todos os dias. Não saberia prosseguir sem te ter por perto.
Ela sorri abrindo a boca no intuito de resposta, porém impeço-a.
— Sabe, tudo isso faz-me perceber como sou indigno do seu amor. — Jasmin franzi a testa e tenta dizer algo. Gesticulo para novamente a impossibilitar de falar e ela emudece embora contra sua vontade, mas ouve-me — Eu pensei em me matar, como é capaz de me olhar com tanta ternura depois disso? — A voz sai melancólica.
Meu tesouro segura com sutileza em volta do meu queixo para eu encará-la. A emoção contida em minhas entranhas vai ao rubro ao constar o brilho dos olhos formado por lágrimas diminutas.
— Não meu amor, você quis matar sua dor e não a sua vida. — Sinto a garganta se fechar com essa sua declaração que saiu com extrema convicção — É o que diz Augusto Cury: Suicidas na verdade não querem se matar, mas sim matar a sua dor. Mas eu sei que tu sabes de que Deus não nos dá mais do que podemos suportar e a um propósito maior para cada situação, mesmo que ela pareça sem controle e venha com tudo para esmagar a nossa fé, devemos manter o foco na promessa do Senhor. Se não der para ficar de pé, a gente engatinha e se for fatigante então iremos rastejar, mas sempre em direção aos caminhos e vontade do Senhor, porque são eternos.
A emoção torna-se tanta que ergo os olhos para reprimir as glândulas lacrimais.
— Olha para mim, sua história não terminou. — Aperta as nossas mãos — Ela ainda está sendo contada, o que aconteceu e está a acontecer é apenas uma vírgula. Seu final feliz é real e você irá encontrá-lo. Apenas fixa seus olhos para Jesus e Ele te mostrará como alcançá-lo. Tudo o que você precisa fazer é crer!
Não perco mais nenhum segundo e envolvo minha esposa num abraço urgente e finalizo dizendo o quanto amo-a. Cada palavra emitida por ela pareceu tão real e pura que somente pude admirá-la mais ainda. Não duvido da graça de Deus e Seu eterno amor, todos devem segurá-la com tudo quando esta se estende, mas infelizmente esse alguém já não sou eu. Quando o único culpado pelo acidente de Jas fora eu somente, fui tão hipócrita que culpei a Deus, mesmo tendo conhecimento, lá no fundo da alma, de que Ele seria o único que me daria forças e impediria-me de afogar. Mas eu escolhi estar instalado no poço do despero e mergulhar nas profundezas da amargura.
Eu conheço a Palavra e provei na pele a grandeza, soberania e fidelidade de Deus, porém a desprezei quando estive prestes a me jogar sobre a ponte e o pior neguei a paternidade de Deus! Então, sou indigno da Sua graça. Sei que Jasmin estaria intrigada ao ouvir minha presunção, então permaneço silencioso e apenas emano do calor de seu abraço. Porque hoje sei que perdi o mais importante que tive na vida: um relacionamento pessoal com Deus! Queria tanto ter esperança, mas não consigo! Há uma alta voz brandando em minha cabeça que sou o pior ser do mundo, o mais falho dentre os humanos e imerecedor da graça, e eu concordo!
*I Luv SF - Eu amo San Francisco, abreviação usual pelos americanos.
Oláá leitores. Quem é vivo sempre aparece, estava com sérias dificuldades de internet por isso não consegui postar antes, me desculpem por isso. Já agora, sejam bem-vindos a segunda parte do livro, penso que será a mais dramática da história e muito suspense ainda está por vir. Espero que tenham gostado, não esqueça de clicar na estrelinha e sinta-se a vontade para comentar, isso estimula muito a continuar. Se cuidem, até breve. Beijos.
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