Capítulo 30: O lado agonizante da vida
Você vai passar por tudo isso, basta seguir a luz na escuridão. Você vai ficar bem. Eu sei que seu coração está pesado daquelas noites, apenas relembre que és um lutador e você é mais forte do que pensas. E quando a noite estiver a se aproximar, não desista e não se renda. Isso não vai durar, não é o fim.
Você vai ficar bem.
Jenn Johnson - you're gonna be okay
O que é a vida, e o que pensar dela? Bem, a vida é uma jornada louca, nalgumas circunstancias estamos no auge, a sensação indescritível sentida por um tacto, olfacto, ou uma audição agradável concordam de que a vida é bela! Mas nem sempre. Quando o caos fragmenta cada pedaço da alma e rouba a liberdade que Deus nos proporciona, levando-nos ao cativeiro, o belo some e o tormento se torna real. Essa é a controvérsia da vida.
Há quatro semanas as radiografias, quimioterapias administradas por via intravenosas, dores, e náuseas somam os 98% da minha vida. A quem tento enganar, isso jamais fora uma forma de viver. As madrugadas que eram sossegadas, agora são agonizantes. Elas transbordam o meu pior. A vida tinha que ser mais do que isso. Nas manhãs somente acordo com a sensação cómoda de que eu não tenho valor algum. Olho para o corpo e penso: Você não é nada além de pobre e fraco. Os pensamentos suicidas aparecem como se fossem os convidados de honra, mas não quero morrer, tudo o que quero ter é um pouco de paz.
Minha esposa insiste em achar o melhor de mim, ela sempre trás a superfície como a fé é tremenda e poderosa. Não discordo, porém fé não é para um lixo humano, como eu, que rompeu suas crenças. O que prematuramente vivencio é simplesmente o troco do que plantei. Financeiramente as posses em meu nome apenas acrescem, e é indiferente. Pois quando lutamos para sobreviver e dependemos de tratamentos experimentais, que não garantem nada, percebemos que a vida sempre foi mais do que isso e seu valor nem de longe compete com riquezas.
Não sobejou vínculos do homem com quem ela casou-se. Eu era viciado em beijá-la, mas agora esquivo-me disso. Estou constantemente com enjôo e lançando alimentos para fora do organismo, não consigo executa-lo enquanto sinto-me um repugnante. Ela é preciosa e eu sou um vaso cheio de estilhaços. Queria poder dar mais a ela, e virei incapaz. O que posso resumir a meu respeito é: ódio de mim próprio. Há poucos dias atrás tive motivos de sobra para tais conclusões.
A noite escura parecia mais tenebrosa, o silêncio era perturbar. O pequeno reflexo da lua, no seu quarto crescente, infiltrava-se pelos vidros da janela. Já eu não sabia como, mas buscava maneiras de lidar com aquela que seria a minha mais nova condição física. Até ela despertar.
— Amor?
Optei permanecer silencioso. Não queria importuna-la, ela precisava descansar. Tinha de fazer isso.
— Céus, você transpira muito. O que está sentindo? — As palavras tropeçaram de si, depois de acender o abajur.
— Por favor, volte a dormir. Para de se preocupar comigo.
— Para de ser orgulhoso, Willian! Você não está bem, diga-me o que lhe importuna. Por favor. — Ela implorou.
Era vergonhoso passar por aquilo. Eu realmente me tornara num inválido. Mal reunia condições para cuidar de eu mesmo. Mas Jasmin é minha esposa, o normal seria eu a cuidar dela ainda mais em estado de gestação.
— Tudo bem, amor. Já entendi que não vai falar comigo. — Descobriu-se do endredom e colocou os pés ao chão.
— Aonde vai?
— Vou pegar a lista telefónica e ligar para o seu médico.
— Não precisa fazer isso, Jas.
— Desculpa, mas não está me dando opções. Eu não sei o que se passa em sua mente, mas eu te amo e para que conste me preocupo com seu bem estar.
Ela suspirou fundo, amarrando a fita de seu robi listrado que desenha sutilmente a barriga de seis meses. Não tarda se aproxima da porta.
— Eu não consigo mover um único músculo sequer. — Falei sentindo repulsa de mim próprio.
O semblante dela não escondeu o descontentamento e desassossego após ouvir-me, e recuou rapidamente. Por que tinha de ser um fardo pesado para quem eu mais amo?
— Vai ficar tudo bem, meu amor, eu prometo. — Sentou a beira da cama, limpando-me a face com um penso. — Aonde dói?
— Por toda a parte, mas ao mesmo tempo não consigo realizar nenhum movimento. E eu realmente preciso ir ao banheiro. Estou muito aflito.
Ela assentiu e mostrou o quão corajosa é. Apoiou-me em seu corpo para que eu podesse levantar do leito e subir na cadeira de rodas. Optei em estar mudo, contudo o sentimento de raiva enfurecera a alma. Mesmo tendo perdido muito peso, não deixou de ser evidente o grande esforço que ela fazia para ajudar-me a erguer, depositei grande parte do peso na minha esposa, que ao mesmo tempo carregava uma criança em seu ventre. Que espécie de esposo eu havia me transformado?
— Quer que espere aqui? — Sugeriu enquanto pousava-me no vaso sanitário.
Balancei a cabeça em negação. Somente fixava os olhos para o chão, era muito humilhante ter de encara-la.
— Tudo bem, assim que terminar me avise.
Permaneci silencioso e ela deixara-me. Enfim pude relembrar o quão sem préstimo eu se tornara. Sua vida seria resumida em ser como "babá" do homem que supostamente é o pai de seu filho?
A medida que o câncer alestrava-se ia perdendo o total controle do corpo. Dias haviam em que nem o mindinho eu podia mover, e aquele foi um dos miséros dias. Eu era tão inútil que até a bunda fora minha esposa quem teve de limpar, após utilizar o banheiro. De hora em hora a aversão que tivera a meu respeito ampliara-se.
— Eu sinto muito. — Desabafei ao voltar a deitar sobre a cama.
— Diz isso porquê? — Ela sentou ao lado.
Emiti um silêncio.
— Você precisa seguir sem mim!
— Willian, acabou de ouvir o que disse?
Seu rosto não estava leviano. Sim, Jasmin estava triste. Eu sabia que era o problema, por abater o semblante daquele ser humano extraordinário.
— Lembra da nossa lua-de-mel? Você surtou porque eu estava por um triz de comprar um iate naquela semana. Quase enlouqueceu quando disse que pretendo fazer isso, pelo facto de ensinar o nosso filho a guia-lo quando ele tivesse 10 anos. Por fim, fui convencido a aguardar a chegada da criança para discutirmos isso com mais calma, mas agora o que a gente irá discutir sobre os cuidados e precauções que devo ter ao ensinar coisas para ele, quando não posso ensinar nada a ele? Que tipo de pai eu serei?
Ela emocionou-se com isso, talvez porque soubesse onde eu tencionava chegar.
— Shh, não diga mais nada. Eu imagino como esteja a ser doloroso, mas garanto que nós vamos passar por isso. Eu sei que sim, só continua sendo forte. Prometo que estarei sempre do seu lado. E você será um pai maravilhoso. Um dia lembraremos disso e a gente verá como valeu a pena, e quando nosso bebê crescer, testemunharemos sobre toda essa luta ao lado dele.
Emudeci, não creditei no que ela dissera, por mais que eu queria que fosse real. Tinha o total conhecimento de que tal facto é ilusório. Estava pior a cada dia, eu era um peso morto e amplamente sem préstimo para minha esposa e bebê. Porém mantive-me calmo fingindo concordar consigo para não ter de a magoar ainda mais.
Naquela noite perturbadora, Jasmin achara que eu estivera dormindo. Quem dera que eu estivera fazendo isso, seria livre de presencia-la chorando discretamente com o rosto voltado sobre o travesseiro, a fim de abafar tal choro. Contudo o pior foi vê-la daquele jeito, arrasada e abatida através de mim, e eu simplesmente não pude fazer nada. Esse foi o derradeiro motivo para amaldiçoar a minha existência.
•••••
No dia seguinte as coisas iniciaram a desorientar-se, não que desconhecia a probabilidade de isso acontecer, muito pelo contrário, mas não cogitara que chegaria tão prematuramente.
— Você está linda. E esse vestido ficou ótimo em ti.
Ela estava incrível, tinha plena convicção de que a gravidez deixava-a diariamente mais linda. O corpo estava alterando e aumentando ligeiramente, mas de longe isso fora defeito. Não sei se foi pelo facto de ver a mulher que amo esperando um filho meu, mas sua gestação exaltava sua absoluta perfeição.
Ela sorriu como se lesse os meus pensamentos.
— Mentira. Eu acordei toda inchada, só está sendo um fofo. — Falou arrumando alguns cartões de crédito em sua carteira.
— Sabe que eu seria a última pessoa do mundo a mentir sobre sua aparência, não sabe?
Dessa vez, ela sorriu enrubescida.
— Cá está mais um dos vários motivos que fez-me casar contigo, sabes sempre como deixar-me segura.
Ela se aproximou da cama de largo cumprimento e beijou os meus lábios.
— Vai se atrasar, é melhor ir logo.
— Mas eu não quero te deixar.
— Eu estarei bem aqui, aguardando por vocês. — Ponderei seu ventre.
“Na verdade estou preso aqui, embora quisesse sair é impossível.”
Naquele momento eu faria o inimaginável para sair daquele lugar. Seria a ecografia do nosso bebê, era empolgante saber sobre sua atual condição ou seu desenvolvimento, mas devido ao mísero câncer meu corpo virou mórbido e sair a rua, senão por uma emergência médica que eu precisar, se tornou fora de questão. Não estou enterrado num hospital, mas literalmente estou internado, só que por preferência minha optei estar em casa. A todo o dia sou analisado por um médico e monitorado pelo enfermeiro em todo o tempo.
— Certo. — Pareceu animada — Shaun chega em poucos minutos, e deixei tudo o que precisa no freezer. Caso aconteça alguma coisa irregular, por menor que seja, por favor liguem para mim. E se...
— Okay madame, pare de se preocupar comigo. — Interrompi-lhe a fala — Vai logo, não quero que perca a consulta. E Steve é pontual, sabemos que já está lhe aguardando no centro médico.
Ah Steve, são inalcançáveis as palavras de gratidão que tenho por sí. Desde minhas limitações, ele se disponibilizara em presenciar cada ultrassonografia que Jasmin tem feito.
Minha linda Jas despediu-se e direcionou-se a porta. (É incrível como as coisas mudam num simples pestanejar). Antes de ter a alcançando, ela ficou zonza e sem dando-me tempo de questionar o que sentia, obtive a absoluta resposta assim que minha esposa caiu ao chão, ficando automaticamente desacordada.
— Jasmin! — Gritei atordoado.
Como eu lembro da desordem e pavor que se instalava na minha alma. Então, a todo o custo eu tentei erguer-me e sair daquela cama. Era minha mulher que estava apagada no chão, a invalidez precisava sumir naquele momento, eu tinha de a socorrer, eu precisava socorre-la.
A cada segundo que se passava a agonia acrescia. Eu não conseguia nem mexer um dedo. O câncer me vencera, meu corpo não estava sob o meu próprio controle, por muito que eu quisesse. Nem me arrastar da cama para o chão eu conseguia. A mulher que amo estava desacordada a minutos, e a minha frente, mas era incapaz de acudi-la enquanto ela mais precisava. Acredito que não há razões para me odiar mais do que isso!
Eu estava sangrando por dentro, eu estava irado, eu atingira o ápice da frustração. Ela estava no chão, necessitando de ajuda rápida e eu? Estava ao lado, com a bunda enfiada na cama e desprezível como sou, desconsegui ajudá-la. Assim, eu tive a certeza de que as coisas necessitavam mudar.
Oi amores, peço desculpas pela gigantesca demora. Mas muita coisa se passou comigo e eu precisava me resolver. Mas agora estou de volta, e lutarei para atualizar semanalmente.
Já agora, a história sofrerá grandes mudanças a a partir do próximo capítulo. Espero que estejam bem. Deus abençoe vocês.
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