Capítulo 23: Receio & pressentimento
Aquietai-vos, minha alma e o resto
Humildemente confesso: na minha fraqueza a Sua força é perfeita!
Be still - Bethel Music (Mídia acima)
Boise - Idaho - Estados Unidos da América
Por Jasmin
— Posso entrar, querida?
A voz feminina ecoa depois de dois sutis toques a porta.
— Claro, estou acordada. — Falo sentada sobre a beira da cama, encarando as janelas que exibem os flocos de neve que caem ao chão.
Há três dias atrás fui encontrada desfalecida nas ruas geladas de Boice, por um gentil casal de meia-idade, na verdade estão mais para meus anjos da guarda. Um facto científico divertido: se eles não tivessem me arrebatado de lá naquele exato momento, até sua residência, eu estaria de volta ao pó da terra.
Isso foi meio deprimente? Ok, vamos variar. Quando acordei bastante confusa, houve algo bom. Minha memória voltou, isso mesmo, talvez aquele desmaio não fora tão ruim de todo. Consequentemente lembrei-me que tenho um bebê dentro de mim, porém não ficara tão empolgada, pois o médico que examinara-me, um vizinho amigo do casal, afirmou que estava com hipotermia aguda.
Eu sabia que não era bom, por eu carregar uma criança no ventre, poderia ser drástico para ele. Mas graças a Deus as boas notícias tranquilizaram o coração. Meu filho está bem e longe de riscos. Contudo, o alívio foi substituído pela aflição de relembrar que estou distante do meu marido. Eu consegui identificar a voz dele aquando estava apagada pelo coma, sobretudo suas súplicas de perdão!
Ele se culpa, mas não foi culpa dele, eu sei que Will seria capaz de se doar por mim, pena que nesse momento ele pode não ter ciência de tal coisa, por isso preciso vê-lo urgentemente. Eu só quero que ele saiba que o amo mais do que nunca! Sim, eu o ouvi todos os dias e as elevadas horas que esteve ao meu lado, praticamente nunca se desgrudara de mim e do nosso filho.
Ainda consigo lembrar da vez que ele afirmou que estivera vendo o nosso bebê, pela primeira vez, e naquele momento eu consegui apertar sua mão, querendo transmitir o quão amor tenho por ele e gratidão por estar concebida de seu filho. Demorei a despertar do coma, porém apanhava todo o percurso e dedicação de meu esposo, agora mais do que nunca estou feliz por ter aceite ser esposa dele. Nenhuma briga ou palavras impulsivas apagarão tal sentimento.
— Eu preciso ver meu marido, Tasha. — Desabafo assim que a mulher branca de cabelos escuros adentra ao aposento — Sou eternamente grata por tudo o que têm feito por mim, mas eu sinto uma dor no peito como se algo estivesse errado com ele. — O nó aperta a garganta.
Ela fita-me terna, repousa a sacola que trouxera consigo, sobre a cómoda, e senta-se do meu lado afagando-me a mão.
— Entendo que seja difícil, mas com esse tempo as estradas estão congestionadas pela neve e os voos cancelados, terá de ser um pouco mais paciente, querida. E ficar abatida não é bom para você, nem para o bebê.
— Há três dias que sinto meu coração estreitar por ele. Depois de ligarmos e o celular dar desligado, apenas piorou minha aflição. — Acarecio a barriga, procurando engolir o choro — Willian não é de desligar o celular, pior é que não decoro o número dos meus próximos, para ao menos saber se esteja tudo bem com ele. Não aguento ficar na dúvida.
— Imagino como deve ser difícil passar por tudo isso. — Ela enchuga a lágrima que iniciara a verter de meus olhos — Só Deus sabe o que ele deve estar a pensar sobre o que aconteceu com você, depois de sumir do hospital onde estava internada, ainda mais sendo ele invadido por criminosos. Mas tenha fé, da mesma forma que Deus cuidou de você também cuidará de seu esposo.
— Eu não quero que aconteça nada de mal com ele.
— Apenas acredita que não irá, em breve você verá isso. — Toca gentilmente em meu rosto para encara-la, e vejo um sorriso tímido florescer — Conseguimos uma passagem de avião para San Francisco, a tempestade termina nessa madrugada e até amanhã os transportes aéreos voltarão a funcionar, e você irá pegar o primeiro que partirá as duas da tarde.
Movida pela emoção abraço-a fortemente.
— Não tenho palavras para descrever o quão maravilhosos você e Vincent têm sido para mim. — Deixo a lágrima molhar seu ombro — Se não fosse por vocês, não imagino o que aconteceria comigo e com meu bebê.
A mulher de olhos escuros solta-nos do abraço.
— Menina seus hormônios estão demais, está exagerando nos choros. — Faz uma careta, contraindo os olhos — E quase que me faz chorar também, ufa! — Sopra o rosto com as mãos, eu rio.
— Pior é que anteriormente a gravidez, eu já era chorona.
— O quê? — Fala de queixo caído — Então estás prestes a se transformar num dilúvio!
Eu gargalho.
— Era esse som que eu queria ouvir. — Sorri com doçura.
— Obrigada por tudo mesmo, só Deus para vos recompensar por isso.
— Imagina, nós é que agradecemos por Deus envia-lá até nós. — Uni nossas mãos — Esse será o primeiro natal sem nossos filhos, e eu já estava triste por passar esse dia só com meu esposo. Os gêmeos Michael e Michel estão em Columbus e desconseguiram chegar antes, devido o mau tempo, já a minha cassula, Nora, se casou a quatro meses e se mudou para Charlotte com o marido, irá passar o natal por lá com os sogros.
— É chato tudo isso, não é? — Compadeço-me da mulher de meia idade.
Ela meneia a cabeça em negação.
— Era, pelo menos temos a ti para nos fazer companhia. Minha filha é um ano mais velha que você, mas lembras-me bastante dela. — Eu sorrio, ela acompanha-me — Têm praticamente a mesma personalidade.
Meu olhar corre até a porta condecorada por uma coroa de azevinho com um laço vermelho e só agora me lembro:
— Oh Céus, feliz natal Tasha. — Abraço-a novamente, e envergonhada — Não acredito que havia-me esquecido que hoje é 25 de dezembro.
Ela ri, retribuindo o abraço acarinhando as minhas costas.
— É normal isso acontecer, você não está nos melhores dias para tal.
Antes de ela sair do cómodo oferece-me a embalagem de um sweater. O casaco de lã temático, para época natalícia, é da cor verde com estampadas de renas. Há uma calça jeans escura acompanhada. É costume, nos Estados Unidos, famílias usarem sweaters de natal, por isso desconfio que esse seja o uniforme optado pelos Philips do ano em curso.
No instante que termino de colocar a calça, cravo a atenção ao espelho de parede do quarto, encarando a barriga. Passo a mão nela e noto que ainda permanece do mesmo tamanho, ou seja, de baixo volume. Estou no primeiro mês de gestação, talvez no segundo iniciarei a perceber um ligeiro inchaço.
“Qual será o sexo dele ou dela?” Questiono interiormente “E se forem gêmeos?” Faço uma careta de pavor. “Calma Jas, se forem duas crianças de certeza que também conseguirá dar conta delas.”
— É, eu consigo sim, até porque não o farei sozinha. — Sorrio fitando o abdômen nú e raso.
Já me sinto tão ligada ao meu bebê e ao mesmo tempo, também, conectada ao Willian. Qual será o sexo que ele prefere? Não vejo a hora de estar com meu amuleto e usufruirmos toda essa fase juntos. Quer seja menino ou menina, apenas almejo que tenha vários traços do pai, quero olhar para o meu filho e automaticamente lembrar-me de meu marido.
— Oi pequeno guerreiro... — Sussurro sem ainda retirar a mão ou visão de meu ventre — Esse será nosso primeiro natal juntos, na verdade eu queria que estivéssemos os três: seu pai, eu e você. — Suspiro fundo sentindo o ápice da emoção — Mas amanhã estaremos de volta para casa e aposto que você e seu pai serão os melhores amigos, ele é o melhor homem do mundo.
Uma lágrima involuntária rola em meu rosto, ao relembrar dos pressentimentos não bons, a respeito de Willian. Eu só estarei bem após de encara-lo novamente, fora disso o coração prosseguirá salpicando como se algo não estivesse certo com ele. O enorme nó ataca a garganta e com os olhos fixos no alto, rogo:
— Por favor Senhor, seja lá o que aconteceu ou estiver para acontecer com meu marido, cuida dele. Imploro, em nome de Jesus, conserve a vida do meu amor. — Desconsigo perceber o porquê proferi as últimas palavras, e isso provoca-me nervosismo.
[...]
O aroma que paira sobre todo o lugar estimula o estômago a roncar, o cheiro é tão envolvente que abriria o apetite de qualquer um, inclusive dos propagandistas da alimentação fitness. Se terá algo que sentirei muita falta cá, será a comida de Tasha. A mulher tem umas mãos dotadas.
— Olha se não é a futura mamãe iluminando a nossa sala. — O homem de cabelos castanhos, grisalhos nas laterais, abre um largo sorriso.
Beijo sua bochecha e o abraço ao alcança-lo, depois de ele levantar-se do sofá, de linho, de quatro lugares.
— Feliz natal, Vincent.
No mesmo momento Tasha aparece e não contenho-me ao verificar que eles estão vestidos com calças da mesma cor que a minha e os mesmos sweaters que uso. É inevitável não sentir-me inclusa na família. Dias atrás eu andava faminta, perdida e sozinha na cidade de Idaho, recebi desprezo, afrontas e até proposta de vender o corpo em troca de comida.
Tudo parecia destruído, mas quando estava no limite, os Philips acolheram-me e cuidaram-me com toda a afeição como se fosse uma filha. No entanto, esse recente gesto de usarmos os mesmos uniformes relativos a época de natal, abrange por completo as minhas emoções.
— Quem diria que eu acharia uma família, antes era uma miserável nessa cidade, — Desconsigo evitar o choro — sinceramente achei que morreria, mas vocês me abrigaram e provaram existir pessoas bondosas ainda! Eu creio que o amor fraternal existe sim, e tudo graças a Deus que me presenteou com vocês os dois. Não estaria aqui senão por vós.
— Nem irei reclamar por me fazer chorar também, anda cá! — Tasha caminha até mim e oferece-me seu abraço fraternal.
Sim, agora eu percebo na carne que família não é somente de sangue. Porque desde hoje em diante, ganhei novos pais: Vincent e Tasha Philips.
No restante da manhã a atmosfera pesada fora levada por muitas risadas e alegria. Uma das principais razões: ver a clássica e insubstituível comédia natalina Alone at home, enquanto continuara a nevar pelo lado de fora da casa.
Para nos manter aconchegados, Tasha serviu uma bela porção de biscoitos de gengibre, acompanhada de uma caneca de chocolate quente e, claro, o infalível candy cane (os famosos docinhos, em forma de bengela, listrados de vermelho e branco com o indiscutível sabor de hortelã), super comum nas casas americanas na época de natal.
Já o meu querido bebê queixava-se de fome o tempo todo, obrigadando-me a comer, melhor, devorar as iguarias sem pausas. Quem é apologista da tese de que os filhos nos envergonham quando crescem? Bom, eu tenho uma correção a fazer; está amplamente errado! Pois esse ser, alojado em meu ventre, faz-me parecer um leoa insaciável.
Finalmente encontrei o lado, hipoteticamente, positivo de estar a milhares de quilómetros de meu marido — ele ainda está livre de testificar e se amedrontar pela mulher comilona que aturará por oito meses, o pobrezinho terá um treco ao constar no que estou a me tornar.
O casal gargalha ao assistir, pela tevê, a cena da punição que o pequeno Kevin dá aos assaltantes que invadem a sua casa. Aproveito-me da mera distração deles e sussurro comigo:
— Eu só espero que nada tenha acontecido com você, amor. — O coração acelera — Eu preciso de você mais do que nunca, Will!
Oi leitores, não esqueçam de votar e comentar, please... É super importante para divulgação do livro e para mim.
Alerta de spoiler: uma grande mudança está por vir. O que será?
Beijos e até logo.
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