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Capítulo 12: Sequelas do passado

Começo
Apenas deixe que a palavra lave sobre você, as mãos de cura do amor te puxam. Então, volte, dê o primeiro passo, deixe a escuridão, sinta o sol, porque a sua história está longe de acabar e sua jornada está apenas começando. Diga ao seu coração para bater novamente, feche os olhos e respire, deixe as sombras caírem, entre na luz da graça

Danny Gokey - Tell your heart to beat again (Mídia acima)

O

uço o estrondo da porta se fechar atrás de mim, no segundo em que pousei pelo apartamento. Um arrepio percorre sobre minha pele, acompanhado de um rápido fashback, ao visualizar o sangue no piso das escadas o qual secou-se ao longo do tempo.

Deixei um suspiro no ar e mais uma vez agradeci a Deus por reservar a vida de Jas e do nosso filho no maldito incidente. Faço uma nota mental em chamar um serviço de limpezas enquanto subo os degraus. As pisadas leves abafam o corredor totalmente mudo e como um imprevisível a porta aberta, do quarto de hóspedes, incitara minha atenção.

A imprescindível memória do que ocorrera na noite anterior, mergulhara pela mente, destacando cada detalhe e as míseras palavras que eu usara contra minha mulher. O peito estreita ao enxergar o envelope, que ela insistira que eu lesse, pousado sobre o recamier. Já idealizando o que esteja nele.

Os escritos digitalizados apontam para positivo a um teste de gravidez. Tudo o que ela quis fora apenas me contar isso, mas moído pela raiva causada por um ciúme imaturo, eu não a ouvi.

As coisas iniciam a clarear a mente, levando-me a entender o por quê ela chorava ao mirar a sobrecarta e teve aqueles sintomas a beira das escadas. Como não desconfiara de sua gestação? Se me apercebesse a tempo, evidentemente nunca se alcançaria o oceano de confusões no qual fui nos meter.

Eu ainda estou aéreo com todos os acontecimentos recentes. O intenso anseio de gritar para ela e abraça-la porque seremos pais, pula dentro de mim. Mas uma voz sombria paira em meus pensamentos e declara com precisão a hipótese de tudo isso ser inválido se ela nunca despertar do coma, afinal de contas o médico carimbou a sentença de não saber se será a curto ou -longo prazo.

Imbuído pela frustração, meneio a cabeça para afastar a nuvem de pensamentos obscuros. Caminhei para o nosso aposento, sem desviar os olhos pesados da porção de papel, até um porta retrato prender a minha atenção no instante em que deitara-me a cama.

O quadro posto sobre o criado mudo, ilustra uma foto tirada em um espaço esverdeado onde apareço com o corpo apoiado em uma árvore, Jasmin acamada em meu colo e os nossos lábios selados. Sorrio ao relembrar como era maravilhoso tê-la diante dos meus braços.

O travesseiro cinza testifica que é a primeira vez que eu dormirei nessa cama, sem ela por perto. Consumido pela saudade, tomo a sua almofada entre meus braços. Seu perfume, suave e doce, ainda está fresco e entra em contato com minha pele. Eu realmente amo o cheiro dela, na verdade não há nada nela que não me fascine.

A essa hora provavelmente o aroma a loção de banho invadiria sutilmente o meu olfato e sua pele morna estaria aconchegada a minha. O cheiro de maçã, ostentado pelos fios dos cabelos, ficaria infiltrado em meu peito e eu certamente amaria isso, como nos dias passados.

Meus dedōes se uniriam aos dela, que são mais curtos por sinal. O gesto era pequeno, mas me relembrava de como meu horizonte se tornara preenchido por ela estar por perto. Abraçar seu corpo, sentir sua respiração e pulsação, emanar seu calor, transformara-se num ritual vicioso para mim. Jamais estarei pronto para abrir mão disso.

Pensar nessa ausência apenas estimula meu interior se corroer de dor. É engraçado em como não damos tanta importância em gestos pequenos, mas que no momento da tensão e solidão são os que mais ursupam a nossa alma.

Afundo-me nessas recordações, até adormecer com o exame de gravidez grudado em uma das mãos, como uma verdadeira relíquia entre meus dedos.

...}

Na manhã seguinte corri literalmente para o hospital. Durante a noite anterior, não podera dormir enquanto minha consciência lúcida questionara-me se a mãe do meu filho tenha melhorado. Ainda contra o meu querer, o pavor em imaginar numa probabilidade de ela ter piorado causava insónias em meu organismo.

O médico de minha esposa, notara a minha preocupação e mesmo hesitando se podera autorizar-me a entrar na sala de vigilância médica, ele por fim liberou uma exceção.

Não pude parar de constatar como os funcionários encaravam-me com pesar, eu simplesmente detestara esses sentimentos de pena. Não resisti ao imaginar se eles saberiam algo a mais, acerca dela, e não terem a coragem de me contar. Embora exercitando, eu desconseguira soar indiferente. Os inúmeros e se baralham a minha mente.

O elevador me leva ao andar acima e minhas articulações ficam descompassadas. A ânsia e o medo de encarar a minha mulher, de uma maneira como nunca a avistara antes, estreita o meu peito. O frio na barriga se intensifica a medida que caminho no vago corredor do quarto andar.

O doutor finalmente abrira a terceira porta, dispensando um enfermeiro para que eu ficasse a sós com ela. Após agradecer a ele, engoli em seco e minhas pernas formigantes guiaram-me para dentro do aposento. Sou recebido pelos ruídos dos bips reproduzidos pelas máquinas instaladas no quarto de paredes neutras e janelas fechadas.

Os olhos marejam depois de descerem até a cama que aloja o corpo de Jasmin. Mas não parece ela, as mãos por cima do lençol azul são ocupadas por fitas adesivas e cateteres, seu rosto pálido é coberto pela máscara CPAP que a ajuda respirar. As pálpebras cerradas demonstram a vulnerabilidade de quem está lutando pela vida. Ela está tão débil!

Nesse momento tudo aponta para mim como o culpado. Com todas as forças, meu coração desejo trocar de lugar com ela. Eu é quem sou digno de estar apagado nesse leito, e não ela. A chama da dor queima-me ao pensar que ela carrega um filho nesse estado.

Não é preciso ser especialista em saúde, para saber que o nosso bebê irá correr riscos se ela não recuperar imediatamente. Mísero marido que eu sou! Por que não a ouvi? Por que tive de ser tão paranóico! Agora, através de mim, ela está guerreando não somente contra a própria vida, mas também pelo nosso filho.

Enxugo os líquidos de amargura, correntes por minha bochecha, com as mangas do casaco. Sento-me sobre a cadeira ao lado e meus dedos trémulos unem-se aos seus, com cautela. Ela está fragilizada, mas a mão ainda está quente como nos dias normais. As unhas estão coloridas de carmesim, a única coisa que aviva todo esse cenário cinzento.

Beijei o pulso, ocupado por tubos que carregam as gotículas de soro, e decido fazer o que tanto desejo, desde a muito. Não é um gesto grande nem chega aos pés do que eu desejara, para remediar a situação, mas como não está sobre o meu controle, é a única opção que me restara.

- O... - A voz falha - oi amor.

Seu médico declarou a grande probabilidade, embora não exata, de ela reconhecer a minha voz, ou até mesmo entender o que digo.

- Eu quero dizer que sinto muito... - Fito-a como se surgirá uma reação sua - Me perdoa por ser um canalha, eu sei que nem estou no direito de pedir isso, mas é tudo que eu consigo! Não imagina como eu desejo nunca ter de trata-la daquele jeito, você não merecia aquilo. Na verdade merece alguém melhor do que eu, mas a questão é que eu não sou completo sem ti, a minha vida perde o encanto sem ti. - Deixo as lágrimas rolarem - Por favor, me deia mais uma chance para prova-la que eu irei melhorar, eu serei diferente. Dia-após-dia, irei ama-la tal como merece, mesmo com os meus defeitos, me esforçarei para ser um ótimo marido, eu prometo.

Ah, e acerca do nosso filho, ela privou-se de estar regozijada ou feliz com essa notícia com medo de dececionar-me. Eu só almejo que ela tenha conhecimento de como isso florescera uma sensação de alegria e prazer, como eu nunca tivera antes.

- Ei, eu já sei que está grávida e estou tão grato por isso. Na verdade, foi uma das melhores coisas que ocorreu-me durante a vida inteira. Mas minha felicidade apenas estará completa, se você estiver livre - Meus olhos passeiam rapidamente pelo cómodo hospitalar e seus componentes - de tudo isso.

Observa-la nessa cama, é pior do que seu ódio e sua indiferença. Seria muito mais fácil suportar essas coisas do que encarar a mulher que eu amo, numa condição moribunda. Não há palavras para descrever como estou-me odiando por ela lidar com todas essas consequências. É um verdadeiro inferno encara-la, estando consciente que eu fui o principal causador de tudo isso. Será que ela irá me perdoar? Porque eu não consigo.

Então meus olhos estacionam até seu ventre, pela primeira vez, a garganta seca, meu cérebro paralisa buscando explicações de como nós conseguimos formar uma vida juntos- nós iremos trazer uma criança ao mundo- já minha mão livre age mais rápido e finalmente pousa em sua barriga. Sinto um choque elétrico em torno do corpo inteiro, os batimentos cardíacos acelerados, e lágrimas molharem os meus olhos. Um sorriso acanhado se esconde em meu rosto.

- Céus, é mesmo real! Nós seremos pais. - Emito um riso frouxo - Sou tão grato por me escolher como o pai do seu filho, ainda não nasceu, mas sei que já daria a minha vida por ele. Eu doar-me-ia por vocês os dois.

Me aproximei até seu rosto e meus lábios beijaram sua testa, de modo delicado e demorado.

- Eu te amo, Jasmin. - Sussurro como se uma alta tonalidade pudesse acorda-la - Não vejo a hora de curtimos isso juntos. Eu imploro meu amor, seja forte e lute para sair dessa. Se não for por nós, faça-o pelo nosso bebê.

Começo a relembrar de tudo, do dia em que a conheci, no momento em que me declarei para ela, no local em que a pedi em casamento. Cada peculiaridade vem a tona, até o que ela usava, suas reações, nenhum pormenor escapa. Uma pancada agonizante estilhaça o meu peito, ao cogitar na possibilidade de isso nunca voltar a acontecer, de jamais reviver algo do tipo com ela.

Amaldiçoei a mim mesmo por tal reflexão, sem conseguir conter o nó na garganta ou a estrutura corpórea abalada. Eu tenho uma aversão pela negatividade, e embora Deus me desafiando para larga-la e me firmar na fé, começo a lutar para me apegar a isso. Pois está difícil crer que tudo voltará ao normal, sem ignorar o pior.

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