Pedaço de madeira bonitinho
Harry sabia que Draco não fazia a mínima ideia do que estava fazendo, as criadas ficariam frustradas quando vissem o estado da bancada.
--Draco, tem certeza de que é assim que se faz bolo?
Harry não tinha muita moral para falar, mas tinha quase certeza que Draco não estava fazendo certo. Quanto leite ele já havia desperdiçado? Aquilo deixava Harry triste, ainda mais porque já havia tido certos vislumbres da sua vida na rua enquanto via Draco fazer aquilo. As pessoas desperdiçavam muita comida, comida que ele mataria para ter naquela época.
--Eu acho que é assim, a receita pelos menos diz que é assim...
Harry revira seus olhos, pelo menos ele sabia agora que Draco era teimoso. Draco Malfoy era muito teimoso.
--Quer que eu ajude?
Ele balança a cabeça negativamente, causando um risinho baixo pela parte de Harry. Draco não havia feito aquela maldita proposta para os dois cozinharem e se conhecerem melhor? Draco Malfoy era estranho, estranho de uma forma engraçada.
--Okay, então eu gostaria de fazer algumas perguntas para você, posso?
Harry o observa concordar com a cabeça, olhando para a folha em sua mão direita e o conteúdo que havia dentro da bacia na bancada, provavelmente nem prestara atenção.
--Certo, eu só espero que você não fique bravo com as perguntas que eu farei, também espero que seja sincero na hora de responder...
Draco novamente não tira seus olhos no que fazia ao concordar, deixando Harry levemente frustrado. Ele poderia ao menos parar por um segundo, não faria muita diferença, o bolo não ficaria comestível de qualquer forma.
--Por que você me tirou da rua?
Atira, acertara em cheio. Draco leva seus olhos em direção a Harry, uma sobrancelha arqueada, como se não tivesse entendido a pergunta.
--O quê?
--Eu perguntei por que você me tirou da rua.
--Ah.
Harry espera pacientemente pela resposta, uma sobrancelha arqueada enquanto fitava os olhos acinzentados em sua frente.
--Então?--Pergunta por fim, notando que Draco não estava tentado a responder.
--Você estava quase morrendo e precisava de ajuda.
Harry analisa seu rosto com paciência, pensando em milhões de coisas diferentes ao mesmo tempo.
--Então você já deveria ter me mandado embora, já me ajudou, mas está aqui tentando me conhecer, por quê?
--Porque você não tem lugar para aonde ir, você era um mendigo...
Harry presta atenção naquele uso de verbo, era, você era um mendigo. Ele não fazia ideia do motivo pelo qual Draco havia usado aquela palavrinha, não fazia ideia do que ele estava insinuando, mas um monte de teorias corriam soltas por sua mente barulhenta, essa que não se calaria muito cedo.
--Era?
Draco levanta uma sobrancelha pela única palavra proferida como pergunta, o nervosismo estava presente em seu olhar.
--Bem, não é como se eu fosse devolvê-lo à rua.
Draco força um risinho sem graça, Harry já se encontrava levemente sem paciência.
--Olha, eu irei acreditar em você, mas é estranho, existem tantos moradores de rua que morrem todo o dia e de repente você aparece e tira um em especifico da rua para impedir que esse morra, depois o deixa sozinho em sua casa, sem medo que ele possa roubar coisas e simplesmente começa a agir como se ele fosse parte da família... Eu não entendo.
Draco volta a cabeça lentamente em direção à bacia em cima do balcão, olhando para o conteúdo como se ele fosse a coisa mais interessante do universo.
--A gente não vai conseguir comer isso, acho melhor eu jogar fora.
E tão rápido o assunto foi embora, quanto chegou.
Draco tinha uma sala de jogos, uma sala de jogos aonde Harry não estava autorizado a entrar, o que de fato provocava a cabeça do jovem, que sentia uma curiosidade imensa em cima daquela sala tão... secreta? Harry não fazia ideia de qual era a palavra correta.
--Podemos brincar com os pavões...
--Por que você tem pavões?!
Harry cora ao notar que havia gritado a pergunta, sem nem deixar Draco terminar de falar antes.
--Bem, é uma herança de família, é um símbolo, digamos...
Harry meneia a cabeça, olhando para o chão em seguida, envergonhado demais para ousar focar seus olhos nos do homem em sua frente.
--Eu gostaria de brincar com eles, mas na realidade eu queria ver a sala de jogos, porque o nome tem jogos...--Harry diz inocentemente, agindo como uma criança na esperança de que o homem fosse deixar com que ele entrasse dentro da tão chamativa sala de jogos.
Draco pisca algumas vezes, levando uma mão à nuca no processo, como se pensasse sobre o que dizer. Harry revira seus olhos. Por que tanto mistério? O homem não poderia, sei lá, ser levemente mais aberto? Não chegava a custar muito, chegava?
--Olha, nem precisa responder, você não vai me deixar entrar lá do mesmo.--Harry diz com a voz magoada, fazendo Draco engolir em seco.
--É que não é bem uma sala de jogos, é outra coisa, você não pode simplesmente entrar lá, Harry.
A forma que Draco disse aquilo, com todo o carinho do mundo, desarma Harry de uma forma que ele não imaginava ser possível. Draco poderia ter sido grosso, raiar por suas perguntas, mesmo que Dobby já tivesse dito a um tempo que não era permitido sua entrada lá... Mas Draco havia sido um anjo ao falar...
--Okay, então vamos brincar com os pavões, mas como se brinca com pavões?
Draco solta um risinho baixo com aquela pergunta, jogando seu braço ao redor da nuca de Harry enquanto se dirigiam até o pátio enorme da mansão.
--Não sei, mas iremos descobrir.
Harry descobrira não gostar nenhum pouco de pavões, não depois do que um fizera com seu dedo, mas chorar não parecia uma opção com Draco sentado logo em sua frente, com seu rosto tão próximo do seu enquanto colocava um esparadrapo na picada.
--Eles nunca fizeram isso, não sei por que um deles foi inventar de fazer logo hoje.
Harry maneia a cabeça, seu rosto estava vermelho, não vermelho quanto quando vira o loiro quase nu, mas mesmo assim estava vermelho.
Harry abaixa seu rosto, tentando esconder a coloração de suas bochechas. O que Harry não esperava era franzir as sobrancelhas ao ver algo estranho no bolso do loiro, o que era aquilo? Então ele estende a mão, movido pela curiosidade até que infantil, pegando um... Pedaço de madeira bonitinho?
Harry fita aquilo, estranhando ao ver os olhos arregalados e assustados do loiro focados no pedaço de maneira.
--O que é isso?--Pergunta, olhando cada detalhe daquele pedaço de madeira, o mexendo de cima à baixo, balançado, batendo no sofá, tudo sob o olhar assustado do loiro mais velho.--Não vai me responder?
Draco balança a cabeça, saindo de seu estado de torpor, antes de puxar o objeto de forma bruta das mãos de Harry, que o olha assustado.
--Desculpa Harry, mas você não pode mexer nisso.--Draco mostra o pedaço de madeira, antes de colocá-lo em seu bolso novamente.--É um objeto de trabalho,--E antes que Harry pudesse fazer outra pergunta.--Eu não irei explicar mais que isso.
Harry bufa, revirando os olhos como uma criança mimada, como que diabos Draco usava aquele pedaço de madeira no trabalho? Não parecia algo muito útil, mas Harry sabia que perguntar não adiantaria nada, Draco não responderia de qualquer madeira.
--Okay, mas não parece muito útil.--Harry diz dando de ombros, levantando logo em seguida, seu dedo já estava completamente enfaixado.
Draco em sua frente suspira, antes de colocar um de seus melhores sorrisos em sua face, como se assim pudesse fazer Harry esquecer do momento embaraçoso, mas Harry apenas se encontrava curioso sobre o pedaço de madeira bonitinho usado para trabalho.
--Vamos fazer algo menos perigoso, que tal pintarmos? Eu tenho algumas tintas e pincéis.
Aquele sorriso que Draco fazia era de uma certa forma enigmático.
--Certo, podemos fazer mais um desses quadros assustadores que você tem pela mansão.
Draco ri baixo, antes de arregalar os olhos como se tivesse visto um fantasma.
--Draco, está tudo bem?
Quando Harry iria se virar, Draco segura em seus ombros, fazendo o jovem arregalar os olhos levemente assustado pela força brusca que Draco havia usado para o manter no lugar.
--O que foi? Parece que viu um fantasma...
Quando Draco iria dizer algo, um pigarreio soa logo atrás de si, fazendo Harry forçar as mãos de Draco a pararem de o apertar, para olhar na direção de onde o pigarreio havia vindo.
Ele franze as sobrancelhas, de onde aquela pessoa suja de fuligem havia vindo? E por que diabos ela estava vestindo roupas tão... roupas tão estranhas? E o chão estava tão sujo sem motivo aparente, além da porta está completamente fechada.
--Draco, de onde está pessoa veio?
Harry olha para trás, notando que Draco estava perto demais das suas costas, os olhos arregalados de uma forma completamente estranha.
--Draco, quem é esse?
Harry volta o seu olhar para o homem estranho. Parando para pensar, ele e Draco eram bem parecidos, o queixo, os olhos, o cabelo, o nariz... Tudo.
--Pai!
Harry se assusta com o grito súbito de Draco, dando um pulinho para frente.
--Olá filho.
O homem sai de trás do sofá, suas vestes estavam inteiramente sujas de fuligem, parecia que havia limpado a chaminé.
--O que faz aqui?--Draco pergunta saindo de trás de Harry, que a essa altura estava completamente atento na conversa dos dois homens.
--Eu vim visitar meu filho, não posso? E aliás, melhor limpar sua lareira mais vezes.
Harry franze as sobrancelhas, finalmente olhando para a lareira e vendo que em frente estava tudo sujo, como se o loiro mais velho tivesse saído dela. Espera... Como se o loiro mais velho tivesse saído dela.
Ele olha para Draco, o loiro mais novo estava com seus olhos arregalados, não conseguindo focá-los em um lugar específico. Então Harry foca seus olhos no homem mais velho, que alternava seu olhar entre os dois, confuso pela cena estranha.
--Não vai me dizer quem é ele, Draco?
O loiro abre a boca, uma, duas, três vezes, mas nenhum som sai da mesma. Harry estava perfeitamente abismado pela cena estranha que presenciava.
Cansado de esperar, Harry estende sua mão para o suposto pai de Draco, um sorriso doce presente em seus lábios.
--Olá senhor Malfoy, meu nome é Harry.
O loiro mais velho olha para a mão estendida em sua frente, antes de a apertar com as sobrancelhas erguidas, tentando entender quem era aquele jovem desconhecido.
--Olá Harry, quem é você exatamente, se é que me entende?
Harry iria responder, mas Draco finalmente sai de seu estado de torpor.
--Pai, Harry é meu amigo, ele está morando aqui.
Harry franze as sobrancelhas para Draco, antes de voltar a olhar para o homem todo sujo em sua frente.
--Ah tá, ele estudou em...
Harry teria rido por Draco ter colocado a mão na frente da boca do pai, mas infelizmente não poderia rir daquilo estando cada vez mais confuso sobre todas as coisas estranhas que andavam rodeando o local.
--Pai, vamos conversar em outro lugar, por favor.
Draco acena para Harry, pegando o braço do pai e o puxando em direção à cozinha.
Harry suspira, andando calmamente em direção ao sofá para fitar o estrago que estava o chão. Como que diabos o pai do Draco havia saído da lareira?
Harry sentia que estava ficando louco, ficando louco ou Draco estava escondendo algo muito sério sobre sua vida e trabalho.
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