Mistério a desvendar
Harry não se lembrava muito bem de como aquilo havia acontecido, era uma lembrança meio nublada para o jovem de cabelos bagunçados, mas enquanto o mesmo andava pelos corredores luxuosos naquela imensa mansão, ele sentia leves lembranças do momento que Draco apareceu para lhe tirar daquela rua assombrosa.
--Vadia, eu quero te foder até te impedir de andar.
--Me larga!
Às vezes não era necessário muito para causar crises de lágrimas no jovem adulto, então ele se sentava em qualquer parte na enorme mansão e se permitia chorar, de preferência com Draco longe, odiava preocupar aquele homem desconhecido, pois em um mundo de tanta desconfiança, Harry não achava que o homem queria seu bem, também como poderia? Seu próprio pai havia prometido que o amaria para sempre, mas que na primeira oportunidade o largou na rua, forçando-o a sobreviver entre os ratos.
--VOCÊ NÃO MANDA AQUI! Entendeu?
--S..sim.
Draco havia o achado na rua, jogado no chão todo ensanguentado, perna quebrada, ambos os braços quebrados, aparência de um morto em decomposição, se não fosse o seu coração que ainda batia lentamente. O bilionário mais bem sucedido de Los Angeles havia lhe tirado das ruas.
Já fazia dois meses, dois meses que Harry vivia naquela mansão, mas ele era incapaz de conhecer tudo naquele lugar, também era incapaz de ter todas as memórias de sua vida na rua, supostamente havia sido estuprado e o estuprador havia batido em sua cabeça com algo imensamente pesado, causando um coma de duas semanas, que só não se tornara mais, pois Draco havia pagado os melhores médicos dos Estados Unidos.
O jovem era incapaz de entender tudo aquilo, chegava a ser assustar que aquele bilionário estranhamente lindo demais havia deixado que ele ficasse em sua casa, quase sempre deixando-o sozinho, como se não importasse que algo simplesmente sumisse de sua prateleira... Bem, ele era bilionário, não faria muita diferença se algo simplesmente desaparecesse.
Draco tinha 22 anos, pelo menos era essa idade que Dobby, o mordomo de olheiras pontiagudas, havia lhe dito. 22 anos, Draco Malfoy, o bilionário mais conhecido do mundo, tinha apenas 22 anos... Era estranho olhar para aquele homem, nas poucas vezes que eles comiam juntos naquela imensa mesa de jantar, e pensar que ele havia ficado bilionário tão cedo, mas não era como se Harry passasse muito tempo o olhando.
Você não serve para nada, é apenas uma puta!
O jovem cai contra a parede, gemendo de dor ao bater seu braço com uma certa força assustadora. Eram essas lembranças estranhas de momentos que teve naquela maldita cidade, que lhe causava isso... Harry odiava quando isso acontecia, Harry odiava essas malditas cenas que apareciam em sua mente, mas não era como se elas fossem parar, no final das contas, ele até queria lembrar de seu passado algumas vezes.
--Senhor, está tudo bem?
Harry se assusta com a voz de Dobby, olhando para o mordomo assustado em sua frente de forma estranha. Dobby não deveria saber que ele estava aí, no último andar daquele enorme local, vagando pelos corredores assustadores.
--Dobby, como você sabia que eu estava aqui?
Harry esperava ao menos uma explicação, a última vez que havia visto Dobby, o mordomo estava na enorme sala de estar, arrumando o local junto às empregadas, que Harry preferia chamar de Auxiliares de Limpeza. Não era possível que Dobby estivesse aí naquele momento.
Dobby cora, envergonhado de uma forma levemente estranha, enquanto mexia em suas mãozinhas pequenas em frente ao corpo. Dobby era estranhamente pequeno, Harry achava que ele deveria ter um metro e cinquenta. Às vezes quando Dobby precisava de ajuda para pegar algo quando as Auxiliares de Limpeza não estavam por perto, Harry ria avaliando seu tamanho com o do pequeno criado, o ajudando enfim.
Criados, era assim que Draco os chamava no plural.
--Senhor, Dobby veio pegar algo para a limpeza...
Harry franzi uma sobrancelha, sabendo que Dobby estava mentindo, mas também não podia exigir que ele lhe desse a verdade, Dobby não era seu criado, era de Draco, ele só devia a verdade a Draco, mas Harry não podia negar que aquela mentira havia o magoado. Ninguém podia culpar Harry por se magoar tão fácil, mesmo que ele não se lembrasse direito, as pessoas sempre mentiam para ele dizendo que iriam voltar com comida ou com mais dinheiro.
--Dobby, eu sei que está mentindo, pode me dizer a verdade, eu não irei ficar irritado com você.
Dobby sorri gentil, ainda brincando com suas mãos, antes de fitar o chão, como se tivesse acabado de fazer algo errado, o que não fazia muito sentido, Harry nunca havia visto Dobby errar ou Draco brigar com ele.
--Senhor Malfoy pediu para que eu ficasse de olho em você.
Harry levanta uma sobrancelha, fitando Dobby como se esperasse que o mordomo dissesse mais alguma coisa para explicar o motivo pelo qual Draco havia pedido para ele ficar de olho, mas Dobby não diz mais nada, acenando com a cabeça antes de começar a andar em direção às escadas.
--O almoço será servido daqui a alguns minutos, senhor Malfoy irá permanecer na mansão hoje de tarde, ele não se encontra muito bem.--Dobby diz antes de descer os degraus, deixando uma interrogação na cabeça de Harry.
Draco, Harry era incapaz de chamar Draco de senhor Malfoy, mesmo que ninguém o chamasse pelo nome. As pessoas o temiam, o temiam de uma forma que Harry não entendia, mas que lutava para entender conforme as semanas passavam.
Uma vez Harry havia tido coragem de perguntar para Draco o motivo pelo qual todos apenas o chamavam pelo sobrenome, conseguira que ele dissesse que era porque o temiam, mas não era a resposta que Harry esperava. Harry queria saber o motivo pelo qual o temiam, Harry se sentia obrigado a saber os motivos pelo quais todos o temiam.
O jovem suspira, começando a trilhar o seu caminho até a escada, agradecendo por ter que descer ao invés de subir, pois quase perdera o fôlego quando teve a ideia de subir até o último andar daquele lugar enorme, nem ele sabia o motivo pelo qual gastava seus dias aí apenas se entupindo de comida para perder tudo descendo e subindo aquelas malditas escadas.
Harry se perde novamente nos quadros nas paredes, todos exibiam figuras engraçadas e alguns quatros tinham até algumas figuras levemente medonhas. Harry não mentia que no primeiro dia aí havia quase desmaiado com a figura de uma velha de olhos arregalados, que ele jurava ter visto se mexer. Na realidade havia tido a graça de cair sentado no chão completamente limpo. Todos que trabalham aí sabiam como fazer mágica naquele chão e paredes, tudo era estranhamente brilhante demais.
--Qual o seu nome, viadinho?
--H..Harry...
Harry se desequilibra na escada, abrindo a boca em um O, tentando se manter em pé no degrau, antes de se desiquilibrar e rolar os últimos seis degraus restantes para o segundo andar. Agora estava com uma dor imensa no quadril, mesmo que sentisse que não havia quebrado nada de seu pequeno corpo magro.
Passos frenéticos são escutados vindo em sua direção, mas Harry agora estava com os olhos fechados. Esperava que fosse Dobby, não queria ter pagado esse mico em frente a qualquer outra pessoa.
--Harry, Dobby diz que você constantemente está caindo...--Harry não ousa abrir os olhos ao escutar a voz de Draco.--Acho que eu me vejo obrigado a chamar um médico para resolvermos isso...
Harry abre seus olhos, rubor aparecendo em suas bochechas ao ver que Draco estava ajoelhado logo em cima de si, um sorrisinho fraco presente no rosto do homem. Chegava a ser estranho, Draco, um homem extremamente conhecido, com todo o dinheiro que poderia querer, sorrindo para um simples morador de rua e sem dinheiro algum.
--Vamos, eu te ajudo a levantar.
Harry sorri sem graça ao vê-lo se levantar, somente para segurar em suas mãos e o puxar lentamente para cima, de uma forma que Harry fique de pé sem machucar muito seus quadris doloridos.
--Machucou muito?
Harry tenta pensar nas melhores palavras para proferir a Draco, mas a novidade era que as mesmas estavam trancadas em sua garganta. Ele nunca havia falado muito com o homem no tempo que estava aí, então não era novidade que as palavras lhe faltassem.
--Não, só meu quadril que dói um pouco.--Harry consegue proferir, olhando para o chão em seguida, envergonhado de uma forma completamente idiota para o momento.
--Precisa que eu chame um médico agora?
A voz de Draco soava tão preocupada que Harry era incapaz de não ruborizar. Por que ele tinha que ter caído naqueles malditos últimos degraus?
--N.. Não.--Harry cora mais ainda ao notar que havia tido a graça de gaguejar.
--Certo, então vamos almoçar, eu passarei a tarde aqui, não estou me sentido bem.
Harry somente balança a cabeça, ainda focando seu olhar no chão, o rosto em tom de tomate enquanto eles andavam em direção à enorme mesa de jantar.
Harry nunca teve muita comida, as pessoas geralmente lhe davam um pão velho ou se tivesse muita sorte elas lhe davam uns 5 ou 10 reais, dependia do humor e do dia. Na sexta feira geralmente era um bom dia para pedir dinheiro nas sinaleiras, geralmente as pessoas estavam mais alegres por ser final de semana e acabavam dando mais dinheiro. Na quinta era um dia em que dependia da pessoa, algumas geralmente estavam irritadas pela programação da sexta, então nem abriam as janelas. Na quarta era um tiro no escuro e na terça e segunda, era melhor nem tentar.
Harry só não era muito capaz de entender o motivo pelo qual em uma cidade extremamente rica, as pessoas não podiam lhe dar mais dinheiro, era Los Angeles afinal! Bem, era difícil de uma celebridade lhe conceder a chance de uma abertura na janela do carrão.
Aí na mansão ele ainda sentia o seu estômago se acostumando com toda aquela carga de energia que estava recebendo por dia, ainda sem contar com as vitaminas que o pediatra o havia receitado, sem contar os vários remédios por causa de sua anemia grave, então com o tempo estava sendo possível ver o resultado que tudo isso estava trazendo ao seu corpo. Não estava mais tão magro, a pele recebia uma coloração mais forte, seu cabelo estava muito mais brilhoso e sem contar o fato de seus olhos verdes estarem muito mais nítidos.
--Por que você não está bem? --Harry se perguntava se era sua estupidez ou qualquer outra coisa que fazia com que ele perguntasse essas coisas para Draco.
O garoto abaixa a cabeça, fitando um ponto qualquer na mesa, sem ser a comida pela metade em seu prato. Se abusasse muito da hospitalidade de Draco com suas perguntas idiotas, temia que ele o expulsasse da mansão.
--Dor de cabeça, tenho trabalho demais.--Responde de uma forma completamente carinhosa, o que faz Harry corar novamente, bufando por aquilo... Estava enjoado de agir feito um completo idiota.
--Certo, e vai fazer o que a tarde inteira?
Harry se controla para não bater com a cabeça naquela maldita mesa. Por que não era capaz de calar a boca grande? Custava tão pouco!
--Bem, eu planejo conhecê-lo melhor, dois meses aqui e eu sei tão pouco sobre você. Também planejo chamar um médico para ver o que tem acontecido para você cair tanto...
Harry tenta não corar novamente, mas falha miseravelmente. Amaria entender o motivo pelo qual ficava corado tão facilmente em frente ao homem, mas sabia que perderia seu tempo tentando entender o cabimento de achar aquele homem misterioso tão charmoso ao ponto de causar essa coloração assustadora em seu rosto.
--Não precisa chamar o médico, é que as minhas memórias estão voltando e com isso eu acabo me assustando com os flashs e me desequilibro.
Ponto! Havia conseguido focar seus olhos nos impecáveis de Draco por vários segundos! Bem, por alguns segundos, porque agora fitava a mesa completamente corado pelo o que havia feito, principalmente pelo fato de Draco estar com uma expressão perfeitamente preocupada na face enquanto o fitava.
--Olha, acho que eu preciso chamar de qualquer jeito, para saber se a sua memória voltará totalmente logo.
Harry se sentia um perfeito idiota.
Você nunca será nada, nada! ENTENDEU?!
Harry pisca cinco vezes rápidas, batendo seu braço em seu prato sem querer, fazendo com que toda a comida caísse em suas roupas. Draco em sua frente fitava a cena perplexo.
--Teve de novo?
Harry apenas concorda com a cabeça, abaixando a cabeça como se quisesse fugir daí... Era vergonhoso demais.
--Eu irei chamá-lo agora mesmo. Dobby! Ajude Harry a se limpar!
Harry observa Draco sair da sala, os passos soando altos conforme ele andava em direção ao corredor.
Draco Malfoy era um mistério que Harry precisava desvendar.
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