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4. Raguel

Sem saber por onde começar, Raguel saiu à procura de outros funcionários do laboratório, sendo que a dor de saber que poderia nunca mais ver sua mãe, ainda martelava em seu peito.

Saber que alguém como Gabriel, que estava passando pela mesma situação, estava a caminho para ajudá-la a entender aquilo tudo a confortava, e mesmo não o conhecendo, algo em sua voz dizia que podia confiar nele.

Passou por várias salas, e olhando dentro delas, avistou mais jalecos e crachás espalhados pelo chão, além de vários armários de arquivos e alguns computadores, mas nenhum funcionário.

Chegando a um pátio com janelas, pode ver que a escuridão ainda reinava lá fora, e sentando-se sentiu o peso da situação cair sobre os ombros, e tomada pelo desespero, chorou.

Após passar algum tempo chorando, com o rosto enterrado nas mãos, Raguel escutou um barulho de passos apressados no corredor, levantou-se enxugando as lágrimas e seguiu de encontro ao som.

Chegando a uma plataforma de observação, pode ver um jovem, que aparentemente tinha a sua idade.

Um jovem bonito, que não tinha porte atlético, mas tinha uma atitude altiva e confiante, que contrastava com os óculos de grau que usava. Não parecia ser nerd, mas aparentava ter uma inteligência diferenciada.

_ Deve ser ele _ Pensou ela, sentindo um estranho alívio da angústia que havia se instalado minutos antes _ Não quero aparentar fraqueza.

Mesmo sem saber por que fazia aquilo, ela pegou em sua bolsa um pequeno espelho, e com um lenço, retirou a maquiagem borrada, e eliminou qualquer vestígio de choro e cansaço de seu rosto com uma base leve e um rímel que destacou seus olhos cor de esmeralda.

Enquanto guardava os objetos em sua bolsa, ela ouviu seu nome, e pela voz que a chamava constatou que era realmente Gabriel, e se virou para vê-lo se aproximar.

_ Gabriel _ Ela disse, visivelmente aliviada por estar conversando com ele. _ Que bom que você chegou, não encontrei funcionário algum.

_ Tudo bem _ Respondeu_ vamos procurar uma explicação para isso juntos.

_ Não foi só aqui que aconteceu _ Continuou ele _ estão falando em todas as mídias que é um fenômeno de escala global. Minha mãe também desapareceu deixando as roupas pra trás.

_ Eu sinto muito _ Ela disse, sentindo a angústia apertar a garganta e o desepero querendo voltar _ Eu só... Eu não sei se consigo. Vivi dependente de minha mãe todo esse tempo. Não sei o que fazer sem ela.

_ Escute Raguel _ Disse o garoto, pegando a mão dela e olhando em seus olhos verdes _ Isto de ser independente e forte também é novo pra mim. Mas podemos contar um com o outro.

_ Tudo bem _ Respondeu, com um leve sorriso, sentindo-se confortada com a presença e o olhar sincero dele_ vamos fazer isso, mas por onde começamos?

_ Acho que temos que traçar um padrão dos desaparecimentos _ Disse ele retirando da bolsa um tablet _ este tablet era da minha mãe, E nele tem um programa de cruzamentos estatísticos criado por ela. Ela me ensinou a usá-lo.

_ Pode ser uma boa idéia_ Ela disse empolgada _se cruzarmos as características dos desaparecidos, vamos ter um padrão, e consequentemente, poderemos saber o que causou esse fenômeno.

_ Minha mãe me dizia _ Disse ele ligando o aparelho _ Que todo problema tem uma equação, cujas raízes às vezes são incógnitas...

_ E nesse caso _ interrompeu ela, completando o raciocínio _ O problema são os desaparecimentos, as equações são os possíveis padrões...

_ E as incógnitas _ Agora foi a vez de ele interromper completando_ São quem e quantos desapareceram.

Era visível a química da interação deles, e ambos percebiam isso. Suas mentes pareciam trabalhar em perfeita harmonia.

Permaneceram buscando Informações em sites de telejornais, criando suposições e possíveis argumentos, sozinhos naquele enorme laboratório, até que uma luz irrompeu tímida pelas janelas e chamou a atenção, e olhando com mais atenção para o céu, puderam ver a silhueta do sol, como se um véu de escuridão o estivesse cobrindo e agora se esvaísse lentamente.

_E se todo esse pesadelo estiver se desfazendo? _ Pensou ela _ Se a luz do sol foi restaurada, talvez as pessoas também, e minha mãe...

Sem pensar saiu correndo para a sala onde encontrara o crachá e o uniforme de sua mãe, mas ao entrar na sala, nada havia mudado.

Com um sentimento de esperança frustada, ela se lançou ao chão, junto às coisas de sua mãe, e chorou mais uma vez.

_ Eu pensei que... _ Ela disse entre soluços, vendo que Gabriel a seguira ate ali._ Que talvez... Já que o sol voltou... Eles também...

Ela se calou quando sentiu o toque de Gabriel, que se ajoelhando também a abraçou, e retribuiu o abraço. Durante algum tempo que pareceu uma eternidade, eles ficaram ali abraçados, e ela pode chorar, sentindo-se segura e amparada. O toque dele a acalmava, e ela sentia que tinha o mesmo efeito nele.

_ Circuito interno _ Ele disse, quebrando o silêncio e o clima_ Talvez tenha filmado o que aconteceu com eles. Precisamos encontrar a sala de monitoramento.

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