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26. Mikael

_ Ela é incrível, não é? _ Mikael perguntou ao jovem sentado no banco do carona, enquanto dirigia e observava a garota que pilotava a sua moto com maestria indo na sua frente, mas mantendo a velocidade para não deixá-los para trás.

_ Você também é! _ Respondeu Will, com dificuldades devido à dor que devia estar sentindo devido aos múltiplos ferimentos que sofreu. _ Digo, vocês são como super-heróis.

_ Sério? _ Mikael perguntou, achando graça no modo como Will falou. _ Você foi um herói hoje protegendo a Nick daqueles caras.

_ Que nada, cara. _ Will respondeu meio sem jeito. _ Eu levei foi uma baita surra, e se não fosse ela, eles teriam me matado.

_ Ela me salvou também. _ Mikael disse, lembrando-se do ódio nos olhos de Neil. _ O Neil iria me matar. Eu jamais entregaria meu pai.

_ Vocês se conhecem há muito tempo? _ Will perguntou, referindo-se à Nick.

_ É o que parece, não é? _ Mikael perguntou de volta, e percebeu o outro concordando com a cabeça. _ Mas não. Eu a conheci essa manhã, quando ela apareceu para me salvar. Parece que a verdadeira heroína é ela. Anda por aí salvando desconhecidos.

_ Mas eu vi o que você pode fazer. _ Will disse. _ Não poderia ter se libertado sozinho?

_ Na verdade eu não sei como isso funciona. Ele respondeu, olhando para uma das mãos. _ Isso também é novo para mim.

_ Talvez tenha a ver com as coisas estranhas que vêm acontecendo desde que o sol se apagou dias atrás. _ Will ponderou.

_ Talvez sim. _ Mikael concordou.

Eles estavam dirigindo a quase uma hora, e haviam atravessado a cidade, chegando na região central onde ficava o hospital. As coisas haviam piorado desde que Mikael tinha estado ali, e ele ficou curioso com o que poderia ter acontecido.

Mais carros e mais destruição tinham sido espalhados pelas ruas, e corpos estavam espalhados deixando o cenário grotesco e o ar pesado e fúnebre.

Ele reduziu a velocidade após ver que Nick havia parado e descido da moto, encostando a caminhonete próxima a ela.

_ Acho melhor encontrarmos outro veículo. _ Ela disse aproximando-se da caminhonete. _ Eles devem rastrear a caminhonete e se ela estiver próxima do hospital, será fácil nos encontrar.

_ Ela tem razão, cara. _ Disse Will. _ Será a primeira coisa que eles farão assim que voltarem.

_ Vamos nos apressar então! _ Mikael disse enquanto descia do carro. _ Você espera aqui Will, vou conseguir outro carro e volto para te pegar.

Ele e Nick seguiram verificando os carros, mas os carros mais próximos estavam bastante danificados, então decidiram seguir adiante até as ruas adjacentes.

Já era noite e somente alguns postes ainda permaneciam acesos pela cidade. Por todos os lados o que viam era destruição e morte. Era incrível como as pessoas se perdiam e se transformavam em meio ao desespero. Que tipo de monstro eles se tornaram? Capazes de tanta destruição.

Mikael havia visto isso de perto com Jim e Scoth na igreja, e não imaginava que a tendência era só piorar.

Lembrar-se da igreja o entristeceu, pois não sabia se seu pai ainda estaria vivo naquele hospital.

Ser capturado por Neil o fez perder muito tempo e a pancada o deixou desacordado por mais de trinta horas, então seu pai devia ter sido acordado na tarde do dia anterior, e se Raphael não tiver chegado a tempo. Agora ao chegar ao hospital, provavelmente encontraria seu pai morto naquele leito.

O som de um grito de socorro lhe tirou de seus pensamentos e ele e Nick viram, correndo desesperadamente na direção deles, uma jovem que parecia estar quase em estado de choque, e pelas suas roupas parecia se tratar de uma moradora de rua, provavelmente usuária de drogas, pelas marcas de seringa em seus braços.

_ Ele matou todos! _ Ela disse, caindo de joelhos aos pés de Mikael, com os olhos arregalados de quem presenciou um grande terror, e as mãos trêmulas e fracas de uma viciada. _ Matou, e drenou todo o sangue, como se faz quando se abate uma galinha.

_ Acalme-se! _ Nick disse, se aproximando deles. _ Nos conte o que aconteceu.

_ Ela deve estar doidona, Nick. _ Mikael disse. _ Veja só os braços. Deve estar usando drogas há vários dias.

_ Ele já apareceu antes, trouxe comida da outra vez, e veio pregar. _ Ela disse para Nick, ignorando Mikael. _ Pastor, o chamaram de pastor... Mas dessa vez ele matou... Matou com as mãos... Matou um por um... E drenou o sangue num barril...

_ Tem razão Mick, deve estar doidona! _ Nick disse levantando-se e virando de costas.

_ Não, espera! _ Mikael disse, segurando as mãos da moça à seus pés. _ Você disse pastor? Ele ainda está lá?

_ Você está achando que é seu pai? _ Nick disse.

_ Ele trazia comida e pregava para os moradores de rua dessa região. _ Ele respondeu. _ Ela disse que ele já veio antes trazer comida e pregar não disse?

_ E também disse que ele matou todo mundo dessa vez. _ Nick respondeu.

_ Talvez essa segunda parte seja loucura da droga. _ Ele respondeu. _ Eu preciso ir lá ver!

Seguindo para onde a moça mostrou, eles passaram por algumas lojas até chegar a um galpão abandonado, iluminado por dentro por alguns barris de metal com fogo, como os usados pelos moradores de rua para se aquecer.

Aproximando-se e olhando por uma janela sem vidros, eles puderam ver um pouco do que a moça havia lhes falado: corpos jaziam espalhados por todo galpão, completamente dilacerados, e aparentemente sem sangue.

Observaram atônitos e incrédulos aquela cena bizarra, até que uma voz vinda de outra parte do galpão chamou-lhes a atenção e eles seguiram cautelosamente até uma outra janela mais para os fundos da construção.

Antes de olhar pela janela, eles resolveram apenas escutar, mas não puderam entender o que era dito, pois parecia ser uma outra língua, mas parecia ser uma oração.

_ Não é possível... _ Mikael começou a dizer após olhar pela janela por um instante e ver a figura que recitava a oração, mas foi interrompido por Nick, que aplicou-lhe uma chave de pescoço e tapou-lhe a boca, levando o para longe de lá.

_ Por você fez isso! _ Ele disse, após se ver livre dela. _ Era ele!

_ Não, não era! _ Ela disse, com um terror nos olhos que o fez prestar atenção no que ela dizia. _ Aquilo não era o seu paí.

_ Como não era! _ Ele disse sem entender o que ela estava lhe dizendo. _ Eu o vi. Ele matou aquelas pessoas...

_ Mick se acalma! _ Ela gritou, colocando as mãos em seus ombros e sacudindo-o para que voltasse a si. _ Me deixe pensar um pouco por favor.

_ Você se lembra do soldado que estava na recepção do ferro velho? _ Ela perguntou, e ele confirmou com a cabeça. _ Eu entrei em espírito, no seu corpo, e suprimí o espírito dele, tomando controle do seu corpo.

_ E quando eu olhei para o seu pai... _ Ela continuou fazendo uma breve pausa parecendo não acreditar no que iria dizer. _ Eu vi uma presença maligna. Como uma grande sombra que estava controlando as ações. O pastor ainda está lá, mas está sendo subjugado por esse espírito obscuro.

_ E o que podemos fazer? _ Ele perguntou.

_ Eu preciso pensar. _ Ela respondeu tapando os olhos com as mãos, parecendo meditar. _ Por hora, leve meu corpo até o Will, e espere eu aparecer.

_ Espere Nick, vc vai... _ Ele começou a dizer, mas parou ao ter que amparar o corpo dela, que caía desfalecido provavelmente por seu espírito tê-lo abandonado.

Pegando-a nos braços, Mikael lutou contra o ímpeto de ir até o seu pai e tirar o que quer que estivesse dominando seu corpo à força, mas por fim resolveu seguir o que Nick lhe disse. Enquanto caminhava até a caminhonete, ele pensou em Raphael, e se perguntou se fora ele quem tinha retirado o pastor dos tubos no hospital, e se foi ele, onde ele estaria agora? Será que o monstro que estava controlando seu pai fez algo contra ele?

Esses pensamentos lhe gelaram a alma. Ele não queria perder Raphael assim, mas agora tinha que pensar em seu pai e afastar qualquer especulação e pensamento ruim.

_ Meu Deus! Ela está bem? _ Gritou Will, ao vê-la desfalecida em seus braços. _ O que aconteceu?

_ Depois eu te explico melhor. _ Mikael disse, colocando ela no banco de trás da caminhonete.

_ Eu estou bem, Will! _ Ela disse aparecendo de repente na janela onde o jovem estava quase o matando de susto. _ Obrigado por se preocupar.

_ Isso que eu ia explicar. _ Mikael disse com um sorriso no rosto de quem já passou por isso. _ Ela adora fazer isso com os outros.

_ A cara de susto de vocês é impagável! _ Ela disse sorrindo. _ Outra hora eu explico melhor Will. _ Eu tenho uma idéia para libertar seu pai Mick, mas não tenho certeza se irá funcionar.

_ Não quero que faça nada arriscado. Ele disse em tom paternal. _ Não quero perder ninguém.

_ Eu tenho que tentar! _ Ela disse. _ Eu vou entrar na mente do seu pai, e retirar o demônio de lá. Acho que é a única forma de não ferí-lo.

_ Pode haver uma batalha lá, e ele pode ficar desligado por um tempo. _ Ela continuou. _ Você protege o seu corpo enquanto isso.

_ Eu ainda acho arriscado! _ Mikael insistiu. _ Não sabemos nada sobre essa coisa que está controlando ele.

_ Olha Mick, _ Ela disse se aproximando e tocando em seu braço. _ Eu já fiz muita coisa sem saber por que estava fazendo. Mas dessa vez eu sei por que, e é por você. Pela primeira vez eu tenho um propósito pessoal, e eu vou ir lá e libertar o seu pai.

_ Tudo bem. _ Ele disse colocando o dedo nos lábios dela, como que para ela parar de falar, e em seguida a beijou sendo correspondido por ela. _ Só volte para mim, tá!

Foi um beijo mais longo e cheio de sentimentos que os demais, e talvez com um tom de despedida, mas com um olhar obstinado e competente ela soltou o seu braço e desapareceu.

_ Eu vou cuidar do corpo dela, cara. _ Will disse da caminhonete. _ Vai lá ajudar seu pai.

Voltando-se para o local onde avistara seu pai, Mikael seguiu apressadamente. Ele sabia que era arriscado, mas deveria confiar em Nick, e apoiá-la no que ela precisasse.

Chegando até o local, observou o alvo agindo como se tivesse alcançado êxito no que quer que estivesse fazendo, e avistou Nick escondida atrás de uma pilha de entulho, como se estivesse esperando para agir.

Se ela estava se escondendo, talvez tenha percebido que a criatura podia vê-la mesmo em projeção astral, o que seria um problema para a missão, e sem pensar duas vezes ele decidiu agir.

_ Quem é você? _ Ele perguntou, após dar a volta pela entrada do galpão, e aparecer a alguns metros do pastor. _ E por que está fazendo isso?

_ Ora, ora, quem vemos aqui! _ O pastor disse, aproximando-se com uma velocidade incrível, colocando-se a um metro do jovem. _ Como assim quem sou eu, Mick? Não se lembra do papai?

_ Meu pai nunca mataria essas pessoas! _ Mikael respondeu sem perder a pose. _ Eu não sei quem ou o que você é, mas porque logo ele?

_ E por que não? _ Ela respondeu, com um tom sarcástico. _ Um pastor que dedicou a vida pelas suas ovelhas e depois foi caçado brutalmente por elas, você não acha que ele quer se vingar? Talvez ele tenha cansado de tudo, e tenha me pedido para ajudá-lo a dar o troco.

_ Você está aí dentro e não sabe nada sobre ele, não é mesmo. _ Mikael retrucou, passando segurança. _ Não existe alma mais altruísta e benevolente que Ben Higgins, e quem o conhece como eu sabe disso.

_ Então talvez eu deva trocá-lo por você. _ O monstro bradou, quase revelando sua natureza por baixo da pele do pastor. _ Mikael Higgins, que se faz de bom moço, mas não pensou duas vezes antes de matar para defender o pai.

Aquelas palavras rasgaram o peito do jovem. Mesmo acreditando que fosse a unica coisa que podia fazer no momento, ele não o queria fazer. Eram tempos difíceis, mas se precisasse usar o seu poder, iria querer usá-lo pra defender as pessoas e não para machucá-las.

_ Por que não o deixa em paz, e me encara? _ Mikael disse, lutando contra a provocação. _ Ou é covarde demais para isso?

_ Covarde, eu? _ O mostro gritou, agora explodindo em ira e agarrando o pescoço do jovem com ambas as mãos, com uma força indescritível, levantando-o centímetros do chão. Suas feições agora tomaram formas grotescas e demoníacas, e o ódio enchia o seu olhar. _ Por que eu perderia essa vantagem? Por acaso acha que eu sou algum tolo? Destruir você agora seria o fim para o pastor, e esse corpo seria meu de vez. Você pensou que eu simplesmente aceitaria seu desafio?

_ Na verdade estava só ganhando tempo para ela. _ Ele disse com dificuldade, enquanto via Nick se aproximar e lançar-se sobre o corpo do pastor assimilando-se a ele, que instantâneamente soltou-lhe o pescoço, ficando completamente imóvel.

_ Agora é com você, Nick! _ Ele disse, antes de jogar o corpo inerte do pastor nos ombros e sair do local.

Não tinha como saber o que estava acontecendo dentro da mente do pastor. Agora devia voltar até a caminhonete, conseguir outro carro, e procurar um lugar seguro enquanto a batalha se desenrolava entre Nick e o ser que estava controlando seu pai.

_ Fique parado e solte o pastor! _ Uma voz desconhecida ordenou, assim que ele saiu na rua principal. _ Eu não quero ferir você.

Cuidadosamente ele se virou e viu um jovem mais ou menos da sua idade, apontando-lhe uma pistola semi-automática. A postura do rapaz era decidida e forte, o que o fez colocar o pastor cuidadosamente de lado, e se afastar alguns metros. Seria esse jovem um dos homens de Neil, ou alguém da igreja?

Mikael sentiu uma forte corrente de ar indo na direção de onde deixou o seu pai, e virando-se instintivamente, observou incrédulo quando uma jovem de cabelos ruivos descia com movimentos perfeitos e pairava ao lado do corpo inerte.

Ela possuía um par de asas pendendo de seus ombros, como se fossem chamas cor de esmeralda, e o deslocamento de ar causado por elas o deixou sem reação.

Com movimentos rápidos e perfeitos, ela pegou o pastor nos braços e sem ao menos olhar em sua direção, lançou-se verticalmente num voô tão veloz, que quase não pode acompanhar em qual direção ela seguiu até que sumisse nos céus.

O jovem com o revólver ainda estava parado lhe apontando a arma, e em sua mente a imagem de Scoth retornou com força, enchendo-o de uma raiva inconsciente. Ele havia acabado de reencontrar o seu pai, e esses desconhecidos o levaram novamente.

Então ele respirou profundamente e canalizou toda sua raiva em seu punho e visualizando o rapaz com a arma se lançou na direção dele, cobrindo a distância que era de mais de dez metros em milésimos de segundos. O golpe atingiu o rapaz com uma potência incalculável, e o arremessou contra uma construção, destruindo tudo em seu caminho como uma bala de canhão.

Observando toda destruição, Mikael se deu conta de que havia se exaltado, e que havia feito novamente o que a criatura que controlava seu pai havia lhe falado, e além do mais, agora não teria como saber para onde o seu pai tinha sido levado. Não podia deixar-se levar pelos sentimentos, afinal era muito poder para usar descontroladamente, e ele poderia se tornar alguém que não queria ser.

Um som vindo dos escombros chamou sua atenção, e olhando na sua direção ele viu uma luz azul tomar o local, e saindo do meio da pilha de tijolos, vidro e ferro retorcido, o jovem que ele golpeou estava ileso e seu corpo coberto por aquela luz.

Antes que pudesse ficar aliviado por não tê-lo matado, Mikael foi atingido no peito por um golpe certeiro que o arremessou para longe, e enquanto seu corpo viajava ele viu o jovem abrir um par de asas azuis que alcançavam as duas extremidades da rua, até que seu corpo atingiu e atravessou a fachada de uma loja, destruindo também todo seu interior.

Antes que pudesse se recuperar, ele viu o garoto se aproximar estendendo a mão em sua direção, e estalando os dedos fez aparecer quase instantâneamente chamas azuis ao seu redor.

_ Vejo que minhas chamas não tem efeito em você. _ O jovem disse, ao ver que suas chamas envolviam Mikael, mas não lhe causavam dano. _ Você é mais forte que os outros demônios!

Livrando-se das chamas, Mikael lançou-se ao ataque, afinal pracisava descobrir para onde levaram seu pai, e o que queriam com ele, mas o jovem bloqueou facilmente seu punho com uma das mãos, prendendo-o firmemente enquanto desferia um contrataque. Desta vez ele pode visualizar o punho do outro jovem vindo à direção do seu rosto, e a exemplo dele também segurou seu punho.

Agora ambos estavam cara a cara e Mikael pode ver o quão profundas eram aquelas chamas azuis nos olhos do seu adversário. Era como se essas chamas fossem seu espírito, mas não sentiu maldade alguma vindo delas.

_ Eu não sei o que pensam que eu sou. _ Mikael disse, ainda olhando nos olhos dele enquanto travavam aquele duelo de forças. _ Mas não vou deixar vocês machucarem o meu pai!

_ Espere um pouco, você disse pai? _ O rapaz disse, surpreendendo-se com o que Mikael acabara de dizer. _ Você é o Mikael?

_ Não lhe interessa quem eu sou! _ Mikael respondeu ainda mais nervoso, mas se conteve ao ver que o garoto havia dispersado as chamas e desarmado sua postura. _ Afinal de contas, quem são vocês e o que querem com o meu pai?

_ Meu nome é Gabriel, e aquela que levou o pastor é a Raguel. _ O jovem respondeu após soltar seu punho e Mikael fazer o mesmo. _ Nós ajudamos seu pai no hospital, e desde então estamos juntos. Quando o vimos desacordado em seus ombros, pensamos que você era um demônio.

_ Vocês o ajudaram no hopital? _ Mikael pereguntou, sentindo o peso de tê-lo atacado sem perguntar nada antes. _ Se não fosse por vocês ele estaria morto então.

_ O seu pai nos contou sobre a reação dos membros da igreja. _ Gabriel disse _ Ele disse o que você fez, reagindo ao tiro que ele levou. O seu poder se parece com o nosso.

_ Então ele viu o que eu fiz? _ Mikael perguntou abaixando a cabeça, sentindo-se envergonhado. _ Eu os matei.

_ Você estava defendendo seu pai, cara. _ Gabriel disse, colocando a mão em seu ombro em sinal de apoio. _ Qualquer pessoa agiria assim, ainda mais desconhecendo o poder que tem.

_ E que poder é esse? _ Mikael perguntou, olhando para a palma das mãos. _ E por que não apareceu antes?

_ Nós também não sabemos. _ Gabriel respondeu. _ Surgiu por acaso quando eu fui atacado por um dêmonio, e a Raguel instintivamente despertou esse poder, destruiu a criatura e me levou ao hospital onde nós encontramos o pastor. Quando eu o vi preso aos aparelhos quase sufocando e a porta trancada, eu atravessei a parede como um fantasma, e descobri que eu tinha poder também.

_ Obrigado por ajudá-lo e protegê-lo enquanto estive longe! _ Mikael agradeceu. _ Eu estava voltando para o hospital, mas eu fui surpreendido por soldados em busca de vingança pelo que houve na igreja.

_ Você escapou usando seu poder? _ Gabriel perguntou.

_ Não. Eu tive ajuda de uma amiga. _ Ele respondeu, lembrando-se de Nick e de Will. _ Por falar nisso, preciso ver como ela está.

Eles seguiram até a caminhonete, e após apresentar Gabriel para Will, e contar ao novo amigo o sobre as habilidades da garota desacordada no banco de traz, como ela o ajudou, e como eles escaparam dos soldados, Mikael contou sobre o galpão onde encontrou seu pai, e que Nick descobriu que algo o estava possuindo e agora estava em espírito tentando libertá-lo.

Gabriel lhe contou que ele e Raguel haviam se conhecido por que seus pais haviam desaparecido, o que viram no circuito interno de tv do laboratório, e que Nick apareceu no vídeo e enviou uma mensagem para Raguel usando o celular de sua mãe.

_ Parece que estávamos destinados a nos encontrar então né? _ Mikael disse. _ Nós precisamos sair daqui.

_ Raguel levou o pastor para o hospital. _ Gabriel disse. _ E ela deve estar preocupada comigo.

Gabriel usou suas asas para voar, e ampliando seu campo de visão, conseguiu encontrar um carro em boas condições e embarcando todos, seguiram para o hospital.

Ao chegarem ao hospital, Mikael pode observar pelo modo como Raguel abraçou Gabriel, o quanto a ligação dos dois era forte. No caminho até ali, o jovem havia lhe contado sobre o ataque dos mortos-vivos no cemitério e lhe disse que o demônio que estava controlando o pastor, poderia ser o mesmo que estava controlando os cadáveres.

_ Então você é o Mikael! _ Raguel disse, aproximando-se. _ Muito prazer em conhecê-lo! Desculpe se agimos furtivamente e te separamos do seu pai novamente.

_ Tudo bem! _ Ele respondeu com um sorriso. _ Vocês só queriam protegê-lo. Eu sou muito grato por isso!

_ O que aconteceu com ele? _ Ela perguntou referindo-se ao pastor. _ Ele não quer acordar.

_ Gabriel me contou sobre o que aconteceu no cemitério. _ Ele respondeu. _ E que o demônio que possuiu os cadáveres, o está possuindo agora. Então Nick decidiu usar sua projeção astral para tentar expulsar-lo pelo lado de dentro, e assim que ela entrou ele apagou.

_ Ela é a garota do vídeo! _ Ela disse olhando para Gabriel. _ Você sabe por quê...

_ Não, ele não sabe. _ Gabriel disse, aproximando-se e abraçando-a. _ Nós vamos ter que perguntar diretamente para ela quando ela retornar.

_ Isso mesmo! _ Disse Mikael. _ Tem coisas sobre ela que eu também não sei, mas ela me salvou e está tentando fazer o mesmo pelo meu pai, então peço que confiem nela também.

_ Nós iremos confiar! _ A garota disse acalmando-se. _ Agora vamos levar vocês para dentro, seu amigo parece estar bem machucado.

_ Ah, esse é o Will. _ Mikael disse, apresentando o rapaz que estava observando a conversa de dentro do carro. _ Ele precisa mesmo descansar.

_ Nós abastecemos bem a dispensa do hospital. _ Ela disse orgulhosa. _ Vou preparar algo para comerem, vocês podem tomar um banho enquanto esperam.

_ Eu vou levar a Nick para um leito. _ Mikael disse, pegando a garota no colo.

_ Deixe isso com o Gabriel, ele vai colocá-la onde o senhor Ben está. _ Raguel disse, com tom autoritário, porém maternal. _ Você ajuda o Will a ir até o vestiário para tomar um banho.

_ Sim senhora! _ Mikael disse sorrindo e entregou Nick para Gabriel. _ Estamos precisando mesmo de um banho.

_ Cara. _ Will disse, enquanto Mikael o empurrava em uma cadeira de rodas até o banheiro. _ Então todos vocês tem poderes?

_ Parece que sim! _ Mikael respondeu. _ Mas parece que nenhum de nós sabe de onde esses poderes vêm.

_ Mas se existem mesmo demônios. _ Ele continuou. _ Precisamos aprender a usá-los o mais rápido possível, e juntos isso pode ser mais fácil.

Após ajudar Will a ir até um dos chuveiros, Mikael fez o mesmo. Enquanto a água quente caía sobre os seus ombros, ele pôde sentir todo o peso da jornada. Desde que havia acordado no cativeiro essa manhã ele não parou, e parece que usar esses poderes exigia um grande esforço físico e realmente precisava descansar.

Pensou em Raphael e desejou que ele estivesse ali. Sentia saudades do seu jeito despreocupado, de sua alegria e agora também do seu toque e do seu beijo. Desejou do fundo do coração que ele estivesse bem, e que viesse logo o encontrar.

Após comer ele se dirigiu a um dos leitos, e mil preocupações o atormentaram. Seu pai, Nick e Raphael, nenhum dos três estava ali, mas seus novos amigos eram um conforto. Raguel era forte e maternal, assim poderia confiar a ela a segurança de todos, além do mais os dois já usavam bem os poderes.

Enfim, sentindo-se seguro sobre a proteção dos dois, ele fechou os olhos e aquietando seu coração, adormeceu.

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