09 - Reunião - XP
O amanhecer foi estranho, Daniel tinha uma vaga noção sobre os fatos que o atormentavam, mesmo sendo uma explicação inacreditável, era algo reconfortante depois de toda uma vida sem ideia do que se passava, agora há um horizonte que aos poucos esta se revelando. E o sonho que se repetia todas as noites, após a descoberta do significado havia desaparecido, sumiu como se o propósito pelo qual existia estivesse sido alcançado.
O quebra-cabeça ainda faltava muitas peças, Daniel queria juntar todas as partes, sabia que havia muitas histórias passadas que refletiriam no seu futuro e até agora só conhecia uma delas por completo, das outras apenas alguns resquícios que invadiam sua mente com breves flashes. A sensação de descobrir os mistérios que o rodeavam era revigorante e o dia prometia ser cheio de descobertas, pois Daniel decidiu que buscaria por mais informações que pudesse dar um rumo a sua vida.
Após um farto café da manhã, Daniel saiu para uma caminhada pelo jardim, essa atitude impressionou o enfermeiro ao questionar aonde o garoto iria, e ao mesmo tempo o deixou preocupado com o comportamento incomum, para tranquilizá-lo Daniel disse:
— Não estou tendo um surto nem nada do tipo, apenas estou decidindo sair um pouco da rotina.
Mesmo com essas palavras o enfermeiro esboçava uma expressão aflita ao se expressar:
— Qualquer problema é só me procurar!
O incomodo era visível na face de Daniel, por não conseguir fazer um simples passeio sem causar um ataque de nervos aos enfermeiros, mesmo assim partiu para o jardim sob os olhares dos responsáveis.
Ao adentrar o jardim, ar puro invade os pulmões era uma ótima sensação e a trilha estreita mantinha Daniel caminhando na direção certa, a mente do garoto fervilha de ideias com vários possíveis desfechos tentando explicar os fenômenos ocorridos em sua vida, e todas as teses mesmo as mais ficcionais faziam sentido, não sabendo identificar a opção correta, Daniel se perde em caminhos estranhos e o retorno é um enigma, flashes, imagens e memórias transitam sem sentido ou direção, a desordem e o caos imperam na mente de Daniel.
O cenário se modifica aquela trilha agora se tornou uma estrada, Daniel desconhece sua localização e começa a procurar por alguém, que não se lembra de quem se trata, até sussurrar:
— Pai! — Olha por todos os lados e não encontra a figura que procura por um breve instante se recompõe e questiona. — Pai? Retoricamente responde. — É cadê meu pai? — O desespero de estar sozinho ali faz Daniel sair da trilha e cair no meio de algumas plantas.
A queda faz seus sentidos de proteção tentar minimizar o impacto, pondo os braços para frente, impedindo assim que seu rosto fosse ao chão, sente uma dor, sua mão pousou sobre uma pedra que o machuca, quando retira a mão de cima da pedra, nota o reluzir do ouro, e a paisagem ao redor agora é úmida rodeada de barro e lama, pegando a pepita de ouro e colocando contra a luz do sol, o garoto presencia o brilhar da pedra.
O brilho amarelado desfoca, e fica perceptível uma rocha gigantesca caindo do alto, Daniel tenta esquivar, mas a medida que a rocha se aproxima seu tamanho diminui, e quando chega muito próxima do garoto, a pedra está com um tamanho bem reduzido e facilmente Daniel se desvia.
A pedra passa pelo garoto e continua caindo, seguindo o rumo percorrido pela pedra, Daniel percebe que agora estava no alto de uma árvore, e diversas outras pedras rumam para atingi-lo, com movimentos bruscos desvia de todas as pedras, por um instante Daniel perde o equilíbrio e segura rapidamente num galho da árvore, o movimento veloz o fez ir de cara com as folhas do galho.
Havia uma folha com um furo, e Daniel conseguia ver através do buraco, quando um olho castanho escuro aparece do outro lado da folha e fica encarando o garoto. O susto é imenso e só aumenta quando a folha começa a ficar preta e toma o formato de uma mascara, e no segundo seguinte todas as folhas da arvore eram mascaras com apenas um olho, e todos insistiam em encarar Daniel.
Encolhendo o corpo e reprimindo os movimentos, Daniel baixa a cabeça sob os joelhos observa o nascer da relva entre seus pés, à árvore agora era um precipício enorme, o soar de um grito chama atenção de Daniel, em sua direção vinha um homem que parecia disposto a empurrá-lo, mas surpreendendo Daniel, o homem o agarra e se joga junto com ele. Ao ar livre era um voo desesperador, o homem que estava em queda junto de Daniel, sumiu o garoto estava sozinho cortando o vento com suas costas, quando Daniel sussurra um questionamento:
— Eu existo? — A frase ecoa varias vezes sempre diminuindo o tom.
— Sim, você existe!
Os olhos se abrem, e Daniel estava caído entre as plantas do jardim, sob o olhar do enfermeiro questionando-o:
— Tudo bem garoto?
Levantando-se entres as plantas, Daniel passa as mãos pela roupa retirando a sujeira, constrangido não encara o enfermeiro, mas se preocupa em responder a pergunta:
— Sim, estou bem, foi apenas um tombo bobo. Eu não existo mesmo. — Da uma leve risada para disfarçar e termina a frase. — Tanto desastre em uma pessoa só! — No ato seguinte Daniel recusa a ajuda do enfermeiro e segue a trilha do jardim.
Dois passos adiante e quase esbarra num homem que falava:
— Desculpa!
A aparição surpreendeu Daniel que recua o corpo para trás esganiçando:
— Q... — E cai novamente, ao olhar para trás o enfermeiro o encarava, e com um sorriso de constrangimento, Daniel se justifica novamente. — Viu um desastre.
Emitindo uma risada forçada sai correndo para não ter que encarar novamente o enfermeiro, que ficou paralisado e com uma expressão confusa buscando uma explicação. O corpo sedentário sugava o máximo de ar que conseguia, após a breve corrida, Daniel descansava entre alguns altos coqueiros, segundos depois o mesmo homem que havia se desculpado há pouco atrás debocha:
— Já se recuperou? Eu não queria assustá-lo me desculpa novamente.
— Novamente? — Daniel retruca com uma expressão confusa.
— É hoje, já te coloquei em apuros duas vezes. — O homem coça a cabeça de nervoso e fala. — Com aquelas memórias e em seguida aparecendo de forma brusca, eu sinto muito.
A surpresa é tamanha que até a respiração ofegante cessa rapidamente, e pausadamente Daniel diz:
— E.n.t.ã.o v.o.c.ê! — Antes que ele terminasse o homem interrompe falando:
— Sim, eu sou uma de suas histórias do passado, Israel Sicílias, muito prazer. Estende a mão para cumprimentar Daniel, que incrédulo aperta a mão do espírito.
Daniel fica meio quieto e calado e o dialogo entre os dois fica meio tenso e silencioso como se não tivessem assunto algum parar tratar, para reverter essa situação Israel começa a falar:
— As minhas desculpas foram sinceras, espero que tenha me perdoado, eu só invadi a sua mente porque você parecia disposto a ouvir a minha historia.
Balança a cabeça em positivo, Daniel esboça uma fala, mas antes de se pronunciar é interrompido por uma voz:
— Isso também foi culpa minha. — Frase dita por uma mulher que surgiu atrás de Daniel, o garoto tremulou ao olhar para a mulher, que acrescentou. — Sua mente parecia finalmente pronta para conhecer a minha história, mas agora vejo que eu deveria ter me apresentado antes de começar de fato a mostrar nosso passado, eu sou Izane Fontes.
— Garoto, você esta indo muito afoito querendo descobrir tudo de uma só vez, calma a história é longa, até os fatos que você já conhece se embaralhou na sua mente. — Zaki falou depois de surgir bruscamente.
Cabisbaixo, Daniel fica refletindo sobre o que viu naqueles flashes, quando mais uma figura masculina aparece:
— Eu também vi seu subconsciente buscando por informações e resolvi mostrar, eu sou Fernão Dias, minhas memórias se embaralharam com as dos outros e deixamos sua mente bem confusa.
Buscando informações sobre aqueles rostos, Daniel via tudo como se fosse fotos em preto e branco passando em alta velocidade, não consegui identificar nem concretizar nada sobre aquelas pessoas, e conhecia somente Zaki.
A reunião só crescia dessa vez um jovem cabisbaixo surgiu declarando:
— Eu também sinto muito, eu já invadi suas memórias duas vezes. — Uma pausa de alguns segundos demonstrava o receio, como se um arrependimento grade estivesse guardado, as palavras saíram num tom tímido. — Sendo que dá primeira vez eu quase o levei a morte, eu sou Siel o garoto que você viu no topo do hospital, durante aquele incidente.
A memória de Daniel conseguiu chegar até aquela imagem, mesmo como se fosse um borrão cinzento, remete as lembranças de quando ele surtou e caiu da cobertura do hospital, os olhos fixos de Daniel assombram Siel que permanece cabisbaixo, ele sentia que devia mais que apenas um pedido de desculpas, e como se um surto de coragem o invadisse ele levanta a cabeça e enuncia:
— Eu, vou te ajudar cedendo todas as minhas habilidades, isso é o mínimo que posso fazer, pode contar comigo Daniel, eu sou o seu antecessor e não fui capaz de concluir a missão XP, mas farei tudo que eu puder para que você consiga!
Novas informações, imagens, flashes, memórias, passado e presente sufocando Daniel, mesmo as palavras de apoio ditas por Siel, não conseguiram reconfortar o garoto, a reação de Daniel aquela situação preocupava Zaki, que tentava manter o controle.
— Calma pessoal foi muita informação o garoto deve estar confuso. Zaki tentava manter o controle da situação. — Vamos explicar em ordem. — Todos consentiram com Zaki, e deixaram Daniel se acalmar e conseguir reagir às novas informações, sem preencher a mente do garoto com sequência de fatos embaralhados.
O vento soprava as palhas dos coqueiros, e um tempo depois, Daniel já assimilava algumas memórias e tudo estava bem mais calmo Zaki agiu como um porta-voz:
— Vamos colocar ordem nas memórias e relatar tudo de uma vez, tirar todas as duvidas possíveis da mente desse garoto, que já sofreu demais.
Após terminar de falar essas palavras outras nove pessoas surgiram e se juntaram ao grupo que agora somavam quinze pessoas contando com Daniel. Esse evento desestabilizou outra vez Daniel, notando o desconforto do garoto, Zaki procurou acalmá-lo novamente:
— Tudo bem Daniel, todas essas pessoas pertencem ao nosso passado, a partir de agora queremos que você conheça a sua história, e para isso iremos destravar todas as informações, pois tudo que se passou já está bem ai na sua cabeça com imagens e registros, você precisa apenas interligar tudo.
Rodeado de pessoas estranhas,Daniel se questionava o quanto de verdade havia ali, se não era apenas mais uma peça pregada pela sua mente, tudo era muito confuso, mas ele estava cansado de fugir, dessa vez queria conhecer toda a verdade e ir até o fim.
*****YOOOOH*****
Oi eu sou o Renato, o capítulo 10 será um especial onde contará a história dos outros antepassados XP, eu o dividi em 5 partes espero que gostem.
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