07 - Sem horizontes
Depois de ouvir o desfecho da batalha, Daniel encara Zaki com um olhar de decepção e questiona:
— Você perdeu?
— Nem sempre ganhamos ainda mais numa luta cheia de ressentimentos o que tornou tudo mais difícil. — Depois do lamento a história segue. — Após o nocaute, acordo amarrado a um tronco, de longe escuto gritos e batidas em tambores, vejo a fumaça das fogueiras subindo, era a comemoração da tribo oferecida ao vencedor, mas como havia perdido só me restava o sofrimento, como aqueles cristais passaram de um sonho a pesadelo? — Zaki se autoquestiona.
— E você ficou preso lá? Aceitou a derrota? — Daniel faz os questionamentos como se desafiasse Zaki.
— Eu não me conformei, batalhei demais para no final ter conseguido apenas a escravidão, enquanto todos festejavam passei a noite enfraquecendo as cordas de tanto raspá-las no tronco em que me amarraram, essa movimentação deixou meus braços formigando e meus pulsos com vários arranhões do atrito com o troco, fiz isso ate o ponto em que a corda cedeu, fingindo ainda estar amarrado observei tudo em volta até raiar a madrugar e quando vi que não havia ninguém sai correndo dali. Quando estava a uma boa distância me lembrei do meu sonho, e que ele foi tirado de mim, pensava o quanto injusto isso era, ter conseguido um grande feito e não poder desfrutar disso, não suportei, e a minha consciência me martelava, até que eu decidi recuperar o que havia sido tirado de mim. Voltei pelo mesmo caminho, um pouquinho antes de chegar às tendas da tribo comecei a observar tudo a minha volta para não cometer nenhuma mancada e ser pego novamente, a comemoração foi extravagante as pessoas que não conseguiram voltar para as tendas estavam deitadas ao relento, cuidadosamente passei por trás daquela algazarra indo para a tenda do líder tribal.
— Você conseguiu recuperar os cristais? — O tom de reviravolta fez Daniel ficar curioso e questionar.
— Calma eu vou chegar lá. — Zaki disse enquanto ria do entusiasmo do garoto, e decide continuar para desvendar mais sobre a história. — E sim, eu os peguei, entrei vagarosamente na tenda, rodeado de mulheres o chefe dormia, todos exaustos da festa, não notaram a minha presença, procurei em vários lugares até que os encontrei em um pacote, os guardei em minhas trouxas, logo me apressei para sair dali, quando eu estava saindo uma das mulheres estava acordada, ela ficou olhando fixamente para mim, fiz um sinal para que ela não contasse nada, mas de nada isso adiantou, e o grito que ela soltou foi o estopim para que eu saísse correndo. O Grito acordou o chefe, notando a falta dos cristais colocou os homens mais rápidos da tribo para me perseguir, a essa altura eu estava nos arredores, indo em direção a uma floresta perigosa da região, uma das poucas chances que eu tinha para escapar sem deixar rastros.
Essa série de acontecimentos deixou Daniel fixado na história fazendo-o questionar:
— E fugiu pra cá?
— Que tipo de pessoa gosta de spoiler? — Zaki solta um olhar reprovador, depois disso, rir e continua a relatar. — Ainda não, eu fiquei na floresta descansando da longa caminhada, foi quando percebi que haviam seguido meus rastros, notei pelo barulho que faziam e os latidos dos cães de caça farejando meu cheiro. Rapidamente subi numa árvore altíssima para disfarçar minha localização, fiquei no alto da árvore quietinho, apenas ouvindo a movimentação pela floresta, quando uma pedra vem e quase me acerta, nesse momento eu gelei, ao olhar para baixo vejo três homens da tribo e dois cães parados próximos ao tronco da arvore em que eu estava; um dos homens começou a escalar, movimentei-me depressa para quebrar um galho que estava próximo, o quebrei e com os dentes providenciei uma ponta, usei como uma lança e o joguei na cabeça do homem que subia, provocando uma perfuração e a perda de equilíbrio do indivíduo, que em seguida caiu, a queda causou diversas fraturas. Aquilo assustou os outros dois homens, os forçando a mudar de estratégia, então começaram a lançar pedras em minha direção, eu sempre me movimentava para dificultar a precisão deles.
Daniel fica esperando cada frase e Zaki não mede esforços para contar detalhes e transportar o garoto para sua historia, e continua:
— As pedras eram lançadas atingindo uma grande extensão até que acertaram um vespeiro assanhando um grupo de vespas, eu fiquei quietinho e mesmo levando algumas ferroadas tentava não chamar atenção, após alguns minutos às pedras cessaram os homens não tinham mais pedras nas proximidades para lançarem em mim, então apenas aguardavam encostados no tronco. Estava encurralado não tinha como fugir dali, me veio uma ideia repentina, subi alguns galhos e fui até às proximidades do vespeiro, com força comecei a saltar no galho em que o vespeiro estava preso, depois de alguns pulos e tendo como resposta, ferroadas, o vespeiro caiu às vespas se alastraram, atacaram os cães e os homens fazendo os correrem desesperados e rolarem pelo chão, aproveitando a distração desci rapidamente da árvore e adentrei ainda mais na floresta.
— Acho que já vi uma cena parecida, mas não lembro onde! — Daniel diz ao colocar a mão no queixo tentando lembrar.
— Atravessei a floresta, estava o tempo todo me questionando se finalmente iria conseguir escapar com os meus cristais, até que notei que estava cego pela ganância igual à Taú, apenas um dos cristais me pertencia o outro era daquele idiota, e ele merecia até teve de ganha-lo por duas vezes, decidi que não iria me corromper e devolveria o cristal dele. Eu não iria voltar novamente até a tribo para isso, então lembrei que Táu talvez fosse continuar o sonho em busca de pedras preciosas e voltaria onde nós encontramos esses cristais, sem certeza de nada decidi voltar até aquela gruta, fui até a região de pedras sedimentares e quando avistei o buraco de acesso a gruta, adentrei, segui a trilha chegando ao lago cristalino, mesmo com um pouco de remorso de fazer isso peguei o cristal vermelho da minha trouxa e o coloquei de volta ao lago, sai dali pensando se aquele cristal algum dia pertenceria novamente a Taú.
Sob o olhar confuso de Daniel, Zaki fica sem graça, sendo questionado pelo garoto:
— Sério mesmo que você deixou um dos cristais para aquele traidor? Mesmo com todo o trabalho que teve?
— Sim, eu não queria ser injusto, aquele cristal pertencia a ele, era uma parte do nosso sonho e eu queria honrar nossa amizade. — Zaki explicou sua motivação e seguiu relatando. — Caminhei por aquele caminho rochoso até as proximidades do mar. Quando ouço latidos, eram dois dos caçadores que me perseguiam junto dos cães farejadores, assim que os avistei corri rapidamente tentando me distanciar o máximo possível, a perseguição durou por um longo tempo, como não conhecia bem aquela região apenas seguia meus extintos, foi nessa que me encurralaram, fiquei sem saída no pico de um rochedo rodeado pelo mar de ondas agressivas, e pelos cães e caçadores que se vangloriavam por terem me colocado em uma situação sem escapatória. Seguindo os mesmos extintos que haviam me levado até ali, mergulhei no mar e deixei as ondas me levarem, usando todas as minhas forças para ficar vivo e permanecer com o cristal que me restava.
Daniel notou que nesse momento Zaki estava emocionado ao narrar os acontecimentos, isso trazia memórias que um dia ele lutou para esquecer, e contar era como reviver:
— No mar, eu lutava contra a corrente usava todas as minhas forças para sobreviver, nadei por horas e no horizonte havia apenas água e mais água, horas depois desisti minhas forças se esgotaram e eu fiquei a deriva, foi quando ao longe avistei um navio, aquilo me deu esperanças, tirei forças de onde já não havia mais e nadei rumo ao navio,sempre tentando chamar a atenção de alguém que estivesse a bordo. Quando me aproximei o bastante vi que se tratava de um navio negreiro, e transportavam escravos para o uso da mão de obra, com receio de perder novamente meu tesouro escondi o cristal nas minhas vestes intimas, mas eu estava desiludido com o caminho que meu sonho havia me levado, em minha frente havia apenas duas opções morrer ou me entregar como escravo, aos poucos eu fui afundando no mar, tinha feito a minha escolha, quando engoli uma grande quantidade de água apaguei.
*****YOOOOOH*****
Oi, eu sou o Renato!
A saga de Zaki ficou mais comprida do que eu imaginava, e para não tornar uma leitura cansativa dividi em mais um capitulo, espero imensamente que estejam gostando e que continuem acompanhando Retrocognição.
Até mais... E não esquece da estrela!
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