04 - Dia de amor e dor
Os olhos se abrem, observando o branco de tudo em volta, aparelhos emitindo ruídos e ataduras por todos os lados, logo se ouve uma voz:
– Graças a Deus você acordou, me deu um grande susto garoto.
Ao olhar para o lado situava-se a irmã Liliane emocionada e aflita em meio à situação. Descrente da sua sobrevivência, Daniel questiona:
– O que aconteceu? Como eu vim parar aqui?
Levando a mão suavemente até a testa do garoto, irmã Liliane o reconforta ao falar:
– Você já sobreviveu a muita coisa, foi por isso que lhe dei o nome de Daniel, mesmo em meio a leões você resiste. – Enquanto ajustava algumas ataduras à irmã continua – E saiba que é muito importante para mim, desde que você chegou ao orfanato eu passei a ter fé em milagres.
Esboçando remorso, os olhos de Daniel se enchem de lagrimas. Então, Liliane resolve contar todo o ocorrido:
– Após você cair do telhado, os bombeiros conseguiram impedir sua queda com uma espécie de cama elástica, e graças a Deus o pior não aconteceu.
Coberto de muito amor, carinho e aconselhamentos, Daniel passou vários dias no hospital sob a companhia da Irmã Liliane que cuidou e orientou o garoto a dias melhores.
De volta ao sanatório, Daniel aparenta estar calmo e centrado, aqueles dias sob o afeto da Irmã Liliane fizeram muito bem a ele, porém o garoto continuava a ter alucinações e conversava com as tais visões de modo tão realista que chega a convencer que uma pessoal real está ali presente.
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Sob constantes exames, tratamentos e experimentos dos mais variados possíveis, Daniel foi submetido ao longo de quase 10 anos a uma extensa rotina de analises periódica, passou por vários médicos, mas nenhum foi capaz de desvendar o problema do garoto e diagnosticá-lo, nos exames de Daniel não apresentava problema algum que pudesse causar os sintomas alucinógenos que o garoto descreve. Aquilo o deixa frustrado, o desconhecimento do seu próprio ser, causa uma sensação de impotência em relação a sua vida, não ser capaz de resolver seus problemas e seguir em frente o deixa em um ciclo desordenado e sem metas.
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Em outubro de 2014, já sem esperanças de um dia ter uma vida social, Daniel recluso na sua monótona e entediante rotina, aos 14 anos de idade, a esperança de uma vida normal está aos poucos sumindo, sempre esperando pelas mesmas coisas, de manhã estudos e as tardes vagas preenchidas com livros, indo até o limite de quando a visão não aguentar mais olhar as páginas, essa atividade era uma tática usada para consumir toda sua atenção e reprimir as alucinações que aos poucos foram diminuindo gradativamente. A vida nunca foi tão igual os dias passam sem diferença, e a sensação de estar sempre na mesma data.
Até os sonhos de Daniel foram resumindo se a um, todas as noites ele sonhava e pela manhã a mesma lembrança, descrito ao psicólogo uma dúzia de vezes, resumindo, no sonho mostra uma gruta subterrânea um tanto escura, no centro da mesma tem um lago com uma água reluzente, banhado por essas águas estão dois cristais ou algo semelhante, aparentam ser preciosos, porém os dois cristais são diferentes, um deles é vermelho reluzente o outro é totalmente azul. Na continuidade do sonho ocorre uma transição, o cristal azul aos pouco começar a perder a cor, esse processo acontece lentamente, à medida que o azul descolore, o cristal vermelho começa a reluzir num tom mais escuro, e quando resta apenas uma pontinha de cor ao cristal azul o sonho acaba ou vem o despertar, esse ciclo tem insistido em se repetir, perturbando o sono do garoto com a mesma historia.
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O tempo passa e Daniel vive sem perspectivas, mesmo uma data importante não o empolga, ignorou seu aniversario e apenas vivenciou sua rotina, essa data sempre foi um conflito para ele, era o dia do seu nascimento e da morte de seus pais, nunca foi fácil superar a dor, porém a convicção de autocontrole fez o garoto fingir não se importar com a data. Trancado no quarto mergulhado nos livros repelindo tudo e todos, Daniel ouve uma batida na porta, que em seguida se abre, era uma enfermeira que informava:
– Daniel, tem que marcar uma consulta agora, venha comigo.
A expressão de incomodo com aquilo é notável na face de Daniel, que se levanta rapidamente e segue a enfermeira, passando por corredores ate chegar ao pátio.
Alguns segundos depois o ambiente é invadido por um alto som:
– Surpresa! - em seguida em um tom de coral, inicia – Parabéns pra você...
A canção era puxada pela irmã Liliane, que segurava uma bandeja com um lindo bolo, no topo velinhas de quinze anos, ao lado da irmã, tinha alguns adolescentes do orfanato, entre eles estava Clarinha, a companheira especial de Daniel nos tempos em que viveu no orfanato, visivelmente ela mudou um pouco, agora crescida, a garota preservou sua pele clara, mas a adolescência lhe trouxe traços marcantes e os longos cabelos quando criança; foram cortados na altura do pescoço. Daniel abre um largo sorriso bobo e sem graça, logo seus olhos se enchem de lágrimas, envergonhado logo começa a secá-los passando as mãos nos cantos levemente.
Assim que acabou a canção de parabéns pra você, Clarinha é a primeira á abraçar Daniel, soltando as felicitações:
– Parabéns Daniel, que saudades de você.
Aquilo significou muito para Daniel, alguém sentia sua falta uma pessoa em todo o mundo está ligada a ele, mesmo a distancia alguém ainda mantinha laços; envergonhado timidamente, Daniel agradece:
– Muito obrigado Clarinha.
– Ninguém mais me chama assim, agora é só Clara. – a garota responde rindo.
Daniel esta com uma cara abobalhada e ri discretamente:
– Realmente você está bem grandinha para ser chamada assim.
Ambos riram para disfarçar o nervosismo, o diálogo curto foi interrompido pelos outros adolescentes que também queriam felicitar o garoto.
Nitidamente, Daniel estava feliz, aquela situação o deixou muito contente, mesmo sendo uma data em que ele não fazia questão de comemorar, ter contato com pessoas que se importam com ele e manter laços sociais, era algo interessante. Então chega o momento que em todo aniversario é aguardado, o primeiro pedaço do bolo, que é entregue a pessoa mais especial em sua vida, Daniel se pergunta quem seria essa pessoa? Naturalmente seria a Irmã Liliane por tudo que ela já fez por ele, mesmo sendo uma pessoa que atualmente tem pouco contato, Daniel tem imensa admiração e respeito por ela, todos os momentos no orfanato foram de carinho e aconselhamentos, e em momentos difíceis como quando ele foi para o hospital a Irmã Liliane esteve presente o tempo todo.
Depois de refletir um pouco está decidido, Daniel vê a Irmã Liliane como a sua segunda mãe, e a acha merecedora da primeira fatia de bolo, então se prepara para repartir, quando ferozmente um interno do sanatório invade a festa e enfia as mãos no bolo antes mesmo que Daniel pudesse repartir a primeira fatia, o interno nitidamente era doente mental, após a ação ele sai feliz e gargalhando, comendo o bolo diretamente das mãos.
Todos que participavam da festa ficaram boquiabertos com aquela situação, a pior reação foi de Daniel no choque inicial ficou paralisado tentando digerir o ocorrido em seguida começa a desabafar gritando:
– Eu mereço tudo isso? Sempre me esforço, faço de tudo pra melhorar, e pela primeira vez na vida eu tenho uma festa de aniversario com convidados que se esforçaram para a realização, e essa bosta de lugar estraga tudo, isso não vai ficar assim... - essas palavras chocaram e comoveram a todos os convidados, e em seguida se assustaram com a atitude que o Daniel tomou.
Tremendo de raiva, Daniel pega a bandeja com restante que sobrou do bolo e segue o interno que o estragou, esbravejando as palavras:
– Era bolo que você queria? Pois então terá!
Com uma expressão assustadora, Daniel em nada lembra ao garoto tímido e esforçado dos últimos dias, e na sequência acerta a bandeja contra o rosto do doente mental e o empurra ate a parede o prensando com força, depois de encurralá-lo, Daniel começa a dar socos com brutalidade, desfigurando e fazendo sagrar o rosto do interno. Atrás de Daniel havia um homem, tinha um rosto cheio de cicatrizes parecia buscar justiça, esse homem gritava:
– Bata com força ate nocauteá-lo, não deixe que ele saia impune!
Notando aquele homem e percebendo que não havia o visto por ali antes, Daniel acredita que o mesmo faça parte da sua mente, o garoto então tenta voltar a si, vendo que perdeu o controle se choca com o estado em que deixou o rosto do doente mental, mais o pior foi ver que todos estavam olhando para ele como se ele fosse um monstro. Depois de toda a gritaria um dos guardas desatentos vem para impedir a atrocidade, imobiliza Daniel e o encaminha a uma sala de retenção, sob os olhares assustados dos convidados.
Desolada e a espreita de qualquer informação, Irmã Liliane fica de olho na entrada da sala na qual Daniel está detido, olhando minuciosamente para qualquer movimentação na área, um dos guardas aborda a irmã, falando:
– Senhora, já extrapolou o horário de visita, preciso que a senhora e os outros visitantes se retirem, não se preocupe com o garoto, pois cuidaremos dele.
Extremamente desconfiada das ações do sanatório, irmã Liliane se retira dali, sempre olhando para trás para tentar descobrir qualquer ação suspeita, na sala de visitas estavam às crianças que a acompanhavam direto do orfanato, assim que a Irmã chegou calaram-se todos os cochichos, apreensiva a Irmã diz aos adolescentes:
– Hora de irmos.
Todos olham para a irmã Liliane com curiosidade sobre o que ocorreu com Daniel, porém a única que a questionou foi Clara:
– O que houve com Daniel?
– Eu não sei, mais garanto que ele ficara bem. - a irmã responde apressada.
Todos seguem em direção a saída, comentários sobre o incidente ocorrem vagamente, pois apesar do interesse sobre o ocorrido, todos notaram que a irmã Liliane se sentia desconfortável em responder as perguntas e a preocupação dela transbordava para todos a cada comentário.
*****YOOOOOH*****
Oi, eu sou o Renato!
Mais um capitulo postado, espero que tenham gostado, e já devo adiantar que tem muita ação vindo nos próximos capítulos, então fique atento as atualizações.
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