01 - O décimo Quinto (XV)
O mundo gira sempre desordenadamente, já observou que muitas coisas não fazem sentido? Os momentos, as imagens e as lembranças, são espalhadas embaralhadas na mente humana, onde cada ser tem suas memórias. Já imaginou como seria um sistema que interligasse todas as memórias do mundo, ou uma mente capaz de armazenar conhecimento ao longo da historia?
Numa cela de cadeia rodeada de males, entra uma visitante, de pele morena, cabelos castanhos encaracolados, roupa modesta, aparentemente no nono mês de gestação, nessa ocasião visitava seu marido que há sete meses estava encarcerado, homem negro, alto e com uma musculatura bem desenvolvida, usava uniforme de presidiário. Na sala de visitas do presídio, o casal discutia as tristezas da vida e isso refletia no olhar de ambos, que se olhavam frente a frente sob uma mesa, os lamentos de escolhas erradas, o homem algemado se pronuncia:
— Leda, não sabe o quanto eu me arrependo dos meus atos, mesmo que eu não pudesse dar o luxo que vocês merecem, eu queria pelo menos poder desfrutar dos momentos junto de você e do nosso filho.— De forma desajeitada devido às algemas tenta passar a mão na barriga de sua amada, e continua — Mas eu sempre fui ganancioso e acabei com a minha vida e com o nosso futuro juntos.
Depois dessas palavras, Leda tem uma expressão de dor, o homem rapidamente pergunta:
— Você esta bem?
— Estou bem Miro, foi apenas um movimento do bebê, até porque já estou no nono mês de gestação em breve ele vai nascer. — em seguida Leda passa a mão na barriga.
Miro então fica cabisbaixo, ao perceber tudo que perderá em relação a sua família, o nascimento de seu primeiro filho, lágrimas em seu olhar mostra o descontentamento com a situação em que se encontra. Um dos guardas da prisão vem até o casal e informa:
— O período de visitas acabou.
Com a ajuda de Miro, Leda se levanta e o abraça carinhosamente em despedida, dizendo baixinho em seu ouvido:
— Até logo, espero trazer nosso filho na próxima visita.
Ao ultrapassar a cela de visita, Leda ouve o barulho de tiros, fragilizada devido à gestação o susto causa-lhe um desmaio, Miro tenta ir até sua amada, mas é impedido pelo guarda, após ser imobilizado, Miro que já se encontrava chorando implora:
— Por favor, cuida dela eu juro que não sairei daqui!
O guarda desconfiado tenta acordar Leda que se encontrava no chão. Ao notar que realmente tratava-se de algo grave o guarda então usa o rádio e pede por ajuda:
— Chamem uma ambulância, temos uma emergência gestante desmaiada.
Meio tonta, Leda levanta-se devagar e nota o sangramento entre suas pernas de imediato começa a chorar desesperada, sendo amparada pelo guarda. Miro no mesmo instante tenta acalmá-la, de forma falha, pois mal consegue falar com tamanho desastre.
Quando de repente aparece um homem armado usando uma mascara preta com a abertura de um único olho grande atravessado, no mesmo instante o guarda empunha a arma, um mirando no outro, entre essas ameaças, Miro ajuda Leda a ficar de pé, o homem mascarado usa o gatilho rápido e atira no guarda que cai, aproveitando essa distração, Miro ajuda Leda a sair do meio daquele embate indo em direção ao corredor, o mascarado dispara novamente tentando acertar o casal, mas a bala desvia nas grades, Leda ainda em recuperação e sentindo fortes dores e contrações, sob sacrifício começa a correr junto de Miro em direção a saída.
O homem mascarado começa a persegui-los, com uma velocidade superior logo alcança o casal, encurralados e sob a mira de um revolver aquele parece um fim trágico daquela família que deu azar na vida sempre enfrentaram dificuldades, mas nunca pensaram em desistir e muito menos que o fim seria tão breve, o mascarado mirando a arma, naquele momento, Leda abraça seu marido que fica impossibilitado de devolver o ato de afeto devido as algemas, permanecem unidos até no fim , então Miro fala:
— Eu te amo Leda, me desculpe por ter estragado tudo e ter metido você nessa enrascada.
O mascarado grita:
— Cala essa boca imundice! Nem no fim... Ouve-se o barulho de um tiro.
O mascarado cai, e no corredor com dificuldades caminhava o guarda, com uma das mãos tentava estancar o sangramento do tiro que levou no abdômen, e com a outra mão segura a arma, tranquiliza e então fala para o casal:
— Vamos pela saída de emergência, mas sem gracinhas Miro, nada de fugir da prisão, faço isso apenas pela vida da sua mulher que carrega uma criança, vamos é por aqui!
Então os três caminham pelos corredores escuros do presídio, sirenes, tiros, gritaria, aquele barulho todo é abafado, o medo a gana de sobreviver deixa tudo em segundo plano fazendo a vida prevalecer.
No final do corredor, o guarda na frente guiava o casal que caminhavam juntos, ate se depararem com uma porta grande com uma placa escrito saída de emergência, o guarda empurra a porta com força destravando as fechaduras de segurança, fazendo com que a porta se abra lentamente deixando entrar a luz do sol. Gatilhos e mais gatilhos, o guarda tenta correr para o interior da prisão novamente, mas cai antes de conseguir da o primeiro passo, Miro com agilidade se posta como um escudo para Leda entrado na frente das balas e naquele instante é metralhado nas costas, caindo por cima de sua esposa.
Ao ver os três caídos, os tiros são suspensos, depois de não sobrar nem rastros dos atiradores, Leda chorava muito ao perceber que Miro não tinha batimentos e sua vida havia chegado ao fim, sem ter o que fazer em relação à Miro só lhe resta abandoná-lo ali, começa a movê-lo até conseguir retirar o corpo de Miro que estava sobre de si; desestruturada, Leda movimenta-se lentamente, sentindo muitas dores, sobrou pouca força para caminhar, resistindo à situação, arrastar-se lentamente pelo chão, buscando formas de fugir sem ser vista. Leda então na saída olha tudo em volta, não há sinais dos atiradores mascarados, com barriga de gestante fica difícil continuar arrastando sem sofrer arranhões, preocupada com a criança começa a engatinhar para que não haja lesões e a criança possa sobreviver.
Um cenário desolador corpos de guardas e de presidiários espalhados por todo o pátio do presídio, cartuchos de balas pelo chão, portões arrombados por um tanque de guerra, sem sinal dos atiradores, Leda, passa em meio a vários corpos espalhados pelo chão sempre verificando tudo em volta e a qualquer movimentação se camufla fingindo estar morta, aquilo lhe afeta fazendo-a tremer a um ponto em que mal consegue movimentar o corpo, quando rapidamente tem sua perna puxada por um dos presidiários baleado que sussurra:
— Socorro!
Impossibilitada de continuar seu trajeto, Leda responde:
— Desculpa, mas eu não tenho forças nem para ajudar a mim mesma.
Ao notar a situação de Leda o presidiário a solta deixando-a livre para prosseguir. Depois de tanto sacrifício para se locomover eis que Leda se aproxima do portão, ao colocar a mão para o lado de fora do portão, dar uma pausa, e sua perna é puxada novamente logo começa a lamentar por não poder ajudar:
— Desculp... — Antes que pudesse terminar a palavra, Leda cai extasiada no chão, o que ela mais temia naquele momento, um dos mascarados segura sua perna, pálida e sem reação, Leda chora desesperada, o mascarado ri daquela cena dizendo:
— Que choro maravilhoso não lembra em nada o irritante choro de uma criança.
O mascarado então agarra Leda pelos braços sob resistência consegue arrastá-la de volta ao presídio, sem forças para continuar lutando só resta aceitar o fim, as últimas imagens da vida da sonhadora Leda são um pátio repleto de cadáveres e um chão pintado de sangue com o fim aceito não resta mais nada. Um enorme barulho estende-se na área próxima ao presídio ate que vários helicópteros, começam a sobrevoar o presídio, vendo-se encurralados os mascarados iniciam o plano de fuga, Leda ainda sendo arrasta para a cova nota toda a movimentação em volta, o mascarado que à arrastava apressa a morte atirando sem precisão no ombro de Leda e jogando-a em uma vala onde escoava a água do pátio o buraco estava cheio de cadáveres, Leda respira lentamente e começa a perder muito sangue, sua visão começa a escurecer e o mundo começa a desaparecer em luz.
Um batalhão de homens armados rapidamente invadem o presídio e tomam a área do domínio dos mascados. Começam as buscas por sobreviventes, as equipes de resgate rapidamente atendem e levam os feridos ao hospital, rondando por toda a extensão do presídio notam Leda, uma gestante em meio aos corpos, um dos bombeiros diz:
— Que crueldade, tem uma gestante próxima aquele córrego.
Para o resgate, os bombeiros usam equipamentos de escalada e descem ate o córrego, verificam o batimento da gestante que ainda está pulsando, colocam Leda em uma maca, em seguida é submersa e levada rapidamente ao hospital.
Dando entrada no hospital, Leda é conduzida para a emergência, pela gravidade do caso é celeremente direcionada a sala de cirurgia, onde os médicos fazem uma cesariana, o bebê é retirado sem sinal de vida, e mesmo tendo feito de tudo para estabelecer Leda após a cirurgia sua pulsação aos poucos se esvai restando à morte, os médicos saem cabisbaixos com o fracasso, mais duas vidas foram perdidas naquela tragédia.
Após ser dado como morto o bebê é deixado de lado, e colocado no necrotério, transpiração leve, aparece um homem misterioso observando o bebê, que aos poucos volta a ter uma circulação, chega um segundo homem, com sistema voltando a funcionar o bebê abre os olhos e quando vê há várias pessoas ao seu redor, não estava sozinho, naquela sala havia quatorze pessoas em sua volta vibrando com sua sobrevivência. Todos emocionados, alguns choram de felicidade olhando o milagre da sobrevivência daquela criança, toda aquela comoção assusta o garoto fazendo-o chorar. Uma enfermeira que transitava pelo corredor logo ouve o choro e procura de onde está vindo, sendo direcionada ao necrotério nota a criança viva e a pega no colo com uma expressão surpresa como se não acreditasse em seus olhos, em seguida leva o bebê para receber o tratamento necessário.
A súbita e repentina morte seguida de ressurreição deixou os médicos de plantão curiosos, muitos acreditavam ser um milagre outros céticos desconfiam de descaso e erro médico. Um mistério que fez aquela criança ser internada e submetida a diversos exames, sem explicação o decorrido no caso ainda é desconhecido.
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