UMA VEZ EX, SEMPRE EX
— Senhorita Chevalier, chegamos — o motorista informa.
Ergo meus olhos do celular e o encaro através do reflexo do retrovisor. Fico alguns segundos a mais do que necessário observando-o. Sob a aba do quepe, tenho a impressão de que conheço esse par de olhos verdes. Forço minha memória a tentar se recordar de onde posso conhecê-lo. Não é que seu rosto me seja familiar porque ele é um dos funcionários do meu pai — o que provavelmente me levou a vê-lo um par de vezes —, mas tem alguma coisa a mais que não consigo decifrar.
— Senhorita Chevalier? — ele me chama de novo. — Precisa de ajuda?
Pisco duas vezes e, quando percebo, a porta do meu lado está aberta, e ele estica a mão para mim. Abro um sorriso pequeno e recomponho minha postura, aceitando sua ajuda. Seguro sua mão e saio do carro, colocando um pé para fora e depois o outro. Levo um ou dois milésimos de segundos para conseguir me equilibrar nos meus saltos, minha mão ainda presa à dele.
— Merci — agradeço, ajustando meu vestido no corpo e olhando por cima do seu ombro. O saguão onde vai acontecer o baile de máscaras e o desfile de Silvia Ferreira se ergue na minha frente com sua arquitetura renascentista imponente.
Ele murmura um de rien baixo ao passo que me distancio dele, ainda na minha tentativa de me recordar de onde diabos o conheço. Estou alcançando a porta de entrada quando, de repente, me recordo. Giro nos meus calcanhares, um "Ei, espere!" na ponta da língua. Mas quando termino de me virar, o carro já partiu. Suspiro e sigo meu trajeto. Silvia já está por aqui descarregando ordens para todos os lados com seu francês com forte sotaque português.
Passamos o restante da tarde nos preparando para o desfile. Provamos as peças, fazemos ajustes nas roupas, conhecemos a passarela. Além das vestimentas da coleção, Silvia também confeccionou as máscaras venezianas das modelos para o tema do baile. A minha é um acessório delicado, dourado, que se molda perfeitamente no meu rosto.
— Ele não está na lista de convidados? — Silvia pergunta, andando rapidamente ao lado do assistente, os saltos dos seus sapatos ressoando no piso e sobressaindo ao som de secadores e conversas.
No camarim, perto do horário de começarmos os desfiles, estamos fazendo cabelo e maquiagem, a grande maioria enrolada em roupões antes do espetáculo começar.
— Não — o assistente responde. — Já tem alguns dias que ele está ligando e pedindo o nome na lista.
— E qual o nome dessa figura? — Silvia indaga parando atrás de mim e me olhando pelo reflexo. Tem um cabelereiro me fazendo um penteado e uma manicure cuidando das minhas unhas. A estilista aperta meus ombros e sorri para mim, fazendo um rápido elogio à minha aparência.
— Bem, até cinco minutos atrás estava fazendo mistério. Alguma coisa sobre querer discrição. Eu disse que se não me desse um nome e se não fosse um nome importante, sem chances de colocá-lo na lista. — Silvia dá uma risadinha e afofa meu cabelo. — A figura é Emilien Dupont.
Pisco um par de vezes, reconhecendo o nome e ficando curiosa ao mesmo tempo. Desde quando Emil se interessa por moda? Além do mais, até onde estava sabendo, ele estava morando fora do país e isso já tinha bem uns dois anos. Foi embora sem se despedir e nunca deu uma ligação para a mãe ou para a irmã. Acabo por me perguntar se sua presença em Paris é permanente ou se está só de passagem.
Silvia faz um esgar diante à menção do nome dele e move a mão no ar.
— Não conheço — responde, virando-se para o assistente.
— Eu tampouco, mas pesquisei e...
—... é um dos investidores mais importantes de Paris — completo. Os dois me olham, surpresos. — Eu o conheço — digo, sem entrar em detalhes. — A mãe dele é melhor amiga da minha. Emilien não é nenhuma celebridade, mas no mundo dos negócios tem renome.
— E ele se interessa por moda? — o assistente pergunta, cruzando os braços.
— Não que eu saiba e...
— Mas é um investidor — Silvia adiciona, me interrompendo. — Coloque-o na lista. Quem sabe surge alguma oportunidade — ordena, dando um tapinha no meu ombro e se afastando, seguindo para a próxima modelo.
É bom mesmo que ele esteja aqui. Precisamos conversar.
Eu o avisto ao longe, atravessando entre as pessoas, e abro um pequeno sorriso. Emilien está voltando da sacada do local, terminando de ajeitar a máscara de peste negra no rosto, depois de ter seguido uma garota negra com quem estava dançando durante o baile após o desfile e, ao se revelar, recebeu um tapa na cara. Não vou mentir que a situação me deixou curiosa, mas a imagem me deu uma sensação de prazer inexplicável. Acho que essa mulher — seja ela quem for — fez por mim o que queria ter feito uns quinze anos atrás com esse safado bonito.
Aproximo-me aos poucos, sem que ele note, ajustando a máscara veneziana no meu rosto. Não sei se Emil ainda não me notou entre as modelos da Silvia ou se notou e simplesmente me ignorou. Da passarela, quando o vi sentado em um lugar privilegiado, e nossos olhos se encontraram, eu sabia que era ele, apesar da máscara cobrindo quase todo o seu rosto, mas o homem não deu nenhum indício de que me reconheceu.
Apresso o passo e consigo alcançá-lo, enlaçando o seu braço. Emil se volta na minha direção e, em um mísero segundo, tenho um relance de esperança nos seus olhos azuis, que logo transmitem uma pequena frustração. Ele esperava que fosse outra pessoa no meu lugar. Arrisco na moça negra com quem esteve minutos atrás.
— De volta a Paris e nem para avisar aos amigos — digo, quebrando o silêncio entre nós.
Emil me analisa por um segundo e sorri forçado, tornando a caminhar. Não desfaço meu nó em seu braço e o acompanho. Ele pega uma taça de champanhe de uma garçonete e bebe um gole generoso.
— Vamos, Emilien, não pode me ignorar toda a vida — protesto, cansada de como me evita.
— O que está fazendo aqui? — questiona, ao invés disso, parando seu caminhar e girando na minha direção.
Pisco, de uma forma inocente.
— Fui uma das modelos de Silvia Ferreira. Me impressiona que não tenha me reconhecido depois de tudo que já vivemos juntos — menciono nosso relacionamento do passado. — Te reconheci assim que te vi, mesmo com essa máscara elegantemente horrenda — digo, fazendo uma pequena careta. — Diferente daquela moça com quem você estava dançando. Aliás — alfineto, tomando a taça da sua mão e bebendo do seu champanhe. A marca do meu batom vermelho fica pintado no cristal. — Por que ela te estapeou?
Eu pergunto, mas sei que ele não vai me responder. Vai fugir de qualquer resposta. Estou curiosa para saber o que Emilien fez à garota que mereceu um tapa na cara, mas estou ainda mais curiosa em descobrir se ele está envolvido com essa moça de uma forma emocional. Não que ainda me importe com quem ele se apaixona ou deixa de ser apaixonar, mas é por uma questão de sororidade.
— Isso não vem ao caso agora — rebate, desfazendo-se, por fim, do meu toque. — Sabia que eu estaria aqui?
Exibo um sorrio meio cínico.
— Por um acaso, eu soube — respondo, sem fazer questão de explicar que só soube que ele estaria aqui hoje à tarde. — Devo dizer que estou chateada por ter ido embora e mais ainda por ter regressado e não ter contatado ninguém? Nicole quase não te considera mais um irmão.
Tudo bem que a última vez que vi Nicole foi há uns seis meses. O assunto "Emilien" surgiu na mesa e tudo o que a menina resmungou foi um "aquele bastardo ingrato". Mas digo de um modo a fazê-lo pensar que estive com sua irmã há pouco tempo. É bom que sinta um pouco de remorso por não se importar com ninguém e ter ido embora.
Emil não diz nada por longos segundos, preferindo observar a movimentação do baile. Sigo o seu olhar, direcionado para a porta de entrada, onde a mulher que o estapeou o encara de uma maneira que, se pudesse, apertaria o pescoço dele. Arrisco dizer que tem um coração partido nessa história.
— Não sei por que esse drama — fala, virando-se para mim outra vez. — Mal vejo minha irmã desde que papai morreu.
— Mas você mantinha contato, apesar disso. Entretanto, nos dois últimos anos não deu uma ligação para sua família, Emilien — pontuo, usando a palavra proibida.
Emil odeia falar sobre esse assunto. Sei disso, mas gosto de provocá-lo.
— Não tenho família — rebate, e o sinto ficar tenso.
— Nicole é sua família. E tem sua mãe.
Estudo sua reação quando menciono a mãe dele. Como disse, gosto de vê-lo perdendo a linha com determinados assuntos. Elizabeth Dupont é o que podemos chamar de o tormento de Emil. Quer ver esse homem desestabilizado, irritado e sem paciência? É só falar da mãe.
Por longos segundos, toda sua resposta é uma risada sem humor e cortar contato visual. Ele torna a admirar o baile, a mulher parada no mesmo lugar, analisando nossa interação. Até que ela parece se cansar de nos observar e se mistura na multidão.
— Não falo com minha mãe tem bem uns dez anos.
— Porque você se afastou — digo.
Ele teve motivos para se afastar de Elizabeth e confesso que eu mesma não teria suportado um terço do que esse homem suportou. Mas ele também me feriu de um jeito que ninguém nunca tinha feito e é por isso que sinto uma necessidade meio mórbida de sempre cutucar suas feridas.
— Porque ela sempre adorou foder com minha mente — retruca, trincando os dentes, demonstrando como falar da mãe o deixa perturbado. — Se eu me mudei e me afastei, cortei contato, foi para preservar minha saúde mental que até hoje é desgraçada por causa da minha mãe.
Não digo nada por algum tempo, porque ele está certo. Por mais que ainda cultive uma pequena mágoa por causa do nosso passado e use isso como pretexto para justificar porque gosto tanto de vê-lo perturbado quando o assunto é a mãe ou a sua insistência em nos juntar outra vez, não posso negar o dano psicológico que aquela mulher causa no próprio filho.
— Ao menos fale com sua irmã, Emil — aconselho, erguendo-me nos pés para falar ao seu ouvido, porque sei como um é importante para o outro e não acho justo ele ter de sempre se afastar da irmã por causa da megera da mãe. — Nicole vai gostar de saber que está na cidade.
Ele não me responde. Como se repudiasse minha presença, simplesmente me dá as costas e me deixa sozinha. Acompanho-o com o olhar até a mesa de um homem que, suponho, seja seu amigo, pescando outra taça de champanhe no meio do trajeto. Trago mais uma dose da bebida que roubei dele e o observo por mais algum tempo. Não consegui ter a conversa que queria, mas não vão me faltar oportunidades.
Emil precisa saber que descobri o segredo sujo dele.
Elizabeth nos recebe em sua casa com uma alegria meio fora do comum. Ela abraça minha mãe, depois vem até mim, encaixando-me entre seus braços enquanto me elogia e pergunta como estou, reclamando que há tempos não me vê. Explico que é a turnê com Silvia que tem sugado cada segundo dos meus dias. Em seguida, recebe meu pai do mesmo jeito e só então nos encaminha até a sala de jantar devidamente organizada para um almoço de domingo
Ela se senta na ponta da mesa, falando como está feliz com nossa visita. Na verdade, eu não queria ter vindo. Houve um tempo em que adorava Elizabeth Dupont, mas depois que o filho dela rompeu nosso noivado e ela passou a me atormentar para tentarmos reatar, muito da minha admiração foi se esvaindo. Cada maldita oportunidade que tinha para me infernizar com o assunto, lá estava ela. E tenho certeza de que hoje não será diferente, principalmente porque Emil está de volta a Paris. Não sei se ela já sabe, mas vou descobrir em breve.
Florence e Elizabeth colocam um pouco da conversa em dia até a mesa ser servida com o menu do almoço. De repente, a matriarca Dupont quer saber como foi o desfile e o baile de ontem à noite. Minha mãe responde como tudo estava muito bonito, elegante e de muito bom gosto, e em determinado momento, toca no nome do meu ex-noivo.
— Achei, por um instante, que você estava no evento, porque vi Emilien lá — Florence diz, dando uma garfada na sua comida. — Inclusive, não sabia que ele tinha voltado para a França.
Os olhos claros e inquisidores de Elizabeth vêm até mim e sei, nesse momento, que a mulher não tinha conhecimento do retorno do próprio filho ao seu país de origem.
— Eu nunca nem mesmo soube por que Emilien resolveu ir embora para Nova Iorque, logo não me admira que tenha voltado sem me comunicar — Elizabeth responde, pegando sua taça de vinho com um movimento quase realengo e tomando um gole delicado.
— Seu filho ainda te evita? — papai indaga, do seu lugar ao lado da minha mãe, limpando os lábios com o guardanapo de pano.
— Ele é um ingrato, Ferdinand. Sempre fiz de tudo para aquele menino e como ele me agradece? Ficando afastado de mim. A última vez que o vi já deve ter bem uns dez anos.
Não culpo Emilien por ter se afastado da própria mãe. Tenho vontade de trazer isso à mesa, dizer para Elizabeth algumas verdades que ela precisa ouvir, que se o filho dela foi embora e não faz nenhuma visita é porque ela é um perigo para sua saúde mental. Apesar da vontade de dizer isso tudo, fico calada, degustando minha comida, não ousando ser intrometida dessa maneira.
— Isso é uma lástima — minha mãe apieda-se. — Um filho não deveria ficar tanto tempo sem ver ou sem falar com sua mãe. Principalmente depois de você ter feito de tudo por ele.
— Para não dizer que Emilien não fala comigo, sempre que precisa me comunicar qualquer coisa sobre a empresa, faz isso por e-mail ou por meio de nossos representantes. Mas é sempre assim, não concorda, Florence? Você dá o mundo para os filhos e eles te dão as costas. Veja Nicole, que também resolveu se afastar de mim.
Há um silêncio constrangedor entre nós. Todo mundo sabe porque Nicole, que sempre adorou a mãe, quase também não a visita, ou se comunica. Elizabeth é controladora demais. Tudo precisa ser do jeito dela, do contrário ela te inferniza. Ela defende que tudo o que faz é pelo bem dos filhos, mas suas atitudes parecem apenas afastá-los e magoá-los, ao invés disso. Sei que a filha caçula sempre foi sua preferida. A garotinha que mimava e usava para manipular e atingir o filho mais velho. A caçula Dupont a vida toda recebeu da mãe o que o mais velho não recebeu. A tão adorada menina um dia descobriu como sua mãe poderia ser uma megera, se quisesse. E é por isso que também se afastou.
— Você também o viu, Marjorie? — Elizabeth pergunta.
Antes que eu possa responder, minha mãe o faz por mim:
— Ah, claro! Os dois até conversaram por um ou dois minutos, não é, chérie? — Droga, mãe. Não dê munição para essa mulher me azucrinar.
Forço um pequeno sorriso, precisando de um pouco de vinho para aguentar o que vai vir depois que Florence confirmou que não só vi Emil como conversei com ele. Elizabeth abre um sorriso grandioso, seus olhos azuis brilhando daquela forma esperançosa que sempre brilhou quando o assunto era eu e seu filho.
— Oui, eu o vi e conversamos muito rapidamente. Não foi nada demais. Emilien, inclusive, parecia descontente com minha presença.
— Bobagem — Elizabeth desdenha, movendo a mão no ar. — Emil ainda gosta de você e sua presença deve apenas mexer com ele.
Seguro um suspiro exasperado e me viro para meu pai, com um "SOS" nos olhos. No começo, quando eu tinha lá meus vintes anos, ele até aprovava minha relação com Emilien. Nós já tínhamos namorado antes, com uns dezesseis, mas nos separamos porque a paixão adolescente esfriou, o que é completamente normal dessa idade. Eu conheci outros caras, ele conheceu outras garotas. Um tempo depois, após muita pressão psicológica de sua mãe, nós reatamos com um noivado. Na época, apesar de ter conhecido outras pessoas, eu ainda gostava muito dele, então aceitei reatarmos. A um mês de nos casarmos, Thierry Dupont faleceu e, em seguida, ele rompeu nosso relacionamento depois de tê-lo visto beijando outra garota. O que me magoou aquela vez não foi o fato de Emil ter beijado outra mulher, nem mesmo ter terminado comigo. Foi ele não ter sido honesto. Foi ter me dito que não tinha cabeça para organizar um casamento depois de ter perdido o pai e pouco tempo depois estar namorando outra garota. Ele me magoou e cagou para meus sentimentos.
Então, depois disso tudo, depois de namorar por anos a melhor amiga, de até dividir um apartamento com ela, Elizabeth seguia o advertindo por ter rompido nosso compromisso. Ela simplesmente não aceitava e azucrinava tanto o coitado quanto a mim. Foi só depois dessa confusão toda que Ferdinand passou a desaprovar qualquer relação entre nós e a pressão da minha ex-sogra. Meu pai ainda mantém amizade com Emil, acho até que não guarda nenhum rancor dele, mas ele já me disse que se um dia resolvermos tentar de novo, não vai aprovar nossa relação.
Papai nem tem que se preocupar com isso. Não existe a mínima possibilidade de Emilien e eu reatarmos de novo. Eu já o superei tem muito tempo. Uma vez ex, sempre ex. Levo essa filosofia de vida desde que reatei com ele e não demos mais certo. Nunca mais reatei com um ex.
— Bobagem é insistirmos em unir esses dois, Elizabeth — meu pai diz, com toda polidez do mundo. — Os dois romperam já tem tanto tempo...
— Sim! — Elizabeth exclama, animada. — E nenhum deles nunca se estabilizou com ninguém. Se isso não é um sinal de que o destino os quer juntos, o que mais poderia ser?
Tenho vontade de revirar os olhos. É claro que Emil nunca mais se estabilizou com alguém. Da última vez que namorou, teve de fazê-lo escondido, e quando a mãe descobriu, conseguiu abalar o relacionamento dele. É por isso que o homem não namora ninguém, porque se ousar se envolver com outra pessoa que não seja eu, Elizabeth consegue atormentá-lo.
Já da minha parte, eu simplesmente não quis mais nenhum tipo de namoro porque não dei certo com mais ninguém depois de Emil. Não sei se tenho dedo podre pra homem ou se nenhum deles presta. E a verdade é que estou bem assim. Não preciso de um companheiro e não estou atrás de um. Se por acaso surgir um cara bacana, se tiver química entre nós, deixo as coisas acontecerem naturalmente. Do contrário, não vou me preocupar em arranjar um namorado.
— Além disso, Emilien e Marjorie já chegaram nos trinta e cinco anos. Precisam reatar logo se não quiserem ter filhos muito tardiamente. — Seus olhos se viram para mim. — Sabe que depois dessa idade, uma gravidez é sempre de risco, não é, querida?
Eu fico constrangida com esse maldito assunto. Ela está falando em me ver com o filho dela outra vez quando já está mais do que claro que não o amo mais. Não é a primeira vez que digo isso para ela, e provavelmente nem será a última. Inspiro fundo, pigarreando.
— Elizabeth, você está se precipitando muito — digo. — Já falamos para esquecer desse assunto de me casar com Emil e, ainda por cima, ter filhos. Eu, definitivamente, não quero filhos.
Ela me observa como se eu tivesse dito a maior asneira do mundo. Não é a primeira vez que recebo esse tipo de olhares quando falo que não quero arranjar uma barriga. E as pessoas vêm sempre com o mesmo discurso, como se eu fosse uma pessoa sem coração só porque não quero o mesmo que a maioria das mulheres quer.
— Uma mulher nasce condicionada à maternidade, querida. É de nossa natureza — insiste.
— Natureza ou não — rebato, muito polida no meu tom de voz para não soar mal-educada —, não quero filhos e não quero me casar com Emilien — reforço, mas sei que não vai adiantar de muita coisa. Na primeira oportunidade, ela vai me infernizar.
Como achei que aconteceria, ela não dá atenção ao que digo e prossegue:
— Você muda de ideia quando sente um serzinho crescendo em você, quando descobre que tem uma vida gerando no seu útero. Acredite em mim.
Resolvo não dizer nada. Não vale a pena esquentar minha cabeça com esse tipo de conversa. Continuo comendo minha comida enquanto minha mãe decide mudar de assunto. Finalmente Elizabeth engata em outra conversa e se esquece de mim e da sua ideia absurda de me casar com seu filho durante todo o restante do almoço. Depois de comermos, nos reunimos na sala para jogar mais um pouco de conversa fora e beber. É final de tarde quando meu pai nos convida para irmos embora. Florence se despede dela com um abraço, meu pai troca um beijo no rosto e eu também sou envolvida em um aperto de despedida. Elizabeth deixa um beijo em mim e, segurando-me pelos braços, diz:
— Obrigada por me avisar que Emilien está na cidade. — Abano a cabeça em negativo, porque, tecnicamente, não fui eu quem contou isso para ela.
— Não foi nada, Elizabeth.
— Foi, sim, querida. Na próxima semana irei até a empresa conversar com meu filho. Ele terá de me receber, mesmo que minha visita o desagrade. Precisarei da ajuda dele em relação à Nicole.
Travo minha língua para não me intrometer. Elizabeth acha mesmo que Emil vai concordar com o absurdo que ela quer fazer com a irmã caçula? De submetê-la a um "tratamento" psicológico porque não concorda com a orientação sexual da filha?
— Só não diga que você soube da volta dele por mim, pode ser? — pergunto. A última coisa que quero é me passar por fofoqueira.
Elizabeth abre um sorriso pequeno e me beija na bochecha outra vez.
Tenho a impressão de que meu pedido não será atendido.
***
Olá amores, tudo bem com vocês? Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. Só queria deixar aqui manifestada a minha saudade de Emilien e Marie. Mais alguém sente saudades deles também? hahaha Como a história da Marjorie e do Adrien acontece na mesma linha cronológica da história de Marilien então vamos ver algumas cenas de Paixão Irresistível sob a perspectiva da Marjorie.
Não deixem de comentar, deixar estrelinhas e indicar a história. Se quiserem desafio de meta para eu liberar cap. extra na semana me falem que na próxima postagem já determino uma meta.
Vejo vocês na quarta-feira.
Beijos no core e fiquem em casa.
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