CAFE AVEC UN AMI
Queimo a língua com o café quando, do outro lado da linha, Ferdinand me pede para ir até a Chevalier Arch. porque Juan Gonzalez já fez sua escolha. Ele quer se reunir comigo e com Plessis para comunicar sua decisão na nossa frente. Dou um salto na cadeira, dizendo que já estou a caminho. Deixo minha xícara de lado e me levanto em um pulo assim que encerro a chamada. Mal me levanto e minha mãe pressiona meu ombro direito, fazendo-me sentar outra vez.
— Termina de beber primeiro, Adrien — adverte, sentando-se à minha frente. — Você veio para tomar um café com sua mãe e vai tomar um café com sua mãe.
— Mãe, é importante — digo, conseguindo, por fim, me pôr em pé. Beijo sua bochecha direita e a abraço por trás. — Eu posso estar a um passo de conseguir uma vaga na minha área.
Ela sorri, virando-se e levantando-se de novo para me dar um abraço.
— Boa sorte, chéri — deseja.
Um minuto depois, já estou manobrando o carro e seguindo para a empresa. Faço o percurso em quinze minutos e estaciono na vaga de Ferdinand. No andar da reunião, Adam está aqui, conversando alguma coisa com uma das suas estagiárias. Ele a dispensa assim que me vê e acena para mim. Sigo-o até uma das salas do andar.
— Juan já está chegando — informa, um sorriso despreocupado no rosto. Confiro as horas no relógio. Uma e três da tarde.
Ele está confiante. Vestido mais formal que o costume, mãos nos bolsos da calça de corte justo, cantarolando alguma coisa. Enquanto Adam está tranquilo, eu pareço uma pilha de nervos, principalmente quando começo a andar de um lado a outro. Plessis diz alguma coisa sobre como vou fazer um buraco no chão. Palavras para quais dou muito pouca atenção.
Ferdinand chega cinco minutos depois, acompanhado de Juan. Eu me obrigo a ficar calmo e a não pirar e me sento em uma das cadeiras em torno da mesa de vidro. Gonzalez faz um discurso rápido sobre como está agradecido e surpreendido com a competência do trabalho da Chevalier Arch. Lista os pontos positivos e negativos dos dois projetos, faz seus elogios e críticas.
— Infelizmente, só posso escolher um projeto — Gonzalez diz, com forte sotaque espanhol latino-americano. — E o do senhor Plessis foi o que mais se adequou à nossa ideia. — Direcionando um olhar para mim, completa: — Obrigado, mas fica para uma próxima oportunidade.
Maneio a cabeça em positivo, mantendo meu sorriso no rosto para não demonstrar que estou frustrado. Adam está animado, agradece Juan o tempo todo e até troca um aperto de mão com o homem. Saio do meu lugar e, com a educação que recebi da minha mãe, vou cumprimentá-lo e parabenizá-lo pelo seu êxito.
Ao lado de Juan, Adam deixa a sala. Estou para me retirar quando Ferdinand me chama enquanto atende uma ligação e lidera o caminho até a sua sala. Ao chegarmos, encerra a chamada, senta-se atrás da sua mesa e oferece uma cadeira à sua frente. Eu me acomodo e o aguardo dizer o que quer.
— Sinto muito por não ter conseguido o contrato — deseja, e eu apenas aceno. — Seu projeto é incrível e, no lugar do Juan, teria escolhido você.
Não deixo de me perguntar se o que ele diz é verdade. Se teria me escolhido mesmo porque fiz um bom trabalho ou se outra vez teria me privilegiado.
— Merci. — É tudo o que digo.
— Quero que passe no Recursos Humanos e leve isto — diz, arrastando um papel na minha direção.
É um contrato de trabalho no meu nome. O cargo é de arquiteto. O salário é acima da categoria, mas não sei se todos os outros arquitetos recebem esse valor ou se isso é exclusivo para mim porque, bem, se trata de mim. Melhor do que ser um contrato de trabalho, é um CDI, o que significa que não posso ser facilmente demitido. Poucos na Chevalier Arch. são contratados nessa modalidade, apenas funcionários com pelo menos cinco anos de casa ou nos quais Ferdinand confia de olhos fechados. Nem mesmo como motorista fui contratado por CDI. Ele sempre faz um contrato de três anos que renova toda vez. Ingressar nessa empresa com essa modalidade de contrato significa muito para mim.
— Eu... — digo, meio hesitante, tentando entender o documento à minha frente. Aperto os olhos e inspiro fundo. Ergo os olhos na sua direção e consigo finalizar: — Vou ganhar esse cargo mesmo depois de Juan não ter escolhido meu projeto?
Ferdinand abre um sorriso pequeno.
— Claro que vai, Adrien. Já estava decidido a te contratar de qualquer maneira. Isso com Juan foi apenas para ver o seu desempenho e ter um argumento para sua contratação sem que o Adam pusesse em dúvida a sua capacidade ou te perturbasse depois.
Levo um minuto inteiro para processar o contrato na frente dos meus olhos. O cargo que sempre quis. Um bom salário. O ofício que amo. Um contrato sem prazo de validade.
— Só precisa assinar, levar para o Recursos Humanos e me dar uma semana até conseguir outro motorista. Pode me aturar mais uma semana? — indaga, com um tom divertido.
— É claro — respondo, rindo um pouquinho. Pego a caneta que ele me oferece e assino meu contrato de trabalho.
— Preciso que me faça um favor — diz, enquanto enrolo o documento para levar ao RH. — Marjorie precisa de um carro nesse endereço. — Pegando papel e caneta, rabisca as coordenadas do local. — Não a deixei entrar em detalhes porque estava ocupado, mas ela mencionou algo com caixas e mudança. Pode ir até lá e ver do que ela precisa?
Meu coração bate em expectativa a essa menção. Só faz dois dias que houve aquele episódio com Marjorie. Ela curtiu minha foto de perfil e um compartilhamento que fiz ontem, mas não tivemos qualquer outro contato além destes, apesar da minha imensa vontade de mandar um salut por mensagens do aplicativo. Bom, agora será o momento em que vou tirar a minha dúvida sobre o interesse súbito dela em mim. Confesso que estou um pouco ansioso.
Pego o papel com o endereço marcado e aceno em positivo. Ferdinand agradece, me parabeniza pelo cargo, dando-me boas-vindas à empresa, e me dispensa. Sigo as orientações até o lugar. É um shopping de cinco andares no centro de Paris. Confiro no papel o andar e o número da sala. Subo até lá tentando controlar meus batimentos cardíacos descompassados. O local é amplo, a porta de entrada é de vidro e de folhas duplas de correr, bem grandes, e estão abertas no momento que chego. Lá dentro, Marjorie está de costas para mim, dentro de uma saia apertada e saltos. Pisco duas vezes para compreender que ela está sobre uma escada de alumínio, o pé direito no terceiro degrau, o pé esquerdo no quarto e último, enquanto tenta puxar uma caixa de uma prateleira.
Aproximo-me sem fazer alarde para não a assustar, porque ela parece bastante concentrada na sua tarefa. Estou pensando em chamá-la quando Marjorie, finalmente, consegue trazer a caixa na sua direção. O movimento, entretanto, é meio brusco e ela se desequilibra no processo. O salto do terceiro degrau escorrega e, em um milésimo de segundo, ela está despencando.
No mesmo milésimo de segundo, próximo o bastante dela, eu a seguro. Marjorie cai diretamente nos meus braços, seu rosto assustado de quem esperava por uma bela de uma queda, os olhos encontrando os meus no instante seguinte ao mesmo tempo em que a caixa — com o que quer que há lá dentro — encontra o piso e faz um barulho alto.
— Adrien? — Marjorie exclama, piscando diversas vezes, ainda nos meus braços.
Só por um momento eu fico sem reação, observando seu rosto bonito, atento aos seus olhos castanhos, ignorando seu peso-pena.
— Salut — digo, com um pequeno sorriso. — Você está bem? Ia ser um tombo e tanto.
Ela me devolve o sorriso e desce do meu colo, ajustando a saia no corpo. Dá uma olhada ao redor, a caixa revirada. Algumas revistas, livros, jornais e bugigangas se esparraram por todo canto. Também dou uma espiada no entorno, reparando somente agora em outras caixas de papelão dispostas num canto mais ao fundo da sala.
— Parece que você me salvou — diz, voltando-se para mim, um brilho diferente nos olhos. Não tenho tempo de responder porque a mulher se aproxima e me dá um abraço apertado. — O que está fazendo aqui? — pergunta, virando-se para os objetos espalhados no chão para juntá-los à caixa novamente.
Eu me agacho e a ajudo.
— Seu pai me mandou. Disse que estava precisando de um carro.
Marjorie para de juntar as revistas e ergue o olhar para mim. Seu rosto se ilumina quando, suponho, finalmente me reconhece. Não só o cara que ela salvou a vida dois dias atrás, mas o motorista do seu pai, o mesmo que já a buscou uma dúzia de vezes no aeroporto.
— Você trabalha com meu pai, é claro — menciona. — Eu sabia que te conhecia de algum lugar! — diz, enfiando três livros na caixa.
Dou um sorriso pequeno e não digo nada, continuando com minha tarefa de ajudá-la. Seria mentira se dissesse que isso não me deixa meio magoado. Dá a impressão de que sou irrelevante, sei lá. Afasto os pensamentos porque estou sendo dramático. Coloco a última revista de volta ao seu lugar e ergo a caixa de papelão para ela.
— Desculpe, eu sou péssima com rostos — explica. — Há dias que estou pensando em você.
É instantâneo. Meu coração dá um pulo violento dentro do peito. Eu sei que provavelmente estou interpretando errado o que me disse, mas não evito o sentimento mesmo assim. Marjorie pensando em mim.
— Digo — corrige-se, com uma risadinha, tomando a caixa das minhas mãos e a alinhando com as demais. Voltando-se para mim, corrige-se: — Antes daquele episódio em que você quase se jogou na avenida, eu estava tentando lembrar de onde te conhecia. E até lembrei. Uns três anos atrás, um pouco menos talvez, você ouviu minha conversa ao telefone e depois se intrometeu no meu relacionamento com Leclerc.
Sinto meu rosto esquentar na mesma hora. É claro que me lembro desse dia. Eu tinha ido buscá-la no aeroporto e, no trajeto de volta, Marjorie estava conversando com a ex-sogra por telefone, que ainda insistia no casamento dela com Dupont. Tinha sido estúpido da minha parte puxar assunto com um "ex-sogra casamenteira?" assim que encerrou a ligação, mas as palavras tinham saído sem minha permissão. Ela se mostrou uma pessoa incrível mantendo a conversa comigo, mesmo depois que eu disse que o cara com quem ia sair não prestava.
— Me perdoe por aquilo — peço. Não me lembro se na ocasião pedi ou não desculpas por ter sido tão intrometido.
— Está tudo bem. A questão é que eu sabia que minha impressão de te conhecer não era só uma peça da minha mente. Aí naquele nosso esbarrão, outra vez tive a sensação de familiaridade. Você de quepe fica diferente — diz, puxando o acessório da minha cabeça e abrindo um sorriso incrível. — Por isso não me toquei quem você era.
Movo a cabeça de um lado a outro enquanto ela devolve o acessório ao seu lugar.
— Homem branco, louro e de olhos verdes — brinco. — Nada de novo.
Marjorie ri um pouco mais antes de se virar para as caixas e pegar uma.
— O antigo locador deixou algumas coisas para trás — diz, apontando com a cabeça para as demais caixas. — São livros e revistas que ele me pediu para doar. Por isso precisava de alguém e de um carro para viagem. O meu foi para a mecânica hoje cedo. Se importa?
Pego outra das seis caixas.
— Vim aqui para isso — respondo.
Descemos até a garagem, ela me contando que está aproveitando esses dias em Paris para agilizar a abertura da sua agência de modelos. Me deixa feliz saber que, quando sua turnê com Silvia acabar, Marjorie vai finalmente se reestabelecer na cidade. Como se isso fosse fazer alguma diferença para mim. Colocamos as duas primeiras caixas no porta-malas do carro e voltamos lá para cima, tomando o elevador.
— Espera — Marjorie murmura, virando-se para mim enquanto as portas se abrem e caminhamos até sua sala outra vez. — Aquele dia você disse que estava atrasado para uma reunião, e até estava com um tubo telescópio, mas se você é o motorista do papai...
— Sou formado em arquitetura — esclareço, adentrando o local e indo direto pegar outra caixa pesada. — Na verdade, tenho um doutorado na área, mas trabalho com seu pai desde os dezoito. Aquele dia, ele tinha me dado uma oportunidade de fazer um projeto que, se aprovado pelo cliente, ia me dar um cargo na Chevalier Arch.
Quando olho para Marjorie, ela está parada na minha frente, cabeça ligeiramente inclinada.
— Por que você ainda é motorista dele quando tem um título desses, Adrien? — pergunta, com um tom de indignação. É o mesmo tom que Juliette sempre usa comigo quando tenta me convencer de que preciso procurar uma empresa no meu ramo e me desprender de Ferdinand.
A verdade é que tive meus motivos de permanecer com ele, mesmo formado e sem oportunidade de crescer sendo só o motorista. Ferdinand sempre me ajudou muito, sempre ajudou muito a minha mãe, então tem sim um sentimento de gratidão nesse meio. Eu também achava que estava pagando pelo apartamento e tinha medo de me arriscar, de não ganhar o bastante para suprir minhas necessidades se deixasse Chevalier — que a vida toda me pagou além do que a categoria recebe e sempre me encheu de bônus e gratificações — por uma empresa qualquer na minha área.
— Foi uma escolha minha — acalento-a. — Quis ficar com seu pai até terminar meu doutorado.
Marjorie pega outra caixa e caminhamos de volta ao elevador. Enquanto descemos até a garagem, ela menciona:
— Meu pai foi bem idiota deixando você como motorista dele com a formação que tem. Você já deveria ser um arquiteto da Chevalier Arch. desde que pegou o diploma.
Concordo com Marjorie nesse quesito. Nunca pedi que Ferdinand me contratasse sem nenhum critério. Nunca quis nada de mão-beijada. Só precisava de uma oportunidade, coisa que só me deu porque viu um rabisco meu no carro. Veio com alguns pretextos que ao meu ver, agora, me parecem bem fajutos, mas que na hora os achei válidos.
— Está tudo bem agora — tranquilizo-a. — Seu pai me deu mesmo uma vaga como arquiteto. É minha última semana como motorista.
— Sério?! — exclama. Abano em positivo, até eu mesmo ainda não acreditando. — Parabéns, Adrien! Aquele velho finalmente reconheceu o seu valor — brinca.
Rindo, deixamos o elevador, indo até o carro e as acomodando com as demais no porta-malas. Quando ajeitamos as duas últimas, Marjorie se vira para mim, enquanto baixo a porta, e diz:
— Posso te pagar um café? Você me pagou um, dois dias atrás, e ainda me poupou de uma queda bastante dolorosa.
— Eu adoraria — respondo, tentando controlar meu coração irrequieto dentro do peito. É tão incrível que Marjorie esteja mesmo interessada em mim, que tenha finalmente me notado, que ainda não acredito que isso está de fato acontecendo. — Mas estou trabalhando agora e...
Antes que eu possa terminar, Marjorie ergue o indicador, pedindo um minuto e caçando seu celular dentro da bolsa que trouxe lá de cima consigo. Ela disca algum número e, cinco ou dez segundos mais tarde, diz:
— Papa, posso roubar seu motorista por uma ou duas horas? — Silêncio. — Está bem, eu aviso. Merci, papa. Je t'aime. — Ela encerra a ligação e me olha. — Problema resolvido. Meu pai disse que você está liberado para me atender no que preciso e que, assim que terminar aqui comigo, tem o restante da tarde de folga. Qual seu pretexto para não ir tomar um café comigo agora, Bourdieu?
Deixo uma risadinha escapar de mim e balanço a cabeça em negativo.
— Não vejo saída a não ser aceitar seu convite.
Marjorie nos leva até uma cafeteria não muito longe dali. A caminhada dura uns cinco minutos e conversamos um pouco durante o trajeto. Ela quer saber sobre a minha apresentação de dois dias atrás e comento tudo o que posso. Quando chegamos ao local, fico um pouco deslocado. É um ambiente mais requintado do que as cafeterias que costumo frequentar e sei que, aqui, um cafezinho não custa menos que cinco euros. Nós nos acomodamos em uma mesa no ambiente interno, sentando um de frente para o outro. Enquanto Marjorie analisa o menu, eu só consigo observá-la, concentrada na sua escolha, com medo de acordar e tudo não passar de um sonho. Passei uma vida amando essa mulher em segredo e parece ser bom demais que, finalmente, esteja me notando. Quando ela desvia o seu olhar na minha direção, rapidamente preciso fingir que estou lendo o cardápio para não ser pego no flagra.
Um garçom vem anotar nossos pedidos e aproveito o rápido momento que ela recita sua escolha para observá-la mais um pouco. É, acho que não estou mesmo sonhando. Marjorie pede um expresso pequeno, sem açúcar, e torradas amanteigadas. O homem se vira para mim. Peço um café crème e brioches.
— Já veio aqui alguma vez? — pergunta, assim que o funcionário se retira.
Abano a cabeça em negativo.
— O café mais barato daqui custa quase seis euros — brinco, desviando o olhar para o movimento da rua que se forma através da vidraça. — Com seis euros eu faço uma refeição completa na padaria perto de casa.
Marjorie dá uma risadinha e abana a cabeça em positivo.
— E onde você mora? — pergunta, mas tenho a impressão de que só o faz para manter a conversa, não por que realmente está interessada em saber.
— Décimo sétimo arrondissement, no distrito de Bartignolles — informo.
— É um bom bairro — comenta, balançando os pés. Ela apoia os cotovelos na mesa e o queixo entre as mãos, olhando para a rua movimentada lá fora. É uma pose bonita, como aura tão delicada e... pura. De repente ela se vira para mim. — Você é o filho da Madeline?
Abro um sorriso encabulado e afirmo.
— Oui. C'est moi.
— Então dois dias atrás, você já sabia quem eu era — pontua.
— Sim — confirmo. — Eu sabia. Sei quem você é desde os meus treze anos de idade.
Ela me olha por um segundo inteiro, pensativa.
— Por que não me disse nada? Eu me apresentei, mas você já me conhecia. Olha o papel ridículo que você me fez passar — diz, em tom de brincadeira.
— Eu estava com pressa — explico, o que em partes é verdade, dando de ombros e segurando uma risadinha. Agradeço por ela não mencionar que, apesar da minha pressa, eu ainda me ofereci para pagar o café dela.
Nossos pedidos chegam. Marjorie beberica sua bebida e morde uma torrada, comentando que acha que se lembra de mim, ainda menino, quando minha mãe e eu nos mudamos para a dependência nos fundos da casa dos seus pais. Ela menciona uma ou outra vez que nos encontramos na cozinha da mansão, quando eu tinha acabado de chegar da escola e estava almoçando por lá. Não evito um sorriso ao pensar que, em algum momento, ela reparou em mim, apesar de não do modo como eu gostaria. Envolvo minha caneca com as duas mãos e faço algum comentário daquela época. De repente, Marjorie tira o celular da bolsa e bate uma foto.
Ergo uma sobrancelha, não sabendo do que ela tirou um retrato ou por quê. Ela se concentra por alguns segundos na tela do celular, digitando rapidamente, até que o vira para mim. A fotografia é das minhas mãos segurando a caneca, que ela posta na sua conta do Instagram com a legenda "café avec un ami", café com um amigo. Nesse momento, não sei exatamente o que sentir. Fico feliz que já me considere um amigo, mas também tenho a impressão de que, apesar disso, ela me esconde. Por que essa foto? Por que não uma foto comigo? Ela não quer me expor porque não quer que a vejam com motorista do pai dela, ou porque não tem certeza se gosto desse tipo de exposição? Mon Dieu, e por que mesmo estou surtando dessa maneira? É só uma foto. Não tem motivo nenhum para eu pirar ou me sentir desse jeito.
— Por que uma foto das minhas mãos? — indago, bebericando meu café. Sinto a textura do creme grudando nos meus lábios e passo a língua para limpar.
— Gosto de mãos — responde, guardando o telefone de volta à bolsa. Seu olhar se volta para minhas mãos e ela abre um leve sorriso. — E as suas são bonitas, do jeito que me agrada. São fortes, grandes, com veias bastante aparentes e dedos longos. — Nesse momento, ela me olha, mantendo um sorriso peralta.
Não foi o que ela quis dizer, Adrien, penso, sentindo o coração pulsar de forma desmedida.
— Algum motivo especial para gostar de dedos longos? — pergunto, como quem não quer nada. Finalmente mordo meu brioche e, junto com o pedaço do pãozinho, engulo meu nervosismo. Talvez estejamos flertando, até com uma ligeira conotação sexual, ou é apenas minha cabeça criando expectativas demais com essa mulher.
— Talvez um dia você saiba — responde, mordiscando uma pontinha do lábio inferior antes de virar a xícara de café.
Eu rio ligeiramente para aliviar um pouco o clima e bebo mais da minha bebida. Marjorie muda de assunto, falando alguma coisa sobre a última semana do tour pela Europa, contando dos planos que tem para sua agência de modelos. Ela até me pergunta se trabalho com projetos interiores. Fiz um curso a parte durante a graduação sobre design de interiores, mas devo ter feito um ou dois projetos apenas depois que me formei, como freelancer.
— Você toparia redecorar meu apartamento e decorar o escritório da minha agência? — propõe, e eu, na minha íntima paixão por essa mulher, crio ainda mais expectativas.
Convenhamos, o pai dela tem uma empresa de arquitetura cheia de funcionários muito mais qualificados e especializados para o que ela quer do que eu. Mas Marjorie quer que eu faça isso. Não tem maneira nenhuma de não criar expectativas.
— Não sou a pessoa mais indicada, mas se quiser, posso tentar alguma coisa.
— Assim que eu voltar de Milão, combinamos direitinho, pode ser?
Concordo e terminamos nosso café. Marjorie paga a conta e deixamos a cafeteria. Levo as caixas que estão no porta-malas para os destinos que ela quer fazer a doação. Pouco menos de uma hora depois, deixo-a no local onde a peguei mais cedo.
— Merci pour le café — agradeço, antes que desça do carro.
Ela ajeita a bolsa no ombro, abre um pequeno sorriso e abana a cabeça em negativo.
— Não foi nada — diz. Então, aproxima-se de mim, deixando um beijo estalado no meu rosto. — Até mais, Adrien.
— Até mais — murmuro, vendo-a descer do veículo e adentrar o prédio.
Tento conter meu pulso acelerado, mas fica difícil quando estou criando tanta esperança com Marjorie.
Olá, xuxus. Espero que tenham gostado do capítulo <3
Vejo vocês na sexta-feira. Beijos e até mais.
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