41° verso
Um ano depois.
Na concepção de changbin, o destino tinha lhe dado um bom agrado dentro daquele período de tempo.
Não diria que tudo que venho ocorrer foi por acaso. Sua volta à mídia aconteceu mais cedo ou mais tarde, tinha se preparado psicologicamente para os comentários ruins que viria com sua volta repentina ao mundo artístico, afinal suas consultas a doutora sunmi não pararam nem mesmo depois que se mudou definitivamente para morar com seus namorados, tanto chan quanto seungmin o matariam se ele deixasse de ir.
E como planejado, surgiu muitas pessoas por trás de perfis um tanto questionáveis reclamar sobre sua ausência nos últimos três anos em questão a sua imagem pública, o que a ele decidiu ignorar. Coisas repugnantes e coisas referentes vieram com sua volta, mas ele apenas lidou bem com aquilo — mas não negava que vez ou outra se via tão magoado por receber tantos comentários ruins que preferia desligar o telefone e se esconder nos braços de jisung, ou ter um pouco de conforto ao lado de chan. Fora toda essa maré de má energia, também surgiu pessoas que ficaram felizes com seu retorno. Seus fãs adormecidos surgiram no chão, como brotos, e o encheram de mensagens e comentários, felizes pela volta do seu grande ídolo. Não falaram e nem questionaram seu sumiço prolongado, apenas pediram por mais músicas e alguns vídeos clipes.
Changbin também estava ansioso para voltar a produzir suas próprias músicas, no entanto, ainda se sentia inseguro em questão a suas composições, então por pelo menos alguns meses apenas se dedicou a ajudar os cantores menores da agência do seus namorados e ensinar um pouco do que sabia sobre rap a novatos da empresa. Gostou daquele período, onde ele era apenas seo changbin, um funcionário que tinha um pouco de fama lá fora, todos os outros funcionários e trainee respeitavam o menor e tinham uma boa relação profissional com ele, afinal o moreno era acessível e muito amigável. Queria se mostrar uma pessoa diferente de quem elas poderiam imaginar, uma vez que a imprensa sujou seu nome fora e dentro do círculo social entre músicos e outros artistas. Não era um baderneiro que já tinha se envolvido com drogas ou algo parecido, era apenas alguém que gostava de ajudar outras pessoas, mesmo que sua expressão facial não fosse uma das melhores, principalmente pela manhã onde as vezes saia de casa sem comer porque jisung acordava ele em cima da hora para o trabalho, alegando que ele era adorável demais para perturbar de um sono tranquilo.
Inclusive, sua relação com jisung e chan não podia estar melhor. Bom, vez ou outra eles brigavam ou tinham discussões sérias, tão sérias que era necessário um dos três ir dormir na sala, no carpete ou no sofá. Digamos que colocar três homens teimosos sob a mesa casa não foi uma escolha tão esperta. Apesar de christopher ser o mais calmo entre o trio, ele perdia a linha quando os dois menores agiam de forma incorreta, seja gritando pela casa por uma discussão boba ou tornando sua noite de descanso um completo carnaval porque jisung tinha acabado com o creme dental e não tinha ido comprar para repor. Eram situações bobas, mas que traziam um certo clima ruim para a relação deles.
O moreno tentava não perder a cabeça quando um dos dois dizia ou fazia algo que o irritava, preferia se afastar e se acalmar por si só, mas não negava que vez ou outra deixava escapar algo que iria desestabilizar eles e pronto, o circo estava armado. Havia perdido a conta das noites que passou no sofá por simplesmente expressar sua raiva, e okay, ele estava errado na maior parte do tempo, mas era muito orgulhoso para admitir então apenas deitada lá e bufava, os braços cruzando e despejando xingamentos horríveis aos seus namorados enquanto ia pegando no sono. Na manhã seguinte eles conversavam antes de trabalhar e se resolviam, era quase um hábito, não tão saudável, mas que os mantinham juntos: brigavam por creme dental numa noite e na manhã seguinte pediam desculpas e iam trabalhar como se nada tivesse acontecido.
Outra coisa que changbin vinha acompanhando como um espectador à espera de uma nova novela das nove era a vida de casado dos seus amigos. Certa vez pensou que o relacionamento perfeito de seungmin e hyunjin chegaria ao fim, eles estavam em uma crise horrível, não se falavam e não tinham nenhum contato, o trabalho dos dois exigindo mais que podiam ter e distanciava eles. Lembrava do kim dizendo que era como se o hwang fosse um colega de dormitório que dividia a cama com ele, não seu marido. O seo agiu algumas vezes para resolver a complicação do casamento deles, mas era realmente difícil quando seungmin estava atolado no trabalho de um lado e hyunjin sumido pelo trabalho do outro. E então, do dia para a noite, eles resolveram adotar uma criança, vender a casa e se mudar para o centro da cidade, voltando a ter um bar — que agora era na verdade uma lanchonete familiar, sem bebidas alcoólicas nem nada do gênero, apenas sucos e muito refrigerantes.
Changbin tinha piscado e seus amigos eram seus vizinhos de bairro, moravam perto do condomínio de christopher, porém numa casa de primeiro andar e tinham um filho chamado yang jeongin, de sete anos e com olhos de raposo. A pequena fera — como o moreno apelidou carinhosamente — apesar de não ser filho de sangue do ruivo, tinha o mesmo gênio que ele: teimoso, cabeça quente e língua afiada. Não tinha puxado nada de hyunjin, nem mesmo sua calma para certas situações ou seu drama exagerado que ele somente usava para persuadir o marido a comprar seus lanches preferidos no mercado.
Quando o pequenino fora apresentado para changbin e seus namorados, jisung automaticamente ficou apaixonado pelo garoto, e isso fez os dois mais velhos da relação lembrar que ele sempre quis ter um filho.
Era atrativo ver o han se divertir com jeongin, mas ele era apenas o "sobrinho" de changbin, e filho de seungmin e hyunjin. Nem chris nem o moreno possuíam planos para adotar uma criança pelos próximos vinte anos, talvez depois que eles se aposentassem e pudessem levar uma vida sossegada, morando em algum lugar escondido do público, como numa ilha paradisíaca ou talvez numa caverna no meio do mato. Bom, ter um bebê agora não estava no esquema. Jisung sabia disso, já tinham tido aquela conversa algumas vezes, tipo quando eles se sentavam no sofá da residência bang, após um almoço de domingo, onde o trio se juntava na cozinha espaçosa e colocava "Locked Out Of Heaven" para tocar em um caixinha de som e cozinhava alguma coisa que no final provavelmente queimaria e eles comeriam pizza em plenas duas da tarde.
O castanho os entendia por não querer uma criança agora e nem pelos próximos vinte anos, mas seu desejo de ser pai era permanente, meio urgente, mas aprendeu a privar aquilo um pouco para que pudesse viver com eles, do mesmo jeito que changbin ou chan se privavam de coisas para tomar suas convivências toleráveis. Não tinham segredos, nem mesmo mentiam um para o outro. Se algo deixava christopher chateado, ele sentava com seus garotos e contavam, e o trio tentava mudar para não tornar nada desconfortável. Uma relação a três era constituída disso, conversas e diálogos longos, onde os três pudessem falar sobre qualquer coisa que não fosse se tornar um incômodo dentro da sua relação em alguns anos. Afinal, a meta mútua deles era permanecer juntos até o tempo que desse.
A vida de casal deles não era perfeita, changbin mais do que ninguém sabia disso, mas era o único lugar no mundo onde se sentia amado e estimado. Se estivesse com chan ou jisung podia ser quem quisesse. Podia ser changbin, o garoto que tinha medo dos monstros embaixo da cama quando era criança. Podia ser seo changbin, o homem de vinte e nove anos que trabalhava com música e gostava de carinho no cabelo e banhos demorados. Podia até mesmo ser SparB, o rapper brigão e de pavio curto. Eles ainda o amariam.
Contudo, mesmo que aquela parte da sua vida estivesse caminhando com calma e em um ritmo agradável, os fantasmas do passado ainda podiam surgir, mesmo que ele quisesse se esconder. Era meados de junho, enquanto trabalhava em uma nova faixa para um colega de trabalho junto com jisung recebeu o convite do casamento de felix, entregado especialmente a ele em seu local de trabalho.
Lembrava vagamente desse dia, pois sua memória decidiu agir de forma caridosa e apagar alguns frames. Jisung quem tinha pegado o envelope do convite, hesitando em entregar ao menor, mas changbin era curioso e decidiu abrir, a dupla estava no estúdio que normalmente christopher usava, mas como ele estava em uma reunião com sócios e outros caras importantes no qual o seo não lembrava os nomes, os mais novos pediram permissão para usar sua sala de produção por alguns instantes, o que não foi difícil de conseguir a permissão. Assim que o moreno abriu o convite e leu com o coração latejando no peito como uma ferida recém aberta, soube que seu dia estava arruinado. Única coisa que conseguia lembrar com clareza após sua leitura foi de ter pedido para jisung se livrar daquilo, o que ele fez sem pensar duas vezes, e depois decidiu continuar trabalhando, mesmo com uma ânsia horrível corroendo sua garganta e estômago. O castanho permaneceu ao seu lado, mesmo quando não foi necessário, e assim que o australiano terminou sua reunião, ele foi buscar os dois para levar para casa, já sabendo pelo han o que tinha acontecido.
Felix era um assunto que não deveria ser tocado, changbin havia superado ele, mas não completamente. Às vezes ele lembrava do que tinha acontecido no ano anterior e se retraía, preferindo dormir no quarto de hóspedes sozinho ao invés de ficar com seus namorados. Era algo que christopher e jisung entendiam, e tentavam assegurar que seu garoto ficasse bem enquanto passava por aquelas crises.
Depois daquele dia, mais um convite chegou, e changbin não leu, preferindo ignorar para o bem da sua saúde mental. E então, parou, como se o lee tivesse entendido a mensagem que o moreno não compareceria em seu casamento de jeito nenhum, desejava que ele ficasse bem com sua futura esposa, e que não se tornasse um abusador com ela, do mesmo jeito que se tornou consigo.
O assunto do casamento de felix voou assim como as flores no outono, logo dando espaço para criar uma nova página. Changbin não gostava de guardar mágoas, mas o lee era a única pessoa que ele nunca perdoaria em sua vida, e preferia continuar assim.
Pulando para os dias atuais, era mais uma quarta feira do início do outono, não estava tão frio para usar agasalhos, mas não tão quente para sair apenas de shorts e regata. O moreno particularmente gostava desse clima meio estranho do início do outono, era agradável, e às vezes chovia, o que ele podia usar como desculpa para ficar em casa com jisung e chan. Falando na dupla, o rapaz estava indo encontrá-los agora para almoçar. Nesse momento o han já estaria na sala de christopher, cutucando sua comida a espera do moreno, com aquela carinha de irritado que ele sempre fica quando está com fome e provavelmente o loiro está ao seu lado, sentado no sofá de couro marrom que fica em um cantinho confortável da sua espaçosa sala de CEO, no último andar do prédio da agência. Chris sem dúvidas tentaria acalmar a pequena fúria de jisung pela demora de changbin, enquanto brincava com ele sobre adivinhar quantos pássaros sobrevoavam os arranha-céus através das grandes janelas de vidro.
Era algo que realmente distraía jisung.
Changbin não esperou que a secretária do australiano anunciasse sua chegada, ele e jisung tinham acesso permitido a qualquer momento do dia, e minho e brian também, por mais que agora eles estivessem em uma espécie de viagem em família.
Ele empurrou a porta dupla para dentro e entrou carregando sua marmita com o almoço que tinha comprado ali perto, em um restaurante simpático que fazia entregas. Estranhou ao ver apenas jisung sentado no sofá de couro, onde o trio já teve vários encontros em alguns momentos do trabalho, seja porque chan estava com aquele tipo de frustração e precisava de um pouco de companhia ou seja para apenas almoçar, como agora. Changbin se aproximou, seu sapato fazia eco pela sala, mas era algo que ele aprendeu a se acostumar: tudo ao seu redor era pintado de branco, havia somente uma mesa de escritório no meio do cômodo e um computador em cima, junto com papéis e outras tralhas que chan julgava ser importante. A vista ainda era de tirar o fôlego mesmo que o seo já estivesse ali muitas vezes. Atrás da mesa de christopher, o mundo lá fora era separado por uma extensa camada de vidro, onde permitia que ele vissem os prédios e as pessoas lá embaixo, vivendo seu próprio destino. Às vezes changbin gostava de assisti-las, como se não fizesse parte do mesmo mundo.
— neném? — changbin se aproximou, sorrindo ao notar o característico bico chateado de jisung. Ele se sentou ao lado do mais novo e beijou sua bochecha, o que não foi capaz de afastar aquela expressão de descontentamento. — o que foi?
— christopher bang. — sibilou o nome do loiro entre os lábios, nitidamente irritado e impaciente.
— o que aquele australiano de merda fez agora? — indagou tentando não rir. Jisung puto da vida sempre seria engraçado por motivo óbvios, ele não era alguém que podia ser levado a sério quando ficava irritado, porque apesar de ter um corpo invejado e cheio de músculos bem formados, ele ainda possuía aquele rostinho de bebê, e changbin não conseguia resistir a vontade de rir ao vê-lo cruzar os braços e fazer bico.
— tá aí, eu não sei! — exclamou olhando para o moreno com os braços para cima, exasperado e muito indignado. — achei um bilhete em cima da mesa dele dizendo que iria se atrasar um pouco pra comer, mas chegaria antes da gente terminar. Compromisso importante, foi o que ele citou e mais nada. Nem uma explicação a mais! — novamente cruzou os braços, ficando amuado no canto.
Aqueles "sumiços" de christopher já vinham acontecendo faz algumas semanas: ele desaparecia antes do almoço deles e depois aparecia com cara de quem estava aprontando algo terrível. Changbin o conhecia, aquela cara de desconfiado que ele sempre tinha depois desses compromissos importantes era sempre a mesma. Jisung também tinha noção que o bang estava escondendo algo, mas não queria ser um ciumento possessivo, então apenas deixava passar e se contentava com os doces que chan comprava para ele quando iam para casa como pedido de desculpas por se atrasar no almoço.
Changbin soltou um suspiro, deixando sua comida quentinha de lado, escorregando sobre o estofado macio até seu garoto, passando o braço pelos ombros de jisung e o trazendo para perto. E ele vinha facilmente, como se o corpo dos dois fossem atraídos por imãs. O castanho deitava a cabeça no ombro do menor e encolhia as pernas para cima do sofá, fechando os olhos para aproveitar do carinho agradável que recebia no cabelo.
— ele daqui a pouco vai chegar. — garantiu changbin, usando a mão livre para acariciar a coxa de jisung que estava por cima das suas pernas. Ele estava praticamente sentado no seu colo, vendo que estava tão aconchegado do seu lado que parecia um coalinha bebê. — podemos comer enquanto esperamos, o que você acha, amor?
— quero esperar pelo chan hyung.
— certeza? — ele assentiu lentamente. — tudo bem, amor. Quer falar sobre alguma coisa? — indagou mais uma vez, levando em consideração que jisung sempre ficava meio sensível quando chan furava com eles, e changbin odiava ver o menino triste e cabisbaixo.
— não. — negou, desta vez realmente subindo em seu colo, as pernas se projetando ao lado do seu corpo. Changbin arfou quando ele deitou o rosto em seu pescoço, soprando de leve sua pele, o hálito quente dele fez seu corpo arrepiar. — podíamos transar aqui só pra deixar ele chateado. — sugeriu com ar perverso, mas encolheu os ombros depois. — deixa, chris é esquisito, ele acabaria gostando de saber que fizemos isso na sala dele.
— era isso que eu ia falar. — riu enquanto abraçava o castanho. — ele provavelmente ficaria "vocês fizeram isso aqui? No meu sofá? E não gravaram?" com aquela cara de chateado de fingimento.
— sim! — riu acompanhando o menor. — ele é um tarado.
— com toda certeza. — relaxou um pouco mais, sabia que ninguém entraria na sala, era proibido a subida de pessoas desautorizadas até o andar do escritório de christopher, apenas a secretária podia ficar ali, e nem ela podia entrar na sala dele sem pedir permissão. Regras para garantir que eles poderiam ficar juntos às vezes e ninguém questionava nada, já que chan era confiável e todo mundo achava aquilo okay vindo dele. — sabe o pior? Ele sabe que é um pervertido e se aproveita disso.
— teve uma vez que a gente tava no elevador indo pra garagem junto com outros funcionários, e ele pegou na minha bunda na frente de todo mundo! — jisung bufou. — ele é inconsequente.
— e infantil. Certa vez a gente tava no estúdio com outro produtor revisando algumas faixas importantes, e ele ficou tentando me beijar, e tipo, o cara tava na cadeira mostrando onde a gente deveria consertar e ele ficava passando a mão nas minhas costas e chegando perto. O desgraçado até me roubou um selinho quando eu tava tentando prestar atenção!
— ele quer que sejamos descobertos. — jisung resmungou. — acho que a gente devia colocar ele pra dormir no sofá como punição.
— apoio totalmente.
Eles compartilharam de uma risada e ficaram em silêncio durante um tempinho. Jisung até mesmo chegou a cochilar brevemente, mas a porta do escritório se abrindo fez o coração dos dois acelerar, talvez de susto ou apenas por ser chan entrando como um furacão. Ele avistou os dois garotos juntos e respirou fundo, como se juntasse fôlego, caminhando até ele com uma sacola de plástico com seu almoço e outras besteiras que usaria para comprar o perdão de jisung. Changbin não gostava de doces, então se contentava com alguns beijos e pedidos de desculpas incansáveis e repetitivos.
— demorei muito? — o loiro perguntou colocando a sacola em cima da mesa de centro, beijando a testa dos dois antes de se sentar. — o trânsito tava uma merda, quase não consigo chegar.
— você tá um pouco atrasado. — changbin diz.
— um pouco? Eu até cochilei. — jisung resmungou descendo do colo do moreno e ficando no meio dos dois. — tô chateado. O que você comprou pra mim? — xeretou na bolsa que chris trouxe.
— duas barras de chocolates, uma branca e uma preta, alguns doces estranhos com muito açúcar que achei no mercado e dois refrigerante de uva que são seus preferidos. — anunciou enquanto o castanho ia tirando da sacola com um sorriso enorme, daqueles que formava ruguinhas nas pontas dos lábios dele. — e pra você. — chan se sobrepôs sobre jisung, que abaixou e deixou que ele chegasse até changbin. Ficou um pouco assustado pela aproximação já que não estava prestando atenção. — você tá lindo, meu amor. — seus olhos cor de âmbar pareciam brilhar ao encarar o rostinho confuso de changbin. — binnie.
— não vou te beijar, você tá suado. — desviou dos lábios dele, se afastado para o canto do sofá. Chan o olhou indignado.
— vai começar. — jisung escorregou para o chão, levando com ele seus doces e pegando seu almoço provavelmente morno e abandonado.
— volte aqui agora, seo changbin. — ditou apontando para o espaço ao seu lado no estofado.
— por onde você andou, hein?
— não mude de assunto.
— não vou te beijar.
— você tá negando os beijos do seu namorado? — ele dramatizou, arregalando os olhos enquanto fitava o moreno. — pensei que você tinha superado a fase da homofobia comigo, senhor changbin, mas parece que foi tudo uma mentira. Você vê, hannie? Ele não me ama!
— ei, eu não disse isso. — changbin se defendeu.
— hyung, você devia tentar papel pra uma novela. — jisung comentou com as bochechas cheias de comida.
— você não me ama. — resmungou o bang, cruzando os braços.
— você não disse o que anda fazendo nas últimas semanas. — changbin mudou de assunto, e vendo que ele iria persistir no assunto sobre ele não amá-lo, tornou a falar. — o que você tá aprontando, christopher?
— ui, me chamou pelo nome.
— deixa de gracinha, panaca.
— devia te denunciar por agressão, tá sempre detonando meu coração. Vou te levar na justiça, seo changbin.
— vou te dá um bom motivo pra me levar na justiça e pedir uma medida protetiva se não abrir o jogo sobre o que você tanto anda fazendo escondido.
— não tô escondendo nada. — ele deu de ombros, pegando seu almoço. E pimba! Changbin tinha descoberto que ele estava mesmo escondendo algo, porque essa era a postura que ele tomava quando mentia. Alguns anos de convivência tornava as coisas claras, até mesmo jisung sabia que ele estava mentindo.
— você é um péssimo mentiroso. — o han pontuou, bebendo seu refrigerante de uva para ajudar a descer a comida que guardava nas bochechas.
— vai falar ou não?
Houve um silêncio breve, e então chan respirou profundamente, como se procurasse palavras para iniciar aquele diálogo. O que imediatamente deixou os dois menores tensos. Chris não fazia aquela cara quando queria tratar sobre algo simples, aparentava ser realmente sério, talvez de urgência. Talvez ele estivesse querendo terminar o namoro, por ter achado outra pessoa. Ou talvez ele quisesse dar um tempo. Independente do que viesse, na cabeça do seo a única coisa que estava gravada em letras vermelhas e grandes era "ESSE É O FIM DA LINHA PARA VOCÊS". E okay, talvez agora ele estivesse entrando em pânico.
— recebi algumas propostas. — aquilo atingiu o coração de changbin como uma facada e seu estômago se contraiu. jisung parou de comer, prestando atenção em chan, talvez tão atentado quanto o seo. — querem um show do 3racha.
— espera, o que? — jisung indagou abismado, ficando de joelhos e apoiando as mãos na mesa de centro, sua boca estava suja de molho e ele parecia pálido olhando para os dois. — 3racha tipo a gente. Nós três. Eu, você e o bin. O nosso 3racha? Nosso trio? — chan assentiu, e ele voltou a sentar, olhando para o chão como se um buraco fosse se abrir ali e ele pudesse se esconder por um tempo.
Aquela reação do han não estava tão diferente da reação de changbin, talvez ele estivesse um pouco mais tonto que o rapaz mais novo, mas ainda se sentia nocauteado. Okay, não era um término, mas sim um recomeço? Um show do 3racha? O moreno nem mesmo pensou que teria pessoas que ainda estivessem com esse nome na cabeça. Às vezes até esquecia que já tinha feito parte de um trio com aquele nome. Ele se encolheu mais no canto do sofá, como se as aberturas pudessem levá-lo a outro universo.
— tá vendo? É por isso que eu não queria falar sobre isso. — chan proferiu, olhando preocupado para os dois.
— você aceitou essas propostas?
— não. — aquilo trouxe alívio para os dois. — não seria certo decidir isso sem vocês. Então, apenas escutei as propostas e quando sentisse que vocês lidariam com isso um pouco melhor, contaria tudo.
— você quer isso. — changbin chamou atenção dele. — você quer fazer um show com o 3racha.
— bom, talvez sim. Não sei. Não depende só de mim, a opinião de vocês é importante. É o nosso trio afinal.
— a gente não pode. — jisung se manifestou, para surpresa dos dois. — não, nem pensar.
— por que, ji? — o loiro se moveu na direção dele.
— não é nítido? Vai acabar dando tudo errado. Tínhamos menos de um mês de estreia e nossa carreira já tinha ido pelos ares. — ele esclareceu. — não quero passar por tudo aquilo de novo. Não quero perd- — antes que ele pudesse terminar, changbin o olhou seriamente, o que fez ele lembrar que não deveria citar sobre o afastamento do moreno, já que eles tinham prometido seguir em frente e esquecer aquilo. — o ponto é, não é uma boa ideia.
— podíamos fazer como um show de despedida, vocês sabem que tô planejando entrar de férias em alguns meses. Podemos usar isso como desculpa pra sumir por um tempo. — chan sugeriu como se fosse a ideia do século, mas nenhum dos dois parecia animado. Principalmente changbin que ainda não tinha falado nada, como se sua voz não fosse capaz de sair.
Os dois fitaram o moreno, esperando um argumento ou uma fala vindo dele, mas changbin apenas continuou imerso em seus pensamentos. Era como se um flashback estivesse passando em sua cabeça: os poucos shows deles em algumas cidades da Coreia do Sul, os hotéis que ficaram, as noites que passaram juntos, compartilhando a mesma cama, a notícia da morte da avó de christopher e então a ida deles pra Austrália, onde tudo aconteceu. Trazendo em seus pensamentos agora, tudo parecia um sonho, como se não fosse realidade, mas era. E changbin tinha ferimentos daquele tempo, como no dia que decidiu ser honesto sobre o que sentia em relação a eles e os beijou. Ou quando saiu com jisung naquela tarde e eles trocaram um beijo inocente em algum lugar bonito da cidade natal de christopher. Tudo tinha acontecido tão rápido, uma hora eram 3racha, o novo trio que abalaria o mundo, e no outro eles eram apenas alvos de pessoas preconceituosas.
Mas agora, lembrando disso tudo, aquele medo descomunal que o assombrou por tantos anos não parecia tão grande, talvez ainda fizesse seus joelhos tremerem e suas mãos suarem, mas não era tão ruim. Não era intolerável. Ele olhou para christopher e para jisung, interligando os olhares.
— acho que podemos pensar sobre esse assunto com um pouco mais de calma, certo? — aquilo fez o rosto de chan se iluminar, no entanto, jisung parecia em ruínas. — hannie. — chamou, mas ele nem ao menos ergueu o rosto. — não é uma confirmação, só vamos conversar sobre isso.
— isso não vai acabar bem — recitou como um poema melodramático.
— e se eu disser que você pode escolher o primeiro local que a gente vai viajar? — chan propõe, o que traz atenção de jisung.
Era o plano deles, viajar para vários lugares por pelo menos dois anos, longe da mídia e fingindo ser pessoas diferentes, como adotar identidades falsas e entrar em baladas para adultos, mas com a diferença que eles não cometeriam nenhum crime ao falsificar suas identidades, apenas agiriam como turistas e não artistas.
— posso pensar sobre isso. — ponderou jisung com a mão no queixo. Chan e changbin trocaram um sorriso.
Sete meses depois.
O coração de changbin nunca iria se acostumar com aquela tensão que cobria seu corpo quando estava prestes a subir no palco.
Recapitulando todos os últimos acontecimentos dentro daquele período de meses: jisung teve que ser mimado durante um mês inteiro até aceitar a proposta de um único show do 3racha, ele não estava de acordo com turnê nem nada parecido, seria como christopher disse, uma despedida. A divulgação do primeiro e último show do trio foi anunciada e recebida com êxito, milhares de pessoas compartilharam aquilo e em menos de uma semana todos os ingressos estavam vendidos. Todos. Changbin não queria nem imaginar a quantidade monstruosa de pessoas que teria que enfrentar.
Eles tinham passado os últimos sete meses do ano ensaiando loucamente, decidindo músicas e etc. Quando o trio chegava a noite em casa, parecia que um tsunami tinha atropelado os três, mas nenhum deles negava que estava sendo uma ótima experiência, era aquele tipo de correria que faltava em suas vidas. Um show. O moreno estava tão ansioso que passava tanto tempo no banheiro que chegou a pensar que se tornaria um só com o azulejo. Fora isso, ver christopher feliz por fazer algo que gosta deixava os dois rapazes mais novos contentes, sabiam que aquele show era algo especial para o australiano, iriam fazer o máximo para que tudo desse certo.
Ou pelo menos cinquenta por cento certo.
E como uma folha afastada do seu galho, o vento levou o tempo e o hoje era o dia. O moreno tinha esquecido como era o clima nos bastidores. Pessoas andavam para lá e pra cá, havia figurinistas, coreógrafos, staffs, maquiadores, tanta gente dentro de uma sala que changbin pensou que iria enlouquecer. Jisung e chan já estavam prontos, apenas esperando pela hora enquanto a maquiadora dava uns últimos retoques na sombra dos olhos do seo, fazendo várias perguntas a ele, do tipo que o deixava ainda mais ansioso. O figurino escolhido era um pouco quente e abafado, mas achava que apenas tinha perdido o costume de usar algo tão diferente das suas roupas de academia e pijamas. Na verdade, agora ele não era changbin, era SpearB e aquilo o deixava ainda mais nervoso.
A maquiadora finalizou seu trabalho e o desejou boa sorte com a apresentação, saindo junto com outros organizadores, a pedido de chan. Então o trio ficou sozinho, e o som dos gritos dos seus fãs ansiosos fazia parte de um mínimo espaço da bolha que os protegia. Changbin visualizou os dois com deslumbre, fascinado em como eles pareciam bonitos e brilhantes. E talvez eles também o enxergassem dessa forma pelo jeito que o olhava, como se fosse o único no universo que importasse.
— tô tão nervoso. — changbin admitiu, esfregando as mãos, a fim de se livrar da tensão, mas era impossível.
— posso fingir um desmaio e não subir pro palco? — jisung se dirigiu a chan, com uma esperança gritante no rosto.
— não sejam assim, treinamos muito para esse dia. — ele relembrou. — e a menos que vocês queiram que eu desfaça a maquiagem dos dois, e não duvide, eu posso fazer isso, é melhor colocarem pensamentos positivos nessas cabeças de vento. — changbin levou um leve empurrãozinho na testa, igualmente a jisung.
Sabia que o loiro apenas estava se fingindo de durão, por dentro ele estava tremendo, igual as mãos de jisung. Mas isso não impediu que ele agisse com confiança, segurando nas mãos dos dois garotos, olhando para eles com tanto carinho nas íris que changbin jurou ter visto algo entre aquela imensidão castanha brilhar, como uma pedra preciosa.
— eu confio nos dois e tô muito feliz de estar aqui com vocês. — admitiu honesto, olhando atentamente para dupla. — passamos pelo inferno pra tá aqui hoje, e sendo sincero, não me importo de passar por tudo novamente se tiver a garantia que estarei aqui, nesse camarim minúsculo e quente, com os dois caras que prometo amar todos os dias até o final da minha vida, sabe por que? Porque eu sou apaixonado por vocês, e quero que o mundo exploda se isso não é aceito, quero que todo mundo vá pro inferno se não gostar disso. Eu gosto de vocês. Eu amo vocês. E tenho orgulho de ser namorado dos dois.
O peito de changbin apertou e ele não resistiu ao ímpeto de abraçar o bang, igual jisung fez. Ele queria dizer que sentia o mesmo, que desta vez estaria disposto a enfrentar o que fosse se isso significasse que eles ficariam juntos agora, amanhã ou até o fim. Não importava, changbin os amava intensamente e nada podia mudar isso.
— vocês entram em cinco minutos! — alguém lá de fora gritou, e o trio teve que se separar.
Chan sorriu bobo para os menores, ajeitando a jaqueta dos dois, e depois espiando para checar se ninguém seria louco o suficiente para invadir o lugar, então os beijou rapidinho, como se fosse um lembrete que teriam mais se fosse com ele até lá fora e cantassem meia dúzia de músicas. E changbin estava pronto para enfrentar até o batalhão de Tróia.
— vamos nessa. — jisung sorriu confiante, dando um soquinho nos dois rapazes e saindo primeiro do camarim.
Antes de realmente irem até o palco, checaram se tudo estava no lugar e pegaram os microfones. Changbin sempre preferia o de mão, era mais seguro, em sua concepção, e dava menos problema na hora de cantar, e como a maioria das músicas que cantava não era necessário uma coreografia difícil, o manuseamento do microfone se tornava ainda mais fácil. Então, eles subiram no palco e o grito da multidão trovejou em seus ouvidos, como rajadas fortes de vento, diretamente em seu corpo, como uma recarga instantânea. O moreno olhou para os lados, para garantir que jisung e chan estavam ali, e suspirou aliviado quando notou que era real. Estava mesmo acontecendo. O han manteve os olhos fechados durante poucos segundos, como se orasse e chan repetia a letra da música baixinho, ainda com as luzes apagadas. Estava na hora. Estava mesmo na hora.
De repente, tudo começou e changbin se viu em seu primeiro show, como parecia assustador ver as pessoas abaixo da altura dos seus pés, gritando seu nome e acima de tudo, gritando suas músicas, cantando junto com ele, talvez até mais alto. Sentiu tudo de uma vez sumir: medo, ansiedade, angústia, tensão, aflição. Ele estava livre, como um pássaro liberto da sua gaiola. Ele se sentia vivo, verdadeiro e real.
"We Go" começou a tocar de fundo, os dançarinos entraram no palco e tudo começou. Changbin deixou de lado todo o medo que já teve e se entregou de corpo e alma, como se fosse seu último dia de vida, como se fosse seu último suspiro. Era uma despedida, mas queria fazer bem feito, para que as pessoas na sua frente, aquela multidão trovejante lembrasse do 3racha como um trio memorável que eles deveriam ter sido. Mas nunca era tarde demais para correr atrás do prejuízo, para recomeçar, reiniciar. Dar outra chance.
Eles não pararam nem mesmo quando "Zone" começou, onde todos pareciam ainda mais motivados a cantar. Jisung pulava ao seu lado, como uma criança feliz e christopher encantava a todos com o poder monstruoso da sua voz. Ele sempre estava procurando pelos olhos de changbin, do mesmo jeito que changbin buscava por jisung. Eles estavam conectados. O trio agitou a multidão noite adentro, cantando seus clássicos e algumas inéditas, mas nunca deixando o público desanimar, e quando já era tarde o suficiente para dizer "chega, temos que dar um tempo" eles decidiram pôr um fim, para tristeza de muitos. A duração do show pulou de duas horas pra três em um piscar, e em poucos segundos o sol nasceria e o moreno queria dormir alguns segundos antes da viagem, se conseguisse dormir com essa dose de adrenalina extra correndo em suas veias.
Quando "Runner's High" chegou ao fim, o trio tentou recuperar o fôlego, enquanto a multidão gritava por mais em coro.
— desculpa gente, mas não podemos continuar. Não temos mais idade pra esse tipo de coisa. — o público ainda clamava por mais uma música, mas jisung estava nitidamente cansado e changbin não conseguia dizer mais uma palavra. — quero agradecer pela presença de todos hoje, vocês não tem noção do quão felizes estamos por tudo isso. A energia de vocês é incrível! Realmente sentimos falta disso, caras. É uma pena que seja nosso último show.
A multidão ecoou um nítido "por que" em conjunto. Era algo que christopher decidiu guardar para o fim do show, a notícia da folga prolongada deles, do tempo de descanso longe da vida pública, sendo só caras normais curtindo as férias por aí.
— eu não falei? — chan fingiu que estava pensando, olhando para seus garotos para checar se eles estavam bem. Jisung enxugava o rosto suado com uma toalha e changbin bebia água. Mesmo agora, para o australiano, eles pareciam lindos. — estamos entrando de férias, por tempo indeterminado.
— oooh! — o público ecoa surpreso.
— precisamos de um tempo para nós mesmos. A vida anda muito corrida. Uma folguinha sempre é bom. — chris disse pausadamente, estava meio rouco e com a garganta seca, mas decidiu prosseguir. — e sendo honesto, não vejo a hora de sair por aí e curtir um pouco a vida. Estive preso no Cb97 por muitos anos, acho que tá na hora de ser apenas christopher, o cara australiano que tem o desejo de conhecer o mundo. E podem ter certeza, vou ter ótimas companhias comigo. — olhou para seus garotos e a multidão gritou, mesmo que não soubesse o verdadeiro significado por trás daquilo.
Mas a dupla sabia, e não conseguiu evitar o rubor por suas bochechas, porém o calor e a umidade esconderam isso bem.
— de qualquer forma, obrigado mais uma vez por hoje, vocês não tem noção do quão feliz eu tô agora. De ter dito isso pra vocês. — changbin sabia que chan via seu discurso como um "olá mundo estamos namorando e vamos sair de férias tipo lua de mel". Mas só o trio era capaz de decodificar isso. Era o segredinho deles. — nos vemos em alguns anos, ou não. Tô brincando! — contornou a situação antes que o coro de choro viesse. O que realmente estava prestes a vir. — não vamos sumir para sempre, apenas por um tempinho.
Chan se aproximou dos dois rapazes, ficando no meio deles para segurar em suas mãos e agradecer o público para oficializar o final, e o começo da vida deles. O contorno da aliança do loiro roçou em sua pele e o cérebro do moreno lembrou que ele também estava usando, igual jisung. Era o único acessório nos dedos que o trio estava usando naquela noite, como mais um aviso ao mundo que eles estavam juntos, se o sinal não fosse compreendido, isso já não seria problema deles.
— obrigado! — o trio gritou em plenos pulmões e as luzes se apagaram.
Eles enfim estavam livres para reiniciar.
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