38° verso
— ji, você não vai levantar? — changbin indagou, fechando a porta do quarto devagar. Tinha acabado de se despedir de chan, apesar de ser cedo, ele precisou sair alguns minutos antes do seu horário normal para resolver uns problemas com brian. O moreno não entendeu direito para onde eles iriam, mas parecia importante, então apenas desejou boa sorte a ele e depois subiu para ver como jisung estava.
Era como imaginava, o garoto de fios castanhos estava deprimido. Deitado no meio das cobertas, jisung apenas mantinha o rostinho para fora, ele tinha um bico adorável adornando seus lábios, mesmo que seus olhos redondinhos estivessem fechados. Changbin deixou as sandálias pelo meio do caminho e subiu na cama, e no mesmo instante que se aproximou do han, ele virou de costas, evitando encarar o mais velho. Surpreso com isso, o moreno passou a mão pela extensão do corpo do garoto, desde seu ombro até o início do seu quadril, mantendo a mão ali para confortá-lo. Tinha meio que uma ideia do porquê dele estar assim, porém queria que ele mesmo falasse o que estava acontecendo naquela cabecinha engenhosa.
— você tá com fome? — tentou puxar conversa, mas ele apenas se encolheu, balançando o braço para afastar a mão de changbin. O moreno suspirou, entrando debaixo do cobertor para abraçá-lo por trás. — eu não vou te soltar, han. — disse sério, apertando o corpo forte de jisung para evitar que ele continuasse tentando afastá-lo.
— me deixa sozinho.
— não. — em algum momento o garoto mais novo percebeu que era impossível tirar changbin dali, uma vez que seus braços prendiam com força o dorso do castanho. Ele parou e respirou fundo, se virando na direção do homem em seguida, changbin ficou surpreso pelo quão vermelho seu nariz e olhos estavam. Jisung parecia querer chorar, mas nada vinha, seus olhos continuavam nebulosos mas sem nenhuma chance de algo sair de lá.
Seu biquinho cresceu ao ver changbin, se agarrando nele como se sua vida dependesse disso. E talvez realmente dependesse. Changbin o acolheu como pôde, acariciando seu cabelo com ternura, se assegurando que ele estava confortável. Não queria vê-lo chorar, seria mais do que poderia aguentar.
— eu sou um estorvo pra vocês. — jisung disse de repente, a voz embargada pelo sentimento ruim que crescia em sua garganta como um bolo ruim de se engolir. O rosto de changbin foi tomado pela confusão, sem entender de onde ele tirou aquilo.
— claro que não, jisung. Você nunca foi e nem nunca será um estorvo pra gente. — garantiu com sinceridade, abraçando o menino mais um pouco. — não diga isso, por favor.
— eu só sei estragar tudo, foi desse mesmo jeito a três anos atrás. Você foi embora porque eu sou um completo irresponsável. Foi tudo culpa minha.
— você sabe muito bem que não foi por causa daquilo que eu fui embora, e também, não existe isso de "a culpa foi sua". Não fizemos nada demais, se for pra culpar alguém que seja aquele paparazzi que ficou nos seguindo na Austrália. — disse, se sentando e puxando o han para ficar na sua frente. Ele veio, mesmo que relutante, a postura torta mostrando que ele estava cabisbaixo com aquela situação. Changbin nunca foi bom para consolar alguém, mas precisava fazer isso, era o único que jisung tinha agora. — príncipe, olha pra mim. — pediu calmamente, alisando o rostinho redondo do mais novo.
Jisung levou a mão até o pulso de changbin, negando o carinho ao afastá-lo novamente. Estava ficando com medo do que aquilo poderia dar, porém o moreno não iria desistir e acatar o desejo dele de ficar sozinho.
— eu sei que não foi por mim que você foi embora, mas ainda é minha culpa, fui eu quem te beijou naquele dia.
— foi só um selinho, hannie, não tem a menor maldade nisso. E mesmo que tivesse sido um beijo, ninguém tem nada a ver com nossas vidas.
— não importa, eu ainda me sinto culpado! — ele gritou de repente, assustando changbin.
Como se tivesse notado o que tinha feito, jisung ergueu o rosto e encarou changbin, o jeito que seu semblante estava contorcido numa expressão de susto o deixou ainda mais culpado. Seus lábios tremeram e novamente o castanho abaixou a cabeça, as mãos apertando com força o cobertor que escondia suas pernas.
— me desculpa. — pediu. — eu só… me sinto culpado por tudo. Da última vez foi desse jeito, eu dei um deslize e aquilo aconteceu. Agora de novo. Por que vocês não me mandam embora de uma vez? Nem sei porque ainda me mantém por perto, eu só sei estragar tudo.
— nós nunca vamos te mandar embora ou terminar com você, sabe por que? — o garoto continuou calado, olhando para suas mãos. — tanto eu quanto o chan precisamos de você, e independente do que aconteceu a três anos atrás ou o que aconteceu agora, isso não vai mudar. Nós te amamos e eu te garanto que isso é a única coisa que ninguém pode interferir. — arrastou as mãos até as de jisung, segurando nelas para evitar que as unhas grandinhas do menino machucassem as palmas de tanto apertar. — você me fez prometer que nunca iria embora de novo, agora eu quero que você me prometa algo.
Jisung olhou para changbin por cima da franja grande que cobria suavemente seus olhos, o moreno parecia sério, mas ainda tinha uma certa leveza em seu rosto.
— me prometa que vai esquecer o passado. Tudo de ruim que aconteceu, eu quero que você esqueça. Minha ida, o que aconteceu na Malásia, os escândalos, tudo. Você tem que esquecer. — o castanho franziu as sobrancelhas sem entender. — vamos, prometa. — apertou a cintura fininha dele, ocasionando num espasmo surpreso de jisung e um riso frouxo saindo entre seus lábios.
— por que?
— porque nós vamos criar memórias melhores daqui em diante. Então, não pense no passado, ele não é importante. Pense no agora, na gente, em nós três juntos. Você sabe que eu e o chan vamos ficar contigo até o dia que você se canse da gente.
— isso é impossível.
— será mesmo? — novamente changbin apertou a cintura dele, fazendo cócegas. Jisung riu daquele jeitinho bobo e adorável, encolhendo as pernas e tentando tirar as mãos afoitas do moreno dali. — então, você promete? Promete que vai esquecer o que aconteceu e não falar mais sobre isso e focar no agora, em como finalmente tudo parece no lugar apesar do último incidente, que com certeza não foi sua culpa e sim dessa gente insuportável que vive no seu pé.
— eu prometo tentar. — ele deslizou para perto de changbin, sentando em seu colo.
— já é o suficiente. — sussurrou quando jisung passou os braços por seus ombros e abraçou seu pescoço, a bochecha dele contra a sua, num confortável abraço. — tá se sentindo melhor agora? — perguntou, acariciando suas costas.
— tô. — disse um pouco mais animado. — hyung.
— sim?
— tô com fome. — relatou fazendo biquinho, esfregando a bochecha contra o rosto de changbin várias vezes como um gatinho manhoso.
— e o que o meu príncipe quer comer? — ele deu de ombros, apertando as pernas ao redor do dorso do mais velho. — não consigo levantar se você não me soltar.
— você tá quentinho.
— como vou fazer a comida assim?
— não seja malvado, eu ainda tô triste.
— mas eu não tô sendo malvado. — protestou. Jisung apenas ignorou, deitando a cabeça no ombro dele. — quem te deixou mimado desse jeito?
— meus namorados. — não conseguia evitar de ficar rubro todas as vezes que o garoto se referiu a ele como seu namorado.
— seus namorados devem ser caras legais então.
— eles são, às vezes. Na maior parte do tempo eles agem como cachorros no cio, mas eu amo eles mesmo assim.
— jisung!
— o que? — olhou para changbin. — é verdade, não?
Olhou sério para ele, mas não durou muito, aquele sorrisinho prepotente de jisung sempre era capaz de deixá-lo bobo e desnorteado. Decidido a sair de uma vez daquela cama, changbin apoiou as mãos no colchão e girou o corpo, sem o han sair do seu colo. Ele escorregou para fora da cama e ficou de pé segurando nas coxas do menino, partindo até a cozinha em seguida. Precisava voltar a se exercitar, jisung estava ficando pesado.
Deixou o castanho sentado em cima da ilha da cozinha, tentando ir até os armários, mas ele não queria de jeito nenhum soltá-lo.
— anjo, me solta. — com delicadeza tentou tirar as pernas de jisung da sua cintura, no entanto ele apenas apertou ainda mais.
— eu quero ficar juntinho de você.
— eu só vou até ali. — apontou para o armário logo atrás, a dois passos de distância.
— é muito longe. — choramingou carente, abraçando changbin.
— você sempre fica assim quando tá triste? — ele balançou a cabeça afirmando.
— o chan hyung diz que é meio chato, mas ele ainda gosta de me mimar.
— e o que ele faz pra te mimar?
— faz panqueca e compra doce.
— não tem material suficiente pra fazer panqueca. — pensou por um instante. — não tem outra coisa que você coma que te deixe bem? — indagou.
Jisung desencostou do moreno, fitando ele com atenção, um sorrisinho malicioso dançando em seus lábios. Changbin demorou para raciocinar o que aquilo queria dizer.
— jisung, eu tô falando sério.
— mas eu nem abri a boca.
— e depois o cachorro no cio sou eu.
— qual é? A gente não faz isso há um tempão.
— faz só algumas semanas, eu acho.
— muito tempo. — cruzou os braços, virando o rosto como se tivesse a maior razão do mundo em seus argumentos.
Changbin apenas revirou os olhos, trazendo ele para perto.
— se fosse o chan você ia querer transar. — changbin ficou boquiaberto. — você acha que eu não sou bom o suficiente pra isso?
— jisung! — tentou não rir da carinha brava dele, mas era impossível. Sempre que estava com raiva, jisung cruzava os braços e franzia as sobrancelhas, tentando ser sério, mas aquele par de bochechas e cabelo fofo não deixava. Ele sempre seria adorável para changbin. — não é assim que funciona.
— mas você liberaria pro chan se fosse ele pedindo.
— não estamos falando do chan aqui.
— tá vendo? Nem negou. Nossa hyung, você é um safado sem vergonha.
— eu safado? Olha quem tá pedindo pra transar às nove da manhã.
— detalhes.
Balançou a cabeça em negação, se recusando acreditar que estava mesmo tendo esse tipo de diálogo antes mesmo do café da manhã. Jisung podia ser imprevisível às vezes. Pelos próximos segundos ele nem quis olhar em seu rosto, e com um suspiro desistente, changbin pincelou um beijinho molhado em seu ombro despido, a camiseta grande que jisung usava ficava caindo por seus ombros e ele sempre tinha que ficar puxando ela de volta para o lugar certo, então usou aquela oportunidade para um começo. Sabia que o castanho era fraco para beijos nos ombros ou pescoço, era sua área sensível além das coxas e barriga.
Ele rapidamente ficou molinho, as mãos delicadas apertando seus ombros e puxando devagar seu cabelo. Changbin apalpou o corpo cheio de curvas de jisung, desde sua cintura até as coxas finas e bonitas. O han parecia querer ir um pouco mais longe, mas o moreno tomou distância, vendo o rostinho dele rubro e a boca meio aberta, atordoado pela repentina atitude do mais velho.
— primeiro vamos comer e depois podemos cogitar a ideia de uma rapinha, okay? — tentou argumentar, segurando nas bochechas grandinhas do seu menino.
— cogitar, binnie? — indagou insatisfeito.
— sim, e se reclamar, nem isso vamos fazer. — ele ficou quieto. — como se não bastasse o chan, agora também tenho que lidar com você desse jeito. Tô cercado por tarados. — reclamou com falsa irritação, conseguindo se libertar do aperto de jisung para verificar o que tinha nos armários e geladeira, calculando se dava para fazer algo com o que tinha ou iria pedir por delivery.
— vamos pedir comida pelo celular. — jisung sugeriu. — ainda quero comer panqueca.
— e quem vai pedir? O hyung não tá aqui. — ficou de pé depois de olhar se tinha algo comestível nos armários inferiores, apenas achando os sucos de caixinha que chan gostava de tomar e outras besteiras. Precisavam fazer compras o mais rápido possível.
— pedra, papel e tesoura? — propôs com um sorriso divertido. Changbin apenas riu.
(...)
À noite, changbin recolheu toda a bagunça que ele e jisung fizeram na sala de estar, jogando fora os utensílios de plástico que vieram com o pedido deles de comida. No final, changbin acabou perdendo no pedra papel e tesoura e teve que passar pela vergonha de ligar para algum restaurante próximo e pedir uma dúzia de panquecas para o café da manhã e almoço. De jantar eles comeram o que acharam pelo armário, sendo isso alguns doces e bolachas. Não era um bom jantar, mas animou bastante jisung. Panquecas e doces realmente aumentavam seu astral.
Agora os dois estavam no banheiro, changbin terminava de se barbear enquanto jisung saia do box, enrolando a toalha ao redor da cintura. O mais novo se aproximou por trás do menor e beijou suas costas, olhando pelo espelho o mais velho ocupado em não se cortar com a lâmina do barbeador. O han o achava tão bonito concentrado, ele até parecia outra pessoa quando ficava assim.
Quando terminou, ele lavou o rosto e olhou para o castanho, satisfeito com seu trabalho. O moreno se virou para o han, sendo encostado na bancada da pia por ele, jisung segurou com possessividade a cintura de changbin, o beijando lentamente, arrancando suspiros e arfares do menor.
— o chan pode chegar a qualquer momento. — relembrou quando teve espaço, mas jisung desceu os beijos para seu pescoço e a mãozinha esperta teimava em soltar o nó do roupão que o mais velho vestia.
— ele não vai se importar. — sussurrou em sua orelha, mordendo superficialmente o lóbulo por cima do brinco bonito que ele usava.
— mas seria constrangedor, e também, eu disse que seria só uma vez. — sem usar muita força, changbin forçou jisung a se afastar, olhando atentamente para os suas íris em seguida. O han encostou sua testa na dele, fechando os olhos para aspirar o cheiro agradável de shampoo que vinha do cabelo de changbin. — vamos nos trocar.
Ele assentiu, meio relutante para se afastar do menor. Já no quarto, o moreno ajudou jisung a se vestir, escolhendo uma roupa confortável para ele, sendo composta por uma camisa de mangas compridas e uma calça. A vestimenta que optou por usar era parecida, mas ao invés de calça ele escolheu um shorts folgadinho. Não estava tão quente hoje. Eles se deitaram em seguida, já que não tinham mais nada para fazer. A casa estava limpa e tinham comido o suficiente para apenas ter fome na manhã seguinte. Changbin deixou que jisung fosse a conchinha maior, se encolhendo dentro dos braços dele e aspirando o cheiro gostoso do seu perfume misturado com a fragrância do sabonete que eles usaram.
— no que você tá pensando? — indagou o moreno, observando jisung com um sorrisinho, seus olhos continuavam fechados, parecia pensativo e feliz ao mesmo.
— no futuro, quando estivermos casados, vamos ter mais momentos como esse. Tipo, nós três, sabe? Com o chan mais livre do trabalho e ficando com a gente assim, sem se preocupar com empresa e nem nada do tipo. — ele abriu levemente os olhos, seus cílios bonitos dando espaço para as íris amendoadas. Jisung olhou para changbin com um sorriso sonhador, e foi impossível para o homem não sorrir de volta.
— você quer mesmo se casar com a gente?
— sim, é o que eu mais quero. Mesmo que não seja permitido casamento entre três pessoas, mas podemos nos considerar casados em algum momento, certo? Com aliança e tudo. Seria legal. — fez um bico. — perguntei ao chan hyung uma vez se ele queria casar comigo e ter filhos, ele me mandou ir dormir que amanhã era outro dia. — changbin tentou não rir, mas acabou escapando. Jisung ficou irritado, batendo em seu braço como uma advertência para ele não rir de novo.
— não acho que o chris esteja pronto pra um casamento ou pra ser pai.
— mas estamos namorando agora, não é a mesma coisa? — indagou sincero.
— acho que pra ele casamento é um grande passo, e eu até entendo, também não tô pronto pra casar agora. — jisung cresceu o bico, aparentando estar chateado. — mas isso não quer dizer que eu não quero casar com você, só não agora, sabe? Acho que deveríamos aproveitar nosso namoro primeiro, tentar nos estabilizar em algum lugar e depois pensar se casamento e filhos entra na nossa lista de coisas para fazer no futuro.
— você tem razão. — sorriu antes de beijar o biquinho de jisung, fazendo ele sorrir bobo. — mas sabe o que eu acho? Você ficaria lindo de noiva.
— eu não vou me vestir de noiva.
— por que?
— não combinaria com a minha estética dark. — jisung se desmanchou em risadas, em um nível que o menor se sentiu ofendido. — o que foi, panaca?
— pensei que você tinha superado a fase emo, hyung.
— cala a boca. — fingiu estar irritado, mas após receber um beijinho na bochecha, sorriu novamente.
— mas temos um consenso que o chan nunca deveria se vestir de noiva, certo?
— sim, pelo amor de deus. — eles compartilharam uma breve risada. — mas ele ficaria bonito de terno.
— concordo.
Eles não conversaram a seguir, às vezes jisung murmurava coisas bobas, mas era apenas sinal do seu sono chegando. Como sempre, o han foi o primeiro a dormir, mesmo que a luz do quarto estivesse ligada. Changbin estava com uma preguiça tremenda de ir lá desligar, mas não iria conseguir dormir com aquela luz na cara, então tentou ficar de pé, no entanto suas quatro tentativas de se livrar do aperto de jisung foram em vão, na quinta vez ele definitivamente desistiu de vez, se rendendo.
Mas não foi preciso que ele tomasse coragem para tentar novamente, a porta do quarto foi aberta devagar e a silhueta alta de chan surgiu. Ele deixou a bolsa no chão e tirou a jaqueta, a deixando em algum lugar do quarto espaçoso. Os olhos do australiano pareciam cansados, ele subiu na cama e se arrastou até estar abraçado com changbin, se encolhendo perto deles dois como se estivesse o dia todo esperando por isso.
— dia cheio?
— sim. — respondeu simplista, se ajeitando para conseguir abraçar seus dois garotos. — senti saudade.
— também sentimos. — sua língua estava coçando para perguntar como tinha sido a coletiva, mas chan parecia não querer falar sobre isso agora.
— me acorda daqui meia hora? Tô com sono e cansado, vou tirar um cochilo. — pediu, os olhos pesados se fechando instantaneamente.
— acordo sim, amor.
— obrigado, príncipe.
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