36° verso
— calma, você pode repetir? — changbin coçou a nuca com o pedido de chan, tomando coragem para falar novamente.
— quero voltar a trabalhar com música, nem que seja pra ser só um produtor ou algo assim. — proferiu as palavras com calma, intercalando a atenção entre seus dois namorados. Jisung parecia estupefato, e christopher nem mesmo conseguia fechar a boca. — sei que é bem do nada, mas eu realmente quero fazer isso. Cantar e compôr são as únicas coisas que eu sei fazer bem, e continuar fugindo disso vai acabar me matando. Então, se não for pedir muito, posso trabalhar pra vocês? Faço qualquer coisa, até entregar cafezinho.
— entregar cafezinho? — jisung o encarou abismado. — você é nosso namorado, se quiser pode até virar dono da nossa empresa. Eu te entregaria fácil as chaves de tudo. — changbin riu baixinho, engatinhando até estar sentado sobre as coxas do castanho. Tinham acordado a horas, mas a preguiça que vinha junto com o fim de semana os fez ficar na cama como lençóis bagunçados, só tinham levantado para escovar os dentes e depois retornaram à cama. Chris tinha até mesmo largado sua corrida matinal para ficar com a dupla hoje, se entregando totalmente ao cansaço.
Aquela conversa surgiu com um ímpeto de coragem vinda do menor do trio, ele sentou de repente no colchão com uma cara de quem tinha uma bomba para contar. O han fora o primeiro a tomar postura e prestar atenção ao que o menino iria falar, e chan veio logo em seguida, esperaram o tempo dele até que enfim changbin disse tudo.
— não quero que vocês façam tanto assim por mim, posso começar por uma posição baixa. — disse se aconchegando em jisung. — só quero voltar a trabalhar com música. — se espichou como um gatinho carente e relaxou a musculatura ao deitar com preguiça em cima de jisung.
— você não vai ser qualquer um bin, eu tenho uma vaga de compositor e produtor guardada pra você há anos! — o loiro exclamou, enfim reagindo a decisão do seo. Jisung e changbin o encararam com a testa franzida, chan aparentava estar contente demais. — o que foi? Não posso tá feliz que vou trabalhar com os meus dois namorados? É crime agora? Vão me denunciar?
— quanto drama, hyung. — o castanho comentou rindo, sua mão fazia leves carícias no cabelo macio do rapaz que estava deitado em seu colo.
— você não era dramático assim antes. — changbin disse, olhando de soslaio para o bang que tinha deitado ao seu lado.
— eu não sou dramático. — ele de repente parecia emburrado, mas a dupla mais nova sabia que era apenas fingimento. — tô feliz que você vai voltar a trabalhar com o que gosta, e ainda mais por incluir a gente nisso. — carinhosamente, chan deslizou a ponta dos dedos pela lateral do rosto de changbin, se esticando até seus lábios encostarem na bochecha rubra do menino. Changbin se encolheu pelo frio na barriga que sempre vinha quando o bang se mostrava amoroso, era inevitável e bom. Parecia que sempre iria se apaixonar por suas mínimas ações, por seu carinho singelo e sua demonstração pura de cuidado.
— me mudar seria uma boa, né? Eu moro longe, e ter que vir todo dia de ônibus pra Seul vai dar um trabalhão. — refletiu por um momento, erguendo as costas para sentar sob o colo de jisung, que permanecia deitado. — meu apartamento deve tá um lixão, faz três anos que eu não vou lá.
— posso pedir pro brian hyung contratar alguém pra limpar. — chan sugeriu.
— nah, tô pensando em ir lá depois, qualquer coisa eu mesmo limpo. Preciso comprar mobília nova e tudo mais. Mas isso eu faço depois, hoje só quero ficar com vocês. — novamente se deitou sobre o castanho que estava quase cochilando de boca aberta. Jisung acolheu o corpo pequeno e musculoso de changbin, seus olhos pesados pela noite mal dormida que tivera e a semana difícil.
Eles não chegaram a conversar durante as próximas horas. Jisung realmente apagou completamente, mesmo que changbin se mexesse para lá e pra cá em cima do seu corpo, a fim de achar uma posição confortável. Chan cochilou vez ou outra, mas seu sono estava leve o suficiente para despertar com apenas um resmungo baixinho do seo de como ele estava com calor.
Mais para noite, o trio se reuniu à mesa para jantar, de banho tomado e pijama trocado. Changbin ajudava jisung com a comida quando chan recebeu uma ligação da empresa, ele se retirou ligeiramente para atender deixando para trás a dupla. Os dois garotos se olharam com a pulga atrás da orelha, temerosos com aquela repentina ligação.
— você acha que é sobre a gente? — o han indagou, olhando para changbin.
O moreno percebeu rapidamente que ele tinha ficado nervoso, algo que era fácil de detectar. Quando jisung parecia relutante ou ansioso, sua postura mudava, ele se tornava menor, de ombros encolhidos e olhos trêmulos, suas mãos tremiam as vezes e seus ombros se mexia em uma frequência preocupante, mostrando que ele tinha começado a respirar com força, como se seus pulmões exigisse mais oxigênio do que deveriam.
Changbin se aproximou dele como um instinto natural, rodeando sua cintura com os braços para puxá-lo a realidade. Jisung respirou contra seu pescoço e se encolheu, apertando a parte de trás da camiseta que o menor usava.
Quando chan retornou ao cômodo, seu rosto não tinha uma expressão muito alegre. Ele se sentou em frente a mesa pequena que continha no espaço, largando o celular de qualquer jeito em cima do vidro, ele levou as mãos até a cabeça e apertou os olhos, procurando calma para lidar com aquilo. Changbin engoliu seu nervosismo que parecia ter subido até a garganta como uma incontrolável vontade de vomitar. Ele segurou em jisung firmemente sem tirar os olhos de chris. Sabia que ele estava esperando sua raiva passar para não surtar com um dos dois.
Tinha noção que o bang não era capaz de magoá-los de forma intencional, mas aquela exposição que sempre eram metidos deixava o australiano fora de si, e na maioria das vezes ele preferia lidar com aquela frustração sozinho, se isolando em algum lugar fechado até suas ideias estarem limpas o suficiente para voltar a seu "eu" normal. Changbin nunca sentiu medo de chan, nem mesmo quando ele perdia o controle, mas odiava vê-lo fragilizado. Tanto ele quanto jisung.
Demorou um pouco, mas o han se acalmou enquanto o loiro ainda tentava raciocinar o que tinha ouvido por ligação. Sentiu os dentinhos do menino contra seu ombro, e riu fraquinho ao perceber que aquilo realmente tinha se tornado uma mania de jisung. Morder o moreno ajudava jisung a se acalmar, e changbin nunca entenderia aquilo, mas apenas o deixava fazer o que quisesse porque não era capaz de brigar com ele por algo tão banal.
— o nome do vocês dois tá em todos os lugares possíveis. — chan disse, sua voz grave pela irritação que ainda percorria suas veias. A dupla o encarou, suas expressões não escondendo o quão culpados e frustrados se sentiam. — não façam essa cara, tá tudo bem, vamos dar um jeito.
— me desculpa, a culpa é minha. — jisung falou. — me desculpa mesmo binnie, eu acabei estragando tudo de novo. — ele olhou fixamente para o moreno, com um bico de quem iria chorar a qualquer segundo.
Changbin sorriu compreensível e acariciou seu cabelo, jisung parecia tão esgotado com aquele assunto e doía vê-lo daquele jeito. Chan ficou de pé e abraçou o han junto com changbin, beijando sua bochecha e descansando a cabeça em seu ombro. O castanho não derramou uma lágrima, mas seus olhos pareciam carregados, ele apenas cresceu o bico e se escondeu dentro dos braços fortes dos seus namorados, a fim de espantar a culpa que o rodeava por anos. Quando teve sua pequena estadia na Malásia, pensou que iria enlouquecer, ponderou várias e várias vezes em desistir da sua carreira e voltar para seu país nativo para procurar changbin, mas resistiu por duros anos. Não foi fácil, e precisou ter muita força de vontade para acordar todo dia e enfrentar os problemas que vieram apenas por beijar quem amava em público. As pessoas demoraram para esquecer aquilo, principalmente quem trabalhou com ele na época.
Não tinha a quem dedurar todo o preconceito que estava sofrendo, então aguentou tudo calado. Aguentou por eles. E quando enfim pode voltar para sua verdadeira casa, chorou copiosamente nos braços de chan, desejando que changbin tivesse retornado para eles, que o menor estivesse consigo naquele momento difícil. Mas ele e chan suportaram bem tudo, e a gratidão que o castanho sentia em relação ao bang não tinha tamanho. Devia muito a eles dois, e não saberia o que fazer se um dia tudo isso acabasse, por mais que soubesse que o "felizes para sempre" só acontecia em contos de fadas.
— por que você não vai assistir aquele desenho chato que você gosta? Eu e o bin podemos terminar o jantar. — chan sugeriu com um tom ameno, sua fluidez em mudar de humor era impressionante para o seo. Parando para pensar agora, ele sempre tinha esse tom calmo quando estava com jisung, e até mesmo consigo. Changbin sorriu pelo jeito rápido que o han se recompôs e limpou os olhos, mirando em christopher com um sorriso pequeno.
— clarêncio o otimista não é chato. — resmungou baixinho, sorrindo novamente em seguida. — obrigado por sempre cuidar da gente. — chan sorriu tímido, beijando a testa do menino antes dele sair da cozinha saltitando como uma criança. — não se matem aí dentro! Se não eu vou ficar muito bravo, e vou morder a cara dos dois! — gritou da sala.
— a gente vai tentar! — changbin gritou de volta.
O moreno riu um pouco antes de ter seu corpo abraçado por trás, ele suspirou baixinho e virou o rosto em direção ao homem mais velho, se espichando para beijá-lo na bochecha. Por mais que odiasse quando o australiano brincava com sua sensibilidade ao toque, gostava de tê-lo por perto. Seu cheiro era como uma fragrância gostosa, sempre ficava calmo quando estava na presença do maior.
— você pode me falar o que tá te preocupando. — disse num timbre baixo, cuidadoso para que jisung não ouvisse e ficasse preocupado também. Chan grunhiu frustrado contra seu ombro, os braços fortes apertando a barriga pouco malhada do moreno, o suficiente para changbin ficar sem ar por alguns instantes, mas ele logo afrouxou e tomou postura, virando o seo em sua direção.
— acho que vou me aposentar antes dos quarenta, esse estresse todo tá me matando. — ele murchou em cima de changbin, abraçando ele no processo. Changbin riu quando ele assoprou seu pescoço e beijou, suas mãos pequenas percorreram todo o tecido preto da camiseta que cobria suas costas, subindo até os fios soltos que caíam por sua nuca, ele embaraçou os dedos ali e sentiu o ar ficar preso em sua garganta quando fora prendido com força contra a pia. — tava com saudade do jeito que você sempre fica molinho comigo. — chan riu no pé do seu ouvido, e changbin quis protestar, mas sua visão parecia embaçada de repente.
— a gente tava falando sobre um assunto sério.
— estávamos? — indagou com falsa inocência, sua mão invadindo a camisa do moreno e subindo até o meio do seu peito. A palma de chan era larga e quente, parecia brasa perto do ferro. Derretia changbin com uma facilidade impressionante. — vou acabar irritado se pensar nisso de novo, então é melhor deixar o que tem que fazer pra quando amanhecer. — ele abaixou um pouco o rosto para olhar changbin com mais atenção, notando o quão vermelho ele parecia. — você fica lindo assim. Muito mesmo.
O moreno virou o rosto e tomou coragem para afastar o australiano, que se deixou levar com facilidade. Com as pernas bambas, o menor foi até o fogão que antes era administrado por jisung, o volume alto da televisão indicando que ele estava lá vendo seu adorado desenho, deixando o baixinho para lidar com o bang.
Não demorou para que o loiro voltasse a ficar agarrado nele, e também não demorou para que suas provocações viessem. Changbin estava por um triz de bater com a colher que mexia a panela na cabeça do australiano.
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