33° verso
Changbin teve muito tempo para pensar nos últimos dois dias que se passaram. A maior dúvida que invadia sua mente era, como ele iria contar aquilo para chan e jisung.
O rapaz pensou em mil maneiras de abordagem, pensou até mesmo em soltar de uma vez e correr com medo da reação deles, mas talvez isso não seja algo que um adulto maduro faria, e bom, ele estava tentando se tornar um. Depois de ouvir várias reclamações e avisos de cuidado, o moreno estava feliz que teria o apoio dos seus amigos naquilo. Quem ele queria enganar? Estava radiante de tão feliz.
Havia muitas coisas que changbin não queria pensar que teria que se despedir, por isso, se manter imparcial durante os últimos dias foi crucial para sua saúde mental. Tinha coisas naquela cidadezinha que ele morreria de saudade, tipo o sol se pondo no finalzinho do dia, e o cheiro agradável da manhã quando o azul cintilante surgia. A paisagem sutil e as pessoas do período da noite. Ah, a noite aquela cidade ficava linda, e ao amanhecer também.
Hoje em especial seungmin e hyunjin voltaria da lua de mel, changbin não sabia exatamente pra onde o hwang tinha levado o mais novo, e mesmo morrendo de curiosidade para saber onde eles tinham ido, o ruivo não lhe deu nenhum spoilerzinho. Às vezes o moreno achava seungmin tão malvado. Eles iriam se mudar no dia seguinte, então era outra coisa que changbin tinha que se preparar, para dizer adeus. Ou um tchau. Tentava pensar nas palavras de chan, seungmin não iria embora para sempre, e ele podia ir visitá-lo quando quisesse, mas era meio difícil se acostumar com aquela nova realidade quando se acostumou em sempre ter o kim por perto.
Na noite anterior da mudança de seungmin, jisung apareceu em sua casa. Somente ele, para ser mais exato. Chan estava ocupado demais para ir dormir com a dupla, por mais que tentasse ao máximo dar atenção a eles pelo celular enquanto trabalhava em uma nova faixa para o álbum de um conhecido. O moreno só lembrava de ter o han cantando alguma música boba enquanto ele dormia pesadamente com a cara enfiada no travesseiro, o cheiro de álcool no ar, indicando que eles beberam mais do que deveriam por insistência do han. O bang mataria jisung se soubesse que ele tinha dado razão a beberia do moreno.
Ao amanhecer, ser assemelhado a um zumbi era algo gentil ainda. O cabelo despenteado, a cara amassada, o cheiro horrível de álcool em cada centímetro do quarto, aquilo parecia uma cena retirada de um filme de terror pesado dos anos 90. A enxaqueca da ressaca pegou os dois rapazes sem horário certo para ir embora, eles tomaram banho juntos e depois regressaram a cozinha do apartamento do moreno para tomar um café forte e algumas pílulas para ressaca que o seo sempre guardava na segunda gaveta do armário, junto com a caixa de primeiro socorros e uma caderneta pequena com números de emergência: entre eles está o de seungmin, hyunjin, dos bombeiros e da polícia. Às vezes o menor jurava que o ruivo achava que ele ainda era um adolescente idiota que estava morando sozinho pela primeira vez, e às vezes o dava razão, era um inconsequente.
Quando seungmin surgiu pela porta do apartamento que estava destrancada desde a noite anterior, a situação que ele se deparou era humilhante. Changbin e jisung espremidos no sofá pequeno, sendo o han por baixo do corpo forte do moreno, o abraçando como um ursinho de pelúcia. Eles dormiam um por cima do outro, era nítido que eles ainda poderiam estar bêbados pelo tanto de garrafa de cerveja que o ruivo achou na cozinha.
— eu durmo cedo por um dia e você vira a noite bebendo, changbin! — o grito estridente do kim despertou ambos rapazes, que caíram como peças de dominó do sofá. Um por cima do outro. Changbin ergueu o rosto com a visão embaçada pelo sono, encarando um seungmin muito puto parado na entrada da cozinha com as mãos na cintura.
— ah, é só você. — ele soltou um suspiro aliviado, ajudando o han a levantar do chão.
— não tem um dia que eu não me pergunte que pecado cometi pra tá sendo castigado desse jeito. — seungmin passou a mão entre as mechas vermelhas flamejantes, olhando com raiva para os dois homens sentados no sofá. — eu achei que você fosse mais responsável, jisung.
— o que tem eu? — ele olhou para changbin sem entender, o sono tampando seus ouvidos. — o que ele disse? — o moreno sorriu pequeno e acariciou o cabelo do garoto que parecia perdido, balançando a cabeça para os lados e sussurrando que não era nada demais.
— eu quero matar vocês dois. — ele fingiu que estava estrangulando alguém, e olhou com raiva para os dois. O seo se encolheu, abraçando jisung no processo. — deixa só o chan saber disso.
— espera, não conta pra ele!
— agora você escuta, né? — semicerrou os olhos na direção do músico, que se encolheu com medo. — tenha santa paciência, e eu achando que não podia piorar, agora além de cuidar de um alcoólatra, apareceu outro. Vou ficar muito puto de tá fazendo tudo isso e acabar indo pro inferno. — ele massageou a área entre as sobrancelhas, olhando atentamente para a dupla. — vocês já tomaram banho? — eles assentiram. — vão lavar o rosto de novo e trocar de roupa, o caminhão de mudança daqui a pouco chega e você prometeu que ia me ajudar. — changbin balançou a cabeça, ficando de pé.
Lavou o rosto como seungmin mandou, várias vezes, devo ressaltar. Sentiu a embriaguez passar um pouco, mas a enxaqueca e a vontade de vomitar ainda estava lá no final da sua língua, ele tentou fingir que não estava incomodado pela sensação ruim que aquilo trazia e tratou de vestir uma roupa decente. Jisung fez o mesmo, se trocando com a roupa que tinha na residência do seo e acompanhou ele ao apartamento vizinho. Ver tudo desmontado e vazio deixava o moreno com uma sensação de perda no peito, algo pesado, mas que lutaria para evitar que viesse à tona. Estava tudo bem, ele não ficaria sozinho. Não era um adeus, repetiu isso na mente.
Antes que o caminhão aparecesse, eles juntaram as caixas no saguão do prédio e outros pertences pequenos, mas tinha algo estranho vindo do lado de fora. Changbin aproveitou que tinha descido sozinho até o térreo e foi averiguar o que estava acontecendo, caminhando silencioso até o vidro enorme na entrada, vendo dois homens do outro lado da rua segurando câmeras, posicionados bem em frente ao prédio, esperando por algo. Ou alguém. Aquilo não era um bom sinal. Ele subiu rapidamente até o andar onde morava, apertando várias e várias vezes no botão do elevador para tentar adiantar de uma vez, uma ansiedade enorme crescendo no pé do seu estômago, sua cabeça em completo desespero.
Changbin entrou igual um furacão dentro do antigo apartamento que era do kim, assustando o jovem casal e jisung. O castanho se preocupou com o quão pálido o rosto do seo estava, indo até ele para checar se estava tudo bem.
— você… você foi seguido. — ele disse num fio de voz. Jisung arregalou os olhos, indo até a janela que ficava de frente para rua, dali ele podia ver com um pouco de dificuldade duas pessoas com câmeras profissionais à espera dele.
— tá de brincadeira comigo. — seungmin exprimiu, indo verificar também com hyunjin.
— o que a gente faz agora? — changbin indagou, olhando para jisung que parecia pensar enquanto andava em círculos.
— o caminhão da mudança tá chegando, precisamos descer. — hyunjin avisou. — vocês vão ficar ou…?
— vão primeiro, a gente vai descer logo pra ajudar. — jisung disse. O casal assentiu, saindo primeiro do apartamento. — vou ligar pro chan.
Changbin balançou a cabeça, aguardando. Jisung ligou uma, duas, três vezes até o australiano atender. Ele ligeiramente colocou no viva-voz.
— hyung, deu merda.
— não envolvendo nenhum escândalo, eu tô de boa. — eles ficaram em silêncio. — puta merda, o que vocês fizeram agora?
— dois paparazzi seguiram o meu carro ontem ou alguém vazou que eu tava. — jisung olhou para changbin, que deu de ombros, sem saber como responder se alguém tinha os visto na noite anterior subindo até seu apartamento. Não lembrava de nada. — tudo bem, a segunda alternativa é meio provável, mas a primeira é mais.
— só fiquem escondidos onde estão e esperem eles irem embora.
— não acho que seja efetivo, lembra daquela vez que dois caras ficaram plantados na entrada do condomínio por quase três dias por que juravam que você tava com uma mulher? São as mesmas pessoas, eles não vão desistir.
— ah, caralho. — chan grunhiu frustrado. — o tanto que eu peço pra você ser cuidadoso quando for ver o changbin, o tanto que eu fico repetindo pra você prestar atenção ao redor e não deixar ser visto na rua. Às vezes parece que eu tô falando com uma parede.
— não foi por querer, eu só fiquei empolgado demais e esqueci desse detalhe.
— um detalhe enorme para a segurança de vocês dois. Eu não deveria ter deixado você sair sozinho, é pedir pra se meter em confusão.
— também não precisa falar assim, eu não fiz por querer, o que você quer? Um pedido de desculpas e que eu diga que você está certo? Então tá bom bang, eu sinto muito e você está sempre certo, oh grande senhor da razão!
— não seja infantil!
— então não joga a culpa em mim!
— parem com isso, que inferno! — changbin gritou sem paciência, assustando jisung que parecia absorto demais na discussão que estava tendo com o australiano. — esse tipo de coisa acontece, você mais do que ninguém sabe disso. Não é culpa do jisung, só aconteceu e pronto, não tem necessidade dessa briga idiota!
— eu e o changbin vamos resolver isso, foi uma péssima ideia ligar pra você. — o han tirou a ligação do viva-voz, cortando o que chan ia bradar. — e mais uma coisa, se você tá de cabeça quente, vai tomar um banho pra dormir, porra!
Jisung desligou a chamada e colocou no modo avião, guardando o aparelho no bolso do shorts. Ele olhou para changbin que queria rir, suavizando sua expressão instantaneamente pela carinha engraçada que o menor estava fazendo.
— argh, esse desgraçado me tira do sério. — ele abraçou o moreno, tentando ignorar o sentimento ruim que sempre vinha quando ele discutia com o australiano. — se ele te ligar, não atende, se eu tô brigado com ele, você também tá.
— isso não faz o menor sentido, hannie. — envolveu os braços ao redor do maior, beijando de levinho seu pescoço. — mas tudo bem, se isso faz você se sentir melhor, não vejo problema.
— obrigado. — se separou do moreno com preguiça, dando um selinho rápido em seus lábios. — o que a gente faz agora?
— vamos descer.
— tá tudo bem pra você ser visto comigo?
— não sei, mas não podemos adiar o inevitável, né? Se vamos ficar juntos, isso irá acontecer em algum momento.
— tenho medo de você sumir como da última vez. — ele puxou changbin para perto novamente, encostando a testa na dele, fechando os olhos no processo. — eu não quero te perder de novo, hyung.
— eu prometi que não ia sumir, ji.
— eu sei… eu sei. — seus narizes se encostaram, o roçar de lábios sendo prazeroso para ambos. Changbin impulsionou o rosto na direção do garoto até sua boca se encaixar na dele, derretendo como gelo exposto ao sol, as mãos fortes do castanho percorrendo o corpo másculo e cheio de curvas. — hm, onde fica o quarto?
— você- vamos descer! — bradou envergonhado, puxando o mais novo pela mão porta a fora.
Jisung riu enquanto se deixava ser arrastado. Ao chegar no saguão, metade das caixas tinham sido carregadas por seungmin e hyunjin, fora o rapaz que dirigia o automóvel que levaria as coisas. Changbin sentiu uma ansiedade forçar seu coração a bater um pouco mais rápido que o de costume, ele encarou a saída do prédio e respirou fundo, pegando uma caixa e caminhando lentamente na direção dos portões com jisung logo em seu encalço.
Sua visão ficou levemente embaçada pela luz, mas ele rapidamente se adaptou e andou meio tropeçando até o caminhão, deixando a caixa perto de seungmin e avisando que iria buscar o restante. Jisung repetiu o mesmo ato, e de forma sutil achou os dois homens, que apontaram as câmeras em sua direção, os clicks sendo ouvidos de longe.
— eu espero que pelo menos eles peguem meu lado bom nessas fotos. — jisung comentou, entrando no prédio novamente com changbin.
— ah, sério, o que fiz pra merecer você. — ele balançou a cabeça para os lados, em negação, se abaixando para pegar mais uma caixa de tamanho médio. — o que você tá olhando? Anda logo, a gente não tem o dia todo.
Jisung bufou e empilhou duas caixas de livros para levar, às últimas duas, entregando ao hwang e ele arrumou dentro do caminhão baú. Com as portas fechadas, o cara que dirigia o grande automóvel saiu com hyunjin e seungmin logo atrás de carro. Changbin aproveitou para ir de carona com o casal para não criar suspeitas entrando no carro do castanho, sabendo que aquilo só iria trazer mais problemas. Mandou o endereço da nova casa do kim para jisung, observando ele trocar a rota para despistar os paparazzi que começaram a segui-lo de carro.
A gente se encontra lá. Foi a última coisa que ele disse por mensagem antes de sumir do campo de visão do seo.
(...)
Changbin ficou encarando a pequena residência que o casal ficaria pelos próximos anos, um sentimento estranho se embrenhou por suas entranhas e ele sentiu que precisava de um tempo para respirar. Olhando ao redor, o local parecia agradável, não tinha tantas pessoas, apesar de que as poucas que possuía eram muito curiosas, foi apenas o caminhão parar em frente a casa e pelo menos duas pessoas apareceram para xeretar. E digamos que ver um ex rapper famoso não era um evento comum por aquelas bandas, então elas ficaram lá o encarando por minutos a fio sem nem ao menos piscar e changbin teve vontade de entrar no carro do hwang e só sair de lá quando tudo estivesse vazio.
Pessoas ainda o assustavam de certa forma.
Quando jisung apareceu depois de quase uma hora, boa parte das coisas já estavam na nova casa. Por dentro, a residência era bem maior e mais aconchegante. Ficará sabendo que hyunjin tinha comprado a casa com o dinheiro que vendeu o bar, então aos poucos eles iriam reformar e comprar móveis novos, mas com o que tinha dava para se virar. A sala era grande e pintada de um bege meio fraco, que mais parecia um branco meio rosado, não tinha sofá e nem televisão, mas um tapete consideravelmente grande se estendia pelo chão. Já era um começo, pensou changbin. Fora a sala, havia dois quartos e uma cozinha espaçosa, com direito a quintal amplo e grama.
Quando o caminhão foi embora, o moreno finalmente percebeu que era definitivo. Hyunjin e seungmin dali em diante ficariam nessa casa, eles não voltariam para sua antiga cidade e não seriam mais os donos daquele bar mixuruca que tinha ganhado apreço. Eles eram só mais um casal de recém casados que pretendia formar uma família. Era até surreal pensar neles assim. Changbin riu amargamente da atual realidade que fora obrigado a engolir, e deixou os ombros caírem.
— tá anoitecendo, acho melhor a gente ir andando. — jisung avisou, percebendo o quão melancólico seu namorado de repente se tornou.
— vocês podem ficar aqui se quiser, posso colocar um pano de chão e vocês dormem tranquilinhos. — seungmin disse com um grande sorriso, de forma fingida. O rosado o olhou sério, repreendendo ele silenciosamente.
— muito atencioso da sua parte e fico até constrangido de negar, mas acho melhor mesmo a gente ir dormir em outro lugar. — o han sorriu igualmente falso, segurando na mão pequena do seo.
— você conseguiu despistar os paparazzi? — hyunjin indagou, visivelmente preocupado.
— sendo sincero, eles pararam de me seguir de repente, achei bem estranho, mas talvez eles tenham ficado satisfeitos com as várias fotos que tiraram. Vai saber. — ele deu de ombros, mostrando tédio sobre a situação. — enfim, a gente vai indo.
— obrigado pela ajuda hoje.
Seungmin olhou para changbin como se esperasse que ele fizesse alguma piadinha ou ao menos se despedisse, mas ele se manteve impassível e de cabeça baixa. O kim respeitou aquilo, sabendo que ele não lidava bem com despedidas. A dupla saiu da residência após jisung afirmar mais uma vez que eles achariam um lugar pra dormir aquela noite, sabendo que não era cogitável a ideia de voltar até o apartamento do menor no momento, uma vez que provavelmente haveria mais paparazzi por lá e o han estava cansado de expor changbin daquele modo sabendo o quão sensível ele era. Eles entraram no carro e silenciosamente o mais novo deslizou sobre a estrada úmida, uma quietude assolando o ar, e aquilo era o suficiente para deixar jisung angustiado. Nunca era um bom sinal quando changbin ficava muito quieto e calado.
— hyung, você tá bem? — indagou olhando de soslaio para o menor.
— tô. — disse baixo. — talvez, não sei. — changbin coçou os olhos, parecendo cansado. — não lido bem com essas coisas, então a gente podia não conversar sobre?
— tudo bem. — jisung esticou o braço até tocar sutilmente na orelha do baixinho, acariciando a pontinha que continha um brinco dourado. — vou ficar com você essa noite, só por precaução.
— você quer fugir do chris, isso sim. — implicou, deitando levemente a cabeça na palma do castanho.
— também, mas no momento me importo mais com você. — ele voltou a prestar atenção na rua, a escuridão que passava pela janela do menor o deixava meio melancólico. — sei um lugar perfeito pra gente ficar hoje.
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