21° verso
Iniciou o dia calmamente, tomou um banho rápido e se vestiu de forma casual, saindo de casa para chamar seungmin. Eles tinham combinado de fazer compras juntos, e com as atuais circunstâncias, changbin se recusava a sair sozinho.
Não que estivesse com medo de algo - ou um certo alguém -, apenas se sentia mais confiante se o Kim estivesse ao seu lado.
Quando o ruivo apareceu, sua cara de sono denunciava que ele tinha acabado de acordar, se cumprimentaram em silêncio e seguiram rumo até o elevador. O caminho até a garagem do prédio foi silencioso também, ainda era cedo para conversar, teriam todo o dia pela frente e o moreno sabia que tentar puxar assunto com um seungmin sonolento era mais perigoso do que com ele desperto.
Já no supermercado, changbin fazia o papel de guia para o carrinho enquanto o mais novo ia adicionando as coisas. Suas compras sempre eram misturadas, por morarem lado a lado, às vezes seungmin fazia suas compras do mês junto com a dele e quando chegava em casa dividiam as coisas. Era um jeito prático e também um costume que acabou por criar pelos meses que changbin ficou isolado dentro de casa e com medo de sair.
Lembrar da época na qual conheceu changbin era doloroso, tinha sido um período difícil para eles. seungmin lembrava daquilo perfeitamente. Sabia de toda a história por trás do isolamento do mais velho, sabia o que tinha levado ele a chegar no ponto que chegou, e quando se aproximou dele naquele tempo não tinha outra intenção além de ajudá-lo. Mesmo com o tratamento hostil que o moreno usou na época, não deixou que aquilo afetasse seu propósito, o ajudou no que podia, mesmo que tivesse errado algumas vezes com ele, mesmo que ainda não fosse o suficiente se manteve ao lado do seo até que ele estivesse consideravelmente bem, ouviu suas lamúrias e deixou que ele o usasse de apoio emocional pelo tempo que precisava. Mesmo hoje, ainda tinha medo que changbin tivesse uma recaída como aquela, temia que ele se isolasse em casa novamente, afastasse ele e hyunjin de sua vida, não suportaria aquele sentimento de inutilidade outra vez.
Agora, olhando para o atual changbin, o qual ainda parecia estar recuperando seu verdadeiro brilho, se sentia aliviado por sua evolução. Ele estava se esforçando, o ruivo sabia disso. Nunca seria fácil para o moreno, ele havia passado por incontáveis coisas ruins durante toda sua vida, mas ainda tentava manter um sorriso caloroso, no qual demorou anos para recuperar.
- então, você vai se casar? - estavam na ala de frios do supermercado, seungmin que ia à sua frente lhe lançou um olhar entediado, sua felicidade com aquilo escondida entre seus lábios finos e rosados. - ainda não acredito que o hyunjin realmente te pediu em casamento e vocês vão marcar a data. É tipo, nossa, isso realmente vai acontecer. Vai ter docinho no seu casamento, não é? Você sabe que eu só vou se tiver docinho.
- só porque você gosta eu vou tirar isso do cardápio. - changbin fez um bico enorme, chateado. Seungmin que andava a sua frente puxando o carrinho riu da cara do mais velho e revirou os olhos. - é brincadeira, idiota. Claro que vai ter docinho, não se preocupe.
- você é tão maldoso às vezes. - o moreno voltou ao controle do carrinho, empurrando ele entre os corredores do estabelecimento.
- você acha que se eu convidar seus namorados, eles poderiam vir? - indagou, olhando para changbin por um breve momento. - não vai ser uma cerimônia grande. De convidados vai ser você e os amigos do hyun. Não quero que você se sinta deslocado, então pensei em convidar eles.
- eu não sei se eles podem vim, mas vou perguntar. - o garantiu, voltando a andar.
Sabia que a resposta seria um provável não, mas ainda tentaria convidá-los. Imaginá-los juntos no casamento do Kim lhe trazia um sentimento bom no peito, carregado com uma dose de felicidade antecipada. Era inevitável para changbin não ficar disperso naquele momento.
Queria que eles pudessem aceitar.
Com as compras finalizadas, changbin deixou que seungmin levasse tudo para casa e pediu para ele deixar as suas coisas na sala da sua residência. Dali, pegou um carro para o shopping, sabia que o ruivo ainda tinha coisas para fazer e o caminho do seu trabalho era na direção oposta do prédio onde moravam, então decidiu que pegar outro tipo de transporte seria mais fácil.
Já era fim de semana e o shopping estava lotado, então se apressou a passar por toda aquela muvuca de jovens desocupados que passeavam a fim de chegar logo no piso superior do grande prédio comercial, se esgueirou entre as dondocas que gastavam seu dinheiro de forma lamentável e desviou dos homens esquisitos cheios de anabolizantes. Se sentiu num circo de horrores.
Quando finalmente alcançou a pequena loja de vinil com uma fachada simpática, atravessou a porta que tinha um sininho em cima e sorriu grande para seu chefe.
- olha só quem finalmente deu as caras. - Jaebeom deixou seu celular de lado, saindo de trás do balcão de vidro para lhe receber com um abraço carinhoso.
- eu ainda tenho o meu emprego? - seu tom era de um falso choro, assumindo uma expressão sôfrega após o mais velho se afastar.
- claro que você tem, changbin! - aquilo trouxe um grande alívio para o moreno, e para seu bolso quase vazio. - sei que às vezes precisamos de um tempo para colocar as ideias no lugar, então não se preocupe, o emprego ainda é seu. - ele caminhou de volta para detrás do balcão. - venha amanhã no mesmo horário de sempre, certo?
- certo. - eles sorriram coeso.
Depois daquilo, changbin passou mais um tempo pelo shopping, visitou lojas novas que antes não conhecia e comeu coisas de aparência boa e gosto questionável, se entupindo de fritura até seu estômago dizer chega. Era hora de voltar.
Ignorando todos os olhares estranhos que sentiu que estava recebendo, ele caminhou até a saída do grande estabelecimento comercial. Vez ou outra era parado por algum adolescente de baixa estatura e voz desregular sendo inundado com várias perguntas: você é o SpearB? Changbin sentia vontade de sumir quando isso acontecia, claro, não acontecia com tanta frequência mas ainda era algo desconfortável para ele.
Apenas negava dizendo que não conhecia ninguém com aquele nome e seguia seu rumo ignorando os chamados das pessoas. E realmente, não conhecia ninguém com aquele nome. Já tinha se conformado que aquele cara tinha morrido, não existia mais nenhum SpearB, não mais.
Voltou para casa de ônibus, ao longe, o céu estava ainda brilhante e sem nenhuma nuvem. Talvez realmente esteja ficando velho, se sentia cansado e o dia mal tinha começado. Não tinha nenhum plano para passar o dia, talvez dormisse até de noite, onde acabaria indo para o bar do casal e ficaria lá até fechar. Era uma boa ideia.
Guardou tudo que seungmin tinha deixado pela sala nos armários, tirou a camisa e a calça e se jogou na cama ainda bagunçada, os lençóis estavam frios e se arrepiou pelo contato direto em sua pele bronzeada. Gostava daquela sensação de estar sozinho, do silêncio, de poder ouvir sua própria respiração calma e não precisar se preocupar com nada.
Quando estava prestes a pegar no sono, se assustou de forma bruta com seu celular tocando, procurou pela cama o maldito aparelho que atrapalhou seu cochilo e o achou no chão junto com a calça. Estava verdadeiramente irritado naquele momento.
- o que foi, christopher?- não ligou para quão ríspida sua voz tinha saído, estava muito puto para ser cordial.
- hyung? Você estava dormindo? Desculpa, eu não queria te acordar. - aquilo tinha sido como jogar um balde de água gelada em seu rosto, despertando de uma vez seus sentidos e acalmando sua raiva. Era jisung. - eu esqueci meu celular em casa então peguei o do chan escondido. Queria saber se você tá bem, mas se você estava dormindo vou desligar, não quero atrapalhar seu sono.
- não, não, tá tudo bem. Não desligue, por favor.
- certo então. - sua risada baixa e tímida ecoou pelos ouvidos do moreno, o deixando atordoado e estranhamente calmo. - tô com saudade.
- eu também, ji.
- perguntei pro chan quando a gente pode ir aí te ver, e ele disse que ainda não sabe. Tá tendo uns problemas aqui, mas acho que vai ficar tudo bem, o hyung e os outros estão cuidando de tudo. Eu só fico com a parte do treino dos novatos e orientação de alguns solistas, então não sei de muita coisa.
- Chan não te fala sobre o que acontece aí, né?
- você sabe como ele é. Às vezes fico irritado com esse senso de liderança que ele tem, que precisa carregar tudo sozinho. Sei que o brian ajuda ele sempre, mas queria que ele falasse comigo sobre o que o deixa irritado. Preferia que ele fosse mais explosivo do que calado e quieto quando fica com raiva de algo.
- precisa de muito pra deixar o christopher fora de si. - pontuou, amassando entre os dedos o travesseiro que havia colocado no colo.
- eu sei, mas isso é tão irritante! - exprimiu em frustração, changbin podia visualizar ele com um bico inconformado. - tô ouvindo passos. - seu tom agora era mais baixo, preocupado e receoso.
- onde você tá, jisung?
- dentro do armário da sala de prática.
- por que você se enfiou aí dentro, garoto? - foi inevitável não rir por imaginá-lo numa situação daquelas. - você é inacreditável, sinceramente.
- merda, é o chan hyung. Ele tá vindo pra cá. Dá meia volta, pelo amor de deus. - changbin caiu na risada. - bin, fica calado, ele vai ouvir. - tentou prender o riso para ajudar o castanho, mas não aguentou ao ouvir o bang gritando pelo mais novo. - ele vai me matar, hyung, eu tô sentindo bem aqui na minha espinha. Pra quê eu fui cutucar a onça com vara curta, agora tô fodido. Ele tá vindo na direção do armário. Changbin, eu sempre te amei, eu juro que sempre vou te amar e espero que na próxima vida a gente consiga ficar junto por mais tempo.
Escutou algo se abrindo e logo após um grito vindo de jisung. Chan gritou algo como uma ordem para ele parar de correr, naquela altura do campeonato sua costela doía de tanto rir. O que estava acontecendo? Apenas ouvia a respiração ofegante do han e os gritos de christopher irritado, mandado-o parar de correr como um louco.
- será que da pra você parar de correr, seu idiota! - era christopher, não parecia que ele estava tão irritado, talvez só um pouco, mas não tanto. Changbin ainda ria dolorosamente, gradativamente sua risada se tornou apenas um vácuo silencioso, mas ele se contorcia de tanto rir. - han jisung, não aja como uma criança! Volte aqui!
- jisung. - sua voz saiu fraca, changbin por um inteiro estava fraco. - seja lá o que você esteja fazendo, correr do chan vai acabar piorando, uma hora ele vai te pegar.
- poxa, é verdade, você tem razão. - ele parecia ter parado de correr. - vou desligar, não quero que você escute seu namorado sendo estrangulado por um lunático de cabelo loiro e cara de cachorro. É você mesmo! - agora ele parecia estar falando com christopher, changbin não podia ouvir a voz do bang mas sabia que ele estava perto pelo tom usado por jisung.
- agora ele vai mesmo te matar.
- ele e qual exército? Não tenho medo dele!
- você tava correndo dele agora a pouco, han.
- foi um momento de descontrole mas pode vir, cara de cachorro! Vou te deitar na porrada!
- você sabe que só os músculos do braço dele são duas coxas suas, né?
- você tá aqui pra me apoiar ou me deixar com medo? Não tô entendendo.
- eu tô aqui pra te falar a verdade.
Novamente jisung gritou estridente, e a ligação foi encerrada, talvez no momento em que christopher tomou o celular das mãos do mais novo. De qualquer forma, changbin deixou o aparelho de lado e tentou acalmar-se da recente crise de riso.
Estava lidando com loucos.
(...)
A noite caiu como uma leve chuva de flores no começo do outono, a brisa fria que entrava entre as janelas grandes do seu quarto abraçava o corpo robusto do moreno, em frente ao espelho, ele arrumava os cabelos após um longo banho, tirando toda a preguiça que se espreitava em seu corpo. Como havia planejado mentalmente, sairá para espairecer no bar de seungmin, talvez até mesmo ajudá-lo com algo já que não tinha planejado tocar nada naquela noite. Ainda estava voltando à comodidade de sua antiga rotina.
Com os cabelos perfeitamente arrumados, mais tarde pretendia dar um novo corte a eles, as pontas estavam grandes e sua franja quase cobria seus olhos, aquilo não o agradava. Suas vestes eram costumeiras, já que não tinha o porque se arrumar tanto; calças jeans um pouco folgadas, camisa amarela e um sapato qualquer. Pegou as chaves sobre a mesa de centro na sala e seu celular, guardando-os no bolso. Assim que pôs os pés fora do apartamento, não tardou em entrar no elevador vazio, se distraindo com seus pensamentos enquanto deixava seus olhos vagarem pelo cubículo revistado de metal.
Naquele momento xingou-se por ter dormido tanto e perdido a carona até o bar deles, estava realmente frio do lado de fora do grande prédio, mas ignorou o ar gelado e andou calmamente entre as pessoas pela calçada.
Como sempre, o local onde eles trabalhavam estava consideravelmente cheio, não era um local muito famoso mas pelo clima agradável e os shows ao vivo que hyunjin providenciava, várias pessoas apareciam para passar um tempo ali, seja para gastar seu dinheiro em bebidas ou apenas degustarem de uma refeição saborosa feita pelo hwang. Entrou ao local e sorriu descontraída para seungmin que atendia duas garotas numa mesa, o moreno se aproximou dele e saudou a dupla de mulheres educadamente, arrancando cochichos por parte delas.
- ótimo que você chegou, estamos cheio. Seu avental está te esperando lá na cozinha. - o atual ruivo esboçou um sorriso simples, empurrando o seo pelos ombros para que ele fosse logo. Apenas a presença daquele capacho de fios negros e corpo musculoso fora capaz de tirar a atenção das duas mulheres que atendia. - ande logo! - bradou mais alto, por cima da música que tocava de fundo.
- já tô indo! - exibiu um bico inconformado pelo tratado frio do Kim, e novamente dirigiu sua atenção às duas moças, se despedindo delas com um sorriso galanteador.
Poderia dizer que era engraçado ver a forma como um mero sorriso era capaz de arrancar suspiros. Sabia que era bonito, mesmo que não ligasse muito para sua aparência, mas ainda assim abusava do poder que aquilo lhe proporcionava. Claro, estava namorando e nem pensaria em tirar aquela aliança bonita do dedo, já que a exibia como um prêmio, mas velhos costumes nunca mudam.
Atravessou o balcão e entrou na cozinha, vendo o hwang se virar em dois para concluir os pedidos.
- tem algo que eu possa te ajudar, jinnie? - indagou o mais velho presente, vestindo o avental pendurado na parede.
- tá tudo bem, hyung. Acho que seria melhor você ajudar o minnie lá no salão, abrimos a pouco tempo mas já está cheio. - changbin manuseio a cabeça em concordância e saiu da cozinha, pegando por cima do balcão um bloco de notas.
Na sua contagem, atendeu cerca de três mesas dentro e fora do bar, já que o ambiente também possuía lugares para aqueles que preferiam beber e comer ao ar livre. Às vezes, trombava no ruivo apenas para provocá-lo, e era retribuído com socos discretos por trás do balcão de bebidas.
Quando tudo deu uma acalmada, e hyunjin saiu um pouco da cozinha tomando agora o controle de fazer os drinks no lugar de seungmin. Changbin deixou a bandeja no balcão, que antes era usada para levar e recolher os pratos e copos sujos, se sentou nos banquinhos giratórios, estava exausto de andar para lá e pra cá feito um maluco, mas não negava que era bem melhor estar fazendo algo do que sozinho em casa com a cabeça atolada de problemas irreais que ele mesmo criava como forma de se perturbar. Logo, seungmin tomou o banquinho ao seu lado, igualmente cansado de atender tantas pessoas diferentes, a música que tocava por uma grande caixa de som agora estava mais baixa que o de costume, já que a madrugada tinha chegado bem mais rápido que o seo perceberá.
- vão querer beber algo? - hyunjin soou mais educado que o normal, como se atendesse clientes. Seungmin e Changbin riram de sua postura esguia e assentiram, entre suas mãos ágeis de dedos longos e bonitos o hwang os serviu dois copos de gim.
Changbin nem mesmo pensou duas vezes antes de jogar todo líquido do copo de shot dentro da goela, a bebida lhe descendo quente como brasa e caindo no seu estômago pesadamente. Tinha ficado um mês todo sem beber, então para um primeiro copo tinha até sido bom. Rapidamente, hyunjin já lhe servirá outro enquanto seungmin bebia calmamente, já que não era tão acostumado com aquilo, apenas precisava de um incentivo para continuar de olhos abertos, uma vez que o sono o pegará bem mais cedo que o de costume. No salão, ainda tinha poucas mesas ocupadas, as pessoas conversavam alto e riam, provavelmente bêbadas. De repente, changbin sentiu como se estivesse sendo observado. Já sentiu algo assim antes, há muito tempo, que mais tarde descobriu ser apenas fruto de sua mente conturbada, então apenas ignorou e continuou conversando com seungmin.
Música desligada e mesas arrumadas, o trio se organizava para fechar as portas do bar. Changbin esperava os dois mais novos do lado de fora, se espreguiçava erguendo os braços para cima, bocejando de sono e cansaço pelas longas horas gastas trabalhando. Não tinha bebido o suficiente para estar vendo coisa, mas teve certeza que viu uma cabeleira flamejante ao longe, alguns metros de distância de onde estava, que logo se perdeu entre as pessoas que perambulavam ainda pela rua tão tarde da noite. Novamente ignorou, repetindo para si mesmo que não era nada.
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