20° verso
Estar em casa após longo período longe era maravilhoso, mesmo sentindo que os móveis precisavam ser limpos e que necessitava comprar novos mantimentos para o armário da cozinha, estava feliz em finalmente estar em casa.
Changbin deixou sua mochila sobre a cama de edredom florais e pegou o celular no bolso da calça, mandou uma mensagem rápida para o australiano e partiu em direção a casa do kim. Bateu na porta do apartamento ao lado do seu e guardou o celular após a mensagem ser enviada, a sensação de ver hyunjin após tanto tempo era sublime, seus cabelos agora eram um rosa bonito e seus fios estavam maiores, ouviu de seungmin que ele estava deixando o cabelo crescer.
— senti saudades, hyung. — carinhoso como sempre, o hwang lhe puxou para um abraço caloroso, sendo retribuído na mesma intensidade. O moreno realmente tinha muito apreço por aquele garoto, sabia que às vezes ele ficava quieto e não era muito de agir por não saber o que fazer em situações complicadas, mas ele era um menino dedicado e afetuoso, sempre disposto a ajudar quem fosse com um sorriso afável.
Com seu braço por cima dos ombros do seo, ambos rapazes adentraram ao apartamento aconchegante, na sala, tinha livros espalhados pela pequena mesa de centro de vidro, e por estar distraído demais na organização, seungmin não prestou atenção na chegada do moreno. O kim era um amante de livros incorrigível, por todos os lados em sua residência tinha prateleiras cheias de livros de vários gêneros, desde seus livros antigos da faculdade de publicidade, até de contos científicos que lia por hobby. Pelo menos uma vez por mês o Kim se juntava com o namorado e separava os livros mais antigos e empoeirados das estantes e doava para um orfanato no qual o hwang era voluntário. Era um ato bonito da parte do Kim e secretamente changbin admirava aquilo.
— ficou me infernizando todo santo dia e agora que eu voltei não vai nem me dar um oi? — não estava verdadeiramente chateado, mas era um bom ator, ganhando rapidamente atenção do garoto sentado no chão e rodeado por suas amadas obras.
— seu velhote safado! — seungmin levantou tão irado e dando passos tão fortes que até mesmo hyunjin que estava ainda ao lado do seo tomou distância dele. Changbin engoliu em seco e ficou esperando pelos socos do — agora — ruivo, mas foi surpreendido por um abraço desajeitado. De olhos levemente esbugalhados, nem soube onde deveria pôr as mãos já que não era todo dia que o temível e impenetrável Kim Seungmin demonstrava ter um coração. — fiquei realmente preocupado com seu sumiço, changbin. — sem tom era ameno, calmo, e um tanto tristonho.
Changbin tomou consciência do quão irresponsável e egoísta tinha sido com seus amigos, tinha mesmo sumido do nada e passado tempo demais sem dar notícias, mesmo sabendo que seu histórico não era um dos melhores. Tinha a confiança dos dois, sabia disso, mas temia que viesse dar um vacilo tão grande e aquilo se quebrasse. Não conseguiria ver um mundo no qual o jovem casal não estivesse nele para colocá-lo nos eixos.
— me desculpa. — com lástima, ele apertou com cuidado o corpo esguio e magro do ruivo contra o seu. — prometo não fazer de novo.
— a gente sabe que você não fez por mal, bin. Só tente não deixar a gente sem notícias, nos preocupamos com você. — o moreno assentiu a fala do hwang, que sorriu reconfortante a mente turbulenta do seo.
— tá, agora me solta que eu não gosto de velho. — empurrou sem muita força changbin pelos ombros, afastando-se em passos lentos até onde estava antes. Desta vez, o moreno se sentou ao seu lado, passando sua mão por cima da capa dos livros que estava a sua frente. — como foi lá? — seungmin indagou após hyunjin ir na cozinha preparar algo para eles degustarem. O menor tomou um longo suspirou e se encostou no sofá, sua atenção se perdendo entre a decoração a sua frente.
— foi tudo até bem, sabe. — iniciou calmamente. — teve uns problemas aqui e outros ali, mas deu tudo certo.
— dessa vez você realmente conseguiu ficar com eles sem seu nome parar num site de fofoca no dia seguinte, você merece meus parabéns. — deu leves e quase inaudíveis palmas na sua direção, arrancando risadas por parte de changbin.
Hyunjin logo voltou, entregando a seungmin e changbin um copo de suco e alguns biscoitos em um pote grande de plástico, sentou-se ao lado do namorado e pegou um dos livros do ruivo para folhear enquanto se aconchegava ao corpo quente do rapaz.
— agora que lembrei. — o kim se pronunciou, bebendo mais um pouco do conteúdo no copo de vidro. — Felix apareceu ontem no nosso bar atrás de você.
— ele parecia um pouco descontrolado. — hyunjin completou, erguendo seus olhos até a figura do mais velho presente.
Aquilo fez sua garganta fechar, se negando a continuar comendo com tranquilidade. Changbin deixou o copo e o biscoito sobre um canto longe dos livros, esfregando sua testa com a ponta dos dedos, relativamente esgotado com aquilo.
— eu pensei que ele fosse me deixar em paz. — murmurou em rispidez, era nítido em seu rosto o desconforto que o nome do Lee trazia.
— é o que ele deveria fazer depois daquele showzinho que você me contou. — seungmin apresentou uma carranca enfurecida, tinha sido relatado sobre o acontecimento de algumas noites antes, achando a atitude do australiano desprezível.
— ele disse o que queria comigo?
— não, só perguntou se você estava em casa e que precisava conversar com você. Agora o motivo ele não disse. — hyunjin prosseguiu, acalmando a pequena fera com quem se relacionava, acariciando seus cabelos enquanto o mesmo comia os biscoitos com a cara fechada.
Odiava a sua parte curiosa, mas também não era como se pudesse se esconder do Lee. Ele sabia seu endereço e todos os outros lugares onde o moreno gostava de ir, afinal, foi o moreno quem o levou para conhecer tais lugares. Uma hora ou outra iria encontrá-lo pela rua, mas aquilo não o agradava de jeito nenhum.
Deixando aquele assunto de lado, o trio de amigos prosseguiu o dia calmamente, conversando e colocando alguns assuntos em dia. A notícia que eles iam marcar o casamento pegou o seo totalmente desprevenido, sabia que antes mesmo deles três se conhecerem o hwang tinha pedido o ruivo em noivado, deveria fazer mais de quatro anos que eles estavam noivando e o assunto do casamento nem mesmo tinha entrado em pauta durante suas conversas, pelo menos não quando o seo estava presente. Mesmo surpreso, se mostrou bastante animado pela notícia, parabenizando-os pela decisão.
Mais tarde, quando o sol estava prestes a se pôr, decidiu que precisava voltar para casa e arrumar tudo, uma vez que passou todo o dia na residência do Kim e deixou todo o trabalho de limpeza para outro momento.
Tratou de tirar todo o pó dos móveis e trocar os lençóis da cama, sua alergia a poeira atacou, enquanto espirrava sem parar pelo espaçoso apartamento, deixou tudo limpo e com cheiro de casa nova. Pretendia na manhã seguinte fazer compras para o armário e conversar com Jaebeom sobre seu retorno à loja de vinil. Adorava aquele lugar e não via a hora de voltar a trabalhar, gostava de passar o tempo naquele local, não era uma loja grande ou muito famosa, na verdade, a circulação de pessoas em seu trabalho não era tão grandioso, mas tratava todos os clientes bem e aproveitava o tempo que o ambiente ficava silencioso para ler um dos livros que seungmin o recomendava.
Após um bom banho e um remédio para sua alergia passar, fez um chá de camomila com mel que achou entre as coisas do armário e se distraiu com os programas que passava na televisão, ficando tão entretido que mal viu o tempo passar. Quando tomou coincidência, já passava das onze da noite, deixou a xícara vazia na pia e desligou o aparelho de televisão e as luzes, andando no escuro até o quarto, trombando pelos objetivos que tinha pelo caminho pelo costume que acabou por perder ao passar tanto tempo na casa do Bang.
Fechou as janelas e as cortinas antes de desligar o interruptor, deitou-se na cama macia e ampla, se sentindo miúdo no meio das cobertas, pescou o celular embaixo do travesseiro para checar as horas. Não tinha sono e nem mesmo sabia se podia ligar para jisung naquele horário. Talvez ele já esteja dormindo, pensou consigo mesmo, descendo pela agenda de contatos do aparelho. Quis ligar para Christopher, sabia que ele provavelmente estaria acordado, mas não queria atrapalhar seu trabalho. Ficou vagando entre os contatos até ficar entediado, optando por se distrair com outra coisa. Ouviu música, viu as notícias, mexeu em suas redes sociais, vasculhou todas as fotos que tinha em sua galeria, viu vídeos de gatos ou gifs estranhos que perambulava por aquele lugar esquisito que era a internet. Nada lhe trazia o tão almejado sono. Se revirou na cama cansado, sentiu a exaustão do dia abraçá-lo com força, mas não conseguia dormir.
Ainda estava na idade de contar carneirinhos? Tentou aquilo, abraçando o travesseiro extra que estava perdido pela cama grande, imaginou que fosse jisung ali, dentro dos seus braços, ressonando baixinho e às vezes murmurando coisas desconectadas. Pensou em Christopher, em seu torso largo o abraçando por trás, lhe apertando entre um sono pesado por ter pesadelos constantes ou apenas passando suas mãos grandes por seu corpo de forma afoita. Havia momentos que changbin odiava o bang com todas as suas forças, ainda sentia vontade de lhe segurar pelo pescoço e chacoalhar.
Apertou os olhos se forçando a pegar no sono. Quantos carneirinhos já tinha contado? Se perdeu na contagem por estar com a cabeça nas nuvens. Sentiu falta do han e das conversas que tinham antes de dormir, dos planos que o mais novo tinha para eles. Os três. Changbin adorava quando o castanho sempre deixava claro que ele também fazia parte dos seus planos para o futuro. Gostava de quando jisung sabia que às vezes era difícil para ele dormir, e ficava acariciando suas sobrancelhas devagarinho até o menor pegar no sono.
Jisung o deixou mal acostumado, iria reclamar disso quando ele ligasse.
Novamente se pegou pensando em Christopher, o que ele estava fazendo naquele momento? Apostava seu vale transporte que provavelmente o maior não estava dormindo, era impossível para aquele cara dormir. Changbin odiava aquilo nele, mas o compreendia. Se preocupava com a saúde do mais velho, ele era muito cabeça dura e sempre deixava sua saúde em segundo plano. O conhecia o suficiente para saber daquilo.
Changbin desejou estar com eles agora, estar deitado com jisung lhe usando de travesseiro ou apenas deitado um do lado do outro em completo silêncio, onde o moreno poderia passar horas acariciando seus cabelos macios atrás de tranquilidade. Ele nunca se incomodaria ou mostraria desconforto. Sentia falta dele, e também do bang, mesmo que na maior parte das vezes quisesse balançar o loiro pelos ombros e chamá-lo de idiota.
Pegou o celular mais uma vez, tinha se passado bastante tempo enquanto ele rolava pela cama, abriu sua agenda de contatos mais uma vez. Uma ligação rápida não iria incomodá-lo, certo? Indagou pensante, passeando com a digital por cima do contato do australiano. Respirou fundo e tomou coragem, iria ser rápido, ele não ficaria bravo.
Demorou certo tempo até o maior atender, changbin chegou a pensar que ele realmente estivesse dormindo pelo tempo de espera, mas ele atendeu, deixando o moreno totalmente desconcertado e perdido.
— oi, coelhinho. — changbin simplesmente travou, olhando para o teto levemente claro por sua visão estar acostumada com a escuridão do recinto, tentou formar alguma frase mas nada vinha a sua mente. Iria ser vergonhoso demais admitir que apenas tinha ligado para ouvi-lo falar? Que apenas precisava saber se ele estava bem? O moreno quis desligar e se esconder embaixo do lençol como uma criança assustada. — bin? Você ainda tá aí? Tá tudo bem?
— ah, oi, desculpa. — tentou retomar o controle do próprio corpo e encolheu as pernas, deitando de lado e voltando a abraçar o travesseiro contra o peito enquanto segurava o celular com a mão livre. — eu só queria saber se você tá bem, e por que você ainda tá acordado? — tinha contestação em seu tom de voz, mesmo que um pouco abafada por estar escondendo metade do rosto no travesseiro que abraçava.
— insônia. — respondeu simplista, em um tom morno, parecendo se perder entre pensamentos. — não consegue dormir também?
— é.
— hm. — ele parecia pensar. — jisung já está dormindo. Tive que colocá-lo pra dormir, acredita? Ele ficou todo carente dizendo que você fazia isso e aquilo. Você deixou o nosso garoto todo mimado. — changbin riu pelo tom de indignação que o loiro usou, sua risada se perdendo entre as paredes frias do cômodo.
Ficaram em silêncio, algo confortável e comum, ficavam daquele jeito mesmo quando estavam pessoalmente. Changbin ficou quieto, ouvindo a respiração calma e amena do australiano, fechando os olhos para imaginá-lo sentado em frente ao computador, provavelmente com uma calça de pijama que sempre usava e uma regata, talvez estivesse sem camisa? Balançou a cabeça para não imaginá-lo daquele jeito, não era um momento propício. Mudou de posição, virando-se de frente para as janelas, ainda abraçava o travesseiro, não iria largá-lo nem tão cedo.
— binnie? — pigarreou para mostrá-lo que ainda estava ouvindo. — sinto falta de quando passávamos a noite acordado fazendo música. Antigamente, essa era a única forma da gente se comunicar sem brigar. — eles compartilharam uma risada nostálgica. Changbin também sentia falta daquilo. — o seu caderno, aquele que você me deu uma vez, você ainda tem dele?
— sim.
— você leu o que eu deixei?
— eu sempre lia aquele verso quando me sentia… sozinho. — assumiu em um murmúrio, ainda de olhos fechados e mente nebulosa.
— eu sinto muito.
— pelo que?
— por tudo.
— eu ainda não entendi, hyung.
— me desculpa por não poder ser seu ombro amigo naquela época, por não ter feito nada pra te ajudar e nem ter percebido que você estava tão quebrado.
— você não precisa se desculpar por isso, não é sua culpa. — abriu os olhos vagarosamente, ainda perdido. — as coisas eram complicadas antes, e eu fui um escroto com você desde o começo, então, me desculpa por ter te tratado mal naquela época. Eu era irresponsável e gostava de descontar minha frustração nos outros, me desculpa mesmo por tudo que fiz.
— não precisa disso tudo, eu entendo. Mas, até que eu gostava do jeito que você era, foi por esse lado que você me mostrou que comecei a gostar de você.
— você é meio masoquista, sabia?
— você sabe que sim. — engasgou em uma risada envergonhada, colocando o antebraço sobre os olhos e sorriu com as bochechas quentes. Do outro lado da linha, Christopher riu travesso.
— você é um sem vergonha.
— eu sei disso, é meu charme. — novamente, changbin riu alto, talvez até alto demais. Sua risada ecoou pelo cômodo espaçoso. — mas, eu te amo, changbin, como nunca amei ninguém em toda a minha vida.
— por que você tá falando isso assim do nada?
— falei o mesmo pro hannie antes dele dormir, senti que precisava falar o mesmo pra você.
— eu também te amo, christopher.
— você fica sexy falando meu nome completo nesse tom rouquinho.
— eu vou desligar!
— eu tô brincando, neném. — a risada engraçada do bang entrou por seus ouvidos como uma melodia lírica, changbin ficou instantaneamente calmo.
— às vezes eu te acho um idiota.
— sei disso, mas pelo menos eu te faço rir, e quando você menos esperar tá pelado na minha cama.
— eu realmente vou desligar na sua cara.
— assim você machuca meu coração sofredor, binnie.
— você deveria ir dormir.
— você também.
— queria o jisung.
— eu também.
— você é idiota ou o que? Ele tá bem aí com você!
— ta com inveja, SpearB? — changbin teve que morder o lábio inferior com certa força por estar sendo chamado por aquele nome depois de tanto tempo. Christopher realmente tinha o dom de deixá-lo irritado tão tarde da noite. Queria matá-lo naquele instante por saber que ele estava sorrindo, de uma forma afiada e presunçosa.
— retiro o que disse, eu te odeio muito.
— levo sempre a primeira resposta como a que vale, e sei que você me ama. — bufou irritado, cogitando mesmo a ideia de desligar a chamada. — acho que já tá meio tarde pra ir te buscar só pra gente dormir juntinho, né? Aposto que o jisung me apoiaria se eu fizesse isso agora.
— você não é louco.
— talvez eu seja. — changbin teve que rir, queria conseguir ficar irritado com ele por mais tempo, mas aquele jeito infantil dele o tirava do sério.
— vai dormir, chan.
— eu vou, mas cadê meu boa noite antes?
— boa noite, australiano de merda.
— você é tão carinhoso. — changbin revirou os olhos, mesmo que estivesse sorrindo. — tudo bem, vou desligar, não vá dormir tão tarde.
— eu quem deveria dizer isso.
— eu já vou dormir, prometo.
— então, até mais tarde?
— até, bin.
Ligação encerrada. Changbin deixou o celular de lado, colocando o travesseiro extra sobre o rosto, e como um lunático, ele riu. Riu por estar feliz demais, uma enxurrada de sentimentos que parecia transbordar entre seus poros. Tirou o travesseiro do rosto e com um sorriso besta, admitiu em pensamento que realmente odiava aquele australiano de covinhas, mas não era verdade, sabia isso, mas ainda o odiava por deixá-lo feliz com tão pouco. Foi por poucos minutos, mas com certeza aquilo duraria pelo restante da madrugada, se estendendo pela manhã e fazendo morada até o pôr do sol. Poderia explodir naquele mesmo instante.
Novamente, se arrumou para tentar dormir, fechou os olhos e respirou fundo para conter as emoções. Já teve o que queria, agora me deixe dormir, sussurrou mentalmente para seu subconsciente. Se sentiu cansado de repente mas ao mesmo tempo leve como uma pluma, como se finalmente sua mente estivesse satisfeita com tudo que aconteceu a meros segundos atrás e deixou que enfim o homem tivesse seu merecido descanso.
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