Capítulo 23 parte 2
Esse lindo desenho no topo do capítulo é da Daiane_Gomes97 (além de escrever, ela desenha muita bem). Amei a Helô e o Hans aos olhos dela.
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O link abaixo é de uma canção que serviu de inspiração para escrever o finalzinho deste capítulo. (Artista: Har Mar Superstar. Música: Don't Erase)
https://youtu.be/hwUzOPUVHkk
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(ainda dentro das memórias de Helô)
HELOÍSA
Uma alma doente é capaz de oprimir e sobrecarregar aqueles que estão ao redor.
Dessa vez, Hans não foi o problema. O grande empecilho era outro.
Por mais que eu escondesse de todos o meu quadro depressivo e tentasse resolvê-lo à minha maneira, uma hora a dor interna se tornava externa e visível àqueles que conviviam comigo. Era só prestar um pouco de atenção para notar que muitas Heloísas moravam em mim.
Apesar de ter pessoas a minha volta, Hans foi o único que viu tudo de perto e enxergou além do que eu mesma poderia ver. Muitas vezes ele sugeriu que eu tivesse um acompanhamento profissional. Obviamente eu negava, dizia que era bobagem e que logo ficaria bem. Contudo, eu sabia que estava doente, só não conseguia verbalizar esse fato. A ideia de me submeter a ajuda de terceiros era insuportável. O orgulho me fazia pensar que eu seria autossuficiente nessa batalha tão desigual.
Aconteceu que apenas força de vontade não foi o bastante para me manter sã. No convívio com meu primo, minhas facetas se escancararam de vez. Foi involuntário, pois não estava em meus planos expor os meus lixos emocionais justamente quando ele se mostrava aberto para a nossa relação. Mas ele aprendeu a lidar com minhas oscilações de humor. Suas palavras e seu comportamento eram certeiros para me estabilizar. Isso acontecia por um conjunto de fatores, pois, além de me conhecer muito bem, ele era um pesquisador da mente humana.
Em meio ao retorno da minha memória, cenas aleatórias dessa época despontavam de relance. Houve finais de semana em que eu chegava em seu apartamento e tudo que eu queria era silêncio. Eu costumava passar horas deitada na cama do quarto de hóspedes, enumerando motivos incentivadores para não perder a esperança na vida. Hans não invadia o meu espaço, o máximo que fazia era andar pelo corredor e dar uma espiada no cômodo. Outras vezes, quando os meus pensamentos me sufocavam, eu entorpecia a minha mente nos seus videogames. The Last of Us se tornou o meu jogo preferido. Matar zumbis era um bom remédio para dias raivosos.
Entretanto, nada superava os momentos em que eu precisava ser tocada por ele. Hans era o meu cúmplice, entendedor dos meus medos e aquele que me reeducava. Foi dentro da nossa intimidade sexual que aprendi a dizer com clareza o que eu queria e o que não queria. A maneira como fazíamos sexo nunca foi uma fuga, pelo contrário, o ato em si servia para me desafiar e curar uma parte das minhas emoções depredadas.
Meses se arrastaram e fui me levando assim; entre dias bons e maus. Vivi fases produtivas, algumas eufóricas. Sentia que era invencível. Em seguida, eu sofria quedas bruscas. A dor da alma tão brutal irradiava em meus ossos e em minha carne. Eu pensava que seria o meu fim. Mas, de uma forma inexplicável, eu conseguia me reerguer e dizia para mim mesma que aquela seria a última vez.
Quanta dor eu poderia ter evitado se houvesse em mim o mínimo de humildade!
Minha teimosia não só me desgastava como também desgastava a pessoa a quem eu deveria dar amor. O fardo ficou sobre os ombros de Hans. Isso durou até certo dia, quando cheguei em seu apartamento visivelmente desorientada. Mais cedo, eu quase tinha quebrado o braço de um colega de faculdade. Motivos eu tive, mas a forma como me comportei me assustou. O indivíduo em questão era um sujeito odioso. Ele era evasivo, insinuador e cheio de toques quando conversava com uma mulher. Estávamos numa aula de fotojornalismo quando ele chegou por trás, dando a famosa "encoxada", com a desculpa de analisar as minhas fotografias. O golpe foi certeiro. Ele gritou de dor e eu gritei de raiva. Tudo foi muito rápido. Chutei suas costas, ele foi ao chão, fiz ameaças verbais eloquentes e, por fim, quebrei uma cadeira ao arremessá-la contra a parede. Toda a turma assistiu meu acesso de fúria, ninguém me acusou porque eu era a vítima. Mas algo muito errado estava acontecendo comigo.
Não contei o corrido para meu primo de imediato. Mas ele me observava andar de um lado para o outro na sua sala. Passos firmes, punhos fechados e pensamentos acelerados. Minha cabeça queimava, tinha taquicardia também.
– Eu vou matar aquele desgraçado. – Minha voz saía baixa e perigosa. – Ele nunca mais vai encostar numa mulher.
O surto cegava o bom senso, eu só pensava em vingança.
Quando resolvi dizer algo, as palavras saíram confusas. Suores escorriam pelo meu corpo. Eu estava perdendo a habilidade de me comunicar com clareza.
Frustrada, gritei até a garganta arder.
Sem que eu soubesse explicar e muito sutil, Hans se aproximou e conseguiu colocar um comprimido debaixo da minha língua. Em seguida, me abraçou forte. Os minutos passaram e eu ainda não me acalmava. Parecia que era impossível controlar a cólera.
Num ato de desespero, segurei sua camiseta e a rasguei com uma força sobre-humana. Depois chorei copiosamente.
Braços grandes acolhiam o meu corpo trêmulo. O aperto forte me resguardava de mim mesma.
Não sei quanto tempo ficamos naquela posição mas, de repente, me vi debaixo do chuveiro. Talvez eu tivesse sofrido um desmaio, ou uma súbita perda de memória devido ao estresse. Eu não sabia ao certo, tudo estava muito confuso.
Encarei Hans, ainda vestido e com a roupa encharcada. Ele ensaboava o meu corpo com o semblante preocupado. Sua camisa estava completamente destruída com um grande rasgo que começava na gola e terminava na bainha. Senti vergonha por todo o mal que eu estava causando.
– Me perdoa. – Pedi, com a voz baixa.
Ele levantou o meu queixo e sorriu com uma tristeza de partir o coração.
– Você não tem que pedir perdão.
– Acabei com a sua camiseta.
– Eu não me importo. – Falou e tirou a peça destroçada do corpo. – Sinto muito pelo que aconteceu hoje. Estou com vontade de pegar esse desgraçado e dar uma lição nele, mas pelo que entendi, você já resolveu o problema.
– Não me arrependo de ter torcido o braço do infeliz.
– Essa é a minha menina.
Sorri com sua interrupção, porque eu realmente era a sua menina.
– Mas eu me excedi gritando e quebrando uma cadeira. Foi desnecessário. Poderia ter machucado outras pessoas e eu fui tão....
– Shiiiiu. – Ele me abraçou. – Não vamos mais falar disso, pelo menos por ora.
Como foi bom ouvir isso enquanto suas mãos acariciavam as minhas costas. Ali eu sabia que poderia ter segurança e conforto. Após um tempo, abracei sua cintura me colocando nas pontas dos pés e levantei a cabeça para olhar o seu rosto.
Hans se encurvou para me beijar.
Quando nossas bocas se encontraram, me entreguei, como todas as vezes eu fazia. Meu coração, que já tinha vivido tantas emoções nas últimas horas, batia rápido. Mas, dessa vez, numa expectativa gostosa.
Lábios deslizavam um no outro, as línguas se provocavam e eu me sentia no paraíso.
Eu queria mais!
Eu poderia ter mais!
Por isso, minhas mãos foram até o cordão de sua bermuda. Desfiz o laço e a desci junto com a cueca. Hans terminou de se despir com os pés chutando a sua roupa para longe. Rodeei minhas pernas em seu corpo ao ser suspendida do chão. Nossos movimentos eram tão orgânicos que mal precisávamos usar as palavras. Eu adorava ter com ele essa sincronia comum em amantes de longa data.
Quando as minhas costas sentiram o frio do azulejo, interrompi o beijo para encará-lo. Seus olhos ficavam ainda mais encantadores quando cheios de desejo. Toquei seu rosto e o admirei, sentido um misto de ternura e gratidão por tudo o que ele representava em minha vida.
Naquele momento, talvez por estar altamente emotiva, percebi o quanto era injusto me privar dos meus sentimentos mais puros. Criei coragem e numa voz suplicante, pedi:
– Faça amor comigo, Hans.
Meu pedido o pegou de surpresa. Ele paralisou, seus lábios comprimiram um no outro e suas narinas dilataram. Mesmo assim, continuei:
– Não estou te pedindo um compromisso, muito menos que me ame de volta na mesma medida que eu o amo. Você tem feito muito mais do que qualquer pessoa já fez por mim. Eu não preciso das suas palavras, porque o principal eu tenho: suas atitudes. Hans, o amor é assumir responsabilidades e isso você faz o tempo inteiro. Você vive comprando as minhas brigas. – Ensaiei um sorriso sem graça. – Por isso, estou pendido que faça amor comigo e que também me permita dizer que te amo durante o ato. Eu preciso disso. Preciso dizer e você precisa fazer.
Ele mantinha sua feição séria, um tanto enigmática. Mas eu não poderia voltar atrás naquilo tinha acabado de pedir. Então, resolvi insistir mais um pouco.
– Só receba as minhas palavras. Será como ganhar um presente, a gente só recebe e pronto. Por favor. Permita que eu diga, só hoje, só dessa vez. Também me deixa ter certeza de que você fez amor comigo cem por cento ciente, pelo menos uma vez. – Segurei o seu pescoço e fitei seus olhos. – Você faria isso por mim, Hans?
Sem mudar o semblante, ele acenou um sim com a cabeça. Suspirei de emoção por aquele simples sinal. Meus olhos se encheram de lágrimas de contentamento. Beijei sua boca com paixão e fui retribuída. Me agarrei ainda mais em seu corpo e sussurrei em seus lábios:
– Eu te amo.
Sua reação foi me apertar ainda mais em seus braços. Foi gostoso, aconchegante.
Ao me penetrar, nossos olhares se conectaram. Quando seu membro se encaixou completamente em mim, ficamos parados, apenas sentindo um ao outro.
O vapor da água tomava conta do banheiro deixando o cenário enevoado, como um sonho.
Nossa ligação carnal era a apenas a concretização de algo mais profundo; um enlace de almas.
Hans fez o primeiro movimento.
Um vai e vem completo.
Outra vez do mesmo modo.
Estocadas longas e duras.
Sem afobamento.
Olhos nos olhos.
E alguns "eu te amo", todos preferidos da minha boca.
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Aos desafetos com Hans: Depois desse capítulo, ele merece um pelo menos um pouquinho de compreensão, não é mesmo? Helô deu muito trabalho...
Mudando o assunto,
TENHO UMA SURPRESA!!
AMANHÃ POSTAREI MAIS UM CAPÍTULO!
FIQUEM ATENTOS!
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