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Capítulo 21 parte 2

*Essa pintura no topo do capítulo pertence a um pintor mexicano hiperrealista que se chama Omar Ortiz. Amo o trabalho dele. (sigam ele no Instagram)

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Heloísa

As sacolas do supermercado pesavam os meus braços e dificultavam os meus movimentos. Mas, de um jeito bem desengonçado, consegui abrir a porta do apartamento de Hans.

– Tem alguém em casa? – entrei anunciando a minha chegada para evitar sustos e acidentes, como da outra vez. Depois fechei a porta com o pé e voltei a falar. – Sou eu, Heloísa! Por favor, não me receba com objetos voadores! 

Não obtive resposta, mas ouvi tosses e pigarros se misturarem com o som da televisão. Tirei a chave na fechadura e a guardei no bolso do meu vestido. Essa era uma aquisição valiosa que eu, com todo o meu atrevimento, não pretendia devolver a Hans.

Então, ao me virar para ir à cozinha, me estagnei diante de uma cena tragicômica: meu primo, um homenzarrão com mais de um metro e noventa de altura, se encontrava esparramado no sofá. Seu olhar caído e o nariz avermelhado eram provas suficientes de que as coisas não estavam bem por ali. Dei mais alguns passos para ter uma visão geral da situação. Havia lenços de papel espalhados pelo tapete, todos amassados e, com certeza, usados. Vi um termômetro, uma jarra de água, pastilhas para a garganta e diversas cartelas de comprimidos sobre a mesinha de centro. Para terminar de compor aquele cenário distópico, um pacote de bolachas recheadas estava aberto, comido pela metade e abandonado de qualquer jeito no rack.

Neguei com a cabeça aquele absurdo. Se alimentar com porcarias durante um resfriado era pedir para morrer! Hans era um profissional da saúde, com mais de uma década de estudos e um currículo invejável. Mas ainda assim era falho como qualquer outro ser humano.

Enquanto eu reprovava a sua displicência, ele me olhava da cabeça aos pés com a testa franzida. Seus lábios comprimiram e repuxaram para as laterais do rosto. Os olhos, ainda que abatidos, reluziam o brilho do sarcasmo. Eu sabia que ele estava com vontade de rir. Também, não era para menos. Eu usava um vestido caipira excessivamente colorido com botas de vaqueira. Meu cabelo estava trançado em maria-chiquinha e havia sardas desenhadas nas minhas bochechas. Percebi, então, que no caminho até lá passei na farmácia e no supermercado com aquela roupa chamativa.

– Hoje teve festa junina no abrigo. – Me justifiquei antes de ouvir qualquer pergunta.

– E vejo que caprichou na fantasia. – Ele falou em tom de brincadeira, mas sua voz saiu rouca e com certa dificuldade.

– Foi ideia da Laila. Você sabe que ela meio que enlouquece nessa época do ano. – Falei, lembrando o quanto minha amiga adorava festas de São João. Na infância, seus pais não permitiam que ela participasse das quadrilhas por se tratar de uma comemoração católica. – Acho que o desejo foi reprimido e hoje ela tenta compensar....

– Você está parecendo uma boneca de pano. – Ele me interrompeu com um meio sorriso. Depois ajeitou a postura no sofá, se sentando melhor e colocando os pés no tapete.

Não consegui disfarçar o meu embaraço. Eu, que sempre era confiante, me senti ridícula naquela roupa. Ele percebeu que tinha falado o que não devia e logo deu um jeito de se explicar.

– Uma linda boneca de pano. Foi isso que quis dizer, Heloísa.

– Ah, é.... Bem, então obrigada, né? – Agradeci, ainda mais constrangida pelo seu elogio estranho. – Com licença, vou deixar algumas coisas na geladeira. As sacolas estão pesadas.

Segui para a cozinha com a certeza de que eu era uma idiota. Por que falei "com licença"? Eu nunca usava esse termo com Hans! Não existiam formalidades entre nós dois!

Meia hora antes, enquanto eu dirigia até o seu apartamento, eu tinha ensaiado um belo discurso. Memorizei palavra por palavra, ciente de que ele merecia ser repreendido por ter sumido. Mas ao vê-lo tão debilitado falhei miseravelmente. E, para agravar o meu baque, ouvi de sua boca que eu estava linda.

Pois é, fiquei toda desconcertada ao ser comparada com uma linda boneca de pano. Se outro homem falasse uma merda dessas, eu debocharia com uma piadinha pronta. Mas tudo que Hans fazia me afetava. Era uma droga quando a paixão me fazia agir como uma imbecil.

Frustrada, coloquei as sacolas sobre a bancada. Eu odiava engolir palavras que deveriam ter sido ditas.

Vesti o avental, imersa em meus pensamentos.

Não é possível que um mero elogio me abobe tanto!

Peguei algumas cenouras e as lavei, de modo automático.

Ok! Eu assumo que sou uma apaixonada sem solução.

Peguei o descascador e comecei a despelar o legume.

Mas não posso ser o tipo de mulher que releva as coisas com tanta facilidade!

Toda a minha raiva passou a ser descontada na pobre cenoura.

Poxa vida! Foram três dias esperando por notícias dele! Três dias! As coisas não podem ficar por isso mesmo! Tenho algo a dizer e direi a qualquer custo!

Quando a minha indignação ficou insuportável, soltei descascador sobre a pia. Mas sem causa aparente, continuei segurando a cenoura com a outra mão. Decidida e muito enfurecida, voltei para a sala a passos largos. Parei entre a televisão e o sofá onde Hans estava sentado e disse:

– Você não retornou a minha chamada. Nem se deu ao trabalho de responder a minha mensagem. Fiquei sabendo que você está doente porque, por acaso, Maurício soltou essa informação no meio de uma conversa.

Ele olhou para a cenoura apontada na sua direção e levantou as sobrancelhas. Eu sabia estava me comportando como uma louca, mas não me importei, pois pelo menos eu seria uma louca de alma lavada. Por esse motivo, continuei:

– Até que tentei respeitar o seu espaço e o ritmo com que você processa as coisas que te acontecem. Eu sei ser uma pessoa compreensiva! Entendo que nos últimos tempos a sua vida teve mudanças significativas. – Comecei a andar de um lado para o outro, balançando os braços sem nunca soltar a cenoura da mão. – A primeira foi André se casar, ou seja, você não tem mais o seu amigo de gandaia. Em seguida, sua rotina mudou completamente quando conseguiu a vaga de plantonista no melhor hospital da cidade. Depois você comprou esse apartamento, saiu da casa de seus pais e agora está aprendendo a viver como um adulto de verdade. Ok! Ok! Não posso negar que, devido ao contexto, seu comportamento tem me surpreendido, pois geralmente você é meio lento, sabe? Então resolvi pegar leve e eu juro que me esforcei para isso! Mas, merda, Hans! Sou paulistana! Tô acostumada com coisas rápidas, práticas e diretas! – Parei de andar e voltei a apontar o legume para ele. – Tem noção do quanto é complicado fugir daquilo que eu realmente sou? Foram três dias malditos te esperando! – Fechei os olhos quando percebi que falava alto demais. Inspirei bastante ar pelo nariz e soltei pela boca. Ainda com as pálpebras fechadas, voltei a falar com calma. – O que eu tô tentando falar é que me dedico àqueles que eu gosto de verdade. Não consigo ser de outro jeito. Pra mim, a nossa relação não é especial porque temos o mesmo sobrenome ou porque nos damos bem na cama. Vai além disso. Antes de qualquer coisa, você é meu amigo, Hans.

Tudo o que eu disse era verdade. Meus amigos e minha família tinham a minha dedicação. Não foi por falsidade ou por covardia que mantive os olhos fechados. Acontece que desse modo eu evitava ir além com as palavras. Eu amava Hans e já havia declarado meu amor diversas vezes. Antes, no início da minha adolescência, eu não tinha medo e nem me atentava para as consequências. A ingenuidade não me permitia compreender que coisas boas podem também afastar as pessoas. Acreditava que quanto mais eu dissesse que o amava, mais espaço haveria no seu coração para mim. Só depois de sofrer por ter levado um fora dele foi que percebi que ele não queria algo que o fizesse sair da sua zona de conforto. Por mais que tivéssemos um forte vínculo, ele não estava preparado para enfrentar os efeitos colaterais que uma relação amorosa entre primos nos traria.

Abri os olhos esperando encontrar o Hans carrancudo, impaciente e combativo de sempre. Mas o que vi foi completamente o oposto. As narinas dilatadas e o sorriso sem mostrar os dentes eram provas do quanto seu humor estava estranhamente feliz.

Confusa, perguntei:

– O que foi agora?

– Quando penso que nada mais pode me surpreender.... – ele alargou o sorriso. – Você me aparece toda colorida, aponta uma cenoura na minha direção e diz que sou lento.

– Lento não. – Me justifiquei. – Meio lento, foi o que eu disse. Mas parece que você não se chateou. Tá até sorrindo!

– Foi engraçado, mas não é só isso.

– É mais o que então?

– Eu vi você esconder a chave no bolso do seu vestido.

– Eu não escondi nada! – Me defendi como uma criança que omite sua peraltice. – Eu só a guardei comigo!

Por um momento, ele não disse nada. Apenas me encarava com um sorriso amplo estampado no rosto. Eu gostava de vê-lo daquele jeito, leve e feliz. Mas naquela situação, meu instinto me pedia para ficar na retaguarda.

– Você, vestida desse jeito... – ele deu uma risadinha. – Roubando a minha chave e me dando uma bronca. Não consigo te levar tão a sério.

– Como é que é? – Perguntei num tom de voz baixo e ameaçador. Em vão eu tentava controlar a irritação que fervilhava dentro de mim. – Eu atravesso a cidade para te ver e você não me leva a sério por causa da roupa que estou usando? Depois de tudo o que eu disse, você simplesmente não consegue me levar a sério?

No final da minha fala eu já estava aos berros. Eu queria enforcar Hans, mas ele já estava sofrendo o suficiente na tentativa de rir e tossir ao mesmo tempo. Furiosa, comecei a andar de um lado para o outro. Urrei algumas vezes e chutei o ar de um jeito ridículo.

– Esse cara só pode estar de brincadeira.... O que deu nele pra ficar rindo? – Resmunguei.

– Calma, menina. Em alguns dias eu ficaria bom e te procuraria.

– Em alguns dias? – Minha pergunta saiu alta. – Em alguns dias, Hans Nielsen? Qual a dificuldade de mandar uma mensagem de telefone? Custava ter me avisado?

– Helô...

– Não me interrompa, Hans! Sei que fiz perguntas, mas não são para ser respondidas. – Continuei andando enquanto gesticulava os braços, sem nunca soltar a cenoura da mão. – Eu te conheço e sei exatamente as desculpas que me dará! Você vai dizer que é só um resfriado, que logo ficaria bem, que não me avisou porque sabia que eu viria até aqui e vai dizer que se eu ficar muito perto de você corro o risco de ser contagiada!

– Tudo isso não deixa de ser verdade.

Parei de andar e novamente apontei o legume em sua direção. Levei a mão livre até a cintura e perguntei:

– Quando foi a última vez que me viu doente?

– O quê? – franziu a testa, sorrindo como um imbecil.

– Eu perguntei: quando foi a última vez que me viu doente? – Repeti pausadamente para ser entendida.

– Se eu responder errado, você vai me bater com essa cenoura?

Aquele era um momento estranho, nossos papéis estavam invertidos. Meu primo, que estava sempre sustentando uma postura de durão, agora esbanjava sorrisos. Enquanto eu agia como uma megera sistemática.

Mesmo estarrecida, me dei conta de que Hans poderia estar dopado. Seu comportamento inusitado era efeito de alguma medicação. Tive que respirar fundo em busca de calma e compreensão. Então, numa voz pacífica, falei:

– Nem eu me lembro a última vez que tive um resfriado. Minha saúde é de ferro.

– Mentira. – Ele falou de um jeito tão debochado que parecia ser outra pessoa.

– É verdade.

– E o que você faz?

– Pratico esportes.

– Eu também pratico esportes.

– Eu também tento ter uma rotina de sono, bebo muita água e me alimento com comida de verdade... – Balancei a cenoura na minha mão. – Não substituo meus legumes por Whey Protein.

Ele riu, ciente de que fazia muitas coisas erradas em relação à sua saúde.

– Quando você se tornou tão responsável, menina?

Eu apenas sorri. Não queria responder a ele que uma vida saudável me afastava dos dias maus, ou seja, da depressão. Esse era um problema somente meu e eu não estava disposta em revelá-lo. Portanto dei um jeito de mudar o rumo daquela conversa.

– Bem, por falar em saúde, trouxe ingredientes para fazer uma canja. Você vai se sentir melhor depois que comer algo quente. Também trouxe uma porção de analgésicos e descongestionantes, inclusive aquela pomada que você usa para tratar a dermatite. Seu rosto está horrível, Hans. Parece um pimentão de tão vermelho.

Dei alguns passos para me retirar, mas percebi que faltava algo. Então parei, olhei para Hans e o disse:

– Ah! E quanto à sua chave, eu não vou devolvê-la. Eu a roubei de maneira honesta!

Voltei a andar e fui para cozinha ouvindo seus risos e seus pigarros.

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Agradeço a essas três moças que tiraram um tempinho para ler esse capítulo.

@DCantreva @laysdomingues Afox2019

Obrigada ;)

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