Capítulo 19 parte 4
(ainda dentro das lembranças de Helô)
HELOÍSA
No outro dia de manhã fui à universidade e no início da tarde voltei para o apartamento. Eu precisava estar por lá para receber o eletricista, que finalizaria as instalações de alguns lustres e pendentes. Hans tinha me avisado que seu voo só chegaria à noite, depois das oito. Então, quando eu não tinha mais nada para fazer naquele lugar, resolvi tomar um banho. Em algumas horas eu me encontraria com alguns amigos no bairro Morumbi.
Já arrumada de acordo com a ocasião, peguei as chaves do meu carro e fui para a sala. Mas um barulho vindo da porta de entrada social me colocou em alerta. Meu coração disparou só de pensar que alguém poderia estar invadindo o apartamento. Eu sabia lutar, mas era provável que intruso fosse maior do que eu e estivesse armado, mesmo que essa arma fosse um pé-de-cabra ou qualquer outra ferramenta.
Como um ladrão conseguiria passar pelos seguranças desse prédio?, me perguntei, procurando por algo para me proteger. Seria uma boa ideia atacá-lo com o violão, mas o instrumento estava em outro cômodo, na improvisada sala de estudos.
Eu não tinha muito tempo, por isso, peguei um controle remoto de videogame. Minha mente planejou minhas próximas ações com muita rapidez. Assim que o infeliz passasse pela porta, eu acertaria o controle em sua testa. Desse modo, eu o desestabilizaria por alguns segundos e agiria. Eu tinha duas opções de ação: uma era fugir pela porta da área de serviço e gritar por ajuda, e a outra era atacá-lo com golpes, afinal, não seria ruim fazer jus à minha faixa marrom do Jiu-jitsu. Confesso que eu estava inclinada a seguir a segunda alternativa pelo simples fato de querer ver o infeliz apanhar. Eu só dependia de uma coisa: saber o quanto ele era mais alto do que eu.
Assim que a porta abriu, vi pelo vulto que o meu oponente parecia um armário de tão grande. Infelizmente, eu teria que escolher a primeira alternativa. Aproveitando minha excelente pontaria, lancei e acertei o controle no meio da testa do infeliz. Mas antes que eu pudesse correr, percebi o equívoco que cometi. A imagem de Hans surgiu com nitidez. Ele parecia atordoado enquanto levava umas das mãos até a cabeça.
– Ai, meu Deus! – sacudi os braços de modo aflito. – O que foi que eu fiz?
– Que grande recepção. – ele estava bem-humorado, mas eu sabia que estava sentindo dor.
– Você disse que chegaria só tarde da noite! – fui até ele.
– Consegui transferir minha passagem para um voo mais cedo.
Puxei sua mala ao mesmo tempo que o puxava pelo braço. Depois, fiz com que ele se sentasse no sofá.
– Pensei que fosse um ladrão. – fui até a cozinha para pegar gelo.
– Nunca pensei que meu videogame viraria arma nas suas mãos.
– O violão e a raquete de tênis estavam longe.
Escutei ele rir e sorri enquanto colocava um punhado de gelo num pano de prato. Quando voltei para a sala, fui até onde ele estava. Me ajoelhei no sofá ao seu lado e pedi:
– Coloque a cabeça para trás.
Peguei uma almofada colocando-a atrás de sua nuca para que sua cabeça ficasse apoiada de um jeito confortável.
– Pelo menos não sangrou, mas ficará com um galo enorme. – pus a trouxinha de gelo sobre sua testa. O contato do frio da compressa com sua pele fez com que ele fechasse os olhos. – Me perdoa por isso?
Ele sorriu e disse:
– Isso não é motivo para pedir perdão. Você estava se protegendo.
– Mesmo assim, eu deveria ter prestado mais atenção....
– Não se desculpe por isso. – ele abriu os olhos e colocou sua mão sobre a minha mão que estava na compressa. – Mas tenho notado que você tem agido diferente em certas situações.
– Eu? Como assim "agido diferente"? – perguntei tentando demostrar indiferença.
– Parece que está sempre pronta para se defender e atacar. – ele já não sorria e o tom de voz era sério. – No seu aniversário você se colocou em posição de defesa ao ser surpreendida com a festa. Esses dias golpeou Viktor quando ele te assustou numa brincadeira. E hoje, bem, hoje fui recebido por um objeto voador. Aconteceu ou está acontecendo alguma coisa, Heloísa?
Desfiz o toque de nossas mãos sem saber como respondê-lo. Eu tinha medo e muita vergonha de expor os meus familiares. Outra dúvida era: será que Hans ou qualquer outra pessoa acreditaria em mim? Eu não tinha uma boa reputação. Qual a credibilidade que eu tinha? Eu mesma demorei a acreditar em mim! Só após muita reflexão percebi que as coisas que aconteceram em Nova Iorque não tinham sido minha culpa.
– Não tente resolver sozinha quando você pode pedir ajuda – ele concluiu, ao ver que eu demorava para responder.
– Ok. Está tudo bem comigo, mas obrigada por se preocupar. – constrangida, rompi nosso contato visual e me coloquei de pé. – Eu preciso ir embora.
Em silêncio, fui até a mesa da sala para pegar a chave do meu carro.
– Vai ao jogo? – ele perguntou.
– Vou.
– Está usando a camisa do São Paulo que te dei de aniversário. – pelo tom de sua voz eu soube que ele tinha voltado a sorrir.
– É. Foi um ótimo presente. – falei, virando de frente para ele. – Não tive tempo de juntar as minhas roupas. Se você não se importar, vou pegar minha mala depois.
– Fique à vontade, Helô.
– Obrigada. – agradeci mais uma vez. Hans permaneceu calado me encarando. Então voltei a falar: – Bem, já vou indo.
– Você sabe se os ingressos do jogo esgotaram?
– Não sei, mas é São Paulo e Vasco. Sabe como é.... se vencermos, a gente fica em primeiro lugar. – sorri porque eu amava acompanhar o campeonato brasileiro. – Por quê? Gostaria de ir também?
– Eu gostaria. – ele respondeu, saindo da posição em que estava para endireitar a coluna, mas ainda mantendo a compressa na testa.
Hans estava cansado, mas eu o conhecia. Ele não era o tipo de pessoa que recuperava as energias dormindo por horas seguidas. Ele priorizava descansar a mente, precisava sair e fazer algo que lhe desse prazer antes de se recolher na cama.
– Mais cedo um dos meus amigos avisou que houve um imprevisto e não poderia ir ao jogo. Vou ligar para o Carlos e perguntar se esse ingresso ainda está sobrando.
– Quem é Carlos? – perguntou curioso.
– Um colega de faculdade. – respondi, pegando meu telefone no bolso traseiro da minha calça jeans. – Ele é neto de um dos diretores do time. Vamos ficar no camarote.
Hans permaneceu quieto, apenas me observando falar ao telefone com o meu colega. O ingresso foi liberado com facilidade. Quando terminei a chamada, sorri e disse:
– Pronto! Agora tire essa roupa almofadinha e vista nosso manto sagrado. Temos que sair rápido porque esse horário o trânsito deve tá louco.
– Na minha moto chegaremos mais rápido.
– Você quer ir de moto? – perguntei num misto de receio e felicidade.
– Além do trânsito, é mais fácil estacionar uma moto do que um carro.
– Tudo bem. – concordei, tentando disfarçar a euforia que me dava só de imaginar que ficaria na sua garupa.
Ele não disse mais nada. Apenas se levantou, passou por mim arrastando sua mala e pressionando o gelo na testa machucada.
Sozinha, pude alargar o meu sorriso e dar pulinhos ridiculamente infantis.
Se naquela época Hans soubesse que para me fazer feliz precisava de tão pouco, talvez a nossa história não tivesse sido tão complicada.
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Nada de gol no primeiro tempo. O jogo estava lento e a noite era muito fria. Mesmo assim as companhias eram agradáveis. Hans não ficou calado e com a cara amarrada como de costume. Ele interagia com os meus amigos da universidade como se fosse comum a sua personalidade ser social. Até achei estranho porque geralmente nós nos apresentávamos para as pessoas como primos. Dessa vez, ele foi logo falando o seu nome e deixando no ar a dúvida do que realmente éramos um do outro.
No segundo tempo a partida ficou interessante. O time do São Paulo começou a fazer um gol atrás do outro. Eu vibrava com o resultado que nos colocava na liderança do campeonato. Quando o quarto gol foi feito, eu e Hans nos abraçamos em comemoração. Não foi um gesto malicioso, pois isso sempre acontecia quando íamos ao estádio.
– Quero fazer isso! – gritei, disputando voz com a torcida enlouquecida.
– Isso o que? Gols?
– Não! – respondi rindo. Saí do laço de seus braços para o encarar. – Quero entrevistar atletas. Ser repórter, trabalhar na TV e quem sabe um dia ter o meu próprio programa esportivo. Acha que é loucura querer essas coisas?
Ele sorriu e disse:
– Não é loucura. Na verdade, é bom saber que você faz planos.
– É mesmo? – perguntei e ele, de um jeito discreto, fez que sim com a cabeça. – Você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso.
A minha informação fez com que seus olhos brilhassem. Pensei que ele diria algo, mas ao invés disso, segurou as minhas duas tranças que estavam sobre meus ombros e com cuidado, acariciou o meu cabelo. Seu gesto singelo de ternura me queimava as bochechas, pois era espantoso vê-lo agir contra a sua natureza. Ele se mostrava calmo, com semblante leve, e parecia disposto a aproveitar nosso momento.
Quando ele se encurvou na minha direção, me coloquei nas pontas dos pés. O mundo ao nosso redor se emudeceu. Nada mais me importava, nem mesmo se o outro time virasse o jogo.
Foi delicioso sentir nossos lábios roçarem um no outro de uma forma lenta e provocativa. Era um belo prenúncio para o beijo que logo aconteceria. Eu deveria dizer não ao meu desejo, recusar qualquer uma de suas investidas, mas a saudade era maior do que a minha resistência.
Ao pousar as suas mãos na minha nuca, eu estava tão enfeitiçada que já não era possível sair daquela cilada.
Nossas bocas se colaram de vez. Abrimos os lábios e iniciamos um beijo demorado. A nossa mistura tinha um sabor delicioso. Algo exclusivo, destinado somente para nós dois. Foi perfeito. Tão incrível que meu corpo se enfraqueceu e precisei me agarrar na sua camisa.
Com os olhos fechados, nosso beijo foi findando da mesma forma que havia começado: num leve roçar de lábios e, também, de narizes.
– Parece que foi gol do Vasco. – sussurrei, ouvindo a torcida xingar.
– É, parece.
– De repente o jogo perdeu a graça. – falei, e o senti sorrir em meus lábios.
– Quer ir embora?
– Quero.
Abrimos os olhos prontos para despedir dos meus amigos. Hans segurou a minha mão entrelaçando os nossos dedos. Mas, antes que pudéssemos sair dali, a torcida ficou outra vez eufórica. Um jogador do time adversário tinha feito um gol-contra.
O meu dia não poderia terminar melhor.
São Paulo cinco, Vasco um.
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SURPRESA! Só estou postando antes da data combinada por causa de duas meninas PERIGOSAS: Simone e Thays! (entendedores entenderão)
Esse capítulo dedico a elas!
Mas acacei de descobrir que o Wattpad só permite que marque uma pessoa por capítulo. Então hoje vou indicar um o livro da Simone SouzaSisi e na próxima postagem, será o livro da Thays.
O Perigo Fascina
Atena é uma mulher que assume o topo mais alto de uma organização criminosa. É girl power total! Acho que vocês vão se apaixonar por ela, assim como eu.
Até breve,
Naty
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