Queridos leitores,

Sei que não público nada faz um tempo, por isso, resolvi lhes escrever um post diferente. Hoje não postarei nada sobre meus romances mas falarei um pouco sobre a vida real. 

Ler e escrever romances é incrível, contudo, não podemos ficar apenas presos na ficção. Já reclamei várias vezes por não conseguir  ter controle de minha vida como tenho de minhas histórias, entretanto, percebi que a graça da vida é não prevermos o que vai acontecer. Encontrar dinheiro na rua, ganhar uma flor, um beijo inesperado são pequenas surpresas que fazem a vida valer a pena.

Querido leitor, recentemente percebi o quanto a vida é um sopro, com isso, faça dela a melhor possível. Você não precisa ter uma vida extraordinária repleta de esportes radicais e tudo mais mas sim de ter alguém para amar e ser amada. Abrace sua mãe, beije seu namorado ou namorada, encha de amor seu bichinho de estimação, assista tv com seu pai, tome um chá com sua vó, demonstre o quão importante são em suas vidas. Esse é o meu recado do dia: ame sem medo.

Com amor, 

B.C.

Clico em "publicar" e me encosto nas costas da cadeira. Estou sentada no laboratório de informática da minha escola. Estou com aula vaga e senti uma necessidade de escrever meus sentimentos, eu estava transbordando palavras não ditas. Estou tão entretida que não percebo quando uma pessoa aparece atrás de mim. 

- Eu estava esperando o momento que você estivesse sem seus cães de guarda. 

Me viro lentamente até encontrar os olhos de João. Meu coração começa a bater forte no peito mas faço de tudo para disfarçar. 

- O que você quer? Me deixe em paz - digo e olho de volta para a tela do meu computador.

- B.C.? O que diabos é isso? Resenha Dores? O que você está fazendo? 

- Não é da sua conta - respondo sem paciência mesmo que eu esteja nervosa. 

Eu não deveria ter acessado meu site na escola. Sei que João nunca seria um leitor meu mas no fundo do meu coração, sinto a desconfiança de que ele possa investigar o que é e acabar descobrindo todo meu segredo. Me viro para ele e digo da forma mais simpática possível: 

- É um site da minha prima. Algum problema? 

Ele cerra os olhos para mim e abre a boca para falar algo porém é interrompido por uma voz melódica que aquece meu coração.

- Algum problema por aqui? - pergunta Tomás ao entrar no laboratório. 

João suspira e encara meu namorado. Aproveito essa distração e saio do meu site.

- Eu não posso nem usar o laboratório dessa escola mais? 

Tomás caminha até onde estou e abraça meus ombros.

- Claro que pode, desde que deixe minha namorada em paz.

Ele levanta as mãos como uma forma de rendição e vai se sentar o mais longe possível de nós. Me viro para meu namorado com um sorriso no rosto. 

- Ele não cansa de encher não? - ele pergunta, franzindo a testa. 

- Pois é mas não se preocupe, se ele me enchesse mais, levaria outro soco. 

Tomás dá uma gargalhada. 

- Ah é? Melhor eu tomar cuidado, você é mesmo letal. Aliás, Dig pediu para avisar que iremos acampar amanhã.

- Acampar? - levanto uma sobrancelha e rio - Jô vai surtar ao saber disso, ela detesta mato.

- Vai ser divertido - ele me olha com um brilho no olhar - e romântico.

Sorrio e o puxo para beijá-lo. 

- Arrumem um quarto - diz Jô ao entrar no laboratório. 

Eu e Tomás nos separamos e encaramos seu rosto sorridente no mesmo momento que o sinal toca, anunciando a próxima aula. 

- Tenho que ir - avisa meu namorado. Ele me dá um beijo rápido, beija a cabeça de minha amiga - Até mais, meninas - diz antes de sair do laboratório com as mãos enfiadas no bolso. 

Jô puxa uma cadeira até o meu lado. 

- Ele está bem depois da conversa que tiveram?

- Sim, parece que estamos mais próximos um do outro depois dele compartilhar um segredo íntimo sobre ele. 

Minha amiga abaixa a voz e se aproxima mais.

- Você não acha que ele merece saber do seu segredo também? 

Balanço  a cabeça, negando. O heterônimo que criei parece possuir vida própria, às vezes até parece uma outra personalidade independente. Além disso, como dizer para seu namorado que escreveu tantas cenas românticas pensando no irmão dele? Não sei se um dia terei essa coragem.

- Não tenho coragem, Jô. Eu já imaginei diversas reações dele e em todas elas, ele termina comigo. Não posso perder ele.

- A decisão é sua mas você não vai conseguir esconder isso para sempre, Mila.

- Posso tentar.

🌸

Considero o dia que criei meu site um dos mais importantes da minha vida. Graças a ele, descobri um talento adormecido: o dom com as palavras. Depois de meu primeiro beijo com Diego no acampamento, meus sentimentos por ele me sufocavam. Quando eu o vi beijando outra menina, a dor de meu coração partido era insuportável e foi a literatura que não me fez enlouquecer. 

Logo quando cheguei em casa do acampamento, descrevi todo o meu momento com Diego: como me senti ao estar na mesma roda de amigos que ele, como estava lindo com a luz da fogueira rodeando-o quando caminhava na minha direção. Contudo, quando acabei a descrição, senti que não era o suficiente, precisava de mais. Dessa forma, escrevi sobre coisas que aconteceram mas também comecei a criar momentos que uma menina romântica de 13 anos sonhadora sonha em ter. Mudei o nome de Diego para Bryan e o meu para Lily e foi assim que nasceu meu primeiro romance: Mais que um amor de verão. 

Eu dei tudo de mim para compor este livro, fiquei tão orgulhosa de meu trabalho que decidi que iria publicar de alguma forma. Nenhuma editora iria querer lançar o livro de uma menina de 13 anos, por isso, tive a ideia de criar um site. Um site em que eu poderia publicar tudo que eu quisesse e foi em uma noite chuvosa de sexta feira que nasceu o site Resenha Dores. 

Mas havia um único problema: eu não queria que ninguém soubesse que eu era a escritora por trás de tantos sentimentos escritos. Fiquei o final de semana todo pensando em como solucionar esse problema. Foi na segunda feira, na aula de Literatura que encontrei a solução. Minha professora deu uma aula sobre Fernando Pessoa e nos apresentou seus diversos heterônimos. Ele criou outras personalidades que possuem vida própria, um estilo de escrever particular. Era genial. 

Cheguei em casa e decidi que meu heterônimo seria B.C., B de Bian e C de Camila e foi naquela tarde que postei meu primeiro capítulo. Meses depois meu site tinha milhões de visitas e no decorrer desses 3 anos, escrevi uma saga de 5 livros sobre a história de Bryan e Lily. Escrevi cenas românticas e quentes imaginando sendo eu e Diego. Mas como o universo tem um péssimo senso de humor, não sabia que eu me apaixonaria pelo irmão gêmeo de meu amor platônico e não saberia como contar que já descrevi seu irmão sem roupa. Obrigada, universo. 

O que acharam do capítulo? Sentiram falta da narração da nossa Camila? 

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Até a próxima <3