Capítulo 28
"indelável (adj.)
Que não pode ser apagado: tinta indelável. Que não se pode extinguir ou destruir; indestrutível"
Tomás
— Camila sempre foi muito tímida e presa no seu próprio mundinho, você a ajudou ver que o mundo real também vale a pena de ser vivido. — dona Dulce me disse certa vez, em um dos vários momentos que ficamos conversando na sala enquanto eu esperava Mila ficar pronta para sairmos.
A notícia de sua morte chegou por uma ligação de Joana. Eu estava completamente nervoso com as fofocas que estavam saindo com meu nome e de Emma, contudo, quando fiquei sabendo, tudo se esvaiu. Percebi que ter seu nome nos tabloides não era nada comparado com a perda de um parente tão querido.
Eu só queria estar junto de Camila, abraça-la e dizer que eu estou ao seu lado sempre. Gostaria de poder dizer a ela o quanto a amo e sempre vou amar.
Jo me contou que o velório será ainda hoje e o enterro também. Por isso, estou saindo do hotel que estamos a caminho do aeroporto. Assim que eu passo na frente do quarto de Lavínia, ela abre a porta e me chama.
— Eu estava esperando você passar para falar com você.
Olho para ela e suspiro. Desde que eu descobri as coisas cruéis que ela disse para Camila, nossa relação se limitou realmente com a questão profissional da banda.
— Lavínia, estou atrasado. — começo a sair andando, porém ela insiste.
— Nós precisamos conversar sobre você e Emma.
Viro-me para ela.
— Não existe eu e Emma. Nós não somos um casal e você sabe disso.
— Sim, mas poderiam ser... Sabe o quanto te atenção iriam conseguir ao assumir essa relação mesmo que seja de mentira?
Olho para Lavínia sem conseguir acreditar no que ouvi. Eu sempre li sobre como as pessoas ficam cegas quando estão no meio dos holofotes, mas nunca imaginei ver com meus próprios olhos como a ganancia pode mudar alguém.
— Eu não consigo acreditar que você virou esse tipo de pessoa, Liv.
Ela me olha com uma clara falsa indignação.
— O que quer dizer com isso?
— Que usa as pessoas para chegar no topo. Eu jamais vou usar os sentimentos de alguém, como o de Emma por mim, para me promover. Isso é desumano e cruel, Lavínia.
— Você diz isso, mas sabe que vocês só estão fazendo sucesso pela minha dedicação.
Passo a mão no meu rosto, exausto.
— Pense e faça o que quiser. Eu preciso ir. — me viro e começo a caminhar pelo corredor.
— Você é um fraco, Tomás. — ela diz entre dentes alto o bastante para que eu ouvisse.
Não deixo me abalar e continuo seguindo meu caminho.
Eu posso ser chamado de muitas coisas, mas fraco nunca será uma delas.
***
Depois do velório de Luna, eu nunca mais tive coragem de pisar em algum outro novamente.
Apesar dos anos que se passaram, nunca vou ser capaz de esquecer do desespero que senti ao ver o caixão de minha amada ser coberto por terra. A angústia de nunca mais vê-la era palpável e me tirava o ar dos pulmões.
Eu sabia o quanto Mila estava sofrendo, por isso que não pensei 2x antes de comprar a primeira passagem disponível para lhe dar todo o apoio. Mesmo longe um do outro, meu instinto protetor nunca falhava com ela.
Chego no velório de forma discreta, tentando encontrar Camila, contudo, antes que eu possa achá-la, dou de cara com o pai dela.
— Tomás! — ele abre um sorriso contido.
— Senhor Caetano, meus profundos sentimentos.
— Obrigado, Tom. Fico feliz de vê-lo aqui.
— Faz um tempo, não é? — olho para meus pés antes de continuar. — Como vocês estão?
Ele coloca a mão no meu ombro, fazendo-me olhá-lo.
— Pode perguntar o que você quer saber, filho.
— Como ela está?
— Ela tenta ao máximo não tirar o sorriso do rosto, mas eu e Ceci sabemos que ela está triste.
— Eu também me sinto assim, porém ela que terminou comigo... — minha voz vai diminuindo conforme vou chegando ao fim da sentença.
— Não se preocupe, filho. Tudo se ajeita no final. Aliás, vou te contar um segredo e se sair daqui vou saber que você que contou, mas eu gosto de você, meu jovem e torço por você e Mila.
Sorrio com uma mistura de gratidão com surpresa. O pai de Camila sempre foi reservado e ele me dizer isso é uma honra imensa.
— Obrigada por tudo, seu Caetano.
— Camila está por ali. — ele aponta antes de sair em direção onde Cecília está.
Vou até um canto mais isolado e vejo uma cabeleira loira familiar. Percebo que estão mais curtos do que me lembro e por incrível que pareça, está ainda mais adorável.
Sinto meu coração bater mais forte.
Quando vou dar um passo em sua direção, um menino de cabelos castanhos se aproxima dela e a abraça forte. Camila o abraça de volta e fecha os olhos enquanto chora.
Um nó no estômago toma conta de mim.
Tudo que eu queria era tê-la em meus braços e protegê-la de todo o sofrimento do mundo, mas em vez disso, Julian está lá no meu lugar.
Pela primeira vez nesses três meses, sinto que a perdi realmente. Todo esse tempo eu a esperei e achei que ela estava me esperando também. Esperando que nossos caminhos se cruzassem novamente. Contudo, eu estava errado.
Viro-me e caminho em direção a porta com os ombros curvados. Derrotado.
***
— Para o condomínio Bela Flor, por favor. — digo ao Uber assim que entro no veículo que solicitei pelo aplicativo.
Como tenho dois dias sem nenhum compromisso, aproveito para ir para minha casa.
Não avisei ninguém de minha chegada, por isso, assim que eu abro a porta de casa, minha família olha surpresos antes de saírem correndo me abraçar.
Nina é a primeira a se pendurar em meu pescoço.
— Eu estava com taaaanta saudades, Tom.
Sorrio.
— Eu também estava, pequena, Quer dizer, olha seu tamanho! De pequena não tem nada.
Ela ri, mas se nega a me soltar quando meus pais vem me abraçar. Com isso, damos um abraço forte em família.
— Meu filho, você está tão magrinho. Vou pedir para Jorge preparar algo. — diz minha mãe enquanto aperta meus braços.
— Obrigada, mãe.
— Você e seu irmão nos enchem de orgulho. — meu pai dá um tapinha no meu ombro.
— E eu? — pergunta Nina.
— Você? Enche nossa casa de felicidade, baixinha. — ele a pega no colo e começa a girar. Essa é a brincadeira favorita de ambos.
Passo o resto do dia com minha família, assistindo filme, brincando com Nina, conversando com meu pai e sendo mimado por minha mãe. Quando me deixam ir para meu quarto já é tarde e me sinto melhor do que quando vi Camila com Julian.
Assim que esse pensamento passa por minha cabeça, me arrependo no mesmo minuto. A cena se repete dolorosamente diversas vezes em minha mente e coloco o rosto entre minhas mãos, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— Tom? Você está bem? — pergunta minha mãe ao entrar no meu quarto com meu celular na mão. — Você esqueceu lá embaixo...
Limpo meu rosto.
— Obrigada, mamãe. Eu...Eu estou bem.
— O que aconteceu, querido?
— Não é nada... — começo.
— Tomás Ferraz, eu te conheço a mais tempo que você mesmo se conhece. Conte-me.
E eu conto. Tudo. Despejo tudo que estou sentindo e o que aconteceu.
— Querido, eu sinto muito por tudo que está passando. Mas sabe, tudo acontece por um motivo e não digo que você merece estar sofrendo, de forma alguma. Contudo, talvez você e Camila precisem se conhecerem como pessoas individuais antes de se encontrarem novamente. Você estão se desencontrando para se encontrarem no final.
— Não sei, mãe. Talvez o destino não queira que fiquemos mais juntos.
— Veja, meu sonho era ter uma menina de filha, entretanto, depois que você e Diego nasceram, eu não pude mais engravidar, como vocês sabem. Mas, então, eu e seu pai fomos na inauguração de um orfanato que a empresa dele construiu e naquele dia, inesperado, sem nenhum aviso prévio, eu conheci Nina. Foi amor à primeira vista. Eu achei que o destino não me queria mãe novamente, mas ele só estava reservando algo diferente, mas igualmente especial. Tudo vai ficar bem, meu filho. O universo nunca nos deixa desamparados.
— A história de vocês com Nina é minha favorita. — sorrio e limpo algumas lágrimas que escaparam de meus olhos. — Obrigada por tudo, mãe.
— Estou aqui por você, querido. — ela beija minha testa. — Boa noite.
— Boa noite.
Minha mãe fecha a porta ao sair do meu quarto, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Nesse momento, meu celular com uma notificação de postagem nova no site de Mila, Resenha Dores:
Depois do que aconteceu, me peguei refletindo que nunca vamos compreender a morte e seus mistérios. A minha avó era Espírita e por isso, sempre me disse que vamos, com certeza, nos encontrar em outras vidas e eu acredito nisso fielmente, afinal, dessa forma a saudade parece pesar menos. Dona Dulce foi uma mulher incrível que merece ser exaltada das mais diversas formas possíveis e digo com muito amor no coração que, talvez, um dia a gente se reencontre.
Com amor, B.C. ou Camila Bian
Acabo de ler e olho para o teto. Mesmo que eu não possa estar com Mila agora, saber que ela está lidando com a situação do seu jeito, me faz ficar mais calmo.
Saber que ela está sendo bem cuidada basta para mim no momento.
Olá, meus cajuzinhos <3
O que acharam do capítulo?
Será que nosso casal vai se encontrar novamente no meio do caminho?
Até a próxima <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro