Capítulo 25
"petrichor (s.m.)
cheiro de chuva após atingir o solo seco"
Camila
O cheiro de terra molhada me traz lembranças boas.
Por isso, assim que fui despertada pela chuva, levantei-me da minha cama e fui até a varanda de minha casa.
Ou melhor, da casa de meus pais.
Minha universidade decretou duas semanas de recesso após uma infestação de ratos no campus. Como era muito tempo, resolvi voltar para casa.
O clima está fresco, com isso, cruzo os braços, tentando me aquecer ainda mais dentro de meu moletom.
Ainda são 6 horas da manhã e meus pais ainda não levantaram.
Eu ando gostando destes momentos em que aproveito minha própria companhia. Depois de terminar com Tomás, passei a ter algumas crises de ansiedade que me faziam sentir pavor de considerar a possibilidade de ficar sozinha comigo mesma.
Apesar de ter meus amigos me ajudando, o único jeito que encontrei de lidar com isso foi por meio de terapia. Minha psicóloga me disse na última sessão que eu deveria exercitar mais aproveitar as simples coisas como observar a chuva cair, afinal, ver como a vida nunca para e que tudo passa mesmo que a gente ache o oposto.
O tempo é nossa morada.
— Filha, já está acordada? — diz minha mãe aparecendo na porta com uma xícara nas mãos.
Sorrio.
— Sim, quis vir ver a chuva. Gosto do cheiro de terra molhada.
Ela caminha até onde estou e sorri também.
— Quando você era pequena, era quase impossível te segurar dentro de casa em dias de chuvas, você adorava se molhar e ficar pulando nas poças. — riu com a lembrança.
— Ela me acalma. — afirmo com um sorriso.
Minha mãe me entrega sua xícara e vejo ser chá de camomila.
— Pode ficar que eu faço outro para mim. — ela beija minha bochecha. — Considere um presente de aniversário. Feliz aniversário, Mila.
— Obrigada, mãezinha.
A matriarca me dá uma piscadela e volta para dentro.
Respiro fundo.
Estou fazendo 18 anos.
Eu sempre amei fazer aniversário, contudo, neste ano, meu dia está me deixando com um gosto amargo na boca e uma sensação de buraco no peito.
Fazem três meses desde que vi Tom pela última vez e não passou um dia em que eu não senti saudades dele.
90 dias, 2190 horas e 7884000,756 segundos que eu não sinto o toque dele, seu cheiro, seus lábios.
Passo a mão no meu rosto, interrompendo o fluxo de pensamentos. Eu não deveria seguir naquela linha de raciocínio. Principalmente no dia do meu aniversário.
Vou para dentro de minha casa, decida a fazer daquele dia o melhor possível.
***
"Às vezes, acontecem cosas em nossas vidas que parecem inexplicáveis e sem sentido. Algumas pessoas são simplesmente tiradas de nós, outras se afastam por vontade própria. Mas todas deixam em nossos corações, um espaço que achamos que jamais poderá ser preenchido novamente."
Fecho os olhos ao ler estas palavras no livro que ganhei de aniversário adiantado de Julian. Parece que a autora Priscila Tostes estava pensando em minha história ao escrever estas linhas. Segundo o menino dos olhos cinzas, eu iria rir e chorar com as aventuras de Verônica no livro Filha da Alquimia: Tocada pelo ar. Eu queria algum livro que me fizesse esquecer do tempo e apenas devorá-lo, assim como a frase de Francis Bacon: "Há livros de que apenas é preciso provar, outros que têm de se devorar, outros, enfim, mas são poucos, que se tornam indispensáveis, por assim dizer, mastigar e digerir".
Meu celular toca avisando uma mensagem nova de Joana, me tirando de meu devaneio.
Eu queria tanto estar aí com você.
Sorrio tristemente. Jô não conseguiria vir me ver. Estava com muitas saudades dela, mas eu compreendia ela ter outras coisas para fazer.
Tudo bem, amiga. Não se preocupe.
Deixo meu celular de lado e resolvo tirar um cochilo. O tempo chuvoso só piora minha preguiça.
Não demoro a pegar no sono, entretanto, meu descanso é interrompido ao ser acordada com um barulho esquisito e muito alto vindo do andar de baixo.
Levanto-me, coloco um robe por cima da minha calça de moletom e minha camiseta de unicórnio e desço as escadas.
Ouço algumas vozes cochichando e quando piso no primeiro andar, vejo a sala de jantar uma bagunça de bexigas, cartazes e todo tipo de decoração.
Sorrio com a cena ao ver que ninguém me viu chegar. Caminho até que eu consiga ver todo mundo que está ali reunido e sorrio ainda mais ao ver Alissa e Morgana pendurando luzinhas no teto; Jean olhando pensativo para qual toalha de mesa prefere; Julian encarando um emaranhado fios como se fosse o maior enigma do mundo; Diego e Joana discutindo qual o melhor jeito de encher as bexigas.
— O que vocês estão fazendo? — pergunto.
Todo mundo olha pra mim sobressaltado e improvisam um "surpresa" completamente desafinado. Diego solta uma bexiga cheia que estava enchendo e ela sai voando pela sala fazendo um barulho estranho até cair em meus pés.
— Nós achamos que você estivesse dormindo, Mila! — exclama minha melhor amiga.
— Eu estava, mas um barulho alto me acordou. — expliquei.
Jô dá um tapa no braço de Dig.
— Eu disse que você ia acabar acordando ela.
— Mas gente... Isso tudo... — olho em volta — É incrível!
— Era para ser uma surpresa! — fala Julian indignado. — Eu tinha tudo planejado.
Sorrio para o menino.
— Você que organizou?
Ele assente, claramente chateado por não ter dado certo.
— Julian parecia uma criança ansiosa para sua festa de aniversário. Não para de falar disso há um mês. — conta Jean e aponta alguns pontos em seu rosto — Essas novas rugas é tudo culpa dele.
— Gente, eu amei muito. Eu amo a parte de decorar tudo, seria muito injusto eu não fazer estar aqui na parte em que eu mais gosto!
— Então, vamos voltar para a arrumação. — diz Alissa já subindo novamente na escada para pendurar as luzes.
Caminho até meus casal de amigos favorito e abraço Joana.
— Você achou mesmo que eu não estaria aqui logo hoje? — ela diz.
— Achei que você estava ocupada.
— Nem se estivesse acabando o mundo, eu não iria deixar de estar aqui, amiga.
Sorrio e ergo minha mão para bater um hi-five com Diego, mas ele balança a cabeça.
— Nem vem, Cami. Não nos vemos a meses, quero um abraço.
O irmão gêmeo de Tomás me dá um abraço de urso.
— Como ele está? — não resisto de perguntar.
— Ele sempre diz que está bem, Cami.
— Certo. — digo, baixinho e vou até onde Julian está.
Ele está ainda olhando para os fios.
— Precisa de ajuda?
Olha-me com um sorriso.
— O curso de Literatura não nos prepara para isso, não. — aponta para o chão.
Rio com sua indignação.
— Obrigada pela surpresa. De verdade. Fez meu dia bem mais feliz e desculpe ter acabado com a surpresa.
Julian olha para mim com carinho.
— Meu objetivo já foi alcançado antes mesmo de começar a festa.
— Como assim? — franzi a testa.
— Você já está com os olhos mais brilhantes e mais sorridente. Esse era meu objetivo.
Dou um sorriso sincero.
— Você é muito gentil, Jules.
— Camila! Você já acordou? — exclama minha mãe ao entrar na sala.
— Ela nos pediu no flagra, Ceci. — diz Julian e começa a conversar com ela.
Observo os dois. Jules nunca conheceu mamãe e estão conversando como se tivessem grande intimidade, afinal, este é Julian Castilho, faz amizades independentemente de quem seja.
Certa vez fomos ao supermercado e o deixei no caixa sozinho para correr pegar algo que eu havia esquecido. Quando eu voltei, ele estava com um nariz de palhaço no rosto e brincando com uma menininha.
O menino dos olhos cinzas me ajudou a não desmoronar de vez depois do término com Tom. Ele segurou minha mão quando eu nem tinha vontade de ergue-la.
Sorrir na presença dele é inevitável.
Julian é inevitável.
Espero que tenham gostado desse capítulo, porque eu amei muito escrever.
Aliás, "Filha da Alquimia" mencionado é da maravilhosa tostespri ❤️
Vocês também acham que Julian é inevitável?
Até a próxima <3
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