Capítulo 22
"Despedida (s.f.)
ato ou efeito de despedir(-se); partida, saída, separação, adeus"
Tomás
A primeira música que eu escrevi na vida foi quando eu e Mila terminamos.
Eu me sentia tão devastado que meu peito doía.
Era uma dor física além de emocional.
A música sempre esteve ali por mim, mas eu nunca havia sentado para escrever realmente a letra de uma canção.
Eu me sentia engasgado com as palavras e isso estava tirando o ar de meus pulmões.
Peguei um papel e escrevi até que eu conseguisse respirar novamente.
I remember when you walked at my door
To say there was not us anymore
I touched your hand and begged you to stay
But you didn't give me the chance to say
That I could be the one to you.*
Foi assim que nasceu a música Be the one to you.
Quando voltei com minha namorada, eu deixei guardado, pois eu não achei bom o suficiente.
Quando a banda precisava que uma música mais sentimental para completar o nosso álbum, eu mostrei aos produtores e eles adoraram.
Entretanto, eu mal imaginava que essa canção teria um novo significado e que o momento que eu a trouxesse de volta, seria quando eu estivesse prestes a perder Camila novamente.
***
Destranco minha porta do quarto no hotel e abro passagem para Camila entrar.
O nervosismo dela é palpável e não consigo não sentir o mesmo.
Quando eu era pequeno sempre tentava pegar areia na praia e não deixá-la escapar dentre meus dedos. Era exatamente isso que eu vinha fazendo com minha relação com Mila.
Tentando não deixar escorrer dentre meus dedos fechados fortemente.
— Mila. — a chamo baixinho.
Ela se vira com os olhos tão agoniados que mal consegue me olhar. Eu vou até onde a loira está e ergo seu queixo para que nossos olhos se encontrem.
— O que aconteceu? — pergunto suavemente.
Camila balança a cabeça e se afasta de mim.
— Você sabe que eu posso dizer não. — digo em tom de desespero. Tentando de tudo para fazê-la não desistir de mim.
Minha namorada olha para mim na mesma hora.
— Mas esse é o problema, Tomás! — Mila se exalta, não conseguindo mais se controlar. — Eu não posso deixar que você tenha que escolher o tempo todo entre eu e a banda. Tomás, eu nunca iria me perdoar se você desistisse de tudo por minha causa.
— Camila, não é sua responsabilidade cuidar se vou deixar a banda ou não. — digo, já sentindo a tensão do medo de ser deixado por ela.
— Todo mundo acha que estou atrapalhando sua vida! — ela diz enquanto anda de um lado para o outro.
Franzo a testa, confuso.
— Quem te disse isso?
Ela abre a boca, mas fecha novamente e só depois de alguns segundos em silêncio que ela volta a falar:
— Ninguém precisa me falar para que eu saiba. — mente.
Passo a mão no meu rosto. Algo aconteceu, mas Camila não vai me contar.
— Você não pode decidir isso por mim, Camila. Também são meus sentimentos em jogo e a única certeza que tenho no momento é que eu te amo intensamente.
Vejo ela engolir em seco e seus olhos brilharem com lágrimas retidas. Um silêncio ensurdecedor se instala e apenas nos olhamos, como se nossas almas pudessem ser lidas naquele momento.
— Você ainda me ama? — digo com um nó se instalando em minha garganta.
— Eu te amo, Tomás, amo desde aquele dia em que meu carro foi arranhado. — profere com um pequeno sorriso ladino, mas que não chega aos seus belos olhos.
— Então, por que você está indo embora da minha vida? Por que você passou a considerar que estar com você é me fazer uma pessoa infeliz? — passo a mão no cabelo e limpo uma lágrima rapidamente.
Camila olha para mim com dor cruzando seu olhar e com seu delicado rosto marcado por grossas lágrimas que escapam copiosamente de seus olhos. Desvio o olhar para a cidade, castigada por uma intensa e ininterrupta chuva, através da janela, sem mais conseguir ver todo o sofrimento de Mila.
— É o que é necessário. — sussurra como se as palavras pudessem machuca-la, assim como faziam comigo naquele momento.
Olho incrédulo para ela, não crendo que estávamos tendo aquela conversa. Sei que o término seria difícil também para Mila, mas até o dia anterior não me via sem ela em minha vida e agora tudo parece ruir ao nosso redor.
— Você não pode estar falando sério, Mila. A gente pode fazer dar certo...— minha frase morre ao ver tamanha determinação na expressão de minha namorada.
— É o que é necessário. — repete agora um pouco mais alto, mas não condizendo com seus sentimentos expressos em sua face.
— Eu te amo demais, Mila. Não me deixa. — choro como a muito não chorava.
Camila vem ao meu encontro, me abraçando como se isso fosse necessário como o ar que respira. Choramos juntos e abraçados até que a ouço sussurrar:
— Eu te amo pra sempre, meu amor.
Aperto-a mais em meus braços. Depois de minutos nos separamos um pouco mais calmos, porém não menos machucados. Camila não olha nos meus olhos para proferir as perfurantes palavras que vieram a seguir:
— Melhor eu ir embora agora. É o melhor a se fazer, Tom. — Sua voz falha no final da frase. E meu coração se quebra mais um pouco, como se isso fosse humanamente possível.
Ela recolhe suas coisas da cama e segue em direção a porta. Contudo, antes que ela se vá realmente, lhe chamo.
— Mila. — ela para, mas não se vira para encontrar meu olhar.
— Fica comigo essa noite, por favor. Por nós.
Camila finalmente olha para mim e num ato rápido toma meus lábios em um beijo desesperado, cheio de futuras saudades. Depois de nos separarmos, olho-a com meu questionamento silencioso sendo feito. A loira apenas acena em concordância.
— Vem. — pego em sua mão e a guio para a cama que nos abraçará como um manto de amor em nossa última noite juntos.
Ela deita em meu peito e a aperto em meus braços. Como sei que ela ama, passo a cantarolar um música que expressa meus mais profundos sentimentos:
— I will fight/ I will fight for you/ I always do until my heart is black and blue/ I will stay/ I will stay with you/ We'll make it to the other side like lovers do. **
Quando vejo que ela já está quase adormecendo, digo em um sussurro:
— Eu te amo e vou fazer você sentir meu amor mesmo não sendo como minha amante.
Depois de um tempo velando seu sono, acabo adormecendo em meu lar.
***
Acordo com a luz do sol em meu rosto e sinto a cama fria. Levanto em um pulo a procura de Camila, que já não se encontra mais no quarto.
Ela se foi.
E essa realidade me acerta em cheio.
*Eu me lembro quando você andou até minha porta/ Para dizer que não havia mais um nós/ Eu toquei sua mão e implorei para você ficar/ Mas você não me deu a chance de dizer/ Que eu poderia ser o único para você
(Música autoral. Todos os direitos reservados)
** Eu vou lutar/ Vou lutar por você/ Eu sempre lutarei até meu coração ficar vazio e triste/ Eu vou ficar/ Eu vou ficar com você/ Nós vamos chegar ao outro lado como os amantes fazem
(Música Don't Give Up On Me de Andy Grammer)
Nos vemos na próxima ❤️
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