Capítulo 19.1
"Efêmero (adj.)
Que dura um dia, que é passageiro, temporário, transitório"
Camila
"— Tomás, não quero estragar seu fim de semana, mas preciso te lembrar que a vida não é feita só de diversão e que eu preciso de você aqui de volta a turnê e que você não deixe na mão novamente, se é que você me entende. Todos já estão a caminho, só falta você".
O áudio de Lavínia para Tomás ressoa por minha mente nos dias seguintes dele voltar para a banda. Liv sempre cuidou da carreira de Reconvexo e de meu namorado, mas nunca foi dura realmente com ele. Ao questioná-lo sobre isso, o músico apenas deu de ombros e disse que resolveria isso.
Eu espero realmente, pois eu nunca iria me perdoar se Tom perdesse a chance da vida dele por tentar estar presente em minha vida.
Acabo de passar meu gloss nos lábios e saio para me encontrar com Julian que está me esperando do lado de fora. Meu amigo me mandou mensagem hoje de manhã dizendo que ia vir até meu dormitório para irmos juntos para a aula.
Quando saio dou de cara com um Julian franzindo a testa para um livro em suas mãos.
— Que cara é essa, Jules?
Ele me olha, indignado e me mostra meu livro em suas mãos
— Por que diabos Lily ficou com Bryan?
Começamos a andar em direção ao nosso prédio.
— Porque eles são o casal principal e seria cruel não os deixar separados depois de tudo que passaram.
— Mas é tão clichê! — ele exclama.
Eu rio de sua expressão.
— Essa é a ideia, Julian. Romance clichê, lembra? — dou uma piscadela a ele que revira os olhos — Pela sua reação, acho que meu livro te decepcionou...
— NÃO! — ele dá um grito, me interrompendo — Nunca pense isso, Camila Bian.
Sorrio com seu desespero
— Eu estou brincando, seu bobo. — chegando finalmente em nosso prédio, nos encaminhamos para nossa sala de aula.
Julian continua tagarelando e passa cumprimentando todo mundo no corredor. Receber um oi de Julian Castilho nessa universidade é como receber um 10 na matéria que você estava praticamente reprovando. Lembranças do dia do lançamento de livro retornam a minha memória.
Eu estava devastada por Tomás não ter chegado a tempo e quando vi Julian chegar na livraria. Fiquei encantada com sua consideração em aparecer por lá e ainda soltar um "Oi, Mila" quando meu mundo estava desabando como a chuva que caia do lado de fora. Naquele momento, percebi que Jules era realmente meu amigo e se importava comigo.
Quando autografei o seu exemplar de minha obra, ele parecia estar segurando algo valioso nas mãos.
— Camila? — a voz da professora me puxa de volta a realidade — Pode ler o soneto 18 de Shakespeare para nós?
Olho para meu exemplar com os sonetos e procuro o texto em questão. Ao encontrar, limpo a garganta e começo a ler:
— Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
Acabo de ler com o coração apertado e com lágrimas nos olhos. Desde quando Tomás quase não apareceu no lançamento de meu livro sinto um incomodo no coração que teimo a ignorar. Mas essa mensagem de Lavínia, fez-me questionar muitas coisas. Até que ponto Tom vai conseguir ter o melhor dos dois mundo?
Lágrimas começam escorrer, com isso, eu balbucio um pedido de licença e saio correndo da sala levando minha bolsa junto. Entro rapidamente no banheiro e me tranco no primeiro box que vejo. Sento-me na privada e deixo as lágrimas acumuladas caírem.
A solidão me invade como um soco no estômago. Eu só queria o abraço de minha mãe, o afago no cabelo de meu pai, rir das palhaçadas de Joana ou os abraços de Tomás. Eu tenho meus amigos aqui, mas quando as inseguranças batem, tudo que queremos é nosso lar (seja um lugar físico ou pessoas).
Quando me acalmo, saio do box para lavar meu rosto. Olho-me no espelho e vejo meus olhos vermelhos e inchados. Não irei conseguir esconder que chorei, terei que encarar olhares em minha direção.
De repente ouço uma batida na porta e alguém me chamando:
— Camila?
Aproximo-me da porta. A porta não está trancada, as meninas podem entrar normalmente, por isso, pergunto confusa:
— Quem é?
— É o Julian. Está tudo bem? Peguei seu material e ver como você está. — ele dispara a falar antes de fazer uma pausa — Tem alguma menina aí dentro?
— Hã...Não.
Quando menos espero, Jules abre a porta e entra no banheiro feminino.
— Julian! Você está doido?
Ele nem me responde, entra olhando para todos os cantos como se estivesse um novo mundo.
— Tão limpo, tão cheiroso. Agora eu entendo porque você demoram tanto aqui dentro.
— Você fala como se o banheiro masculino fosse um horror.
O menino me olha seriamente.
— Acredite, minha cara, é mais que isso. — dou um meio sorriso e ele me acompanha — Quer conversar sobre?
Nego com a cabeça e olho para meus pés. Eu não sei como falar sem chorar loucamente novamente.
— Bom, já que perdemos o resto da aula, topa vir comigo para um lugar?
— Se você não for me levar para um lugar vazio para me assassinar, sim. — digo, limpando os resquícios de lágrimas dos olhos.
— Eu jamais faria isso. Tem muita gente que me conhece pelas redondezas. — ele dá uma piscadela.
Sorrio novamente e aceno com a cabeça positivamente.
— Então, vamos. Só coloca isso antes. — Jules me estende um óculos de sol.
— Obrigada. — digo antes de colocar meus óculos e o seguir para fora do banheiro feminino.
***
Julian me leva para o terraço do prédio em que temos aula. Assim que saímos para o lado de fora, o vento faz com que meus cabelos voem para trás. O prédio é alto o bastante para que as montanhas que nos cercam fiquem a vista. Sinto uma calma instantaneamente e entendo o porquê de Jules me levar ali.
Ali parecia outro universo. Era tão pacífico que parecia que nenhum mal poderia abalar.
— Eu sempre venho aqui quando me sinto sufocado. — diz meu amigo.
— Eu entendo o porquê. É incrível.
— Nunca mostrei para ninguém para não perder meu lugar secreto, mas eu deixo você usá-lo.
— Obrigada, de verdade.
Olho para a paisagem novamente. Eu e Julian ficamos ali, em silêncio, até que o peso do mundo fosse suportável novamente.
Nos vemos na próxima <3
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