"Phosphenes (n.)

the colours or "stars" you see when you rub your eyes"

Camila

Os livros sempre fizeram parte da minha vida. Quando eu era criança, minha princesa favorita era a Bella de A Bella e a Fera justamente pelo amor dela pelos livros. Eu sempre fui uma menina tímida e eles nunca me deixavam me sentir solitária. Eu sentia que cada livro que eu lia, eu vivia a vida deles, eu era ora a Katniss Everdeen de Jogos Vorazes, ora eu era a Bella Swan de Crepúsculo. Eu tenho quase 18 anos, mas sinto que já vivi milhares de vidas diferentes.

Esse é o poder dos livros: te fazer viajar sem sair de sua cama ou poltrona.

E é esse é o que desejei ao me olhar no espelho ao acordar. Quero que todos que comprarem meu livro Mais que um amor de verão se sintam dentro da história e vivendo a vida dos personagens.

Hoje é o lançamento de minha própria obra publicada e eu não poderia estar mais feliz e realizada.

Eu tenho a vida nos trilhos com meu namorado sendo uma das minhas pessoas favoritas no mundo todo, meus amigos da faculdade são incríveis, eu amo meu curso e vou lançar meu livro em minha cidade natal.

Estou tão distraída que apenas vejo que tem alguém me chamando quando passam a mão na minha frente para ver se estou acordada. Olho para a pessoa e vejo Julian parado na minha carteira da sala de aula, me encarando com seus olhos cinzas.

— Você sonha tanto acordada que vai acabar babando um dia. — ele zomba.

— Eu não babo dormindo. — reclamo.

— Bom dia, turma. — nossa professora de Literatura Brasileira chega e Julian se limita a rir antes sentar em sua carteira trás de mim.

Vamos apresentar nosso trabalho do Carlos Drummond de Andrade hoje (antes que eu vá para minha cidade) em que vamos recitar o poema e falar um pouco de nossa análise.

— Quem quer começar? — a professora pergunta.

— Nós vamos. — diz minha dupla.

Eu odeio ser a primeira apresentar as coisas, mas Julian estão animado para recitar o poema que nem fico brava por ter se voluntariado.

— Ótimo. Podem vir Camila e Julian.

Levanto-me com as pernas bambas de nervoso. Falar em público não é algo que eu particularmente gosto. Nos posicionamos na frente da sala e o menino de cabelo castanho começa introduzindo.

— Bom dia, queridos colegas e querida professora Cris. — dá uma piscadela para ela e eu o olho incrédulo, mas ele apenas continua — Eu e minha dupla, Camila Bian, fizemos nossa análise sobre o poema "O amor bate na aorta" de Carlos Drummond de Andrade que vou recitar e Mila vai fazer a análise.

Julian começa a ler o poema com sua voz melódica e envolvente. Olho para o pessoal de nossa sala e vejo as meninas e meninos olhando encantados para ele. Meu (novo) amigo pode ser sensível, divertido, mas continua sendo o bom e velho garanhão que só quer se divertir.

***

Quando a aula acaba, saio praticamente correndo para ir para meu dormitório pegar minhas coisas para ir para o ponto de ônibus intermunicipal para ir para minha casa, já que, meus pais não puderam vir me buscar.

Em 20 minutos já estou com minha bolsa de costas com meus fones de ouvido indo para fora do campus quando ouço alguém me chamando. Olho para trás e vejo Jean, Morgana e Alissa vindo correndo em minha direção carregando bolsas.

— Onde você pensa que vai? — pergunta Alissa.

— Para minha casa, hoje é o lançamento de meu livro, lembra?

— A gente sabe disso, tolinha. A onde você pensa que está indo sem a gente? — explica Jean, ofegante por ter corrido.

— Achou que a gente ia perder o lançamento, Mila? — pergunta Morgana.

Sorrio para meus amigos, feliz por eles participarem de um momento tão incrível como o dia de hoje.

— Vocês são maravilhosos! — digo emocionada.

Dou um abraço rápido em grupo neles e quando nos desvencilhamos, lembro do ônibus.

— Temos que ir logo para o ponto.

— Nananinanão, nós vamos com meu carro. — avisa meu amigo.

— Seu carro? — franzo a testa. Nunca soube de carro de Jean.

— Me acompanhe. — diz e eu sigo ele com minhas amigas.

O loiro platinado nos leva até um carro conversível vermelho brilhante. Olho de boca aberta junto com Alissa e Morgana.

— Quando você disse que tinha um carro, não imaginei eu seria um conversível.

Ele abre um sorriso.

— Entra, cambada.

Jean vai para o lado do motorista, eu vou no banco do passageiro e meu casal de amigas vão no banco de trás. Meu amigo liga o som alto e coloca uma música da Dua Lipa. Quando ele pega a estrada para minha cidade, todos nós já estamos cantando alto e com os cabelos ao vento. Meu dia sempre fica perfeito junto com meus amigos.

***

Eu sabia que eu estava com saudades de casa, mas na hora que Jean estacionou na frente dela, senti que a palavra saudade era pouco para definir o quanto senti falta. Meus pais saíram praticamente correndo ao me verem descer do carro e me envolveram em um abraço apertado.

— Como você cresceu, Mila. — minha mãe exclama.

— Mãe, eu não cresço mais. — rio dela me analisando.

— Você está se cuidando, Mila? — pergunta meu pai.

— Sim, papai. Não se preocupe. — olho para meus amigos e lembro que preciso apresenta-los — Mãe, pai, estes são meus amigos Alissa, Jean e Morgana.

Meus pais os abraçam, se apresentam até que finalmente entramos em casa. O cheirinho de pinho que minha mãe ama me envolve como um abraço aconchegante. Deixo meus amigos com meus pais (Jean e minha mãe já estão bff) e subo para meu quarto.

Meu ninho onde tantas histórias ganharam vidas, onde eu chorei por amor não correspondido ou de tristeza por algo, mas também tive momentos incríveis com Joana. Sento em minha escrivaninha e olho para tudo, tentando gravar cada coisa em minha mente.

Meu olhar esbarra em uma sombra no meu closet e eu me levanto para ver o que é. Acendo a luz e dou de cara com um vestido longo, vermelho, com uma fenda enorme. O vestido é uma das coisas mais lindas que já vi na vida.

— Gostou? — minha mãe pergunta atrás de mim.

— Mãe, é lindo.

— Eu vi na loja e pensei que seria perfeito para sua noite de lançamento. — ela coloca uma fecha de cabelo atrás da minha orelha — Estou muito orgulhosa de você, filha.

— Obrigada por tudo, mãe. — eu a abraço forte.

Uma batida soa na porta e meu trio favorito aprecem.

— Hora da princesa virar rainha! — anuncia Jean com sua maleta de maquiagem.

Meu amigo vai me maquiar, enquanto Alissa vai fazer um penteado em mim.

— Vou deixá-los trabalhar, então. — diz minha mãe saindo do quarto.

Colocam-me sentada em minha cadeira da escrivaninha e começam os trabalhos. Olho para meu celular em busca de alguma mensagem de Tomás, mas não tem nada. Ele garantiu que viria para o lançamento, contudo, não conversamos desde ontem. Escrevo uma mensagem perguntando onde ele está e a mensagem não chega para ele.

Onde diabos Tomás se meteu?

***

— Está pronta! —meus amigos dizem juntos.

Levanto-me, vou para a frente do espelho e fico chocada com o que vejo. O vestido vermelho modela minhas curvas, favorece minha perna mostrada na fenda e reflete uma Camila mais adulta. Meus cabelos estão trançados de um lado e solto no outro, enquanto minha maquiagem está igualmente impecável. Jean e Alissa são incríveis quando se trata de beleza.

— Mila, você está fantástica. — diz Morgana.

Nesse momento alguém escancara a porta de meu quarto.

— Abram alas que a Joana chegou para... — minha melhor amiga chega, mas perde a fala ao me ver. — Mila... Você está perfeita.

Sorrio para ela.

— Você que está perfeita, amiga.

Joana está usando um cropped preto de alcinhas finas e uma saia preta lisa. Seus cabelos ruivos estão presos em um coque alto, deixando seus brincos de argola a vista.

— Estou tão orgulhosa de você, Mila. — ela diz que começa abanar seus olhos — Não posso chorar, não posso chorar.

Respiro fundo, já sentindo meu coração acelerado e uma euforia me tomar. Jô corre abraçar meus amigos e eu pego meu celular para conferir se tem alguma resposta de Tomás.

Nada.

Nesse momento meu pai abre a porta do quarto.

— Mila? Está na hora de irmos.

***

A livraria escolhida para o lançamento de meu livro é linda e gigante. É justamente o lugar onde comprei meus primeiros livros e ter essa noite de autógrafos aqui é incrível.

Desço do carro e sinto o ar bater em meu rosto. Aparentemente logo vai cair um toró, mas eu estou tão feliz que parece que a noite está cheia de estrelas. Caminho até a entrada com meus pais e meus amigos em meu encalço. Sinto-me ansiosa esperando encontrar Tomás dentro do recinto, contudo, ao entrar vejo toda a família Ferraz, menos meu namorado.

Nina vem correndo em minha direção com seu lindo vestido rosa.

— Mila! — ela abraça minha cintura e eu retribuo seu carinho — Você está linda.

— Você que está linda, Nina e tenho uma surpresa para você. — me agacho para cochichar em seu ouvido — O primeiro livro vai ser seu.

Ela me olha com os olhos arregalados e brilhando.

— Sério?

— Muito sério!

Ela se vira e volta saltitando para contar para seus pais. Diego vem em minha direção, usando um blazer preto.

— E aí, Cami. — diz com um sorriso ao se aproximar e me surpreende ao dar um beijo em minha testa — Você está um arraso.

— Você também está, Dig. — olho para ele e sei que percebe minha angústia.

— Também não estou conseguindo falar com ele, mas Tomás vai chegar a tempo. — me tranquiliza.

Sinto meu coração mais leve com isso. Vou cumprimentar algumas pessoas e nesse meio tempo uma chuva forte começa a cair. Não consigo parar de olhar para porta, esperando meu namorado chegar e por isso, me assunto quando Ana, representante da editora toca meu ombro, dou um pulo.

— Vamos começar?

Os autógrafos estão prestes a começar e não há sinal de vida de Tomás. Meu coração afunda no peito ao perceber que ele não estará aqui no dia mais feliz de minha vida.

— Vamos. — murmuro.

Viro-me para ir para a mesa dos autógrafos, mas ouço o barulho do sino da porta, sinalizando que um cliente chegou. Olho rapidamente esperando Tomás, mas dou de cara com uma pessoa de capuz e quando retira, cabelos morenos aparecem e olhos cinzas me encaram.

Julian.

Onde será que Tomás foi parar? 

Como vocês se sentiriam em uma noite de autógrafos do livro de vocês? Acho que eu choraria muito de emoção.

Vos apresento a capa que criei do livro da Mila: 

Até a próxima <3