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Continuando


Oi lindas! Aqui vai o final! 

Estão com o coração na mão? kkkkk



     José Carlos andava devagar, com o coração quebrado em pedacinhos. Nunca em seus sonhos mais loucos imaginou que deixaria sua namorada para trás. Lutou tanto para tê-la e agora iria abrir mão por um sonho.

    Viu de longe seus cabelos claro brilhado. Ela estava sentada num rochedo próxima a margem do rio. Sabia que seria seu último dia juntos em anos ou em toda a vida.

    Parou a uns cinco metros e tatuou em sua mente aquela imagem. Cabelos compridos soltos, vestido longo branco, descalça. Ela percebeu sua presença e sorriu para ele. Porém, o sorriso não chegou aos seus olhos

    — Você está bem Clarinha? — perguntou preocupado.

    — Estou. Acho que fui pega por uma virose. Estou ficando resfriada. — A resposta não o convenceu, mas havia muito assunto a ser discutido. Sentou-se ao lado dela, tomou suas pequenas mãos nas suas e as beijou. Ela depressa subiu no seu colo e tomou a sua boca em um beijo desesperado. Delicadamente a afastou.

    — Precisamos conversar. Quero te contar uma coisa. — Não queria ser injusto, a ponto de fazer amor com ela ali, a tomar numa pedreira e depois dar o golpe da misericórdia.

    Sentando-se à frente dela a encarrou.

    —  Pode falar. Sou toda ouvidos. — Mais uma vez o sorriso não lhe chegou aos olhos

    — Desde criança tenho um sonho: ser pião de rodeio. Já participei de uns aqui na região, porém nunca ganhei nada mais que algumas medalhas. Ontem um amigo de um amigo me fez uma proposta. — Parou de falar, tomou fôlego e continuou. —Fui convidado a ir aos Estados Unidos com ele. Lá participarei das competições e terei chance de crescer na vida, ser bem-sucedido. O prêmio é em dinheiro. — Ela só o ouvia em silêncio. — Viajarei amanhã cedo. — Para sua surpresa, ela deu um pulo batendo palmas:

     — Aiii que tudo! Amor, isso é incrível! Estou tão feliz! Parabéns! —enquanto falava rodopiava toda feliz.

   — Clara... eu não voltarei por no mínimo dois anos. Precisarei treinar muito e estarei de cidade em cidade competindo. Não posso pedir para você me esperar.

    — Eu sei. Nunca impediria que você fosse, e não vou te prender. Estou radiante porque você está realizando seu sonho! — Mesmo com a voz feliz, as lágrimas caiam.

  — Estou tão mal! Nos amamos tanto! Não dormi desde que soube. Como vou viver sem você ao meu lado? — Abraçaram-se em prantos. — E os nossos planos? Será que valerá a pena?

   — Vai valer sim! Quero que você voe. Se você voltar um dia e for para ficarmos juntos, ficaremos.

   — Não vou namorar ninguém, vou ficar o tempo que for me guardando para você. — sorriu triste. — Quero que você termine seu curso, trabalhe, namore e case tá bom? Não me espere, não se prenda a mim. Se o amor chegar para você agarre com tudo!

   — Você também. Namore Zé, não seja promiscuo, mais não fique sem calor e carinho. O tempo dirá.

    Tendo o céu claro e brisa amena, como testemunhas, se amaram como se se não houvesse amanhã. Correndo suas mãos calejadas sobre a pele clara e macia ele a venerava. Em seus dias solitários e gelados, tão distante daqui, ele teria essas lembranças. Lembraria das sardas no nariz que surgiam depois de um longo tempo ao ar livre, do cheiro doce de sua pele. Baixando a cabeça beijou a barriga dela e fez barulho de pum, arrancando-lhe gargalhadas. E ali sem noção alguma que seria pai em alguns meses, firmou seu primeiro vínculo com o minúsculo ser.

     — Cowboy, se tivéssemos um filho, como você o chamaria? — E para que ele não desconfiasse de nada, emendou de forma engraçada— Do jeito que você é louco poderia ser Etevaldo. — Seu menino sorriu sem desconfiar de nada.

    — Eu adoraria uma menininha e a chamaria de Isabel, o nome da minha mãe, e se fosse um pirralho seria Victor, para chamarmos Vitinho, este foi o nome do meu irmãozinho que morreu afogado aos sete anos. E você como os chamaria?

    — Isolda e Tristão, meus mocinhos medievais! —respondeu sorrindo e zoando com ele. A verdade era que os nomes já estavam decididos. — Eu sinto muito por seu irmãozinho.

    — Quando ninguém mais esperava um bebê, ele chegou. Eu basicamente o criei. Então nesse dia choveu muito e eu o deixei em casa, fui no pasto norte separar uns bezerros e ele me seguiu. O nível do rio estava muito alto e ele tentou atravessar nadando. Minha mãe tentou alcançá-lo, mas já era tarde, a correnteza o arrastou para longe. Achamos seu corpinho a 500 metros, presos em uns galhos. Talvez se eu tivesse levado ele comigo nada disso teria acontecido e minha mãe ainda estaria viva. Ela teve um derrame três meses depois e resistiu algumas semanas, mas.... perdemos os dois em menos de um ano.

    — Não foi sua culpa, não pense assim! Você não teria como saber que ele iria até ao rio. — Clarinha o abraçou e cheirou seus cabelos escuros. Amava tanto seu garoto sofrido! Ele havia passado por tantas coisas e ela ainda negaria o direito dele saber da gravidez. Colocando esse pensamento de lado, contou-lhe algumas piadas e minutos depois estavam rindo. Precisavam das memórias boas. Os anos vindouros seriam difíceis.

     O sol a muito tempo tinha desaparecido em meio a nuvens avermelhadas, deixando para trás um vento frio e a sensação de desespero. Abraçando-se pela última vez, ele a deixou na porteira.

    — Cuide-se minha fadinha. Eu te amo e voltarei um dia.

    — Cuide-se menino viajante. Tenha cuidado para não se machucar. Ganhe muito dinheiro para me comprar um anel com uma pedra gigante. — Ambos riram. — Não temos compromisso, certo? Terminamos lá na margem do rio. Você vai fazer uma vida, um futuro para você. Seremos bons amigos.

     — Certo, eu te ligo.

       Ela ficou olhando a estrada até a velha caminhoneta desaparecer. E ali de pé ela orou e pediu que ele ficasse bem onde quer que fosse e que o destino o trouxesse de volta são e salvo para os seus braços e de sua criancinha. 

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