Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

01. Boa História


O som de metal contra metal ecoando pela casa sempre foi uma constante, não importava se eu tivesse cinco, doze ou, como o presente dessa história, dezenove anos. Alguns até poderiam acreditar que eu fosse filho do deus ferreiro, o grande forjador de armas desde a época das Primeiras Guerras Celestiais — o que não era o caso.

No entanto, meu pai é um deus quase tão velho quanto esse. Claro que ele iria me dar um tapinha na nuca se soubesse que disse isso, mas é verdade: ele é o deus do lado escuro da Lua, Merfiz, irmão gêmeo da deusa do lado cintilante da Lua, Isáris.

Desde sua época de rebeldia na adolescência, que não foi apenas uma fase como minha avó Noxina, deusa da Noite, acreditava ser, ele se interessou pelo mundo mortal e passou a viver nele, construindo diferentes identidades, e aprimorando ao longo dos séculos uma paixão: forjar.

Para a minha sorte, foi assim que ele reencontrou sua amiga de infância, minha mãe, quando ela foi traída por seu próprio sangue e renegada de seu posto como deusa, jogada ao mundo humano.

Bom, essa é uma história já contada. O importante é que Merfiz a encontrou, ajudou-a a retomar seu lugar como deusa do fogo e declararam amor um pelo outro, resultando na peça de interesse do momento: eu.

Sinceramente, eu gostaria de possuir metade da autoconfiança que pareço ter ao narrar minhas próprias peripécias. Teria me ajudado bastante quando mais novo.

Porém, há um motivo para eu dizer "peça de interesse", afinal, sou um dos personagens principais dessa aventura. Aventura essa que começou nesse dia, um dia de rotina, em que meu pai trabalhava em encomendas para algum mortal da vila em que morávamos e eu lia histórias, gesticulando e criando tons diferentes na minha cabeça para quando as narrasse em voz alta.

As histórias eram parte do meu treinamento como deus, e uma vez na semana eu as lia na frente das crianças de diferentes vilas, para manter a memória de nosso panteão viva. Porém, um bater de asa chamou minha atenção.

Uma coruja-de-igreja, em plena luz do dia, se encontrava empoleirada na janela. Entre as garras de uma pata erguida, estava um pergaminho.

— Paaai. — chamei e o barulho agudo vindo da oficina silenciou. Eu nunca garanti que meu jeito escandaloso havia ficado na infância. — Acredito que chegou uma mensagem para você.

— Acredita ou uma das corujas de sua avó apareceu aí?

Eu ri no mesmo instante que Merfiz surgiu na porta, enxugando a tez negra, alguns tons mais escura que minha pele, com um pano. Um rio de tranças caía em suas costas, presas por uma presilha maior, expondo seu semblante cansado, mas sorridente.

— Ei, Attie. — meu pai fez carinho na cabeça da coruja, do jeito de quem conhece todas por nome. E a deusa da Noite tem centenas delas. — Obrigado pela mensagem.

A coruja piou quando o pergaminho foi apanhado e alçou voo para dentro da casa, pousando em meu ombro e passeando o bico gentilmente pelo meu cabelo, como se ajeitasse as penas de uma ave amiga. Retribuí o carinho com as pontas dos dedos.

— Como sempre, temos um favorito por aqui.

— Eu sou o único neto da vovó, tem de haver um preferido masculino. Como há uma preferida feminina minha prima.

Meu pai desenrolou o papel no mesmo ritmo que rolava os olhos, o sorriso de canto nunca deixando seus lábios por completo. Ele limpou a garganta, começando a ler a mensagem:

"Meus caros filho, nora e neto,

Envio este pergaminho para avisá-los da reunião do Festival de Renovação. Será esta noite, quando a lua estiver mais alta no céu, e é de suma importância que os deuses mais jovens e aprendizes dos elementos compareçam. O que significa sem desculpas para faltar, Eldurian.

O local da reunião será o templo de Vespen.

P.S: Espero que Attie esteja distribuindo em meu lugar os carinhos que não consigo dar a meu menininho neste momento."

— Ela com certeza está.

Meu pai acariciou a cabeça da coruja uma última vez, antes que ela batesse as asas, para ir embora. Eu não consegui responder, porque de repente meu coração tinha acelerado, e minha garganta secou.

Se era importante que deuses jovens fossem, talvez esse fosse um indicativo de que meu rito de passagem se aproximava e, na mesma medida em que sentia borboletas no meu estômago, sentia minha mente trabalhar em todas as possibilidades que poderiam dar errado.

O rito de passagem de um deus jovem, ou qualquer aprendiz que tem sua vida presente junto aos deuses — aprendizes de ninfas, espíritos, sacerdotes — é determinado durante um Festival da Renovação, um evento que marca a passagem do calendário mortal de um ano para o outro, consistindo de uma semana de festas. A dúvida que pode se cruzar na cabeça de alguns é: como um deus interage com um feriado mortal?

O Festival de Renovação é uma comunhão entre os devotos e nós, um momento em que recebemos oferendas para ficarmos fortes para o verão que se inicia e para trazer um bom ciclo de chuvas, ajudando na preparação do solo para o plantio. Além de atendermos a desejos, renovamos alianças e fazemos algumas visitas.

Então, quando considerados prontos, membros da geração mais nova do panteão são escolhidos para ajudar, provando se os anos de treinamento os refinaram o suficiente para serem considerados maduros e assumir funções mais complexas em nossos sistemas.

Eu trabalhava para isso desde os meus oito anos de idade.

Sinto que meu pai sabia o que eu pensava, pois quando o encarei, tinha um brilho nos seus olhos, uma nostalgia misturada à familiaridade. Eu prendi a respiração, contendo tudo o que queria lhe perguntar, e só disse:

— Você acha que Shira e Ascian estarão lá?

Eu não os via com a mesma frequência de antes, mas sempre trocávamos cartas e nos víamos em confraternizações. Certamente se encontravam tão ansiosos quanto eu.

— Ascian tem de estar, o deus do crepúsculo é o pai dele.

— Ah, verdade, a reunião será no templo de Vespen.

Assenti, tentando assimilar as outras palavras do pergaminho. Merfiz colocou uma mão em meu ombro, e os pensamentos de que tudo poderia dar errado se acalmaram um pouco, sendo substituídos por afirmações desesperadas. Eu tenho que fazer dar certo.

— Por que não vai contar à sua mãe sobre a reunião?

Era uma sugestão disfarçada de pedido. Meu pai queria dizer que me faria bem espairecer.

— Vou atrás dela.

Nem os minutos caminhando na floresta até o templo da minha mãe, nem os momentos dedicados a uma meditação guiada por ela quando minha ansiedade foi notada, ajudaram. Mamãe tentou me distrair no pátio de seu templo, usando magia para nos tornamos alheios a possíveis devotos de passagem, e o espaço ser inteiramente nosso.

— Respire como se seu fôlego soprasse uma chama, meu filho. Devagar, para que ela não se apague.

Eu me sentia em casa ali, mesmo de olhos fechados, mas o templo também era casa de memórias que me distraíam. O pátio ecoava com risadas infantis, como aquele dia da promessa, tão perdido no tempo e em minhas próprias expectativas, que eu só conseguia pensar se estava no mesmo nível dos meus amigos.

— Inspire, expire.

A voz de Firaine seguia calorosa, mas minha mente continuava a se distanciar da concentração. Seria aquele "para sempre" possível de alcançar até mesmo em nossas habilidades? Será que eles esperavam ser escolhidos para o rito junto a mim, da mesma forma que eu queria ser escolhido junto a eles?

Ao menos se escrever meu próprio destino fosse como contar uma história aos aldeões, uma narrativa capaz de ser memorizada. Os passos, ensaiados. As expressões soltas na hora correta, feitas especialmente para deslumbrá-los.

— Eldurian.

O toque da minha mãe se fez presente em minha bochecha, e eu abri os olhos. Seu polegar deslizando sobre minha pele como se eu tivesse acabado de ralar o joelho e precisasse de consolo.

— Vamos voltar para casa? Ficamos aqui tempo o bastante para começar a escurecer.

— Vamos. É minha vez de cozinhar o jantar, não é? Vou fazer algo para nós antes da reunião.

Mamãe se ergueu, me puxando junto a ela. Uma de suas mãos pousou em minha cabeça.

— Pode deixar que eu cozinho hoje.

Durante a caminhada de volta, o silêncio foi a única coisa que minhas cordas vocais conseguiram produzir até que mamãe tomou minha mão. Eu parei de andar e a encarei, sendo engolfado por carinho.

— Filho, espero que saiba que seu valor não é provado sendo escolhido de primeira ou não no rito. — meu rosto foi segurado, um lembrete forte de não desviar o olhar, de absorver bem aquelas palavras — Você prova seu valor todos os dias, nos pequenos atos, ao contar histórias em diferentes vilas, ao tocar e proteger os segredos das pessoas. Eu e seu pai somos orgulhosos desde sempre pelo que você faz.

Minha mãe beijou a minha testa e, em seu último olhar reconfortante antes me soltar, eu a abracei. Eu era mais alto que ela, mas naquele momento me senti encolher, virar uma criança de novo, enroscada nos braços de quem me segurou primeiro no mundo.

Que bom que deuses tinham mães, porque hoje eu sentiria falta de uma caso não tivesse Firaine ao meu lado.

Lembrar do apoio de meus pais facilitou a me manter centrado para me preparar para a reunião. Concentrei-me nas parcelas do processo: pegar minha túnica cerimonial, parecer apresentável, não surtar. Parecer apresentável e não surtar.

— Estão prontos, meninos? — mamãe perguntou ajeitando uma última vez o brinco em sua orelha, seu cabelo agora ruivo e os olhos flamejantes, fora de uma ilusão que ela costumava manter no mundo mortal.

— Estamos, Fira. Nosso filho já percorreu o mundo em antecipação. — Merfiz olhava para mim da poltrona com um sorriso empático, os olhos completamente escuros, sem pupila ou partes brancas. Parei de andar de um lado a outro, sentindo os pés inquietos.

— O nervosismo não ajuda, pai.

Da mesma forma que os dois, eu estava com meus verdadeiros traços à mostra, uma mistura engraçada. Meu cabelo ficava tão escuro quanto os globos oculares de meu pai, e meus olhos tremeluziam como se tivessem chamas dentro deles, mas a verdadeira marca do que eu carregava estava em minhas orelhas: veias negras as delineavam, espiralando para dentro do tímpano.

Porque era isso que eu fazia: ouvir. Ouvir os segredos que cruzavam os corações das pessoas, pensamentos ligados ao emocional, histórias bem guardadas. Foi por isso que, quando Firaine e Merfiz colocaram as mãos em meus ombros, um de cada lado, eu pude escutar o que seus olhos tentavam transmitir.

Nosso garotinho cresceu tanto, e fez ainda mais, sussurrou o coração de minha mãe. Minha fonte de orgulho e vida, dizia o meu pai. O nó em minha garganta se desfez e eu segurei suas mãos, sorrindo.

— Vamos? Antes que cheguemos atrasados.

Firaine assentiu e, ainda formando um pequeno círculo, começamos a ser envolvidos por uma névoa densa. A reunião começava pontualmente, pois todos chegavam ao mesmo tempo, cedendo às energias da Noite que nos chamava.

Éramos levados de um lugar ao outro pelas energias de minha avó. Era possível se transportar usando os elementos de cada deus, por exemplo, se eu quisesse me transportar pelo fogo, era só achar uma fonte de chamas e direcionar a energia para um ambiente que tivesse outra chama acesa.

E minha avó era a noite, então, não havia como escapar de seu chamado àquela hora.

Quando aparecemos no templo de Vespen, estávamos em nossas posições na arquibancada do grande salão, um local além do espaço físico que o templo ocupava no mundo humano. A Lua nos iluminava de cima, e tochas dançavam ao nosso lado.

Corri os olhos pelo lugar, à procura de familiaridade, e meu coração se empolgou quando percebi Shira e Ascian. A primeira junto às sacerdotisas da água, almas abençoadas e imortalizadas pela deusa Frija, a quem elas devotavam parte da vida. O segundo estava ao lado do pai, Vespen, o anfitrião da noite, e de sua mãe, Altra, deusa dos trovões e relâmpagos.

Shira me percebeu primeiro. Seus olhos se arregalaram antes de um sorriso discreto dominar seus lábios e ela virar e abaixar sutilmente a cabeça para mim, seus cabelos azuis caindo como seda pela túnica formal. Ela estava linda.

Ascian não foi tão discreto. Ele ergueu um braço e acenou.

— Eldurian! Oi! Oi, tia Firaine, oi, tio Merfiz!

Altra iria repreendê-lo, mas uma onda de risos cruzou o salão, e eu acenei com vontade. Shira estava rindo de nós, e mais do que nunca eu quis abraçá-los e desejar boa sorte. Porém, teríamos de esperar a reunião acabar.

— Bem vindos a meu templo, irmãos e irmãs. — Vespen nos cumprimentou, fazendo uma leve reverência, retribuída por todos nós — Hoje, os recebo para marcar os preparativos do entardecer de mais um ano. O Festival da Renovação se aproxima, e a Conselheira deseja nos orientar para os preparativos.

O deus do entardecer se curvou e, de um aglomerado de sombras ao lado dele, surgiu vó Noxina e a Conselheira. A primeira deusa de nosso panteão era conhecida por seu posto durante as Guerras Celestiais, já que graças a ela que não fomos extintos. Para os mortais, ela também era conhecida como Bisavó ou Rainha.

Fora de momentos formais, usávamos seu nome, Egrira.

Minha avó se curvou para ela, estando alguns passos atrás, na posição de braço direito — ou melhor, deusa consorte, já que elas formavam um casal. Depois do falecimento do primeiro marido de vó Noxina em uma batalha, as duas se aproximaram e acabaram por se apaixonar.

Ainda assim, sentimentos e laços familiares não intervinham na execução do papel de nenhuma das duas. Naquele momento, seus semblantes eram serenos e neutros.

— Ao falar do Festival da Renovação — Egrira começou, sua voz ecoando no círculo que formávamos — devemos nos lembrar do ciclo que acompanha tanto mortais e deuses todos os anos. O ciclo do crescimento, do calor, do plantio, que nos levará à vida, à colheita e, depois, à morte e à perda.

O olhar da Conselheira parecia acolher a todos nós de uma vez. Ela se posicionou um pouco mais a frente.

— Todo ano são escolhidos integrantes mais jovens que respondem às energias primordias para ajudar a revitalizar o elo entre o mundo celestial e o mundo mortal, pois nossas divindades perduram como função de proteger e amparar os humanos e somos retribuídos com suas oferendas. Sendo assim, para aqueles jovens que estão se integrando à vida adulta...

Cada um de nós que se enquadrava na descrição foi encarado. Senti minha respiração ficar presa.

— ...vocês são o futuro de nosso panteão. Caso sejam escolhidos para o Festival de Renovação este ano, carreguem consigo nossas melhores virtudes. Caso não, — a expressão e tom de Egrira se suavizaram ainda mais — saibam que meu orgulho ainda mora em cada um de vocês e respeitem seus próprios tempos de preparação.

Com um último sorriso gentil, a Conselheira se voltou para o lado de minha avó, que conjurou um pergaminho, e tomou a frente.

— Depois de consultas às energias e atos do Passado e com pensamentos firmados no Futuro, selecionamos integrantes para fortificar os ritos do festival na direção de todos os quatro ventos. Para seguirem a leste, foram escolhidos Adur, filho de...

A lista continuou. Para leste, foram escolhidos dois integrantes: o filho do deus guerreiro e um aprendiz de sacerdote do Sol. Eu me perguntava se seria chamado.

Para o Norte, foram citados quatro: dois semideuses e dois mensageiros dos céus que eu não conhecia muito bem. Minhas esperanças começaram a diminuir.

Para Oeste, duas garotas: minha prima Leila, filha de tia Isáris, e Tulipa, uma aprendiz de sacerdotisa da Terra. Eu troquei um sorriso rápido de felicidade com minha prima, do outro lado do salão, antes de voltar a olhar para baixo. Fechei os olhos e deixei o ar sair, não adiantava ficar mais ansioso.

Nem meus amigos foram chamados...

— Para o Sul, Eldurian, Ascian e Shira.

Eu levantei o olhar. Ascian abraçava o pai, Shira erguia os braços e era levantada por suas irmãs e eu fui puxado para os braços de minha mãe, recebendo uma avalanche de beijos no meu rosto.

Noxina esperou, com um leve sorriso de canto, as comemorações cessarem o suficiente para prosseguir:

— Por favor, os selecionados devem me acompanhar para receberem as instruções e...

— Ascian! — a voz de Altra atravessou o salão e um raio iluminou o céu, mesmo sem nuvens. Eu procurei meu amigo, apenas para achá-lo vindo até mim me abraçar, e logo me arrastar pela mão até Shira, que começou a gargalhar quando nos colocamos um de cada lado dela, pulando.

Egrira não se aguentou e começou a rir, puxando a todos com sua risada espalhafatosa. A aura de formalidade foi perdida.

— Nós fomos selecionados, juntos! — Ascian dizia para apenas nós ouvirmos — Dá para acreditar?

— Dá sim, só preciso ficar viva até lá, e para isso vocês precisam parar de me espremer. — Shira resmungou, desvencilhando-se de nós dois.

Eu só conseguia rir, leve como uma das penas de Attie. Naquela noite, eu me senti amparado, pronto para uma aventura.

Como quem vive um bom começo de uma boa história. 

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro