17. Sobre Rosas Vermelhas e Beijos Passionais
"O sorriso dela roubou meu coração das estrelas."
— Atticus
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PALÁCIO DE LEONTIUS, PORTO REAL
REINO DE LEONTIUS
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INCLINEI-ME SOBRE O PARAPEITO de mármore da sacada do quarto que havia sido me dado desde que fora retirado da prisão. Não eram aposentos grandes, como, com certeza, a maioria dos outros aposentos do palácio, mas eram maiores do que meu quarto na Irmandade de Mercínia, e mais luxuoso também. Sentia-me calmo naquele momento, sentindo o vento fresco atingir meu rosto trazendo o cheiro de maresia, já que a capital era uma cidade portuária, e isso me lembrava das viagens que fazia quando em missões pela Irmandade.
Precisava admitir que sentia saudades da Makedóvia, da parte da Makedóvia que ficava longe de meu pai, claro; sentia falta da parte da Makedóvia em que vivia com minha mãe, antes de sua morte. Sentia saudades de meus amigos de infância, principalmente Attalos e Mastor; sentia falta dos jogos de dados onde Attalos sempre perdia, e das risadas alegres das garotas do bordel onde fui criado até os doze anos... Sentia falta de caminhar por aquelas ruas vendo os rostos simpáticos e conhecidos, vivendo a infância que logo perderia por conta de meu maldito pai.
Também sentia falta daqueles verões na Makedóvia, quando a chuva caía bem no meio do dia molhando as ruas e as construções; os raios de sol atingiam as gotas de água e as faziam brilhar de forma linda, como se estivesse chovendo ouro líquido. Infelizmente, a maioria das pessoas não prestava atenção, e apenas erguiam os olhos para o alto para praguejar contra a chuva que molhava suas cabeças e roupas.
Por um momento, perguntei à mim mesmo se voltaria a ver aquela cidade algum dia, mas abandonei esse pensamento: se queria ficar longe da Irmandade, nunca mais poderia voltar à Nótos. Agora Leontius era meu lar, Andromeda garantira isso...
Andromeda... sempre que pensava na rainha, lembrava da história que havia me contado enquanto jogávamos xadrez em sua varanda naquela noite. Não gostava de pensar em tudo que Andromeda Leontius tinha passado, nenhuma menina ou mulher merecia passar por aquilo. Ela fora uma prisioneira, apenas não em uma prisão de pedras e com correntes em suas mãos, e eu sabia mais ou menos como era isso.
Senti um gosto amargo na boca e olhei para o lado, tentando distrair outra vez minha mente. Notei pela primeira vez que ali, entrelaçadas ao parapeito, haviam belas rosas vermelhas que exalavam um perfume doce; inspirei profundamente sentindo o aroma, e me aproximei das flores e as observei com mais atenção. Em Makedóvia haviam rosas vermelhas, muito parecidas com aquelas, crescendo em todos os espaços verdes que podia ver na cidade, e quando criança eu costumava pegar as rosas e levá-las para minha mãe e o restante das moças no bordel, isso as alegrava, apesar da vida difícil que levavam.
Lembrei de um dia, há tantos anos, eu devia ter uns nove ou dez anos, quando fora para Praça de Galenos pegar as rosas vermelhas, havia conhecido uma menina mais nova, ela devia ter talvez sete anos ou menos, e sabia fazer coroas com as flores. Não me lembrava muito dela, mas lembrava que fora uma boa companhia, e ela me ensinara a fazer coroa de flores para as mulheres do bordel.
No dia seguinte, quando eu voltei à praça, a garota não estava mais lá. Uma pena, havia feito uma coroa de rosas vermelhas e brancas apenas para ela, como agradecimento por ter me ensinado a fazê-las. Nunca mais a vi.
Estendi a mão e corri os dedos levemente pelas pétalas de uma das rosas, sorrindo levemente; rosas vermelhas era um dos símbolos ligados à deusa do amor, Pathiasména, e estas flores só cresciam nos lugares que ela permitisse que crescesse. Diziam histórias que ela usava os cabelos enfeitados com as rosas, cabelos em alguns relatos escuros como madeira marrom e em outros dourados como o sol.
Arranquei a flor e olhei para ela em minha mão; com um sorriso, me perguntei se a rainha Leontius iria gostar da rosa, afinal, após observar seu átrio particular nas duas vezes que passei por ele, não lembrava de ver alguma rosa vermelha por lá.
Saí da sacada e saí do quarto, começando a andar pelos corredores amplos e grandes, seguindo em direção aos aposentos de rainha Andromeda. Eu era bom em decorar caminhos rapidamente, portanto nunca me perdia pelo pálacio.
Dois soldados montavam guarda ao lado de fora da porta do salão particular de Andromeda, mas não barraram meu caminho, apenas continuaram com o olhar em frente; percebi que isso significava que ela própria tinha autorizado minha entrada quando precisasse. Entrei pela porta e a fechei em seguida, com cuidado.
Para minha surpresa, a rainha de Leontius não notou que eu tinha entrado, e permanecia sentada à sua mesa de costume, de cabeça baixa com a atenção voltada para um pergaminho que tinha em mãos. Tinha o cenho franzido, então supus que fosse algo importante ou más notícias.
Aproveitei o momento para observar Andromeda com atenção; o rosto estava pálido, como sempre, mas dessa vez não haviam olheiras sob seus olhos, sinal de que ela dormira muito bem com minha ajuda duas noites atrás, e isso fez um sorriso arrogante surgir em meus lábios. Os cabelos escuros estavam presos na altura da nuca, embora algumas mechas parecessem se soltar ao redor do rosto delicado de Andromeda.
Ela então ergueu o olhar, finalmente me vendo ali, seu rosto mudou para algo quase amedrontado antes de se transformar em um alegre.
— Basilides! — ela exclamou, com o sorriso que fazia as covinhas em suas bochechas ficarem evidentes — Você veio mesmo essa noite!
— Eu vim aqui apenas lhe entregar isso — falei, estendendo a rosa vermelha em direção a ela, conforme me aproximava da mesa.
Ela pegou delicadamente a rosa, correndo os dedos pelas pétalas cor de sangue. Sua expressão era suave e o sorriso permanecia em seus lábios.
— Eu tenho um jardim particular, bem aqui — ela fez um gesto para trás de si, onde havia o portal coberto por cortinas de seda — Vários tipos de flores crescem nele, menos as rosas vermelhas, que vem as que eu mais gosto — ela ergueu a cabeça, com simpatia no olhar — Eu agradeço.
Naquele momento, tive vontade de levar rosas vermelhas todos os dias para Andromeda Leontius. Ela permanecia olhando a rosa com admiração, quase carinho, e eu me aproveitei de sua distração para me aproximar do portal, e ali me apoiei, observando o jardim particular da rainha; era realmente muito bonito, com diversas flores e bancos de mármore, e mais além pude ver os outros aposentos, seus quartos particulares, onde jantara com ela uma vez.
— Você deve ter feito algo para desagradar Pathiasména, Andromeda — comentei, dando uma leve risada, querendo romper o silêncio — Não é possível que aqui no seu jardim não cresça uma rosa vermelha! — olhei a rainha por cima do ombro.
Andromeda Leontius retribuiu meu olhar, parecendo pensativa; mordia o lábio inferior e essa ação quase me distraiu.
— Pathiasména, a deusa do amor... — murmurou — Meu avô materno costumava dizer que havia conhecido Pathiasména, e que ambos haviam se apaixonado. Porém, ela partiu, é claro, deixando minha mãe recém-nascida com ele. — franziu o nariz — Meu tio contou essa história, ele não acredita, assim como eu.
Sorri para ela, tentando ser um pouco mais discreto na forma que a olhava.
— Com sua beleza, você bem que poderia ser descendente da deusa do amor — falei.
Andromeda sorriu, balançando a cabeça como se me incentivando a deixar o assunto morrer, e suas bochechas estavam adoravelmente rosadas. Deixou a rosa delicadamente sobre a mesa e se levantou.
— Vamos sentar no sofá, perto do fogo. Ficaremos mais confortáveis assim.
O sofá que ela se referia era o mesmo que deitara dois dias atrás, quando a visitei e a fiz dormir. Sentou-se primeiro, erguendo as pernas e as encolhendo, batendo em seguida no espaço ao seu lado, convidando-me a sentar bem ao seu lado.
A rainha estava com vestes de dormir, podia notar o vestido fino por baixo do robe de seda perolada; conseguia sentir o calor de sua pele quando nossos braços se tocaram, já que minha camisa era de linho fino. Seus olhos dourados voltaram-se para mim com expectativa.
— Você havia dito que tinha várias histórias que talvez eu fosse gostar de ouvir — ela lembrou — Se incomodaria de contar uma esta noite?
Quase não ouvi sua pergunta, prestando maior atenção na forma que seus lábios se moviam; respirei fundo, Andromeda era quase uma tentação para mim, com seu cheiro doce e pele quente.
— Conhece as Cidades Douradas, obviamente, não? — perguntei.
— Claro — ela riu — Você mesmo veio de uma delas, Makedóvia. Há várias eras todas formavam o antigo Império Greekiano, que se estendeu até essa Ilha...
— Como membro da Irmandade de Mercínia viajei por boa parte de Nótos, mas principalmente pelas Cidades Douradas — comecei — São lugares excêntricos para estrangeiros que as visitam pela primeira vez, preciso reconhecer. Uma parte de Aegos, por exemplo, é construída em forma de labirintos, sabia? Labirintos de pedra. Não se pode afirmar com exatidão quem os construiu ou quando...
— Eu li um livro que defendia sua construção como sendo na época do Império Greekiano — Andromeda parecia animada — Qual sua opinião sobre isso?
— Você leu Viagens Inacreditáveis, não? - perguntei, sorrindo — De Ptolameus
— Sim!
— Bom, essa é uma visão que muitos cronistas adotam, pois assim podem ter um ponto temporal fixo. Porém, o que os aegosianos passam em seu conhecimento popular é que toda a construção estava ali antes da expansão do Império Greekiano e, honestamente, acredito nisso.
— Por que? — ela estava realmente interessada.
— Por que a estrutura do labirinto possui diferenças sutis das demais construções greekianas — respondi — E também porque os ossos desenterrados por aquele lado da cidade eram grandes demais para serem humanos.
Andromeda empurrou meu ombro de leve com o seu.
— Não irá me dizer que acredita em gigantes — ela riu.
Sacudi os ombros, olhando seu sorriso; as covinhas novamente presentes.
— Eu não acredito — sorri abertamente — Mas que eles existem é verdade!
Novamente ela sorriu, balançando a cabeça. Ergueu a mão e coçou os olhos delicadamente, e eu precisei conter-me para não tocá-la; queria beijar todo seu pescoço elegante e seus ombros, sentir a maciez de sua pele com minha boca.
Respirei fundo.
— O que foi, Basil? — sua mãozinha quente segurou meu pulso — Você está bem?
— Eu quero beijar você — falei, sem pensar, encarando seu rosto.
Os olhos dourados se arregalaram, e ela ofegou; para meu alívio, não parecia ofendida.
— Eu quero beijar você — tornei a repetir, virando o corpo em sua direção — Daqui até aqui — corri o dedo indicador pela linha de seu pescoço até o ombro, e senti sua pele se arrepiar com meu toque.
Pude perceber claramente seu rosto se avermelhar, mas ela não parecia constrangida ou envergonhada, pelo menos sua expressão não mostrava isso; ela parecia quase... estar cogitando minhas palavras. Permaneci a observando e, lentamente, ela assentiu.
— Você... Você pode me beijar — foi o que disse.
Não me permiti tempo para ficar paralisado pela surpresa de sua resposta, e toquei seu pescoço suavemente com os lábios. Sua pele era quente, como eu bem sabia, e dessa vez eu senti minha própria pele esquentar conforme descia os beijos de seu pescoço para o ombro. Sentia sua respiração acelerada, mas ela não estava tensa, e senti sua mão pousar de leve em minha nuca.
— Eu me sinto estranha — ela falou, ofegante.
Parei de beijá-la, erguendo o rosto para olhá-la; os olhos estavam entreabertos e ela estava ainda mais vermelha.
— Estranha como? — questionei.
— Como... Como se eu... Como se eu estivesse com febre — sua resposta ingênua me fez sorrir — Mas sem o mal-estar que geralmente sinto.
— O que mais você sente? — beijei seu pescoço novamente, abraçando seu corpo contra o meu, trazendo-a para o meu colo e a mantendo de frente para mim, com uma perna de cada lado de meu corpo. Suas mãos macias se apoiavam em meu ombro e pescoço.
— Eu gosto quando você me toca — ela parecia não sentir que estava falando — Desde o início... Não sei explicar. Sinto-me completamente quente.
— Você nunca se sentiu assim antes? — perguntei, parando meus beijos.
— Não — sussurrou, agora me encarando nos olhos.
— Você já foi beijada desse jeito antes?
Andromeda ficou em silêncio por um instante, e então sua resposta veio, quase quebrando meu coração:
— Sim, mas não com minha permissão ou vontade.
— Eu sinto muito — sussurrei, e realmente sentia. E sentia a necessidade de protegê-la — Eu vou proteger você — falei, mantendo o tom de voz baixo — Ninguém irá lhe fazer mal, eu juro, matarei qualquer pessoa que queira ferir você.
Ela me observou por um momento, parecendo sentir a honestidade em minhas palavras. Fechou os olhos, respirando fundo, e então deitou a cabeça em meu ombro como uma viajante que finalmente achava repouso após tanto tempo sem descanso.
Deixei meus dedos acariciarem seus cabelos e senti quando ela respirou fundo; ficava quase lisonjeado quando percebia o quão bem Andromeda aceitava meus toques. Ali estava eu, com a rainha de Leontius em meus braços, mas sabia que nesse momento não éramos o Assassino e a Rainha. Nesse momento éramos apenas Basil e Andromeda.
Estranhamente, esse parecia ser o momento mais íntimo que eu já tivera com uma mulher. E nenhum de nós estava sem roupas!
Ela ergueu o rosto para me olhar, com alguns fios castanhos caindo pelos olhos, então as afastei com delicadeza. Andromeda me encarava curiosa e pestanejava devagar; coloquei a mão em sua testa, sua pele estava quente, o que me fez franzir as sobrancelhas.
— Acho que agora você está realmente com febre — falei — Talvez seja melhor...
Minha fala foi interrompida de uma forma que me deixou como uma estátua: Andromeda simplesmente tinha erguido um pouco mais a cabeça e me beijado. Na verdade, ela tinha os olhos fortemente fechados, e apenas tocava meus lábios com os seus próprios lábios quentes.
Tão rápido quanto veio o beijo, ela se afastou.
— Eu não sei o que deu em mim — ela disse, e parecia realmente confusa — Perdoe-me.
Apoiei minha testa na sua, agora era minha vez de sentir como se estivesse com febre, com Andromeda tão colada em mim; eu estava agindo como se fosse virgem, era vergonhoso e eu quase ri por isso.
Toquei seus lábios com os meus, muito levemente, segurando seu rosto entre as mãos e o guiando para a posição certa. Pressionei-me mais contra ela, e conforme a beijava mais profundamente, ela suspirou; na verdade, senti suas mãos subirem de meus ombros para meu rosto, ela estava trêmula, mas não tensa. Andromeda tinha um gosto doce, de uvas, e cada vez que minha língua tocava a dela eu a sentia estremecer.
Nos separamos, ofegantes. Enrolei uma mecha de seus cabelos em meu dedo, a olhando com um leve sorriso; linda. Andromeda era linda.
— Isso... Isso foi ótimo — suspirou, permanecendo a segurar meu rosto, olhando-me nos olhos.
— Que bom que gostou — sorri.
Ela voltou a aproximar o rosto do meu, beijando de leve meus lábios e não parou neles; desceu os beijos para meu pescoço, exatamente como eu havia feito no seu, surpreendendo-me.
— Andromeda...
— É assim? — sentia sua respiração conforme falava próxima ao meu ouvido — Estou fazendo certo?
— Certo até demais — contive um gemido quando ela apertou os braços e as coxas ao meu redor.
Segurei sua nuca e trouxe seus lábios novamente para os meus, guiando-a para mais um beijo intenso e notando mais uma vez sua inexperiência — que de certa forma apenas me atraía ainda mais.
Foi só quando paramos com nossos beijos que percebi que minhas mãos foram para dentro do fino vestido de dormir que Andromeda usava, erguendo-o, e agora eu alisava suas pernas; ela não parecia se importar, com os olhos fechados e lábios entreabertos, respirando fundo com as bochechas vermelhas.
— Eu... — pigarreei, tirando as mãos de onde elas estavam e abaixando as vestes de Andromeda — Eu acho melhor pararmos agora.
— Por que? — piscou os olhos cor de mel.
— Você precisa descansar — respondi, alisando seu rosto com a ponta dos dedos — Já está bem tarde.
A rainha pareceu querer dizer algo, mas acabou por assentir.
— Você está certo, eu... Acho que eu preciso descansar — mordeu os lábios.
Apesar de termos concordado nisso, ela não saiu de meu colo e eu voltei a beijá-la sem nenhuma hesitação; o cheiro doce que exalava de seus cabelos e de sua pele, os sons que ela deixava escapar pelos lábios entreabertos... Tudo isso era o suficiente para me deixar louco. Sentia suas mãos quentes acariciarem meu pescoço e meus ombros, enquanto eu abria seu robe de seda fazendo-o escorregar pelos ombros, permitindo que tivesse a visão do contorno de seus fartos seios, ocultado apenas pelo finíssimo vestido de dormir.
Andromeda apertou-me e ofegou quando desci meus lábios para essa região, remexendo-se em cima de mim; se eu quisesse tê-la nesse momento, ela se entregaria a mim, sabia disso. Mas não poderia fazer isso, não desta forma.
— Agora sim precisamos parar — falei, ofegante — Antes que façamos algo sem pensar direito.
Ela assentiu, concordando de olhos fechados, parecendo tentar acalmar a própria respiração.
Precisei realmente de muita força de vontade para me afastar de seu calor e da maciez de suas mãos e lábios e sair pela porta de seus aposentos, mas era o certo a fazer. Não poderia me aproveitar da inexperiência de Andromeda dessa forma, mesmo que tenha ficado praticamente claro que sentia por mim a mesma atração que sentia por ela.
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