Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

10. Águas Escuras

"Sim, tem algo misterioso, demoníaco e fascinante nela."

Liev Tolstói, Anna Karenina

⊹──⊱✠⊰──⊹

PALÁCIO DE LEONTIUS, PORTO REAL
REINO DE LEONTIUS

⊹──⊱✠⊰──⊹

FOGOS ESTAVAM ACESOS ALI NA grande e longa sacada, mas o vento noturno soprava, fazendo as chamas alaranjadas oscilarem levemente; permanecia segurando a mão da rainha, alisando seus dedos, sentindo como era quente. Quase... quase desejei poder sentir todo seu corpo para saber se ele era macio e quente como sua mão.

Respirei fundo, encarando o tabuleiro e movendo uma das torres, precisava parar de pensar dessa forma. Voltei a olhar o rosto gentil de Andromeda e me surpreendi ao constatar que já me encarava, com as bochechas vermelhas e os cabelos escuros bagunçados pelo vento.

— Para confiarmos um no outro, precisamos conhecer um ao outro honestamente — a voz era calma. Na verdade, era difícil sequer imaginá-la em um estado que não fosse calma constante.

Separamos nossas mãos, devagar. Sabia o que ela estava querendo dizer, desejava saber minhas origens e o que me levou até Leontius; por um lado eu não queria contar, não queria contar para ninguém, mas por outro... Andromeda tinha um jeito peculiar que fazia-me sentir tentado a contar toda minha história para ela.

— Não sei se me sinto confortável fazendo isso agora — decidi ser honesto, mostrando que havia entendido suas palavras.

— Eu compreendo — ela me lançou um sorriso.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, nos quais consegui capturar um de seus peões e ela capturou uma de minhas torres; tinha quase certeza de que Andromeda estava apenas sendo gentil comigo, evitando tomar minhas peças restantes e meu rei, acabando assim com a partida.

— Cresci aqui, nesse palácio — ela voltou a falar, surpreendendo-me — Meu pai era... Era como os deuses: sempre ocupado demais com outras coisas. Minha mãe era glamorosa, mas não gostava muito de mim, preferia meu irmão que era homem, pois era a prova de que ela gerara um herdeiro para o trono. Já o meu irmão, ele era dez anos mais velho e era a melhor pessoa do mundo. Costumava ler para mim sempre que eu ficava de cama por causa das crises de febre, e foi ele que me ensinou a usar o arco.

Observei-a; seus olhos de corça estavam distantes e saudosos, e seus lábios carnudos se curvavam em um leve sorriso, ela realmente devia ter amado muito o falecido irmão. Desci vagarosamente o olhar pelo seu pescoço, o vestido que Andromeda usava essa noite era simples, azul claro, e aberto em seu colo — o que permitia-me ter uma ótima visão quando ela inconscientemente se inclinava sobre o tabuleiro de xadrez.

Desviei os olhos antes que ela notasse o que eu andava analisando, esfreguei a nuca e tossi de leve. Ela me encarou com expectativa, como se aguardasse que dissesse ou perguntasse algo, então aproveitei minha chance para descobrir se era verdade o que ouvia nas ruas.

— Andromeda, você citou seus pais, mas, com todo respeito... pelas ruas diziam que alguns barões cuidaram de você. E também que você, bom, você os matou depois, juntamente com suas respectivas famílias...

O restante deixei no ar, ela iria entender.

Andromeda não estava mais sorrindo, agora tinha o rosto baixo e girava a torre entre seus dedos; um vento mais forte soprou contra ela, trazendo um leve aroma floral até mim, e me perguntei se vinham de seus cabelos. Quando ergueu as orbes douradas novamente, sua feição estava impassível.

— Quando eu tinha onze anos, houve um ataque nesse palácio — começou, após respirar fundo — Ele foi rápido, porém brutal. Meu pai teve sua garganta cortada, minha mãe foi estuprada e morta... E meu irmão morreu lutando contra 20 homens para me proteger. Estranhamente, minha vida foi poupada.

Fiquei em silêncio, sem saber se deveria dizer alguma coisa.

— Três barões chegaram aqui após tudo isso e ganharam a fama de serem meus salvadores, mas o que poucas pessoas sabem é que eles estavam por trás do ataque — desviou os olhos para o céu noturno — Não teria sido tão fácil essa invasão se não houvesse traidores. Como era uma menina não fui morta, não por compaixão, e sim porque era uma garantia para o trono. Uma ponte para o poder. O mais novo dos três foi o escolhido para se casar comigo e virar rei, então assumiu minha tutela e também o posto de regente. Ele passou a ser o senhor desse palácio e me confinou aos meus quartos, transformou-me em uma prisioneira em meu próprio lar durante cinco anos.

Andromeda fechou os olhos por um momento.

— Quando fiz doze anos ele ateou fogo e queimou todas as bonecas de pano que eu tinha, pois sabia que haviam sido presentes de meu irmão e eram meu consolo. Dizia que eu estava às vésperas de me tornar mulher, então não precisava de brinquedos de menina. A partir de meus treze anos, passou a visitar meu quarto. Ele gostava de me assustar, ele me toc... — ela pareceu engasgar, mas logo pigarreou — A cerimônia de nosso casamento ocorreu quando completei dezesseis anos. Sabia que ele seria arrogante o suficiente para beber de minha taça, a taça real, então despejei ali o líquido feito da erva-da-bruxa. Quando ele tomou o vinho, tomou também o veneno e após sufocar, caiu morto em pleno banquete.

Ela voltou a me encarar, os olhos cor de mel tristes e sem brilho.

— Ele foi o primeiro a morrer. Nesta altura eu já havia conhecido e me aproximado de Chrysaor e Eurynax, ambos me ajudaram a reunir homens de armas que seriam leais a mim, assim como possíveis espiões. Quando o segundo barão tomou o lugar do primeiro, dei o sinal para que Eurynax atirasse uma flecha em seu coração, uma distração para que os guardas leais a mim matassem os guardas dos traidores — dessa vez seu semblante endureceu — Com a maior parte de seus homens presos, o terceiro e último barão implorou por misericórdia e eu o mandei de volta para seu castelo. No dia seguinte, mandei que os arqueiros ficassem a postos para impedir a saída de qualquer pessoa da fortaleza, enquanto as catapultas se posicionavam. Derrubei seu castelo com ele e sua família dentro, até que não sobrasse pedra sobre pedra, assim como fiz com as outras duas moradias dos barões anteriores.

Ela encostou ainda mais na poltrona, levando a não ao rosto e esfregando a testa com a ponta dos dedos e respirando fundo. Era como se até mesmo a ação de falar tanto tomasse suas forças.

— Não me arrependo do que fiz, Basilides — pestanejou devagar — Se fizesse diferente, não seria justiça por minha família. Se demonstrasse compaixão naquele momento, com os três traidores, não teria conseguido respeito. Eu sou uma mulher e sou doente... em alguns casos, preciso demonstrar impetuosidade.

— Eu... Eu entendo. Realmente entendo — foi a única coisa que consegui responder.

Não sabia o que mais poderia dizer; sentia que haviam muitas coisas que ela não contara, não poderia imaginar o que ela, como uma menina na mão de traidores de seus pais, teria passado. Que tipo de coisas poderiam ter feito com ela.

— Entretanto, ao me sentar no trono sozinha, oficialmente tomando as rédeas de minha vida, escolhi trazer paz para Leontius. Resolver os conflitos internos e externos do reino — abriu os olhos, com um sorriso fraco — Estávamos por um fio de uma guerra com Vrachos, e rei Evios nos invadiu. Eu tinha quase dezoito anos e não tinha forças para lutar com armas, mas, modéstia à parte, sempre tive uma inteligência acima da média, gostava de ler sobre estratégias e viajei com meus homens, já conhecendo os mapas da região de memória, mostrando onde cada parte do exército deveria se posicionar, despachando batedores para espionar como o exército de Vrachos avançava e em quais direções. Não poderia lutar, mas poderia deixar que todos me vissem ao lado dos soldados. Que dissessem que eu era doente, mas não que era covarde.

O vento soprava mais forte, porém Andromeda não parecia se importar; estava perdida em seus pensamentos, parecendo recordar tudo o que me contava.

— E ali, diante de Monteverde, aos dezoito anos consegui uma grande vitória, e consegui um acordo de paz com rei Evios — seu sorriso aumentou um pouco mais — Naquele momento, senti como se pudesse viver por mil anos. E agora sei que não chegarei aos trinta — mexeu em algumas peças sobre o tabuleiro — Os vrachianos dizem que minha doença é uma vingança dos deuses por minha vaidade em ser monarca, um lugar tradicionalmente masculino, e contra a frivolidade de meu reino. Na visão deles, por pior que eu esteja, o castigo que me espera no inferno será ainda pior e duradouro. Se isso for verdade, será muito injusto — ela conseguiu dar uma risada.

Ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, ambos perdidos em pensamentos.

— Já está tarde — Andromeda falou, encarando-me com um sorriso cansado — Talvez seja melhor dormirmos um pouco, e da próxima vez que nos encontrarmos, você me contará sobre sua história, concorda?

— Sim, concordo — retribuí seu sorriso.

Ela me acompanhou até a porta e embora demonstrasse um pouco de dificuldade para andar, pois seus passos eram lentos, recusou educadamente a minha ajuda.

— Boa noite, Basilides — falou com gentileza, apoiando-se na porta — Durma bem.

— Boa noite... Andromeda — ela sorriu, ao me ouvir chamá-la novamente pelo nome.

━────────━━────────━

⊹──⊱✠⊰──⊹

PORTO DE VESSINA
TERRAS DO IMPÉRIO GAHERIS

⊹──⊱✠⊰──⊹

DURANTE A NOITE O PORTO ficava tão movimentado quanto de dia, porém, com a diferença de que os guardas estavam bêbados ou em bordéis, e ás vezes bêbados nos bordéis, o que facilitava muito o trabalho de ladrões, assassinos, ou espiões que precisavam sair depressa das terras do imperador.

Nerin Belevonis fazia parte da última opção, passara os últimos meses na capital do império, observando os representantes do exército, a impressão do povo, a forma como os governantes agiam. Se infiltrara no palácio e servira até mesmo a princesa. Mas agora estava na hora de ir para casa.

Seu lar era em Leontius, principalmente após Andromeda assumir o trono. Se precisava espionar, gostava que fosse para a rainha, ao menos era uma pessoa que respeitava. E também havia Chrysaor... foi surpreendente a forma como volta e meia sentia falta do senescal.

Escondida no andar superior da taverna, espiava pela janela; tirou uma madeixa de cabelo da frente dos olhos, estavam castanhos, mal via a hora de se livrar da tintura que vinha usando e voltar a ter os fios ruivos claros que amava. Cabelos ruivos chamavam muita atenção por aquelas terras imperiais, e atenção era uma coisa que não poderia atrair.

Se afastando rapidamente das cortinas antigas, se abaixou, retirando uma tábua solta do chão e pegando ali uma pequena sacola. Recolocou a tábua no lugar e pegou sua bolsa de couro, guardando a sacola ali, com cuidado, e em seguida passando a bolsa por seu ombro. Olhando mais uma vez para fora da janela e vendo o caminho limpo, passou as pernas para fora e desceu, caindo perfeitamente de pé.

O caminho até o navio que a aceitara estava livre, aproveitaria essa chance. O capitão estava lá, exatamente como haviam combinado, e ela o lançou duas bolsinhas com moedas de ouro antes de subir para dentro do navio. Iriam partir em breve.

Debruçou-se ali, sem tirar a bolsa de couro dos ombros, e se pôs a observar o mar; as águas pareciam negras, sem refletir nem mesmo a lua ou as estrelas, já que estas se encontravam ocultas pela neblina.

Aquelas águas negras seriam o caminho que a levaria para casa.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro