Capítulo 07: Irmãs
Kyoto, Japão. Século XXI. Tempos atuais.
O sol apareceu, alguns pássaros cantavam encolhidos nos galhos altos das árvores. Os raios solares invadiam o interior da casa na colina, acordando um de seus moradores.
— Vamos, irmã. Acorda! — Houka balançava Kaori para os lados.
—Calma... — resmunga.
— Calma nada! Eu quero lutar!
Houka agora tinha quinze anos, seu longo cabelo rosado tocava a sua cintura. Os olhos azuis dela brilhavam reluzindo a luz existente naquele espaço. Kaori sai da cama ainda resmungando, pois queria dormir mais. Ela tinha vinte anos, mesmo assim continuou com traços mais juvenis. Sentou-se na cama ajeitando o cabelo.
— Você devia prendê-lo como eu faço. — diz ainda sonolenta.
— Não! Eu gosto de deixa-lo solto. O cabelo preso dos lados é uma marca sua, não minha.
— Ora. — ria baixo. — Você pode usá-lo sempre que quiser lembrar de mim.
— Humpf... Não vou precisar.
As duas fizeram sua higiene pessoal e foram logo para o quintal da casa, vulgo o vasto campo atrás da colina. Houka ficou em posição de batalha, puxando uma carta dourada de seu bolso fitando a irmã. Já a azulada pegou uma varinha e sorriu de canto, sabia muito bem qual seria o resultado dessa batalha.
— Venha. — a irmã mais velha diz confiante.
— Tá bem!
A rosada apontou a carta para a garota. Nela havia o símbolo de um furacão, as bordas da carta reluziam em um tom dourado. Ela brilhou e de seu interior saiu uma enorme rajada de vento, ele cortava tudo por onde passava e ia em direção à azulada. Kaori esticou o braço direcionando a varinha para o ataque.
— Divina Obice!
Uma barreira dourada envolveu o corpo de Kaori, o vento foi facilmente dissipado quando entrou em contato com ela. A jovem sorriu vitoriosa e murmurou mais um feitiço.
— Electra Malfunction!
Houka foi presa em um campo elétrico, dando leves choques na rosada. Ela resmungava baixo sentindo o corpo doer. Logo, puxou outra carta de seu bolso e a colocou rapidamente no chão.
— Shoheki!
Uma cúpula verde formou-se ao redor dela, a eletricidade não conseguia penetrá-la. A rosada pegou outra carta e a jogou em direção à irmã. Na carta continha a imagem de alguns flocos de neve. Uma forte nevasca atingiu Kaori que recuou alguns metros, fechando os olhos protegendo o rosto com o braço.
— Mandou bem, manin... — ela para de falar quando abre os olhos e não encontra a sua irmã. Ela olha para os lados falhando em encontra-la até que escuta o barulho de asas batendo.
Kaori ergueu o olhar e encontrou Houka voando acima de sua cabeça. Ela estava com um belo par de asas douradas e em sua mão direita tinha uma carta com a imagem dessas asas. A rosada sorriu de canto puxando outra carta com a ilustração de chamas.
— Eien no hi! — a rosada grita lançando chamas douradas contra a irmã que não teve tempo de se defender. Ela é atingida rolando colina à baixo.
— Uau! Você está evoluindo, Houka! — Kaori exclama usando as mãos para desacelerar a queda até ela cessar. — Mas não é forte o suficiente para me derrotar.
A outra apenas piscava os olhos, confusa.
—Verum Speculis!
Vários espelhos prendem Houka em uma barreira, onde ela só conseguia ver o próprio reflexo movendo-se sem parar. Seus reflexos tinham vida própria e murmuravam palavras para confundir a garota. Ela girava, ainda voando, confusa e tentando encontrar uma forma de se desfazer do ataque. Quanto mais as vozes falavam, mais fraca a rosada se sentia. Então, um imenso raio a atinge, fazendo-a cair no chão com as asas queimadas que somem logo em seguida.
— D-Droga...
Ela sente uma imensa pressão sobre o seu corpo, como se a gravidade estivesse maior naquela região. Houka não conseguia se levantar e nem se mexer, totalmente imobilizada. A rosada erguia o olhar para a irmã que apontava a varinha em sua direção.
— Gravidade, maninha.
O peso sobre o seu corpo aumentava cada vez mais, sentia seus ossos doerem. Ela tentava resistir ao ataque mas era impossível, nem o ser mais forte de Terra seria capaz de lidar com isso.
— Eu... Eu desisto!
— Ótimo. — Kaori guarda a varinha desfazendo o seu ataque sobre a irmã. Aproximava-se dela com um sorriso sereno, onde esticava a mão em sua direção. — Você foi muito bem, maninha.
Houka ignora o gesto da irmã, sentando na grama e cruzando os braços.
— Eu fui patética como nas outras vezes.
— Não foi... — fala sentando ao lado dela. – Você conseguiu acertar dois golpes seguidos em mim, me surpreendeu com a carta das asas e também aperfeiçoou a sua barreira.
— Mas não foi o suficiente...
— Tem apenas cinco anos que você despertou seus poderes e já consegue fazer tudo isso. Admita que é incrível, muitas bruxas sentiriam inveja de você.
— Você... Acha?
— Eu tenho certeza.
Ambas se encaram e abrem um largo sorriso. Houka abraça a sua irmã deitando a cabeça no ombro dela, pensando se venceria a próxima batalha. Ela ainda se lembrava do dia que descobriu que tipo de bruxa era. Foi um dia inesquecível e o melhor de sua vida.
Flash Back On
Houka estava sentada na grama meditando, suas pernas cruzadas e uma pose de plena concentração. Estava de olhos fechados, sentindo a brisa erguer mechas de seu longo cabelo rosado. Ela começou a sentir a energia do ambiente se mover, sentia tudo ao seu redor e rapidamente abriu os olhos assustada.
— Eu consegui?
— Provavelmente. Senti seu fluxo de energia aumentar. — Maeka observa em pé de braços cruzados. Ela estava treinando a filha como sempre fazia. — Absorveu a energia da natureza?
— Não, foi algo diferente. Essa energia veio do meu interior...
— Energia vital. — a mulher conclui abrindo um sorriso gentil. — É uma das melhores fontes de energia, ela evolui junto com o usuário e pode chegar à limites jamais vistos.
A rosada sentia algo em seu bolso, colocando a mão dentro dele e tirando uma carta dourada de lá. Nessa carta havia o símbolo de um furacão.
— O que é isso?
— Uma carta mágica. Poucas bruxas armazenam seus poderes nelas. Você é uma bruxa rara chamada de Magical Cart. Pode absorver sua energia e transformá-la, através de rituais, em cartas que serão usadas quando precisar
— Isso é incrível! — Houka levanta-se encarando a carta com um brilho no olhar.
— Quer testar?
— Claro!
— Vá em frente!
A garota apontou a carta para frente, lançando uma rajada de ar que cortou uma árvore diante delas. Maeka batia palmas orgulhosa com o desenvolvimento da menor. Ela fez cafuné na rosada e chamou Kaori para que viesse presenciar a evolução da sua irmã mais nova. A azulada veio correndo e a abraçou.
Flash Back Off
O café da manhã foi animado como sempre. Maeka contava mais uma de suas histórias protegendo a floresta ao redor da cidade. Ela sorria feliz por ver sua pequena família reunida. Depois da morte do marido, suas filhas eram tudo que restaram. O tesouro mais precioso para uma mãe.
Porém, no meio da refeição uma garrafa atravessou a janela e caiu sobre a mesa da cozinha. Todas ficaram assustadas com aquilo.
— É um ataque? — Kaori pergunta desconfiada, já puxando a sua varinha.
— Não. — Maeka responde. — Tem uma carta aqui dentro.
Então, abriu a garrafa e pegou a folha de papel. A mulher levantou-se e caminhou pela casa enquanto lia a carta baixinho. As duas meninas se entreolhavam preocupadas e confusas. Pela expressão da mãe, não tinha nada de bom escrito ali.
— O que houve, mãe? — Houka pergunta se aproximando.
— Bruxas que usam magia negra estão nessa região. — Maeka diz com a respiração pesada. — Elas invadiram os arredores de uma montanha um pouco distante daqui e estão destruindo tudo. Acredito que chegarão na nossa floresta mais rápido do que imagino.
— Quem te disse isso? — Kaori questiona ainda sentada na cadeira.
— Uma antiga amiga. Ela me enviou esse recado para que tomasse cuidado e fugisse daqui com vocês.
— Então precisamos arrumar tudo logo, mãe. — Houka diz preocupada.
— Não posso fugir. O meu dever é cuidar dessa floresta e de todos que habitam nela. Não posso fugir e abandonar tudo que eu sempre lutei. Vocês precisam ficar aqui, eu irei até a montanha enfrentar essas bruxas.
— Você não pode! — exclama a azulada. — Nós precisamos de você, mãe...
— Não vá, não vá... — Houka abraça a mulher começando a chorar.
— Eu preciso. Vai ficar tudo bem, eu volto logo. Confiem em mim.
As duas irmãs ficaram apreensivas com a situação mas tiveram que aceitar. Maeka deu todas as instruções necessárias e disse para onde deveriam fugir caso algo acontecesse. Houka não parava de chorar baixinho enquanto Kaori concordava com tudo que a mãe dizia. Logo, a mulher beijou a testa das duas garotas e começou a voar usando uma longa capa prata. Ela ia em direção à montanha com um olhar determinado. Maeka é considerada uma bruxa forte e de grande potencial, por isso foi designada para cuidar da vasta floresta.
— Ela vai fica bem, né? — Houka murmura apoiando-se na janela e olhando o céu.
— Sim, vai sim. — responde fazendo cafuné na sua irmã.
(...)
Um dia havia se passado e nada de Maeka voltar. As duas garotas já estavam bem inquietas, andando de um lado para outro da casa. Kaori treinava alguns feitiços enquanto Houka analisava as suas cartas, desejando internamente ser mais forte.
— E se ela morreu...?
— Ela não morreu, Houka. Eu sinto que não morreu.
A rosada sentou em um canto da casa e abraçou os próprios joelhos, escondendo o rosto entre eles. Murmura baixo palavras de conforto para sua mãe, pedindo para que ela ficasse bem.
— Você está exagerando, Hou...
A fala da azulada foi interrompida pela porta sendo aberta bruscamente. Era Maeka. Ela estava cheia de machucados, hematomas e cortes profundos. O sangue escorria pelo seu corpo enquanto os olhos dela buscavam desesperadamente pelas filhas. A mulher aproximava-se lentamente e a cada passo dado mais sangue saía de seu corpo.
— Mãe! — as duas exclamam em uníssono.
Kaori segurava o corpo ensanguentado da mulher e a deitava no sofá. A azulada pega um kit de primeiro socorros e começava a tratar dos ferimentos da mãe. Houka puxava uma carta dourada com a imagem de várias esferas luminosas verdes. Ao ativar o poder dessa carta, as esferas saíam dela e flutuavam ao redor do corpo de Maeka.
— O que aconteceu? — Houka pergunta com lágrimas nos olhos enquanto usava a carta. Ela tinha o poder de curar os ferimentos, porém, o poder da garota só permitia curar ferimentos medianos.
— Elas... Elas são fortes demais... Precisam fugir... — sussurra cuspindo um pouco de sangue.
Kaori ficava calada tentando manter a calma. Terminava de fazer os primeiros socorros e lançava mais um feitiço de cura sobre a mãe. Fazia a mulher tomar um chá e logo ela estava dormindo. Ela suspirava baixo arrumando seu equipamento de luta em uma mochila de couro.
— Para onde vai, maninha? — pergunta a mais nova.
— Vou derrotar essas bruxas. Cuide da nossa mãe.
— Não! Eu não permitirei que vá sozinha!
— Houka, desit...
— Não! Eu não irei desistir. Somos irmãs e uma deve sempre cuidar da outra!
— Tá bem... — suspira. — Vamos.
— Isso! — sorria e pegava todas suas cartas, acompanhando a irmã logo em seguida. A sua atenção, por um momento, volta-se para a mãe deitada no sofá. — Ela vai ficar bem?
— Sim, ela está sob o efeito de dois potentes feitiços de cura. Deixei algumas ervas que auxiliam na coagulação ao lado do sofá. O sonífero que eu apliquei está em grande dosagem, deve nos dar entorno de cinco horas.
— Uau!
— Agora precisamos ser rápidas. – diz fazendo uma barreira ao redor da casa, protegendo a mulher.
— Como iremos até lá?
— Voando.
Houka entendeu o recado usando a sua carta especial para isso. Um par de asas dourada surgiu em suas costas e logo ela estava voando em direção à montanha. Kaori murmurou um feitiço antigo e seu corpo flutuou, seguindo a irmã. As duas conversavam, tentando montar algum plano fixo para a batalha que se aproximava.b
Elas não sabiam o quão perigosa aquela batalha seria mas precisavam arriscar suas vidas. Houka ainda era inexperiente e essa seria a sua primeira luta pra valer. Já Kaori tinha mais experiência pois acompanhou a mãe em algumas missões anos atrás. Em todo caso, elas precisavam dar o melhor de si para vencer.
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