Capítulo 04: Limites
Londres, Inglaterra. Tempos atuais.
Em uma das ruas movimentadas da cidade, uma moça estava na cafeteria observando as pessoas passeando. Ela tinha um longo cabelo negro tocando abaixo da sua cintura, pele branca e olhos vermelhos. Na mão, segurava delicadamente a xícara de chá mesmo que, quando chegasse em casa, vomitasse tudo. Infelizmente, seu corpo "imortal" não era receptivo com alimentos.
Ao seu lado estava uma garota de 15 anos, cabelos longos e vermelhos com as pontas laranjas, olhos azuis e uma pele levemente bronzeada. Ela usava um simples vestido branco e seu único acessório eram duas rosas brancas no cabelo. Seu nome é Felicity Lencastre. Uma Denker que foi expulsa de casa por seus próprios pais quando despertou seus poderes. Eles ficaram assustados e cogitaram a opção de pedir ajuda ao Vaticano.
— Mestra Emily, a senhora parece distraída.
A outra moça apenas a olhava de canto, os olhos vermelhos a fitando com tamanha intensidade que fez a menor recuar um pouco de seu assento. Pensou que receberia um castigo da sua mestre mas não foi o que aconteceu. Emily sorriu fraco, um sorriso morto para uma pessoa morta.
— Vai chover hoje.
— Como você sabe?
— Apenas sei. — diz calma, deixando o dinheiro sobre a mesa e se levantando. — Vamos.
— Sim, mestra!
As duas garotas começam a andar pelas ruas de Londres. Emily nunca imaginou que o mundo sofreria tantas alterações. O ser humano criou novas armas, além de um aparelho eletrônico que, na opinião dela, retardava a mente humana. As mulheres podiam usar calça, votar e lutar por seus direitos. Agora ocupavam cargos políticos e administravam muito bem o país.
Mesmo com as transformações ao seu redor, ela nunca se esquecerá daquele belo par de olhos negros que a prenderam de forma imensurável. A voz suave do rapaz e seu sorriso bobo. O amor, o verdadeiro amor, esse nunca será destruído com o tempo.
— Nicolas... — murmura distraída.
— Mestra?
Saindo do seu transe, sorria fraco para disfarçar.
— Nada, vamos logo.
O mosteiro continuou com a mesma estrutura que antes mas havia menos monges lá. Na verdade, só restaram cinco monges para cuidar do local. Os Denkers tornaram-se cada vez mais raros e muitos deles foram convertidos para Mentes Malditas. O desejo de poder transformou quase todos em usuários malignos do psiquismo. Por sorte, Emily, a mestra do local há um século, nunca teve problemas com os Mentes Malditas. Ela sempre protegeu toda a Inglaterra quando necessário.
— Eu espero despertar completamente os meus poderes, logo... — Felicity diz folheando um livro na biblioteca.
— E você irá, só precisa de um pouco de concentração. — Emily lia o final do livro sobre onisciência. Era o último de todos, finalmente sabia todas as técnicas do psiquismo. Mesmo assim, só poderia usar um número limitado por ser uma Denker.
— Você confia em mim...?
Emily caminhou até a ruiva em passos lentos, envolvendo-a em um abraço que, infelizmente, não foi quente por causa da sua pele morta e gelada. A moça acariciava o cabelo da aprendiz, puxando a cabeça dela contra o seu peito.
— Claro. Eu confio em você, Fel. Sei que irá ser uma grande Denker e, um dia, a mestra daqui.
— Eu?!
— Sim, eu pretendo me aposentar quando a minha missão aqui for concluída.
— E qual a sua missão?
— Eu não sei... — sussurra com um olhar vazio. — Vamos treinar, algo me diz que despertará os seus poderes hoje. Estou com um bom pressentimento.
E foi dito e feito, Felicity conseguiu despertar boa parte de seus poderes. Os olhos azuis dela ficaram vermelhos, a garota pulava de alegria enquanto as rochas ao seu redor flutuavam. A mestra batia palmas satisfeita com o desempenho da ruiva. Desde então, Emily dedicou vários meses para treinar Felicity. O treinamento era árduo mas fez com que a ruiva aprendesse mais rápido que os outros monges. O mosteiro ficou mais vazio, agora só restavam as duas garotas.
Certo dia, Emily sentiu uma forte dor de cabeça enquanto meditava. Sua mente entrava em colapso e ela viu tudo rodar. A realidade não era a mesma, as árvores e tudo ao seu redor começaram a sumir. Ela se levantou, cambaleando para os lados com a mão na cabeça, olhando para o chão. Tossiu um pouco de sangue enquanto uma voz penetrante invadia a sua cabeça.
Curve-se diante de mim, Emily Boorman.
Ela não sabia o que estava acontecendo mas tinha certeza que nada de bom viria a seguir. Os olhos vermelhos corriam por todo o jardim, procurando o dono dessa voz.
— Fel, venha rápido!
Felicity corria ao encontro de sua mestra, preocupada por causa do grito. A ruiva analisava a moça tentando descobrir o porquê da sua intensa dor de cabeça. Logo, a mesma voz invadia a mente dela.
Felicity Lencastre, seja a minha serva. Eu prometo ensiná-la todo o conhecimento que você merece.
A ruiva girava entorno do próprio eixo procurando o dono da voz, não encontrando ninguém. Ela piscava rapidamente os olhos, confusa com o que acontecia, sem perceber que sua mente estava sendo manipulada. Por outro lado, Emily rapidamente notou a diferença no comportamento da sua aprendiz.
— Fel...?
— Eu preciso.. matá-la...
Felicity esticava a mão para o lado e uma enorme rocha começava a flutuar. Ela ia de encontro à Emily em uma velocidade absurda. A mestra estalava os dedos e a rocha virava pó. A ruiva partiu para cima da sua mestra que apenas a paralisou com a mente, dando um peteleco em sua testa. Fel saiu do controle mental no mesmo instante, pois Emily tinha um imenso poder sendo considerada a Denker mais forte do mundo.
— Isso é um ataque... Quem poderia fazer isso? — diz para si mesma e mechas de seu cabelo negro começavam a flutuar. Uma redoma psíquica invisível protegeu todo o mosteiro, a presença das duas estaria oculta para quem quer que esteja querendo atacá-las.
— Mestra... — uma voz masculina e fraca soou atrás dela.
Emily puxou um revólver que estava preso em sua coxa, apontando para a testa do rapaz. Porém, abaixou no mesmo instante que reconheceu o rosto. Era William, o último monge que decidiu abandonar o mosteiro.
— Will? O que faz aqui? Pensei que já tivesse ido.
— Perdão, mestra. — ele fez uma reverência. — Eu não mereço pisar aqui novamente mas o mundo corre perigo.
— Como assim?
— Os Mentes Malditas fizeram um exército. São poucos, entorno de cem deles, mas apresentam um grande perigo para todos nós.
— Por que fariam um exército?
Felicity estava sentada na grama, acariciando a cabeça muito confusa. Ela olhou sua mestra pedindo desculpas silenciosamente pelo que aconteceu. Emily fez um leve cafuné na aprendiz e sorriu gentilmente. Nunca se irritaria com alguém tão doce como a ruiva.
— Acredito que a senhora conheça o chefe dos Mentes Malditas, Griffith Haylock. — William sussurrava olhando para os lados desconfiado.
Então, uma lembrança invadiu a mente da jovem.
— Já se passaram mais de dois anos e eu não estou em decomposição. — Emily diz flutuando de cabeça para baixo.
— Na verdade, está sim. — Ethan diz arrumando os livros da biblioteca. —Mas você se tornou mais forte nesses dois anos. O seu cérebro está transformando a decomposição em um processo mais lento.
— Isso é possível?
— Para alguém com uma capacidade ampla como a sua, sim. — responde Kalael entrando na biblioteca.
— Mestre, eu sou a única capaz disso?
— Não. Houve um Denker que veio dos mortos, ele chegou aqui todo machucado. As pessoas o feriram gravemente, acusado de bruxaria e outras atrocidades. Ele foi um ótimo aluno mas odiava ter suas capacidades limitadas. Certo dia, ele se rebelou querendo ser o mestre desse mosteiro. Eu tive que recusar pois em seu coração só havia egoísmo. Então, para controlar seus poderes, fui forçado a apagar algumas de suas memórias junto com seu conhecimento sobre determinadas habilidades e o expulsei daqui.
— Mesmo assim, o mestre teme que ele recupere as suas memórias. — completa Ethan. — E volte desejando vingança.
— O que ele pode fazer? — questiona Emily parando de flutuar, pousando delicadamente no chão. — Ele também está morto?
— Sim e também tem capacidade de controlar 100% de sua mente. — diz Kalael, suspirando baixo ao lembrar que perdeu um grande aprendiz. — O nome dele é Griffith Haylock. Ele comanda os Mentes Malditas.
— Nunca poderemos saber se é verdade, pelo visto. — dizia Ethan. — Ele está em um nível abaixo do nosso, sem as suas técnicas é um completo inútil.
— Algo me diz que um dia ele voltará... — Kalael murmura com um semblante distante. — Precisamos estar preparados.
— E nós estaremos, mestre.
A garota apenas observava o diálogo dos dois, confusa e sem entender a real ameaça que esse tal de Griffith Haylock representava.
— Não acredito que ele quer controlar todas as pessoas no mundo. Isso é tecnicamente impossível.
— Não para alguém que passou séculos treinando e pode usar 100% da sua mente. — responde William.
— Mesmo assim, é pouco provável...
— O Griffith absorve a energia dos outros Denkers, ele matou vários de nós por longos anos. Obviamente, não fez um massacre para não chamar atenção.
— Por isso que muitos monges daqui foram para o lado dos Mentes Malditas?! — ela deduz um pouco irritada. — Eles ficaram com medo de serem mortos e correram para o lado inimigo! Isso é deplorável!
— Sim, mestra. Precisamos fazer algo. Ele precisa do poder de mais um Denker e assim, com toda certeza, o Griffith será uma ameaça para a paz mundial.
— Quantos Denkers existem no mundo? — pergunta Felicity.
—Três.
— T-Três? O que faremos, mestra? Nós somos os últimos.
— Will e Fel, fiquem dentro da barreira. Ele não conseguirá quebrá-la. Eu irei enfrentar o Griffith.
— Não! Você não pode... É perigoso demais.
— Sim, não sabemos quantos Mentes Malditas estão do lado dele. Aposto que esse maldito camuflou mentalmente muitos de seus servos. — completa William.
— Não importa, eu farei o que for preciso. Faça os preparativos para a viagem, Will.
— Como desejar, mestra...
Quando William foi para dentro do mosteiro, Felicity se aproximou lentamente da jovem. Ela a encarava com lágrimas nos olhos, fazendo um biquinho de choro.
— Eu ficarei bem, Fel. — sorria acariciando o cabelo dela.
— Eu irei com você!
— Não pode, você mal aprendeu a usar os seus poderes.
— Mas eu...
— Fique, Fel. Quero que não saía dessa redoma, custe o que custar... — Emily a abraçava forte e secava as suas lágrimas. — Não posso perder mais ninguém...
— Mestra...
— Emily, me chame de Emily.
— Tá bem, Emily! Mas como vai descobrir onde o Griffith está?
— Ele invadiu a minha mente, eu irei retribuir. — a mestra abria um sorriso confiante e fechava os olhos.
Concentrava-se o máximo possível, ouvindo todos os pensamentos próximos até que a voz de Griffith voltava a impactar sua mente. Ele permitiu ser invadido, porém queria uma luta contra Emily. Pediu para que viesse sozinha, ela concordou mesmo não confiando nele. O homem deu as coordenadas necessárias. Antes de sair, a jovem sussurrou algumas instruções necessárias aos seus alunos e então vestiu a longa capa branca, dando as costas e começando a andar.
(...)
Centro de Londres, uma da tarde. As pessoas apressadas para suas atividades rotineiras, nem notavam os seres de capa preta que rondavam o local. Obviamente, camuflavam a sua presença diante das outras mentes. Griffith tinha cabelos brancos e bagunçados, usava óculos e uma longa capa preta. Aproximadamente, duzentos Mentes Malditas estavam ao seu redor, todos com os rostos cobertos por seus capuzes.
Finalmente, Emily chegava em passos lentos parando no meio da praça. Os olhos vermelhos da garota ficaram fixos no olhos de Griffith.
— Ora, ora. — Griffith comenta sorrindo de canto. — É uma honra ter a maior Denker de todos bem na minha frente.
— Saiam daqui e eu não irei atacá-los.
— Ela acha que tem chances contra a gente. — uma loira de olhos vermelhos ria alto.
— Calma, Katherine. Vamos prová-la quem está em desvantagem aqui. — o líder diz calmamente e aponta para um grupo de cem Mentes Malditas. — Ataquem.
O grupo ficava na frente da garota de capa branca. Eles estendiam suas mãos na direção dela e lançavam um raio psiônico, todos ao mesmo tempo. O raio era enorme e denso, locomovendo-se em uma velocidade acima da humana. Emily projetava a sua energia para criar uma barreira. O raio chocava-se contra a redoma que facilmente repelia o ataque. Os inimigos ficaram surpresos diante de tamanho poder.
— Isso vai ser divertido. — sussurra Griffith.
— Minha vez. — Emily diz calmamente.
A jovem desfazia a barreira, mechas de seu longo cabelo flutuavam ao ar enquanto seus olhos vermelhos estavam fixos no alvo. As árvores da praça começaram a flutuar, sua madeira foi quebrada de forma instantânea, formando várias estacas que estavam apontadas para os Mentes Malditas. Emily apontava para o grupo e logo as estacas iam em direção à eles em alta velocidade.
Os Mentes Malditas mal tiveram tempo de parar as estacas e descansar. A garota tinha se camuflado e aparecido entre eles em questão de segundos. Ela estalou os dedos e todos os duzentos começaram a ter uma forte asfixia. Eles se contorciam no chão tentando respirar, os olhos dela fixos em Griffith pois sabia muito bem quem era a verdadeira ameaça.
— Maravilhoso mas sei que não vai matá-los. Você jurou não machucar ninguém. — ele comenta rindo com desprezo à atitude da jovem. — Mas nós, Mentes Malditas, não temos limites.
Griffith controlava a mente das pessoas que andavam na rua. Muitas começaram a gritar e rolar no chão implorando para que parassem. Ele ordenou que todas cometessem suicídio e foi o que começou a ser feito. Pessoas pulando de prédios, batendo de carros, tentando se cortar ou se enforcar.
— Seu maldito!
— Eu sou a própria dor. Liberte meus servos e eu desfaço o controle mental.
Mesmo contra a sua vontade, Emily desfez a asfixia e esperou que Griffith cumprisse a sua parte do acordo. Porém, nada mudou. Ela mordeu o lábio inferior com raiva e fechou os pulsos com força, liberando mais de seu poder. O controle mental do homem foi anulado por ela que se aproximava em passos lentos.
— Você é desprezível.
Contudo, antes mesmo de atacar foi atingida por uma estaca enorme de madeira que atravessou a sua barriga. Katherine ria alto, feliz com o seu feito. Ela dava pulos de um lado para outro até que sentiu a sua cabeça doer como nunca. A loira tinha falta de ar apenas por causa da dor, começando a vomitar sangue sem parar.
— Danificação mental... — murmurava Emily tirando a estaca de sua barriga. — Espero que esteja aproveitando esse poder.
— Mesmo assim... — a voz de Griffith podia ser ouvida atrás da jovem. — Você não pode danificar a mente alheia, não é? Sei todas as regras dos Denkers. Então, vamos lá. Quero ver o quanto você suporta ver alguém sofrer.
A moça o olhou por cima dos ombros, incomodada com seu comentário e logo voltou a atenção para Katherine que se contorcia. A loira batia a cabeça na árvore, desesperadamente, implorando para que toda aquela dor sumisse. Infelizmente, Emily desfez o ataque olhando para baixo.
— Não desista, mestra! — Felicity gritava ao se aproximar.
— Fel? O que faz aqui? Eu te disse para ficar!
— Eu não podia deixá-la. Você passou longos anos sozinha, vendo todos indo embora. Isso é tão doloroso. Eu quero que saiba que eu sempre estarei com você.
Emily piscava os olhos, surpresa. Um sorriso bobo surgia em seus lábios.
— Então, temos mais uma para brincar! — Griffith dizia animado. — Katherine.
— Sim, meu senhor! — a loira, já recuperada, sorria de forma sádica. — Hora de brincar, ruivinha!
Feliticy foi jogada fortemente contra uma casa, destruindo sua parede. Emily gritou pela jovem mas não teve tempo para ajudá-la, pois estava cercada por vários Mentes Malditas bem irritados. Ela criou um redemoinho de areia usando a telecinese e cegou, temporariamente, boa parte deles. Paralisou a mente de todos os duzentos que tentavam atacá-la e, então, causou o retardo a mental. Eles ficaram retardados e incapazes de usar seus poderes.
Em questão de segundos, Griffith estava na frente da garota e segurava o seu crânio com força. Apertava-o com um sorriso frio enquanto Emily colocava a mão sobre o pulso deles. Os dois conversavam mentalmente, a jovem viu um pouco da mente obscura do homem. A sanidade dele estava em seu limite mas o mesmo não se importava com isso. Buscava apenas o poder supremo de controlar tudo e todos ao seu redor.
Ele começou a enfiar a sua mão pelo corte da moça, o mesmo corte feito no dia de sua morte pela espada de Richard. Ela cuspia um pouco de sangue olhando-o com o semblante frio. Isso causou uma admiração em Griffith, nunca imaginaria que veria alguém encará-lo de tal forma. Por não haver limitações, o homem começou a danificar a mente de Emily com o objetivo de enlouquecer a garota.
— Seu... Seu poder será a sua ruína... — ela murmurava com dificuldade.
— Será? Acho que você quer dizer o contrário.
— É o que veremos...
Ela tocava na testa dele, entrando em seu corpo por um curto período de tempo.
Emily possuía Griffith que, em resposta, se debatia em uma tentativa falha de se livrar da possessão. Ela fazia com que ele soltasse o seu corpo e depois, pegava o revólver preso à perna da garota e apontava para a própria cabeça. As duas mentes, que coexistiam no mesmo corpo, brigavam entre si.
Sua maldita! Eu não posso morrer!
Mas eu posso te retardar por um tempo, é o que eu preciso.
Emily, no corpo do homem, dava um tiro na cabeça e logo voltava para o seu corpo. Ela se levantava vendo o inimigo caído no chão com uma poça de sangue formando-se ao redor de seu crânio. Mal teve tempo de comemorar, pois sua mente foi invadida pelo inimigo que, mesmo fraco, ainda possuía um poder invejável.
Ela caía de joelhos gritando com as mãos na cabeça. O homem estava manipulando as memórias da jovem e a fazia reviver o momento de sua morte inúmeras vezes. Também fez com que ela lembrasse de Nicolas a chamando de monstro. Emily sentia-se cada vez mais vulnerável, mentalmente.
Do outro lado, Felicity criava uma mini barreira para repelir os vários bancos que Katherine jogava. A loira era uma verdadeira psicopata e fazia de tudo para causar dores de cabeça na oponente. A ruiva resistia o máximo possível, erguendo a mão para o lado e puxava uma árvore com a telecinese jogando-a nela. Katherine partia a árvore em dois sem problemas, também usando a telecinese.
— Desista, ruivinha.
— Nunca!
Felicity causava uma leve ilusão na loira, fazendo-a pensar que a ruiva estava quase desmaiando. Essa foi a deixa para a garota sair correndo dali e ir o mais rápido possível ao encontro de sua mestra. Ao chegar no centro da praça, ficou boquiaberta vendo o corpo de sua mestra repleto de cortes, totalmente desfigurando. Rapidamente, ergueu o olhar para Griffith e correu abraçando Emily.
— Não permitirei que a machuque!
— Acha mesmo que pode me deter? — diz com desdém enquanto removia a bala da cabeça. — O que pode fazer?
Felicity não podia negar que seria inútil enfrentar Griffith, ela apenas abaixava a cabeça e seu corpo, junto com Emily, começavam a flutuar. Em um movimento rápido, elas estavam voando em alta velocidade de volta ao mosteiro.
— Devo segui-las? — pergunta Katherine se aproximando. O desejo por ver sangue crepitava em seus olhos vermelhos.
— Não. Mande qualquer outro servo mas irei recuperar o desenvolvimento mental deles antes. — desviava a sua atenção para os homens caídos no chão. — Ela fez isso sem esforço, temos sorte que seus poderes são limitados por meras regras.
(...)
Felicity andava de um lado para outro preocupada enquanto William costurava a pele da mestra que já se recuperava em um ritmo extraordinário. Emily estava de cabeça baixa, sem aceitar o próprio fracasso.
— Eu pensei que seria capaz de detê-lo.
— E você é, mestra. — responde William. — Só precisa achar um meio de acabar com o controle mental dele.
— Vamos dar um jeito, Emily! — Felicity diz abrindo um leve sorriso.
Mas nada disso acalmava a mente da jovem. Ela sentia-se decepcionada consigo mesma, conhecia o próprio potencial mas ficou tão limitada. Não queria danificar a mente de ninguém, nem de seus inimigos. Fez um juramento sobre usar os seus poderes para o bem.
No outro dia, o Sol mal subia a colina e um tremor atingiu o local, quase fazendo as estruturas desabarem. Felicity correu para fora e encontrou um Mente Maldita destruindo o local aos poucos usando a telecinese. A ruiva pensou em reagir mas logo a capa preta dele envolveu ao redor do próprio pescoço, enforcando-o de forma lenta e dolorosa. A garota ficou confusa e olhou para trás vendo Emily controlar aquela capa. O homem esticava a mão em direção à mestre, porém apenas conseguiu puxar a capa branca dela que caiu entre os dois. Em poucos minutos, ele já estava morto e sua capa preta voava ficando ao lado da branca.
— Eles sabem onde estamos... — Fel diz surpresa e assustada, tanto pelo ataque quanto por presenciar sua mestra matando alguém friamente. — Emily, o que você fez foi certo?
William aparecia ficando boquiaberto com a cena.
— Mestra, não deveria ter feito isso.
— Certo ou errado, tanto faz. — Emily respondia friamente caminhando até o corpo, seus olhos vermelhos brilhavam mais do que nunca refletindo os raios solares. — Nós dedicamos nossa vida para proteger o mundo mas isso é impossível com tantos limites. Está na hora de quebrar as barreiras da mente.
— Isso quer dizer que você vai...
— Sim.
Emily tinha uma determinação no olhar que assustaria qualquer um, seus passos eram lentos e calculados em direção à capital. Ela usava a telecinese para fazer a capa preta flutuar e ficar presa ao seu corpo. O semblante da jovem havia mudado muito pois finalmente entendeu que conter o seus poderes era a pior escolha. Não adiantava mais esconder seu talento se o preço de seguir as regras fosse alto demais. Ela recusava-se à perder alguém importante, não mais. Agora iria atacar com força total e não se importaria em arcar com as consequências. Ser uma Mente Maldita era menos doloroso do que perder a única coisa que a fazia sentir viva.
— Se o Griffith quer quebrar as regras, vou ensiná-lo como se faz.
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