Capítulo 36: Primeira missão em equipe
Com o passar das semanas, Aisha e Houka tornaram-se grandes colegas de sala. Às vezes, uma ajudava a outra em matérias as quais tinham dificuldade. A rosada sentia-se bem por ter alguém gentil para conversar, mas também não escondia o seu desejo em ser amiga das garotas de sua equipe.
Enquanto caminhavam em direção à sala, Houka abraça com força o livro contra o peito e solta um longo suspiro.
— Está tudo bem, Houka-chan? — pergunta Aisha preocupada. — Você parece distraída ultimamente.
— Queria que meu grupo fosse unido como o seu mas parece algo tão impossível.
— Nada é impossível! Não perca a esperança nelas, tenho certeza que irão se dar bem algum dia.
— Só não queria que demorasse tanto... — murmura.
Esperando uma resposta da sua colega, surpreendeu-se quando ergueu o olhar e deu de cara com Satiko. Ele também parou de andar, engolindo seco levemente corado ao vê-la diante de seus olhos. No exato momento, seu coração disparou e começou a suar frio. Desde sempre, era péssimo em conversar com garotas. Ignorando todo o clima tenso, Aisha continua a caminhada com um sorriso de canto, decidida a deixá-los ter um momento à sós.
— O-Oi, Houka.
— O-Oi, Satiko-san. — dizia timidamente, abaixando o olhar. Ela também corou com tamanha aproximação. — Tem aula de que? S-Se me permite perguntar.
— Combate físico. — responde sem jeito. — Não sou muito adepto à lutas assim, mas eles nos forçam a ficar na real forma. Então, espero que não seja um problema.
— V-Você consegue se transformar em lobisomem mesmo não estando na lua cheia?!
O loiro solta uma risada descontraída, subindo os óculos que escorregavam por seu nariz.
— Isso é um mito. A verdade é pouco conhecida mas nós, lobisomens, podemos ter controle total da nossa transformação; só é preciso ter uma boa saúde mental, eu diria.
— Eu entendo. — disse sorrindo. — P-Pode me acompanhar até a sala?
Ele ficava surpreso, corando mais do que já estava e balançando positivamente a cabeça.
— Será uma honra.
Os dois começaram a caminhar pelos corredores, desenvolvendo uma conversa sobre as curiosidades de sua raça. No fundo, Houka temia contar sobre o pacto feito pois não queria afastar ninguém ao seu redor. E, como não pretendia usar esse poder novamente, preferiu manter-se em silêncio.
Quando chegaram na sala, Satiko inclinou o corpo segurando a mão da garota e depositando um beijo na região. Ela ficou vermelha, abaixando o olhar sem jeito e lançando um sorriso tímido; tal sorriso que "derreteu" por completo o coração do jovem.
— Você é tão linda... — ele murmura distraído.
— H-Hã?
— N-Nada.
Fazendo uma breve reverência como despedida, Satiko segue o seu caminho em direção ao campo de batalha. Enquanto isso, Houka senta ao lado de Aisha quase desmaiando de tanto nervosismo. Ela hiperventilava, usando a aba do livro para abanar o seu rosto vermelho. A outra garota apenas riu, achando graça da reação de sua colega.
Do outro lado do colégio, Kazaki e Megumi travavam uma intensa luta corporal. Como ambos haviam a mesma grade em relação às matérias físicas, tinham aula em horários iguais na maior parte do tempo.
O jovem avança contra Megumi, tentando uma rasteira mas ela dá um mortal. Ao pousar no chão, tenta um chute giratório localizado na cabeça de Kazaki. Porém, ele segura o seu pé no ar e a leva ao chão. Para a surpresa dele, a garota consegue ficar de pé com um mortal para trás e, consequentemente, chutando-o durante o processos.
Dando um impulso com os joelhos flexionados, Megumi aparecia na frente do oponente e começa uma série de socos constantes em alta velocidade. Por mais que ele tenha defendido os primeiros golpes, acabou sendo acertados pelos demais devido à agilidade da jovem. Ao vê-lo recuar devido à força do último soco, concentrava a força nos músculos das pernas para aparecer atrás do rapaz.
Por fim, chutava sua costela com toda a força que possuía e o observava voar para o outro lado do campo, atravessando a linha vermelha.
— Megumi vence! — o juiz, e professor, anuncia erguendo o braço.
Mesmo perdendo, Kazaki limpava o sangue do canto da boca com um sorriso de canto. Após ver Megumi em batalha, criou uma pequena admiração pela garota e não podia provoca-la como fazia ultimamente – pelo menos, tentava se segurar.
— Deve ter roubado. — ele comenta ao se aproximar.
— Sabe muito bem que joguei limpo, Kazaki. — Megumi se defende, olhando-o seriamente.
Logo, ela começava a andar em direção à academia A. Nesse colégio, havia duas academias: A e B. A primeira era direcionada à criaturas com força física acima de uma tonelada, onde os aparelhos possuíam um peso adequado para elas. A segunda era para os seres inferiores, assemelhando-se a uma academia comum.
Ao chegar no local, Megumi esticava os braços sentindo os ossos estralarem. Acompanhando a jovem, Kazaki aparecia logo em seguida e sentada em um banquinho, pegando um alteres em seguida.
— Um demônio jogar limpo? Poupe-me, Megumi.
— Haha. Nem todos são desgraçados como você, Kazaki.
Os dois se provocavam mas nenhum se sentia realmente ofendido com as palavras do outro. Pelo contrário, essa era uma forma peculiar de conseguir inspiração para se tornar forte.
Ela deitou em um aparelho, apoiando as pernas em placas de metal e começando a subir um peso de duas toneladas usando apenas os membros inferiores. Kazaki não conseguia levantar mais de uma tonelada e meia, por isso ficava irritado ao vê-la fazer isso com tamanha facilidade.
Ela está acima de qualquer demônio que eu já vi, pensava.
Porém, deixando de lado as provocações, o rapaz deitava no aparelho ao seu lado enquanto erguia os alteres com os músculos braçais.
— Como vai o desenvolvimento do seu grupo?
— Isso não te interessa. — ela responde seca.
— Que rude. — fingia estar magoado. — Deveria ser mais doce com as pessoas.
Megumi lançava seu pior olhar, voltando a se concentrar unicamente nos exercícios. Depois de longos minutos de silêncio, ela resolve falar:
— Todos são distantes. Eu não ligo para isso, mas parece que há pessoas incomodadas com tal fato.
— E tem como não se incomodar? — Kazaki questiona deixando o peso de lado, o suor escorria por seu corpo musculoso. — Um grupo precisa agir com união, caso contrário irá fracassar.
— Eu posso muito bem cuidar de qualquer criatura sozinha!
— Então, todas as criaturas que já enfrentou nesse colégio foram derrubadas sem ajuda?
Antes mesmo de Megumi abrir a boca para responder, lembrou do estranho inseto que a atacou no pátio do colégio e como Houka a protegeu com sua barreira. Se não fosse pela bruxa, já estaria morta.
— Cala a boca, idiota.
— Acho que já encontrou a resposta. — ele sorri de canto.
Kazaki ficava de pé, tirando a camisa por causa do calor desconfortante do local. O suor escorria de seus ombros largos, descendo pelo peitoral definido e percorrendo a barriga, passando pelos gomos. Era perceptível a barra de sua cueca preta, colada ao quadril largo. Passando a ponta dos dedos pelos fios de cabelo, alguns deles caíam perfeitamente sobre seu rosto. A luz do sol que invadia as janelas tocavam seus piercing's, causando um certo brilho no metal.
— Vai deixar a baba cair, Megumi. — ele comenta olhando o horizonte.
— E-Eu não estava olhando! — ela responde corada, virando o rosto para o lado.
— O que acha de uma competição?
— Como assim?
— Vamos ver quem é mais forte fisicamente.
— Perfeito!
Como não conseguia negar um desafio, ela acaba aceitando e tira sua camisa animada. O suor também escorria seu corpo, passando pelos fartos seios e a barriga definida. Sua cintura era fina e proporcional ao restante do corpo. Prendendo o cabelo em um rabo de cavalo apertado, ela erguia o olhar para o oponente com determinação.
Contudo, Kazaki precisou enrolar a camisa ao redor da cintura se não quisesse entrar em maiores complicações. Então, respirou fundo ocultando o rosto corado ao olhar para o outro lado e pegou um alteres, possuindo a mesma determinação que sua adversária.
(...)
Apesar do bom condicionamento físico, Kazaki acaba perdendo para a força brutal de Megumi. Os dois ficam deitados no teto da academia em silêncio, apenas fitando um ponto aleatório enquanto o som de suas respirações ofegantes ecoava pelo local. Virando o rosto para o lado, a jovem sorria vitoriosa para o rapaz e esse sente um aperto no coração.
— S-Saia, idiota. — ele resmunga corado.
— Você não é o dono daqui!
— Mas eu estou te expulsando, então pode ir saindo!
— Ora, seu...!
Megumi estava pronta para partir para cima de Kazaki até que uma mão a segura. Parando o movimento, ela olhava por cima dos ombros até dar de cara com Manami. A ruiva sorria maliciosamente, abaixando seu corpo e apoiando ambas as mãos nos seios fartos de Megumi.
— Hum... Tamanho G, interessante.
— T-Tire as mãos daí! — Megumi exclama se afastando e ficando de pé.
— O que? Você está sem camisa, pedindo para ser tocada.
— Quer brigar?! — dizia após vestir a camisa.
— Manami. — Kazaki a repreende.
— Melhor você ir logo. — a ruiva responde cruzando os braços. — A diretora anunciou que haverá missões para os grupos.
Arregalando os olhos surpresa, Megumi sai dali em passos apressados sem ao menos olhar para trás. Manami senta ao lado do seu colega de quarto, fitando o próprio reflexo no espelho da academia.
— As pessoas são tão complicadas... — murmura.
— Ainda não desistiu de compreender o mundo, Manami? Que tola. Não me diga que busca ser aceita?
— Claro que não. Eu, como serva de Lúcifer, não irei me rebaixar para a merda da sociedade.
— Assim que se fala. Então, parece que temos outra missão.
— Eu já convoquei a Aisha e o Satiko. — Manami comenta, aproximando-se do rapaz e quase tocando os seus lábios. — Mas acho que uma transa para relaxar não mata ning-...
Sua fala é interrompida pela mão de Kazaki segurando seu rosto, apertando-o até que um biquinho se forme em seus lábios. Franzindo o cenho confusa, Manami observa seu colega ficar de pé e começar a andar para fora da academia.
— As coisas mudaram, Manami. Perdão...
(...)
A diretora anunciou a cada grupo, separadamente, qual seria a sua missão. O último grupo a entrar era pertencente à Megumi, pois as quatro ficaram em último lugar – ou seja, em trigésimo.
Quando entraram na diretoria, Megumi não deixou de observar o semblante preocupado de Kasami. A mulher analisava, através da janela, todo o colégio com o olhar direcionado aos seus alunos. Suas mãos estavam apoiadas nas costas em uma postura militar e o lábio contraído.
— Finalmente chegaram. — comenta sem desviar o olhar do colégio. — Vocês possuem uma simples missão: obter a pedra do poder.
— Pedra do poder? — Houka franze o cenho. — O que é isso?
— Um artefato que permite ao usuário aumentar seu poder, tanto físico quanto mágico. Ele está sob a proteção de goblins.
— Incrível! — os olhos de Emily brilham ao imaginar um artefato desse tipo.
— Ele está localizado no centro de Tóquio, dentro de um museu de artefatos antigos. — Kasami explica virando-se em direção às garotas. — Não falhem, mesmo sendo a primeira missão de vocês.
— Não iremos. — Megumi responde decidida.
Optando por permanecer calada sobre tal assunto, Kasami dá as informações necessárias e as dispensa para iniciar a missão no outro dia.
Durante à noite, elas ficaram inquietas tanto por ser a primeira missão oficial quanto pelo medo de fracassar. Como sempre, Ririchiyo adormeceu no banco do pátio pois se recusava a estar no mesmo quarto que o seu grupo.
Ao amanhecer, as quatro garotas já estavam dentro de uma carruagem em direção à Tóquio. Houka organizava as suas cartas antes de colocá-las presas ao coldre enquanto Megumi observa o reflexo na própria lâmina da espada. Ririchiyo estava com os olhos fechados, mantendo a expressão séria de sempre.
— Estou com medo. — Emily anuncia.
— De que? — Megumi questiona erguendo o olhar para a denker.
— Da gente nunca se tornar uma equipe.
— Por que tanta preocupação?
— Porque nós somos fortes juntas! — ela responde. — Vocês precisam perceber isso, até eu que sou lerda percebi. Eu não acredito que a Kasami-san nos escolheu aleatoriamente para formar uma equipe. Pensem comigo: por que todas as equipes se dão perfeitamente bem menos a nossa?
— Eu não sei... — Houka murmura. — Mas eu realmente queria me dar bem com vocês! Não precisamos ser amigas mas temos que agir como uma equipe.
— A Kasami-san não pode ter errado. — explica Emily. — Principalmente, um erro tão visível como esse.
— Está dizendo que ela sabe de algo que pode nos unir mas ainda não pensou em uma maneira de usá-lo? — deduz Megumi.
— Pode ser. Porém, antes precisamos ser uma equipe.
A carruagem parava de andar e Megumi abria a porta, descendo com as demais a seguindo. Ao parar na frente da cidade, sentia a brisa morna da manhã tocar seu rosto.
— Eu não sei muito bem se...
— Por mim, tudo bem. — Ririchiyo se pronuncia, deixando as outras surpresas. — Eu, particularmente, prefiro lutar sozinha mas percebi que iremos enfrentar oponentes desconhecidos daqui para frente. Só há dois tipos de oponentes que eu não luto: aqueles que não possuem medo de morrer e aqueles que desconheço.
Deve ser por isso que ela não me matou naquele momento, pensa Megumi.
— Isso! Vamos trabalhar juntas! — Houka dizia animada.
— Certo, certo. Pelo visto, eu não tenho muita escolha. — resmunga a demônio.
— Então, precisamos de algum tipo de marca. — sussurra Emily.
— Como assim?
— Uma marca só nossa, como se demonstrasse que nossa equipe entrará em ação!
— Não me venha com babaquices. — dizia Ririchiyo.
— Já sei! — exclama a denker.
Emily esticava o braço com a palma da mão aberta e virada para o chão. O brilho em seus olhos vermelhos não ocultava o desejo da garota. Houka foi a primeira a entender o recado, colocando a sua mão sobre a mão da denker. Revirando os olhos, Ririchiyo imitava o movimento colocando-a sobre a mão da bruxa. Por final, Megumi fazia o mesmo apesar de ser à contragosto.
— Vamos! — Emily exclama animada erguendo a mão e, consequentemente, fazendo as demais imitarem o seu movimento. — Agora somos uma equipe, não é?
O seu sorriso de alegria trouxe esperança para as três que, até então, pensavam que não poderiam trabalhar juntas. Houka abraçou a amiga de lado, acenando positivamente a cabeça enquanto Megumi dava nos ombros, sorrindo fraco. Ririchiyo apoiava as mãos na cintura, ignorando a comemoração e focando na enorme cidade à frente. Logo, questionava:
— Algum plano para obter a pedra?
— Eu tenho um. — Emily se pronuncia. — Passei a noite inteira criando estratégias. Como não sou boa em lutas, ao menos quero servir como um suporte para vocês.
— Conte-nos, Emily-san!
— Houka-san é um ótimo suporte. Na noite passada, pedi para analisar todas as suas cartas e percebi que seu trabalho nessa função seria muito útil caso necessário. Eu também quero agir como suporte, mas temo ser um trabalho perto da Houka.
— Por que? — Megumi questiona confusa.
— Se eu, como suporte, me ferir posso dar um trabalho desnecessário para ela. Por isso, sugiro que nós trabalhemos em duplas na primeira parte do plano. Vamos neutralizar o inimigo e nos reunir no interior do museu para entrar no segundo plano.
— Segundo plano?
Desta vez, é Ririchiyo que demonstra curiosidade.
— Vamos sobreviver ao primeiro e depois eu conto o resto.
Então, Emily começa a gesticular enquanto explicava detalhadamente sobre o plano. As três garotas prestavam atenção e concordavam com a lógica usada pela denker. Para uma garota lerda, ela conseguiu superar seu conhecimento em tão pouco tempo.
Ao final, elas se dividiram em duas duplas: Megumi e Houka; Ririchiyo e Emily. Quando as quatro tentam avançar são surpreendidas por um grupo de dez goblins verdes e de tamanho mediano, eles seguravam adagas em suas mãos. Nas laterais da entrada da cidade, haviam globlins atiradores com seus arcos e flechas em mãos. Por trás delas, três globins gigantes usando armaduras negras e duras se aproximavam. Eles seguravam um machado em uma mão e uma espada pesada em outra.
— E-Eu não previ isso. — Emily dizia assustada.
— A diretora nos alertou que essa pedra estaria sobre o poder dos globins, mas não imaginei que lidaríamos com um ataque organizado. — comenta Megumi.
— Nós vamos conseguir passar! — Houka sorri animada. — Estão vendo os dez globins na frente? São bons apenas em ataques à longa distância e os arqueiros, mesmo com o tiro certeiro, não sabem lutar fisicamente e os brutamontes lá atrás atacam aleatoriamente. Em outras palavras, temos brechas para avançar.
— Então, eu e a Ririchiyo-san vamos avançar pela primeira horda e vocês duas cuidam do resto. — dizia a denker e as demais concordam com a cabeça. — Vamos!
Em um piscar de olhos, Ririchiyo atravessava o grupo de dez globins apenas apoiando a mão sobre a bainha da espada. Seu movimento foi imperceptível à olho nu, mas notaram a efetividade quando todos eles caíram no chão mortos e cheios de cortes por todo o corpo. Emily aproveitou a brecha para segui-la e deixar o restante para as demais.
Megumi avançava contra os três globins de armadura, puxando sua espada e começando uma batalha com eles. O primeiro tentava cortar sua cabeça mas a garota abaixava o corpo, girando-o ainda no chão e cortando as pernas do oponente. Mesmo com a armadura dura, a lâmina conseguiu atravessá-la sem dificuldade. Logo após, ela ficava de pé e bloqueava um ataque do segundo oponente. Porém, recebeu um corte nas costas do terceiro e grunhiu de dor.
Caindo de joelhos com o sangue escorrendo pelas costas, ela jogou o corpo para o lado desviando as espadas e se levantou com agilidade. Por possuírem um ritmo lento, os globins não conseguiram acompanhar a forma rápida como Megumi manuseava a espada. Ela bloqueava todos os golpes e ainda revidava – mesmo estando em desvantagem de número – até que todos os oponentes estivessem no chão. Quando ia se virar, um globin caído tentou golpear suas pernas antes de morrer mas uma rajada de vento o atingiu.
Virando-se surpresa, a garota encarou Houka segurando uma carta com um sorriso gentil. Porém, a bruxa foi atingida por uma flecha na perna e gritou de dor, quase caindo no chão. Mesmo com a região latejando ela se manteve em pé, criando um escudo roxo sobre as duas.
— Woah, magia negra é algo legal. — comenta Megumi.
— Eu prefiro magia branca mas nunca mais a usarei...
— Por que?
— É uma longa história. — sorri forçado tirando a flecha da perna.
As flechas continuaram a ser lançadas de direções aleatórias mas nenhuma conseguiu atravessar o escudo. Ajoelhando-se cuidadosamente, Houka puxou outra carta e uma luz roxa brilhou sobre o ferimento. Lentamente, ele desaparecia arrancando uma expressão surpresa da outra garota.
— Não posso manter esse escudo para sempre, Megumi.
— Eu sei, eu sei. — resmunga. — Ataque o grupo da direita e eu atacarei os da esquerda.
— Combinado.
Quando a barreira é desfeita, Houka avançava contra um grupo já puxando sua carta. Ao apontá-la para os oponentes, um forte raio roxo os atingia até imobilizá-los por completo – não podia matar porque ia contra os seus princípios. Do outro lado, Megumi girava o corpo graciosamente segurando a espada, cortando os oponentes com facilidade mas recebendo algumas flechadas durante o processo.
Uma por uma, Megumi retirava as flechas de seu corpo enquanto resmungava baixinho alguma coisa. As duas sorriam levemente até sentirem uma pressão assombrosa, virando-se em direção às duas criaturas que se aproximavam.
Elas eram verdes e pequenas como uma criança, pareciam globins mas usavam um manto preto e tinham a cabeça de esqueleto de boi. Segurando um cajado de madeira, o topo parecia a cabeça de algum demônio e os olhos eram rubis vermelhas. A cauda verde balançava de um lado para o outro.
— Então, vejo que passaram pela nossa primeira linha de batalha. — um deles comenta. — Mas o fim de vocês é aqui.
Apontando o cajado para frente, uma onda de eletricidade atinge Megumi que grita de dor. Porém, Houka aparece na frente e rebate com outra carta, lançando seu raio roxo mais uma vez. Ambos os ataques se colidem. Antes de puxar a segunda carta, o segundo globin a atacava com um líquido amarelo.
A bruxa criava uma barreira e, quando a gosma entra em contato com ela, percebe que se tratava de um potente ácido. Por sorte, seu feitiço ainda era o mais forte.
A outra lançava mais raios, combinando seu ataque com o parceiro de batalha e Houka percebe algumas rachaduras em sua barreira.
Se, ao menos, eu pudesse usar as chamas, pensa Megumi.
— Vai ficar tudo bem! — Houka dizia em seu típico tom alegre, surpreendendo-a. — Não vou desistir, principalmente agora que podemos lutar juntas!
Megumi abria um leve sorriso com as bochechas ruborizadas. Então, sacava sua espada e dava um corte na barreira, arrancando uma expressão surpresa da rosada. Porém, tudo era uma estratégia para enganar o inimigo e avançar o mais rápido possível. Em questão de segundos, Megumi já estava na frente de um dos globins atacando-o com sua espada. Ele defende-se com o cajado, recuando alguns metros e lança uma descarga elétrica contra a demônio. Mas para a sua surpresa, ela resistia ao ataque e cortava uma cabeça com um golpe horizontal.
Vendo a determinação da parceira, Houka apontava uma carta para o outro globins após jogar o corpo para o lado, a fim de desviar da gosma verde e tóxica. Então, a carta liberava um jato d'água potente, atingindo-o no peito e o fazendo voar longe. Criando um parte de asas com outra carta, a bruxa voava seguindo o percurso de seu oponente e já lançava outro feitiço: chamas roxas que o queimavam gravemente.
Ao pousar no chão, a rosada caía de joelhos ofegante.
— P-Podemos descansar um pouco? É que cada carta usada drena um pouco da minha energia.
— Sem problemas, rosadinha. — Megumi comenta sentando-se ao seu lado. — E valeu pela ajuda.
Ela não conseguia ser gentil mas havia sinceridade em suas palavras, por isso Houka abriu um largo sorriso corada.
(...)
Emily rolava pelo chão com o corpo repleto de machucados. Ela e a shinigami lutavam em um beco vazio no centro da cidade. Outros dois globins com cabeça de boi a atacavam, disparando rajadas de neve e fogo de seus cajados.
Ririchiyo conseguia desviar facilmente dos ataques mas a denker não tinha a mesma agilidade. Por isso, só lhe restava receber todos os danos. Após longos, Emily ia ao chão gravemente machucada e cuspindo sangue.
— E-Eles... N-Não... Nos deixam avançar.
— Tsc. São um saco.
Flexionando os olhos, Ririchiyo concentrava o poder em sua katana e o sentia fluir pelo seu corpo. Com um impulso, atravessava os globins permanecendo de cabeça baixa. Ao passar para o outro lado, ficava de pé guardando a ponta da lâmina exposta para dentro bainha. O sangue de seus inimigos jorravam por toda a parte, caindo mortos no chão.
Emily tentava ficar de pé mas era em vão, suas pernas sangravam demais. Ela pensou receber uma ajuda da shinigami mas Ririchiyo continuava o seu caminho de cabeça baixa.
Estranhamente, seu corpo começou a se curar mais rápido do que o esperado e notou uma luz roxa o envolvendo. Houka estava atrás da denker, apontando sua carta de cura para ela com um largo sorriso. Megumi aproximava-se de braços cruzados e observando o sangue pelo ambiente.
— Desculpa a demora.
— Que bom que vieram. — Emily dizia sorrindo.
— Essa pedra é realmente desejada, eles não pouparam esforços em mandar seus melhores soldados. — comenta Megumi.
Após curar a garota, as quatro sobem por uma escada até chegar ao teto do museu que, coincidentemente, era o prédio ao lado do beco.
— Boatos afirmam que o Vaticano a protege. — Houka dizia.
— Grande merda eles são. — Megumi diz com desdém.
Ririchiyo apenas rola os olhos, girando entorno do próprio eixo com a katana em mãos e cortando o teto em forma circular. Usando uma carta para criar uma ventania, Houka utiliza das massas de ar para fazem o pedaço cortado do teto flutuar e não causar um alarme. Aproveitando que o local estava fechado para o almoço, Megumi salta para dentro do museu e observa a pedra. Ela era colorida e suas cores brilhavam alternadamente.
Pegando-a cuidadosamente, a garota gesticulava para a sua companheira. Entendendo o recado, Houka criava um par de asas e descia segurando Megumi, levantando voo com uma certa dificuldade. Ao pousar no teto, ambas olhavam para baixo à fim de conferir se alguém as notou roubando o objeto. Diante de uma resposta negativa, começam a descer pelas escadas sem preocupação.
— O que faremos agora? — Emily questiona.
— Eu vou levá-la ao colégio e exigir algumas explicações da diretora. — responde Megumi.
— Eu vou com você! — Houka diz animada.
Megumi dá nos ombros, iniciando a sua caminhada com a rosada ao seu lado.
— P-Posso te acompanhar? — a denker pergunta para a shinigami mas não obtém uma resposta. — Vou considerar que seja um "sim".
Ririchiyo sabia que precisava voltar para o colégio ao término do dia, mas nada a impedia de aproveitar o tempo que lhe restava. Emily a acompanhava em silêncio, apoiando as mãos nas costas enquanto observava a cidade e comentava alegre:
— As pessoas aqui se vestem de forma diferente e há vários tipos de comida. Ah! Como o clima é agradável e aconchegante. Nós finalmente conseguimos agir como uma equipe, isso me deixa muito feliz pois sinto que, um dia, poderemos ser amigas. Ei, Chiyo-san! Vamos nos divertir muito à partir de agora, não é?
— Ei, sua...! — Ririchiyo parava de andar, fechando os punhos com força e virando-se em direção à garota. — Dá para parar de ser tão chata?! Eu só quero andar em paz!
Abaixando a cabeça como forma de respeito à decisão alheia, Emily sentava em um banco enquanto Ririchiyo ia almoçar em um restaurante.
Quando as duas voltaram a caminhar, Emily não parava de conversar com as pessoas na rua e ajudar os mais velhos à atravessar a rua. Às vezes, ela corria atrás de um balão que uma criança havia perdido e só voltava com ele em mãos, mesmo se machucando durante a busca. Ririchiyo observava atentamente essas pequenas atitudes, optando por ficar em silêncio e continuar a sua caminhada pela cidade.
Procurando o último balão, Emily voltava entregando-o a uma criança e sorrindo gentilmente. Quando olhava ao redor, percebia que havia perdido de vista a shinigami. Então, decidiu andar pela cidade em busca de sua colega. Durante o caminho, a garota viu uma senhora tentando carregar uma sacola de lixo mas a arrastava por causa do peso.
— Deixe-me ajudá-la!
— Oh, minha jovem. Muito obrigada.
Emily sorria em resposta, pegando a sacola de lixo e quase caindo por causa do peso. Ela cambaleava para os lados, descendo a rua com cuidado para não derrubá-la. Ao parar na frente do lixeiro, observava alguns pássaros a encarando.
Eles devem estar com fome. Que triste. Ah! Já sei! Eu posso ajudá-los.
Abrindo a sacola de lixo para os pássaros se alimentarem, Emily precisou largá-la no chão e sair correndo enquanto gritava pois as aves a perseguiram famintas. Quando dobrou a terceira esquina, tropeçou nos próprios pés e caiu de cara no chão.
— Ai... Desse jeito, eu nunca vou encontrar a Chiyo-san. Ela já deve ter ido. — murmura sentando-se no banco ao lado. — Eu não deveria me surpreender, né? Afinal, ela nunca me verá como uma amiga...
— Está perdida? — um rapaz pergunta ao se aproximar.
— Sim, eu queria sair da cidade mas não sei onde fica a saída.
— Vem, eu irei te ajudar.
Ele estende a mão, sorrindo gentilmente e Emily a segura com um sorriso bobo. Então, os dois começam a andar pela praça vazia enquanto o rapaz conversava sobre o clima.
Essa é uma presa fácil e sua roupa não é tão difícil de tirar, ele pensava sorrindo maliciosamente.
Porém, Emily – misteriosamente – escuta o pensamento dele e puxa a mão de volta.
— M-Melhor eu ir sozinha.
— Não diga algo assim, eu só quero ajudar. — ele segura sua mão novamente.
— P-Por favor, poderia me soltar? Está machucando.
— Uma vadia não deveria andar sozinha com uma saia tão curta. — comenta com um tom de voz assustador.
Emily percebeu que seria inútil gritar e sentiu todo o corpo tremer por causa do medo. Contudo, um vulto apareceu na frente do rapaz e o cortou ao meio. O sangue tocou o rosto da garota que o limpou com a ponta dos dedos, erguendo o olhar para fitar quem a salvou.
Ririchiyo a encara por cima dos ombros, virando-se em sua direção e estendendo a mão.
— Vamos voltar para o colégio. — fala calmamente.
Surpresa diante desse ato, Emily segura a sua mão com um sorriso bobo e as duas caminham para fora da cidade.
Talvez possamos ser amigas.
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