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Capítulo 18: Um caminho de luz


O calor, as chamas e o semblante macabro que a garota fez enquanto liberava seus poderes contribuiu para assustar todos que viam essa cena. Megumi os encarava – agora – assustada e tremendo um pouco. Pensou que o momento em que despertaria os seus poderes fosse algo especial, algo que pudesse controlar. O quão forte era?

- Megumi, o que é você? – Tomika questiona assustada.

- Eu... – Megumi olha a própria mão onde havia resquícios de chamas azuis. – Eu sou o que os homens temem ou um monstro, algo do tipo.

Dava alguns passos para trás, desviando o olhar para os próprios pés. Estava com medo, medo de machucar sua única amiga, medo de machucar todos ali. Ergueu o olhar e esse sentimento era perceptível em suas orbes azuis. Murmurou um pedido de ajuda mas a única coisa que recebeu foi um olhar de desprezo vindo de um exorcista. Ele apontou a arma para a cabeça da menina e sorriu friamente.

- É isso que fazemos com demônios, seu verme.

Porém, antes de puxar o gatilho, uma imensa escuridão invadiu todo o local. Uma escuridão absoluta que cegou temporariamente todos ali. Megumi sentiu um ser envolver o braço entorno da sua cintura e a puxar para longe dali. Ela fechou os olhos com força, temendo o que viria a acontecer.

Quando a escuridão sumiu, todos olharam ao redor surpresos: Megumi havia sumido! Nenhum rastro dela, o que os levaram a pensar que a jovem foi alvo de um resgate surpresa.

Ela abriu os olhos e se viu no topo de um prédio, um dos maiores da cidade. Estava frio mas não sentiu nenhum arrepio, pelo contrário, o seu corpo encontrava-se mais quente do que o normal. O cabelo totalmente bagunçado por causa do vento intenso do local e as roupas queimadas.

- Não queria que fosse dessa forma. – Laylah dizia ao lado da filha, olhando as pessoas lá embaixo.

- M-Mãe?! – Recuou assustada.

- Eu te disse para ficar em casa. – Seu tom de voz era frio e sem vida.

- Eu simplesmente não podia ficar em casa enquanto todos tinham uma vida normal!

- E ACHA QUE VALEU A PENA SAIR? SUA VIDA ESTÁ EM RISCO AGORA.

Megumi olhou para baixo sem palavras para contestar contra sua mãe. Apenas soltou um logo suspiro e abraçou o próprio corpo. Algumas lágrimas formaram-se em seus olhos e a respiração ficou desregulada.

- Eu fiquei com tanto medo... – Murmura com a voz falha. – Pensei que eles iriam me matar... Por que? Eu não fiz nada...

Laylah abraça a filha forte, envolvendo-a em seus braços de forma calorosa. Afagou os cabelos da menor e beijou o topo da sua cabeça.

- Eles não nos compreendem. – Ela responde. – Julgam todos de forma igual mas esquecem que demônios já foram contratados para matar outros demônios.

- Foram?! – Ergue a cabeça confusa.

- Sim, há muitos anos atrás. Não sei se posso defini-la como um demônio mas sei que tem uma força imensurável.

- Quem é ela?

- Bem, ela é...

Uma enorme explosão joga as duas para longe, Laylah fica por cima da filha e cria uma cúpula de sombras. As explosões de luz tornam-se mais frequentes e, aos poucos, buracos são feitos na cúpula.

- O que é isso? – Megumi olha tudo assustada.

- Eles nos encontraram, vamos sair daqui!

Laylah abraça novamente a filha e um par de asas negras surgem em suas costas. Ela dá um impulso e começa a voar para longe dali, tomando o cuidado necessário para não ser atingida pelas explosões. Jogava o corpo de um lado para o outro conforme tentavam atingi-las. Então, a mulher esticava um braço em direção ao solo e monstros de sombras agarravam os exorcistas – que encontravam-se no telhado do prédio.

Esses monstros consumiam os corpos dos homens até que não restava mais nada. Laylah apenas observava tudo apreensiva pois sabia das consequências. Por isso, voou o mais rápido possível até a casa de Eisei. Pousou no quintal e deixou a filha sentada na grama. O padre já as aguardava, segurando uma xícara de chá e entrega à Megumi.

- Vocês estão bem? – Pergunta preocupado.

- Sim. – Laylah responde. – Mas tive que matar aqueles exorcistas, perdão.

- Tudo bem. – Eisei apoia a mão sobre o ombro dela. – Você fez o que foi necessário para proteger a sua filha como da última vez.

- Agora acabou, certo? Eles não vão nos machucar, né? – Megumi fala preocupada.

- Infelizmente, esse é só o começo. – Disse o padre e cruzava os braços sobre o peito. – Eles mandarão uma equipe mais forte. Uma equipe para demônios de rank S ou SS.

- Eu não sei se sou párea para eles. – Comenta Laylah e encarava a garota. – Megumi, fique aqui com o padre Eisei, ele irá protege-la.

- Não, mãe! – Ela rapidamente se levanta e abraça a mulher. – Eu não posso te perder.

- Você não irá. Eu vou dar um jeito neles e voltarei para cá o mais rápido que puder. Então, vamos embora daqui.

- Podemos ir agora! Vamos, vamos! – Megumi diz.

- Não, os reforços já foram mandados. Eu tenho certeza disso. – Eisei diz com um semblante sério. – Fique aqui, é um lugar seguro. Nenhum exorcista ousaria te procurar na minha igreja.

- Mas... Mas... A mamãe vai...

- Eu vou ficar bem. – Laylah sorria segurando o rosto da menor. – Eu sou um demônio forte, consegui escapar do inferno sozinha e já enfrentei todos os tipos de perigo.

- Eu estou com medo... Com muito medo... – Megumi começava a chorar, as lágrimas não paravam de sair e ela soluçava baixinho. – Eu te amo, mãe... Eu te amo muito... Muito mesmo...

- Eu também te amo, filha. – Ela beija o topo da cabeça da garota e sorri fraco. Odiava vê-la chorar. – Você cresceu tanto, de tantas formas que nem imagina. Eu estou orgulhosa de você, estou orgulha do caminho que pretende seguir.

- E se esse não for o meu caminho...?

- Ele é. Confie em mim.

E dito isso, dava alguns passos para trás afastando-se da filha. Algumas lágrimas teimavam em sair dos olhos da mulher até que ela dava as costas e saía do campo de vista deles. Suas asas eram enormes e majestosas, fazendo-a voar mais rápido do que qualquer ser.

Megumi apoiou a mão no peito apreensiva enquanto ainda chorava. Não sabia se seria forte o suficiente se algo ruim acontecesse com sua mãe, nem saberia como lidar com sua morte. Sentiu a mão de Eisei em seu ombro e forçou um sorriso para ele. É, tudo iria ficar bem desde que não saísse do seu caminho. Um caminho de luz.

A mulher pousava no meio da praça e recolhia suas asas. Aquele local estava cheio de exorcistas com suas mantas brancas, eles fitaram o demônio se aproximar e prepararam suas armas. Laylah materializou as sombras e lançou diversos espinhos contra os inimigos.

Eles desviaram com facilidade e começaram uma sequência de disparos. Ela apenas colocou a mão na frente e criou uma barreira de sombras para se proteger. Então, materializou uma espada e correu até os exorcistas iniciando uma batalha de espadas. Seus movimentos eram precisos e executados com total delicadeza, desviando e golpeando vários oponentes. Um dos homens derramava água benta na lâmina da espada e, quando a guarda da mulher apresentava-se baixa, golpeava rapidamente sua costela. Laylah cerrava os dentes de dor, retirando a arma do corpo e cortando a cabeça do exorcista.

- Não serei derrotada facilmente. – Ela diz e as sombras envolvendo seu corpo, mudando de forma.

A pele pálida, enormes chifres de bode, longo cabelo negro e as asas pareciam maiores. Usava poucas roupas que assemelhavam-se a um tipo de armadura improvisada. Uma pedra vermelha brilhava acima de sua cabeça e correntes enroladas em cada braço. Seu olhar estava mais frio e sedento por sangue do que o normal. Então, as asas foram abertas expondo toda sua extensão e Laylah avançou contra eles em uma velocidade absurda. Algo impossível de acompanhar à olho nu.

(...)

- Por que...? – Megumi questiona sentada em um banco da igreja. Segurava uma xícara de chá e observa o seu reflexo no líquido. O olhar cabisbaixo e os lábios desenhavam uma expressão de tristeza. – Por que não acreditam que haja demônios bons no mundo?

- Porque é quase impossível. – Responde Eisei à sua frente. – Os demônios são como animais, eles seguem seus instintos e te garanto que não são instintos muito agradáveis. Porém, é inegável que haja exceções como você.

- Então, eu sou do bem? Né? – Dizia esperançosa com brilho no olhar.

- Claro. – O padre sorri e acaricia o seu cabelo. – Você tem um bom coração. Um coração invejável até para os humanos.

- Que bom... – Fechava os olhos com um sorriso bobo. – Eisei, quem é o meu pai? Você e a mamãe nunca me disseram.

Eisei ficou sério nesse momento, lembrando-se de quando encontrou Laylah no parque. Tentou ataca-la mas foi a bondade que viu em Megumi que o fez recuar. Aquele sorriso desajeitado nunca saiu de sua expressão, desejava que ela continuasse sorrindo assim mesmo com a vida difícil que enfrentaria. Por isso, sempre a quis proteger de todo o mal do mundo. Ajudou sua mãe a encontrar uma casa e, nesse mesmo dia, decidiu fazer um mini interrogatório. Afinal, não podia confiar em qualquer demônio – na verdade, não devia confiar em nenhum.

Flash Black On

Laylah deixava a sua bebê deitada na cama e a cobria com um pequeno lenço preto. Logo, apoiou as mãos na janela observando a lua. Era lua cheia e sabia que isso atraía muitas criaturas das trevas, por isso sentia-se mais tranquila por estar dentro daquela pequena casa.

- As coisas tomaram um rumo que não imaginava. Receber ajuda de um exorcista?! Quem diria...

- Mesmo assim, preciso te perguntar algumas coisas. – Eisei diz entrando no quarto e fechando a porta. – Você já matou pessoas?

- Bem, preciso ser sincera... Não é mesmo? – Virava-se para o padre. – Sim, algumas vezes quando vim para esse mundo, tive que matar pessoas à ordem do superior.

- Nem preciso perguntar quem é. Que tipo de demônio você é? E qual seu rank?

- Sou um demônio de rank S que segue o pecado da ira. Antes, eu servia à Azazel mas Lúcifer pareceu ter certo interesse por mim. Fui levada à seu castelo como sua escrava e terminei como sua rainha, algo do tipo. – Apoia a mão no queixo pensativa. – Não conversávamos muito mas era evidente a sua vontade de ter um filho. Não via problema nenhum nisso até...

- Até descobrir que ele queria usar o seu filho como sacrifício?

- Sim, já era tarde demais quando descobri. – Desvia o olhar para Megumi. – Ela não merece isso, não tem culpa dele ser um completo egoísta.

- Bem, ele é Lúcifer.

- Mas nada supera o poder de uma mãe. – Comenta determinada. – Eu darei minha vida, se for necessário, para proteger essa criança.

- É admirável, mesmo vindo de um demônio. – Dizia com um tom levemente amigável. – Precisamos selar o poder dela em algum objeto físico, além de causar uma leve marca em seu corpo.

- Tudo bem. – Solta um longo suspiro. – Desde que não a machuquem. – Laylah estende a mão para a própria sombra e uma espada sai flutuando de lá. – Isso deve servir.

- Que espada é essa?

- É a espada mais forte do nosso mundo.

- E VOCÊ A ROUBOU?!

- B-Bem... – Desviou o olhar rindo de nervosismo. – Não tinha escolha, precisava de algo forte para atacar caso Lúcifer viesse para cá.

- É praticamente impossível, ele não tem acesso a esse mundo quando bem querer.

- A menos que sua filha exista nele... – Laylah fitava o homem que entendia a gravidade da situação.

- Como um fio condutor...

- Ele pretende possuí-la, caso necessário. Por isso, a Megumi nunca poderá saber disso.

Flash Back Off

- Um demônio qualquer, eu suponho. – Responde Eisei, dando as costas à garota e saindo da igreja.

Megumi apenas o observava confusa, segurando com mais força a xícara e voltando a beber. O chá a acalmava de forma inimaginável, porém, a preocupação de ter sua mãe em um campo de batalha com exorcistas psicóticos não a agradava.

- Fique bem, por favor... – Murmura fechando os olhos, caindo em um sono profundo ali mesmo.

Do outro lado da cidade, Laylah desvia agilmente dos encantamentos e balas direcionadas à ela. Girava para um lado e para outro, juntando as mãos em formato de cocha e uma esfera negra formava-se no espaço existente. A mulher jogava a esfera contra os exorcistas e ela começava a sugar todos como um buraco negro, onde ficariam presos eternamente na escuridão absoluta.

Um homem apoiava a mão no chão, sussurrando um encantamento e uma intensa luz surgia. A luz consumia por completo a escuridão presente.

- O seu fim é inevitável, demônio. – Ele comenta erguendo o olhar.

- Tsc...

Laylah lançava mais cinco esferas de sombras que iam em diversas direções, porém elas era absorvidas facilmente pela imensa luz que permanecia no local. O oponente caminhava lentamente até o demônio e esticou a mão em direção à ela. Correntes de luz prenderam o corpo da mulher e a jogaram de forma brutal contra o chão, formando uma enorme cratera. As correntes começaram a apertar seu corpo com uma força inimaginável e algumas ficaram enroscadas em seu pescoço. Ela tentava de soltar mas o poder ali era alto demais.

- N-Não perderei...

Abria as asas de forma bruta e as correntes ficaram em pedaços. Todos recuaram assustados enquanto o demônio aproximava-se com um sorriso sádico. Eles ficaram presos em correntes de sombras e quase todos tiveram suas cabeças arrancadas por causa da intensidade do golpe. Porém, o exorcista chefe permaneceu intacto pois – em um movimento invisível à olho nu – seu corpo sumiu e apareceu atrás de Laylah. Ele chutou as costas dela e desenhou uma cruz no local com o próprio sangue, sendo rápido e preciso em seus dedos.

- O-O que você fez? – Ela olhava por cima dos ombros confusa.

- Vou te ensinar o verdadeiro poder de um exorcista.

(...)

- MÃE! – Megumi exclama ao acordar, abrindo os olhos de forma súbita e sentando-se no banco. – Eisei, a minha mãe corre perigo. Eu sinto isso!

- Calma, Megumi. É só uma preocupação normal, eu conheço sua mãe e sei o quão forte ela pode ser. – O padre sorria calmamente.

- Mas os exorcistas irão machuca-la e... – Parou de falar lembrando de algo importante. – E a Tomika, a minha amiga? Ela estava lá e viu tudo! O que eles fizeram com ela?

- Provavelmente, está em um lugar seguro e recebendo apoio dos exorcistas. – Eisei explica.

- Hein?

- Deixe-me te explicar. Quando um humano presencia algo do tipo, precisa receber apoio psicológico para lidar com a situação. Caso não consiga ou ameace divulgar o que viu, os exorcistas usam um encantamento para esquecer sobre os acontecimentos.

- Então, ela vai me esquecer...?

- Acredito que não. Eles não podem apagar longas memórias, apenas as recentes. Não se preocupe.

Mas isso é somente se a Tomika-chan não lidar bem. Talvez ela não surte e queira seguir em frente sabendo da verdade. Será que ainda vai querer ser minha amiga? – Pensa Megumi com um semblante preocupado.

A garota ouvia um sussurro em seu ouvido, uma voz grave e ao mesmo tempo sedutora. As portas da igreja foram abertas com a intensa ventania, fazendo o padre recuar assustado.

Faça algo ou sua mãe irá morrer.

Essa voz causou pânico em Megumi que rapidamente se levantou do banco. Olhou o padre como se implorasse para sair, ele negou mas suas palavras não surtiram o efeito desejado. Ela deu as costas e saiu correndo dali.

- MEGUMI! VOLTE! – Gritava a seguindo.

- Não posso! Eu preciso ajudar a minha mãe!

E dito isso, saiu do campo de vista do homem. Ele iria segui-la e fazer de tudo para impedir que essa ideia maluca fosse concretizada. Porém, misteriosamente as portas da igreja foram fechadas e ele se viu trancado lá. Uma energia assombrosamente negativa circulava pelo local. Logo, o pároco entendeu do que se tratava.

- Lúcifer... – Murmurava.

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