Capítulo 14: Utau
O maldito longo kimono apenas atrapalhava a garotinha na sua corrida. Ela teve dificuldade para passar entre a enorme multidão que circulava pelo palácio. Mesmo assim, continuou movendo-se entre as pessoas agilmente até sair dali. Em poucos minutos, já estava na cidade que encontrava-se vazia no momento pois todos comemoravam no palácio. As ruas vazias e as casas completamente abandonadas. Uma leve brisa pairavam pelo local.
Tem algum coisa errada aqui. – Ririchiyo pensava enquanto dava passos lentos em direção à saída da cidade. A sua sensibilidade ao som aumentou muito, ela conseguia ouvir bem melhor agora. Porém, ainda tinha dificuldade para falar.
- É bom saber que você é burra o suficiente para nos seguir. – Uma voz masculina ecoava atrás da pequena. Ela sentia as vibrações vindo das cordas vocais e rapidamente se virava em direção ao rapaz que usava roupas pretas.
- V-Vai pa...pag...
- Pagar? – Ele ergue a sobrancelha. – Que patética, acha que pode me deter.
O jovem avançou em uma velocidade absurda contra a pequena. Ela respirou fundo, puxando a katana e fazendo um movimento horizontal. A lâmina emitiu uma forte onda sonora que jogou o oponente longe, quebrando sua Zanpakutou e causando ferimentos graves neles.
- Hein?! – Ririchiyo encarava a katana com os olhos arregalados. Não imaginava que era capaz de fazer isso. Então, voltou a correr seguindo o percurso que fazia. Ela não tinha tempo para pensar no porquê sua Zanpakutou ser tão forte.
Ela segurou firme a arma com uma mão enquanto erguia o pouco o kimono com a outra, facilitando a corrida. Havia algumas lágrimas em seus olhos apenas por pensar o que fariam com o seu amigo. O reino todo estava em festa, ninguém poderia ajuda-la. Será que seus pais ficarão bravos quando descobrirem o que aconteceu?
Desculpa papa e mama. – Secava as lágrimas com determinação no olhar.
(...)
As pessoas viam apresentações dos ceifeiros de almas que usavam suas Zanpakutou para fazer um grande show em um palco improvisado. Havia comida e bebida para todos que se divertiam. Esse era um dia muito especial na Sociedade das Almas, tanto por divertir a população como aumentar a influência da família real.
O rei estava sentado no trono – longe dali – olhando para o horizonte enquanto seus dedos batiam ritmicamente. Estava tão impaciente e nervoso, a mais importante Zanpakutou de todas foi roubada.
- Senhor... – Um shinigami se aproxima dele.
- O que é? – Diz rudemente.
- Consegui informações sobre o roubo da katana. Alguns moradores disse que viram uma criança com uma katana na região onde a Zanpakutou deveria estar.
- Uma criança?! – Questiona indignado. – Só pode ser um engano, nenhuma criança passaria por nosso sistema de segurança. – Suspirava pesadamente. – E os guardas da região?
- Todos mortos.
- E a mulher que foi encontrada desmaiada na sala?
- Ela não se lembra de nada, disse que o ataque foi muito repentino.
- E o homem? O enfermeiro daqui.
- Ele está inconsciente, sua recuperação pode demorar.
- Faça-o se recuperar rápido! – Bate no trono irritado. – Ou forcem às memórias da mulher. Sei que há shinigamis capazes de fazer isso.
- Mas as consequências serão inimagináveis...
- Calado! – Grita. – Eu que mando aqui!
- Sim, senhor. – Ele faz uma leve reverência e sai do salão.
- Droga...
(...)
A garotinha parou de correr ao chegar em um enorme campo de areia longe da cidade. Os seres de roupa preta estavam ali, todos olhando a menor com desdém. Alguns comentavam como ela aguentou correr até essa localidade, já que era muito longe do palácio. Nobu deu três passos para frente fitando-a.
- Por que não desiste? – Suspirava baixo.
-... – Ririchiyo continuava em silêncio, as vibrações vinham até seus ouvidos mas era difícil identificar a pronuncia das palavras.
- O que ela faz aqui? – Um homem tirava o capuz de seu rosto, expondo uma cicatriz que cobria a extensão do olho esquerdo. Aparentava ter por volta de cinquenta anos, cabelos negros com alguns fios grisalhos na região frontal. As poucas rugas que surgiam em seu rosto não eram um problema pois sua íris verde chamava mais atenção do que qualquer outra coisa. – É essa a garota que está com a espada? Vocês fugiram dela? – Questiona com desdém.
- Chefe... Ela está com a Zanpakutou mais forte de todas, não podemos nos arriscar assim. – Nobu diz.
- Hum... – Ele coçava a barba curta e também grisalha. – Continua sendo uma simples garota.
- Q-Quem é... v-você? – Ririchiyo pergunta tremendo um pouco de nervosismo.
- Ela é surda. – Completa Nobu e dava mais um passo em direção à pequena.
- Sou Takeshi Yamamoto. – O homem movia os lábios de forma lenta para que a garota entendesse. – Sou o irmão do rei da Sociedade das Almas.
Ririchiyo arregala os olhos surpresa e quase deixa a espada cair. Ele era o seu tio?! Era muito confuso e difícil processar essa informação. Se eles eram família, por que estava fazendo isso? Não fazia o menor sentido para a menina.
- Nobu... – Takeshi o olhava de canto. – Acabe com ela e pegue a espada.
- Sim, senhor!
Nobu avançava em alta velocidade contra a garota que segurou firmemente a katana. Ambas as lâminas se chocaram e a poeira levantou entre os dois. O rapaz girou a sua Zanpakutou com o objetivo de acertar o pescoço de Ririchiyo, porém ela defendeu. A defesa não foi das melhores e a pequena recuou vários metros, quase caindo no chão.
Hideki abriu lentamente os olhos e encarou todos assustados. Tentava se soltar mas foi em vão, então desviou sua total atenção para a sua amiga. Ele reconheceu que estava afastado da cidade, o que aconteceu enquanto estava desacordado?
- Ririchiyo! – Grita o mais alto que pode e consegue chamar a atenção da garotinha.
- Hum? – Ela o encara confusa.
- NÃO SEI O QUE ESTÁ ACONTECENDO MAS ELES SÃO CARAS MALVADOS. – Falava alto e de forma que a menor entendesse. – ENTÃO, FINJA QUE ISSO É UMA LUTA COMO DOS LIVROS E DÊ O SEU MELHOR!
Finalmente ela entendeu. Era só agir como mandava os livros de luta, as histórias de seus antepassados e os poemas. Girou agilmente a katana entre suas mãos e avançou contra Nobu. Movimentou-se na velocidade do som, então ninguém percebeu quando a Zanpakutou que Ririchiyo estava atravessou o corpo do rapaz. Ele a olhou surpreso e cuspindo sangue. A garota ergueu o olhar com um sorriso fofo. Eles estavam brincando então não havia nenhum problema lutar para valer, certo?
Todos os outros shinigamis ficaram boquiabertos com aquela cena. Uma onda sonora intensa começou a penetrar o corpo de Nobu até que ele explodisse em vários pedaços. Hideki arregalou os olhos sem acreditar no que estava vendo, logo começando a vomitar e foi jogado em um canto qualquer. Uma mulher usando capuz sussurrou no ouvido de Takeshi, o líder dos rebeldes.
- Mestre, mandamos a nossa equipe atacar?
- Não. – Diz sério e um pouco surpreso com o que acabou de ver. – Mandem o Jun e o Ren. Não sabemos com que tipo de inimigo estamos lidando, melhor mandar os melhores ceifeiros de almas.
- Sim! – Ela olha para os dois. – Jun! Ren! Vão! – Ordena.
Jun dava os primeiros passos. Ele tinha a mesma altura que Ririchiyo e seu cabelo era completamente branco, os olhos azuis e a pele alva como neve. Usava uma roupa preta e com alguns detalhes brancos, seu olhar era neutro apesar do sorriso psicopata em seus lábios. Ele precisou entrar para o grupo dos rebeldes desde cedo pois usava o dinheiro ganho para cuidar da mãe. Sua personalidade indicava um "leve" tom de psicopatia e depressão, era calculista e introvertido.
Ren era o irmão do albino. O cabelo vermelho como fogo, olhos azuis e pele clara. Usava roupas semelhantes ao do seu irmão. Sempre admirou Jun, por isso decidiu entrar no grupo do rebeldes para ser motivo de orgulho. Ele é agitado, extrovertido e hiperativo.
Os dois soltam um baixo suspiro e ficam em posição de batalha. Ririchiyo os encara com um leve sorriso nos lábios e segura firme a katana, sentindo as suas vibrações. Então, os dois avançam e logo ativam a habilidade de suas Zanpakutou's.
- Eien no kori! – Jun diz o nome de sua zanpakutou em voz alta. A lâmina da katana ficava extremamente fina, onde conseguia perceber que era quase transparente. No cabo, havia uma pérola azul que brilhava de forma intensa.
- Eien no hi! – Ren sorria animado. A sua zanpakutou transforma-se em uma espada de lâmina grossa e afiada. Em seu cabo, havia uma pérola vermelha que também brilhava.
Jun movimentou sua arma em um corte horizontal. Uma forte nevasca surgiu desse corte e foi em direção à Ririchiyo. Ela segurou firme a katana e pôde sentir suas vibrações. Agilmente, fez um corte na vertical - de cima para baixo – e uma onda sonora foi contra a nevasca, destruindo-a por completo. Antes mesmo de pensar em qualquer outra coisa, Ren já estava atrás da pequena e cravou sua Zanpakutou no chão. Um enorme tornado de chamas rodeou a menina.
- É o seu fim. – Ren diz sorrindo como sempre.
Porém, logo o fogo foi disperso e Ririchiyo continuava sem qualquer machucado. Ela avançou contra o ruivo e ambas as armas se chocaram. Jun aparecia ao lado dela e a lâmina de sua Zanpakutou ficou coberta de gelo. A menina o olhou de canto, abaixou o corpo e puxou a própria katana para si, passando por entre as pernas de Ren. Deu um impulso e começou a correr para longe deles.
Infelizmente, Jun estava em sua frente. Ele era muito rápido e ágil em seus movimentos. Efetuou outro corte, desta vez na horizontal. Ririchiyo deu um mortal para trás desviando e viu a lâmina da Zanpakutou do seu inimigo tocar o chão e deixar a região completamente congelada. Quando a menor pousou, escorregou um pouco e Ren já estava atrás dela a golpeando pelo pescoço. Por sorte, jogou todo o corpo para trás o mais rápido possível, desviando perfeitamente daquele golpe.
Eles são bons. – Pensa a garota.
Ririchiyo, aproveitando a posição, apoia ambas as mãos na grama e ergue os pés dando um chute no rosto do ruivo. Voltou a ficar de pé e deu de cara com Jun lançando vários espinhos de gelo, oriundos de outro golpe produzido por sua arma. A menina começou a ricochetear cada espinhos com sua katana enquanto sorria descontraída. Logo, ouvia uma voz vindo da própria arma.
Você ainda é lenta. Precisa da minha ajuda.
Eu me recuso, preciso fazer isso sozinha! – Ririchiyo dava um impulso avançando contra Jun e desviando do restante dos espinhos enquanto corria. O albino cria uma barreira de gelo para se proteger, ela lança um corte horizontal na proteção. O gelo da barreira começa a tremer pois fortes vibrações sonoras o atingiam até que ficasse em pedaços. Jun arregala os olhos surpreso e abre a boca para dizer algo mas recebe um chute na barriga, recuando.
Ren deu um salto enquanto Ririchiyo efetuava o chute em seu irmão. Agora ele estava em cima do oponente e criou um círculo imaginário com a ponta da katana. A luz da pérola fica mais intensa e ele sorria confiante.
- Kyukyoku no neppa! – Exclama.
Uma intensa onda de calor atingia a região onde Ririchiyo estava – que foi o local onde Ren desenhou o círculo. A pequena suava sem parar, estava difícil respirar e se concentrar. Um dos efeitos do calor atingiu a menina: A câimbra. Seus pés não conseguiam se mover e os pulmões queimavam.
A voz da Zanpakutou continuava a ecoar no ouvido dela.
Vai morrer desse jeito. Por que não diz o meu nome?
- N-Não. – Ela relutava de cabeça baixa.
Então, apenas afaste esse garoto por um tempo.
Ririchiyo fazia um leve movimento com a arma, aproveitando enquanto seus braços ainda não sofriam os mesmos danos que as pernas. Uma onda invisível atingia Ren que voava longe e, consequentemente, o calor foi sumindo aos poucos. Então, a garota tentou se levantar mas foi em vão. A câimbra ainda persistia e agora suas pernas estavam ficando congeladas. Ela desviou o olhar para Jun que estava ao seu lado, tocando a ponta da katana em sua perna.
- Chimei-tekina kori. – Ele diz com um sorriso psicopata.
A garota começou a perder a sensibilidade de seus dedos, quase deixando a arma cair. O ar gelado saía de sua boca e voltava a ter problemas na respiração. Estava desorientada e os calafrios não paravam de percorrer o seu corpo. Estava morrendo aos poucos. Fechou os olhos e abraçou com força a Zanpakutou.
Eu não quero ser fraca... Preciso salvar o Hideki. – Pensava enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto, logo ficando congelada. O gelo subia cada vez mais pelo seu corpo.
Vamos salvá-los mas para isso, preciso que confie em mim.
Ela se viu perdida em pensamentos. Estava no jardim do palácio e um homem de longos cabelos brancos estava ao lado. Ele usava roupas simples de samurai e tinha um belo par de olhos marrons.
- Q-Quem... é...vo...
- Você sabe quem eu sou. – Ele sorria de canto, desviando discretamente seu olhar para a menor.
- Ahm... – Ela assente balançando a cabeça.
- Pronta?
- S...Sim... – Sorria fraco.
Abria rapidamente os olhos, o gelo percorria a sua barriga. Tremia tanto que podia vomitar devido à intensidade. Jun continuava sorrindo enquanto Ren se aproximava mancando um pouco. Os dois irmãos comentavam sobre a força da oponente em cochichos, ignorando-a por completo. Esse foi o momento perfeito para agir.
Agora, Ririchiyo!
- Utau!
A lâmina da Zanpakutou brilhou como nunca e todo o gelo ao redor do corpo da garota foi quebrado. Ela levantou-se aos poucos sentindo as pernas tremerem, mesmo assim manteve a postura de batalha.
- Como você...? – Jun arregala os olhos surpreso.
Eles falam demais. Faça-os parar.
A voz da arma continuava a ecoar pela cabeça dela. A menina girava agilmente o cabo da katana entre os dedos e enfia a lâmina no chão com força.
- Chinmoku o tamotsu.
Ren abriu a boca para dizer algo mas nada saiu. Ele forçava as cordas vocais, porém não saía nenhum som. Jun tentou perguntar ao irmão o que estava acontecendo e esse descobriu que também não conseguia produzir nenhum som. Ambos olhavam Ririchiyo confusos. Ela apenas apoia o dedo indicador entre os lábios e sussurra: " Shii...". O silêncio absoluto afetava os irmãos, eles podiam ouvir seus órgãos. O coração batendo, o sangue correndo pelas veias, o movimento dos ossos e as contrações dos músculos. Os outros rebeldes, Ririchiyo os olhou de canto e fez um movimento horizontal na direção dos inimigos. As ondas de som se propagavam e iam contra todos, lançando-os para longe cheios de ferimentos. Os minutos se passaram, Ren e Jun estavam tontos e sentiam fortes náuseas. O cérebro deles estava confuso e mandava informações falsas para o corpo. Eles tentavam andar mas caíam no chão, impossibilitados de se locomover. Aos poucos, os irmãos estavam enlouquecendo.
Takeshi apenas observava de braços cruzados, admirando o poder que a pequena tinha – ou pelo o poder de Zanpakutou. A sua aliada encarava a cena com inquietude, batendo a ponta do pé direito no chão. Ela olhou para o maior com um semblante de preocupação.
- Mestre, precisamos intervir.
- Deixe que os outros façam isso. – Ele comenta.
Ririchiyo percebeu que os meninos sofriam ali e rapidamente desfez o seu ataque. O som voltava para os ouvidos de ambos que ainda estavam tontos com tudo aquilo. A pequena recuou e sentiu uma vibração vindo da katana em suas mãos.
Não pode perdoar um inimigo, deve mata-lo.
Eu não consigo... – Fechava os olhos com força soltando um longo suspiro.
Jun e Ren não ousaram atacar a garota, eles apenas recuaram assustados e saíram correndo dali. Takeshi olhou de canto para a sua serva e ela assentiu entendendo o recado. Em questão de segundos, os dois irmãos foram atingidos por uma imensa ventania e quando a poeira abaixou eles estavam mortos. Ririchiyo recua assustada e olha Takeshi.
- P....Por...q...que...?
- Eles eram covardes e não admito covardes aqui. – Dizia calmamente.
A menina olhava para os próprios pés confusa. Por que as pessoas machucavam as outras por motivos tão idiotas? A vida de qualquer um tem seu valor. Ela recuava mais ainda com algumas lágrimas nos olhos.
- NÃO DESISTA, RIRI! – Exclama Hideki. Ela erguia o olhar para o amigo e abria um sorriso tímido. É, desistir não fazia parte do seu vocabulário.
A Zanpakutou tremeu e esse foi o recado para que continuasse em pé independente de qual fosse o seu próximo oponente.
- Podemos derrotar essa garotinha facilmente, Jun e Ren apenas falharam pois não receberam treinamento suficiente. – A mulher dizia confiante.
- Acho que você não entende a situação que estamos. – Takeshi solta um longo suspiro. – Talvez não seja somente a arma que detém tamanho poder...
- Hum?
- Existem poucos shinigamis que nascem com o dom para batalha, digamos que eles sejam "abençoados".
- Abençoados? – Ela questiona confusa.
O clima ficou tenso, naquele momento um dos rebeldes apontava uma arma prateada para a garotinha – a Zanpakutou dele havia mudado de forma. Não demorou nem uma fração de segundos para que o tiro fosse lançado contra a menor. Ririchiyo estava com um semblante descontraído, como se estivesse em mais de uma de suas brincadeiras com o Hideki. Ela fez um corte vertical com a sua katana frente ao corpo e a lâmina partiu o projétil ao meio, exatamente no meio.
Todos ficaram boquiabertos. Ririchiyo não teve tempo de falar nada pois um rapaz já estava em suas costas pronto para atacar. A garota girou a katana, segurando firme o cabo e empurrando-a para trás. A lâmina ia rapidamente contra a barriga do oponente, porém ele foi mais rápido e saiu dali. Outro rebelde já estava na sua frente fazendo um corte horizontal com a Zanpakutou na altura do rosto da menor. Ela apenas jogou um pouco o corpo para trás vendo a lâmina passar à centímetros do seu rosto com um olhar de desdém. Essa brincadeira estava chata.
Ela deu um mortal para trás chutando a Zanpakutou do oponente para longe. Mal teve tempo de se firmar no chão pois outro homem apareceu em suas costas girando a espada rapidamente em sua direção, o alvo desta vez era o pescoço. Porém, Ririchiyo se abaixou mais rápido do que o movimento do inimigo e em questão de milésimos de segundos, já estava acima de todos.
- Seus...cha...tos... – Dizia com dificuldade e, ainda no ar, executava um golpe com a Zanpakutou. A onda sonora foi tão intensa que todos ali ficaram em pedaços, restando somente os três – Takeshi, sua serva e Hideki - que estavam protegidos por uma barreira criada pelo velho.
- Acho que tem algo errado com a Riri-chan... – Murmura Hideki com os olhos arregalados.
A pequena pousava em meio àquele sangue e se afastava dali pois o cheiro estava insuportável. Ela fazia uma careta até que fofa tapando o nariz e franzindo o cenho. Então, sua expressão foi direcionada para o homem que estava com o seu amigo. Mesmo tendo lidado sem problemas com os oponentes, sentia que cada vez que continuava usando a Zanpakutou ela sugava um pouco de sua energia. Isso era inevitável, uma garotinha não podia aguentar tanto poder sem nenhuma consequência.
- Confio em você. – Takeshi diz sério e apertando com um pouco de força o braço do ruivo para que ele não escapasse pois percebeu uma inquietação por parte dele.
- Sim, mestre! – Ela se aproximava em passos lentos.
Umeko era a shinigami mais forte do esquadrão, foi recrutada desde criança quando foi abandonada pelos próprios pais. Eles serviam ao rei mas tiveram que abrir a mão da filha para continuar no palácio, à ordem do rei. À partir desse momento, ela jurou que iria se vingar de todos – principalmente os seus pais que foram os maiores culpados. Ela tinha pele morena, olhos escuros, lábios carnudos e rosados, longo cabelo loiro e usava uma roupa curta feita de couro. A bota servia como meia calça que cobria quase toda a extensão de suas coxas, uma camisa curta e luvas longas da mesma cor. Ela empunhava uma simples katana até que murmurava:
- Kaze ga fuka reta. – Então, a katana mudou de forma transformando-se em uma kurasigama (1). A longa corrente arrastava-se pelo chão junto com a mini foice acoplada ali. O olhar da mulher era de poucos amigos. – Eu sempre odiei crianças. – Comenta e partia para cima da pequena.
Ririchiyo corria em sua direção e ambas as lâminas se chocavam. Umeko segurava firmemente o capo da foice jogando o peso do seu corpo contra a menor. Por outro lado, a menina firmava os pés no chão e usava toda a força que tinha para não recuar. Então, as duas se afastaram de forma súbita mantendo um intenso contato visual. Avançaram novamente, desta vez usando mais velocidade em seus ataques.
- Eu preciso fazer algo pela Riri-chan... – Hideki murmura preocupado, tentando se soltar do braço forte do mais velho.
- Shi... – Ele olha de canto para o garoto apoiando o dedo indicador em seus lábios. – Apenas fique quieto e observe uma luta de verdade. – Os olhos dele brilhavam de ânimo.
A garotinha batia com força a sua Zanpakutou contra a dela, recuando muito depois dessa tentativa. Umeko não parava de atacar em alta velocidade, igualando-se à velocidade usada por Ririchiyo no contra-ataque. A pequena continuou com um semblante descontraído, estava ficando divertida essa "brincadeira". A luta ficou em um nível que as duas eram vistas apenas como borrões à olho nu. A garota avançou repentinamente e quase arrancou a cabeça da oponente dando um salto como uma bela bailarina. A lâmina da katana passou à centímetros do rosto de Umeko que estava com uma expressão surpresa.
- I-Incrível... – Hideki diz boquiaberto.
(...)
Faltava menos de uma hora para que o herdeiro e, também, a lendária Zanpakutou fossem apresentados à população. O rei já não conseguia esconder a sua preocupação.
- Eu vou distraí-los com minha dança. – Diz Sayuri jogando o longo cabelo para trás. – Enquanto isso, reforce a segurança aqui e mande os guardas continuarem procurando a Zanpakutou.
A mulher estava tão preocupada com a situação do reino que esqueceu completamente da filha. Sua maior preocupação no momento era manter a boa imagem que todos tinham da família real. Sayuri entrou no palco e acenou para as pessoas, usando o seu sorriso gentil para disfarçar a angústia em seu interior.
Ryo andava de um lado para outros no enorme salão, ordenando aos seus guardas que vasculhassem cada canto da Sociedade das Almas. Sua respiração estava irregular e o ódio fervia em seu sangue.
(...)
Umeko lançava a kurasigama contra a garotinha, segurando o cabo e arremessando a foice em alta velocidade. Uma rajada de vento seguia a lâmina, tal vento fazia leves rachaduras no chão por onde passava. Ririchiyo aproximava-se em passos lentos e ignorando qualquer ameaça que aquele ataque podia proporcionar. Ela ricocheteava a foice usando a lâmina da sua Zanpakutou, Umeko tentava mais uma vez usando o mesmo movimento mas a pequena ricocheteava sem problemas. O mais incrível é que ela estava de olhos fechados.
- D-De no...no...vo! De n...no...vo! – Ririchiyo dizia animada com os olhos fechados e um largo sorriso nos lábios enquanto revidava cada ataque. Tudo estava sendo tão divertido. Depois, abria os olhos e olhava o próprio reflexo na lâmina. Admirava a beleza de seu rosto por um bom tempo.
- Tsc!
Em questão de segundos, a mulher já estava na frente de Ririchiyo e chutava com força o seu braço fazendo-a jogar a katana para cima. A pequena apenas olhou para cima e exclamou um "Ops!" de forma distraída. Então, flexionou os joelhos e deu um salto ultrapassando a altura da oponente. Ela usou a cabeça de Umeko para dar mais impulso e pegar a sua Zanpakutou. Em um movimento invisível à olho nu, a garotinha girou o corpo no ar e desferiu um golpe contra a inimiga. Uma força rajada de forte foi lançada da kurasigama e indo contra as ondas sonoras feitas pela menor. Infelizmente, a diferença de poder era nítida e Umeko ficou em pedaços.
Ririchiyo pousou e deu alguns passos para trás assustada com o que acabara de fazer. Então, a voz estridente ecoou pelo lugar.
- Incrível... – Takeshi dizia com um leve sorriso no canto dos lábios.
A garotinha podia sentir as vibrações vinda de sua voz, por isso conseguiu se virar no mesmo estante que ele falou. Ela continuava com a expressão de terror em seu rosto, nunca desejou matar ninguém e muito menos por causa de uma simples espada. O homem aproximava-se em passos lentos mas antes apertava o pescoço de Hideki com força.
- Dê-me essa espada ou os dois morrem. – O rosto de Takeshi ficou com uma expressão vazia.
Ririchiyo não tinha outra opção, não poderia ver o seu amigo morrer. Ela se aproximou e jogou a espada para Takeshi que a segurou no ar.
- To...ma...
- Finalmente. – Ele dizia olhando a arma com orgulho. – Eu irei retomar o meu lugar como rei mas primeiro preciso matar as testemunhas. – Jogou Hideki para um canto próximo à Ririchiyo. – Primeiro é você, pirralha!
Então, o homem usou a Zanpakutou para desferir um golpe em direção à garotinha que apenas ficou paralisada. Tudo ao redor era destruído pela onda que a arma proporcionava. A menor fechou os olhos com força, encolhendo-se e esperando a sua morte.
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