• TRINTA • PEDRO
- Está gostoso?
- Muito pa...tio Pedrinho!
A sensação de ser golpeado no peito me acerta com força total. Alegria enorme inunda - me. Me pergunto se será sempre assim quando ele quase me chamar de pai. Enquanto o observo se deliciar com seu sorvete de morango com muitos pedaços de biscoitos, desejo parar esse momento para sempre.
E com essa ideia em mente, retiro meu celular de minha bolsa e abro o aplicativo para câmera. Um pouco de sorvete derretido desliza por seu pequeno queixo, arregalando os olhos escuros ele ri depois de meio segundo de susto. E com um isso, registro esse momento. Um pouco do meu sorriso vacila quando olho para seu gesso recém colocado.
Assim como prometido, estava as nove da manhã no Lar de Luz. Não aguentei esperar até às dez no hospital. Decidindo ir buscar Raquel e Dudu. Me lembro de seu rostinho triste ao caminhar para o portão, assim como também do sorriso quase cegante que me lançou assim que me viu. E isso não tem preço.
- Olha tio Pedrinho! Está derretendo! - aponta para meu sorvete agora líquido. Seu Tim sugere que cometi um crime. Gargalho apertando - o em meus braços.
- Um crime não é?
- Um crime tio!
- Estão se divertindo muito? - Raquel volta para a mesa que ocupamos desde que chegamos aqui, ao deixar o hospital.
- Não imagina! Olha essa foto! - lhe mostro o momento exato que tirei a foto de Dudu. Ele ri baixinho e olha para o menino. Ainda há resquício de arrependimento em seu rosto e olhos mas preferi não apontar isso. Todos nós erramos certo?
- Olha temos um modelo aqui?
- Não! Meu modelo é meu tio!
- Isso mesmo! - ele se distrai tentando pegar um biscoito em meio a tanto sorvete. Olho ao redor e há um bom número de pessoas, mesmo sendo meio de semana elas tiraram esse tempo para se refrescar. O calor não dá trégua. - Quando terão que voltar?
- Em duas horas.
- Temos tempo! Há algo que quero te perguntar.
- Tudo bem!
- Dudu tem frequentado a escola?
- Não! Como ele veio de outra cidade, a escola onde ele estudava ainda não enviou o histórico dele. Vão fazer essa semana foi - me garantido. - toma um pouco de sua água. - Assim que estiver em minhas mãos, farei sua matrícula na escola onde as outras crianças do Lar estudam.
- Eu pediria para adiar um pouco mas me sinto um monstro ao pensar em pedir ir isso.
- Por que?
- Queria matricula - lo na escola de Campos de Esperança. Se não seriam duas transferências em muito pouco tempo.
- Veremos o que podemos fazer tudo bem? Mas há crianças de lá que estudam aqui sabia?
- Sei. Mas não quero que ele se canse com uma viagem de duas horas diárias só para estudar se ele tem uma escola lá e tão perto de onde moro.
- Você tem razão!
- Eu sempre tenho mulher! - lhe pisco um olho. Ela ri largamente.
- Agora me conta!
- O que? - finjo inocência.
- Sobre André! Foi ele quem atendeu ao seu telefone. Como estão as coisas entre vocês?
- Hum...- olho para Dudu. Muito distraído ainda. Me aproximo de forma que fiquemos no mesmo nível e sussurro em seu ouvido. - Bem, transamos!
- Oh! - suas bochechas se tornam escarlate. - Acho que ganhei então! - pega seu celular e vasculha seus contatos. Digita rapidamente e o guarda.
- Ganhou? Como assim gente?
- Oh, falei demais!
- Agora cuspa o que...- uma luz se acende em minha mente. - Vocês, seus bandos de fofoqueiros, de quanto foi a aposta? E quem participou dela?
- De cinquenta! E toda a sua família!
- Bando de pervertidos!
- Foi interessante acompanhar sua vida sexual!
- Vocês não prestam!
- Você nos ama! Isso é certo! - bufo bagunçando meus cabelos.
- Pior que tem razão! Essa ideia foi de minha tia não foi?
- Quem disse? - dá de ombros falsamente.
- Eu não te conheço! - abri minha boca dramaticamente. Ela gargalha alto eu a acompanho. Dudu segue o ritmo sem ao menos saber por que estamos rindo e me pego tentando gravar o som de sua risada.
- Tenho algo para te contar! - fiz após um momento de silêncio confortável. O som ao redor de nós não nos afeta em nada. Limpo a blusa de meu filho que já está rosa brilhante.
- Dispara mulher!
- Tenho um encontro! - minha boca cai no chão.
- Não faça essa cara! Parece que é algo impossível.
- Com você sim! Desde quando nos nos conhecemos que não a vi com ninguém.
- Hum... também não é assim!
- É assim sim! - entrelaçoeus dedos sobre a mesa de vidro. - Me diz? Qual o nome dele? Como se conheceram? Tem muito tempo? Tô me sentindo traído!
- Para seu bobo! Respira! - faço como pede calmamente. - Nos encontramos em um corredor de farmácia. Precisava comprar um xarope que estava em falta para um das crianças. Foi meio cena de filme sabe? Eu simplesmente o atropelei e sai com seu número de telefone no final.
- Tem foto dele aí? - ela acena alegremente e depois de alguns cliques, seleciona o contato dele. A foto que me cumprimenta é quase cegante. - Puta que me pariu! Mulher, que sorriso é esse? - Dudu olha para cima e volta sua atenção para seu sorvete.
- Assassino não é?
- Onde vocês vão?
- Vamos jantar no sábado no Otto!
- Nossa, por que te levar para outra cidade?
- Ele disse que é bom conhecer as proximidades pois em breve estará ocupando o cargo de delegado de lá.
- Oh, mas e o Jorge?
- O homem enfartou na delegacia! Não ficou sabendo?
- Jesus! Não, meu pai não me disse nada!
- Na certa ele nem se deu conta de passar a informação.
- Quando foi isso?
- Semana passada!
- Preciso estar mais com vó Maria das Flores! A mulher é um jornal eletrônico. Está segura com isso?
- Com o encontro? - aceno lentamente. Um sorriso que nunca vi em seu rosto quase me cega. - Sim! Conversamos pouco pessoalmente mas trocamos nossos números sabe? E não ficamos um dia sem nos falarmos.
- Só toma cuidado ok?
- Eu vou! Agora me conta, não desvie assunto. Em que pé vocês estão?
- Não rotulamos nada! - digo simplesmente. Um relacionamento não era minha prioridade no momento mas aí André chega e destrói com meus planos. Então vamos continuar nessa zona indefinida por um tempo.
- Você queria mais não é?
- O que? Não! Digo, olha estou em processo de aditar Dudu. Tenho Ella que é meu tesouro nessa terra. André não parece ser um homem que vá se comprometer a esse nível comigo e não vou cobrar por nada assim dele. Somos amigos.
- Que se beijam e transam! - diz baixinho.
- Sim mas há algo que as vezes o puxa para trás a casa passo que damos. Depois de praticamente nos comermos em seu escritório, ele ficou estranhamente calado.
- Ele se arrependeu?
- Não! Acho que não. Ele só ficou em sua mente sabe?
- Vocês precisam conversar sabe?
- Eu sei! Almoçamos em um clima leve mas... não sei. Ah, ele vai no domingo almoçar lá em casa com tio Mika!
- Um bom momento para conversarem!
- Isso!
O restante do tempo que passamos na sorveteria, eu arranco mais informações sobre o homem de Raquel. A coitada ficou vermelha quando sussurrei algumas coisas em seu ouvido, coisas que eu queria saber se aconteceriam depois de seu encontro. Acho que mais um pouco a matava de vergonha. Mas então nossa hora chegou e infelizmente tive que deixar meu menino para trás. Ela me abraçou né assegurando de que estava próximo o momento que eu poderia estar com ele novamente. E foi com esse pensamento que voltei para Campos de Esperança e parei direto no museu. Trabalhando o restante do dia com a mente fragmentada: uma parte estava em Ella que tinha cólica novamente hoje, outra em Dudu me preocupando se teria dificuldade com aquele gesso e em André. No que ele estaria fazendo ou se sentia minha falta como estava sentindo dele.
[....]
Perto do horário de saída, Layla aparece me avisando que tenho visita. Busco em minha mente por algum compromisso que tenha esquecido no decorrer do dia e não me lembro de ninguém. Dando de ombros, organizo minha mesa e digo para que ela deixe entrar quem quer que tiver me esperando. Sua presença tão característica é quem me atinge primeiro. É algo tão surreal, pois há algo nele que o faz ser único. De maneira tal que mesmo sem me virar, meu corpo reconhece o dele. Se acendendo imediatamente. Então seu cheiro me cerca, deixando - me bêbado por ele.
- André!
- Pedrinho! - uma de suas mãos está em seu bolso frontal. Na outra há uma grande sacola com a logo da padaria da cidade. Os cabelos em ordem e meus dedos coçam para desarruma - los. - Atrapalho?
- Nunca! - pego minha bolsa e a passos calmos, me coloco diante dele. Nossos rostos com poucos centímetros de distância. Eu quero beija - lo. Só não sei se posso fazer ou não o movimento. É tudo tão novo isso entre nós. Seu olhar varre meu corpo de alto a baixo. Me sinto fervilhando por seu toque e nossa como quero sua boca e tudo dele em mim. Um sorriso discreto se instala em seu rosto. Os olhos dilatados de desejo. Engulo em seco. - Não podemos transar aqui! - disparo imediatamente. Diante de minha fala, uma sobrancelha loira se ergue. Há diversão brilhando em seus olhos.
- O que te faz pensar nisso?
- A cena de ontem parece estar se repetindo! Um almoço, um drama e sexo selvagem!
- Só está faltando o drama!
- Não! Chega de dramas por favor! - dou uma risadinha. Erguendo vagarosamente a mão que antes estava oculta em seu bolso, fazendo minha pele formigar por seu contato, seu dedo indicador toca meu lábio inferior. E ali fica, por um bom tempo. Massageando.
- Tudo bem, sem drama! - pisca uma vez parecendo sair de um transe. - Mas um beijo tem que ter não é?
- Somos amigos lembra? - agora quem alça uma sobrancelha sou eu. Humor é notável em mim.
- Que se beijam, lembra?
- Me lembro, muito bem! - ele não se aproxima nem nada. Começo a ficar impaciente. - Então, vai me beijar ou não?
- Não precisa falar duas vezes! - sua boca se chocam contra a minha com força mas bem ligo se perder um dente no processo. O som de plásticos sendo manuseado é ouvido. Logo suas duas mãos estão em minha cintura e descendo. Não faço a mínima ideia de onde e as colocou.
- André....
- Sim?
- Te quero tanto! - mordo seu pescoço com força. Ele grunhe apertando minha bunda e nossa, minhas pernas ficam bambas.
- Disse que não podemos transar aqui! Mas a vontade que estou de te dobrar sobre sua mesa é sufocante.
- Layla e Gil podem entrar! - praticamente mio quando seus beijos úmidos descem por meu pescoço e clavícula.
- Já foram! Merda de blusa apertada!
- Quer tira - la?
- Com toda a minha vida! - em um piscar de olhos, tenho a minha camisa rasgada ao meio.
- Não precisava raga - la! - olho para os retalhos de tecido escuro agora não chão.
- Te dou outra! - segura meus cabelos firmemente.
Não respondo, apenas me deixo levar pela sensação de seus lábios em mim. Faminto é sua aparência no momento. E o mesmo acontece comigo. Nossas roupas encontram o chão de escuro e bem lustrado de minha sala. Aperto com seus braços, os músculos tensionando sob meu toque. Não sei quando, mas em um instante estava sobre a mesa. No outro eu podia sentir a superfície fria e lisa do piso enquanto o recebia dentro de mim. Intenso e com força. A expressão em seu rosto enquanto chegava ao ápice de prazer, será algo que nunca vou esquecer. É uma imagem a ser guardada a sete chaves.
- Essa bomba de chocolate está uma delícia! - chupo meu dedo indicador que sujei de chocolate. André que está sentado ao meu lado somente de cueca boxer branca, acompanha o movimento.
- Eu te vi comprar uma naquele dia já padaria! - toma um gole generoso de seu café.
- Viu? Andava me vigiando André?
- Talvez! - morde um pedaço de seu pão de queijo. - Me diz, foi tudo bem com Dudu no hospital? Esperei por sua mensagem mas como não me informou sobre decidi vir aqui? - ergo uma sobrancelha divertido.
- De só vejo aqui para abusar do meu corpinho nú! Não negue!
- Pode ser que eu tenha pensado em te lamber por inteiro. - ergue as mãos sorrindo levemente. - Mas minha preocupação com seu filho é real!
- Eu sei e agradeço muito! - deixo minha cabeça cair sobre seu ombro. - O gesso foi colocado tão rápido que nem vimos acontecer. Dustrai ele conversando sobre seus desenhos. E a mulher que o agrediu, não só ele mas outras crianças? Vai ficar presa não é?
- Ela é réu primário. Tem endereço fixo...
- André ela não pode ficar livre! Essas crianças...
- Eu sei! Mesmo que ela saia, ainda estarei correndo com o processo. Sou seu advogado lembra?
- Como esquecer? Esses terno sob medida e a postura de "vou te foder!" que carrega diz muito!
Ele ri alto. Me separo um pouquinho dele e somente o observo. A cabeça loira jogada para trás, os dentes muito bem cuidados aparecendo livremente, a mão sobre a barriga tonificada e o som envolvente de sua risada. Tudo formando um conjunto difícil de esquecer. Algo digno de ser guardado com todo o amor do mundo.
E enquanto me delicio com sua imagem leve e alegre, me lembro de algo que meu pai conversou comigo um tempo atrás.
"André sou eu quando mais jovem!"
Não me importo se ele anda com seu semblante sério, reservado ao extremo e que pelo que notei, odeia bebidas ou cigarros. O importante é que mesmo com suas reservas, ele está se permitindo viver algo além de sua zona de conforto. Se permitindo sentir. E mesmo que as coisas entre nós não saiam do "sem rótulos!". Ficarei feliz em ter um pouco dele ainda que por somente um tempo.
- Pedrinho? - seus dedos passam por minha bochecha. - Está chorando?
- Estou?
- Sim!
- Desculpe, nem me dei conta! - forço um sorriso.
- Vai me contar o motivo?
- Não é nada! - beijo seu queixo seguido de sua boca. Ele ainda me observa atentamente.
Enquanto ele me abraça, me deixo afundar e sentir sua pele quente. Enquanto que em minha mente, me odeio por descobrir que sinto bem mais do que simples atração por André. Me vejo descobrindo que não sei o que fazer se nos separarmos, seria uma dor que mesmo antes de senti - la, me raega por inteiro. O que fez comigo André?
10/08/19
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