• TRINTA E SEIS • ANDRÉ
- Aceita namorar comigo?
Balanço negativamente minha cabeça em frente ao espelho, o bolo em minha garganta crescendo a medida que a hora que combinei de busca - lo se aproxima. A camisa social escura que uso de repente se torna apertada demais. O suor pontilha em minha testa e nuca. Pigarreio gravemente e faço minha voz mais suave e menos robótica.
- Aceita namorar comigo? Eu te amo...
Não posso jogar ao vento assim o fato de que o amo. Posso assusta - lo de primeira, já aconteceu comigo no passado e isso é a última coisa que pretendo essa noite. Dou uma volta em frente ao espelho e me conformo com minha imagem. Aquiles trota até mim, dançando entre minhas pernas. Me abaixo para acariciar atrás de suas orelhas, arrancando um ronronar dele.
Verifico meu celular mais uma vez em busca de mais mensagens além da que me foi enviada três horas antes.
"Ella está com febre. Se ela melhorar, nosso encontro está de pé. Mas se não...sinto muito." P
Confesso que senti uma onda de desapontamento percorrer meu corpo assim que li a sentença. Mas me contive, ao pensar quão bom pai Pedrinho está se saindo. Para quem tinha os olhos arregalados em horror assim que recebeu a notícia de que a menina seria sua, ele tem levado com leveza e amor ao extremo seus cuidados com a filha. E fico feliz por saber que essa menina tem e vai continuar recebendo todo o afeto que lhe é devido.
- Está bonitão ein garoto!
- São seus olhos tio. - lhe pisco um olho. Ele me olha por um instante, antes de se dobrar sobre si mesmo rindo histericamente ao ponto de uma lágrima escorre por seu rosto, aponta em minha direção. Ele perdeu o fôlego por um instante, mas conseguiu se recuperar.
- Garoto, menino Pedrinho tem te feito bem.
- Se você diz. - fiz pouco caso.
Ainda não tinha me aberto com meu tio sobre a veracidade dos meus sentimentos. Sentimentos esses que me põe em constante estado de alerta por simplesmente ter medo de me machucar. Jesus, London. Você me fodeu feio.
- Que cara é essa garoto? - suspiro profundamente, mascarando minhas feições. - Você gosta dele não é? - ele assume uma postura defensiva. - Olha André, você pode ser meu sobrinho. Quem eu praticamente criei, mas se você machucar aquele rapaz, saiba que não ficarei ao seu lado.
- Ei, calma aí! - ergo as mãos em sinal de rendição. - Sei que não me abri com você sobre meus sentimentos.
- Você não me conta muita coisa, isso é fato. Mas já me acostumei com esse seu jeito "sou um túmulo". - rimos juntos. Deixando meu quarto, o sigo até a sala onde pego minha carteira.
- E sinto muito por isso tio.
- Não sinta. Você não é obrigado a andar com seus sentimentos expostos por todo o lugar. Mas é bom falar as vezes.
- Eu tenho feito, com o psicólogo se lembra?
- Sim e não sabe o quanto fico orgulhoso de você.
- Eu quero ter orgulho de mim mesmo. E não passar o resto de minha vida sendo um depósito de rancor.
- Posso morrer feliz então! - diz seriamente. Sentindo um aperto em meu coração, me recuso a pensar em uma vida onde ele não esteja junto a mim.
- Não diga isso velho! - soco fracamente seu ombro. Meu celular vibra em meu bolso, retiro - o desbloqueando a tela.
- O que foi?
- Tenho que ir!
[....]
Quarenta minutos depois, estou estacionando em frente a sua casa. Somente a luz da sala está acesa quando bato em sua porta. Seguro as bolsas firmemente em minhas mãos enquanto espero pacientemente. Sei que posso ser expulso a qualquer momento, pois ele disse que me veria amanhã. Mas indo contra sua mensagem, não demorei um minuto a mais e parti em direção a Otto. Chegando lá, comprei uma refeição completa fechando com uma garrafa de vinho.
Bem, o que não fazemos pelas pessoas que gostamos não é?
- Hum... André? - pisco uma vez voltando a realidade.
- Sei que nos veríamos amanhã. Mas queria apenas ver se realmente está tudo bem e te fazer companhia.
- Oh! - ele sorri genuinamente. Os cabelos estão soltos e meus dedos se contorcem por toca - los.
- Eu disse que esse homem é para casar! Não sei o que está esperando príncipe. - não me contive e ri ao ouvir a voz de sua tia.
- Tia!
- Só digo verdades! - bate na bunda dele, ao passar por ele. - Estarei lá dentro. - ambos observamos quando ela se tranca no quarto próximo ao de Pedrinho.
- Entra. - dá um passo para o lado. Com a mão livre, agarro sua cintura e lhe beijo profundamente. Sem amarras, totalmente rendido. Quando foi que deixei me envolver tanto por ele?
- Estou cheirando a vômito de bebê! - me afasta rapidamente.
- Um dos seus charmes. - ele rie ajudando com a colocar a comida sobre a mesa. Assim que ele retira o vinho, ele vacila erguendo o olhar interrogativo.
- Sabe que não precisava não é? Sei que não é fã de bebidas...
- Eu quis. Sei que gosta, acertei? - indiquei a marca com o queixo.
- Claro! - pigarreia levemente. - Só vou trocar de roupa ok?
Aceno lentamente, vejo - o sumir para logo aparecer com uma nova camiseta. Essa parece ser mais apertada que a anterior. O formato de seus músculos são ressaltados e sinto - me aquecer, louco para acariciar a pele pálida e sem mácula que compõe seu bonito e esguio corpo.
- Algum problema? - ergue divertido sua sobrancelha negra com sua eterna falha.
- Essa sua blusa!
- O que tem ela?
- Vamos comer? - coloco minhas mãos em minha cintura, procurando algo para fazer com elas.
- Sim, estou morrendo de fome.
- Como Ella está?
- A febre enfim cedeu, mas preferi ficar em casa e cuidar dela.
- Isso é bom. - ele mesmo nos serve. A lasanha bolonhesa parece fumegar e seu aroma é enlouquecedor.
O jantar foi feito em sua maior parte em silêncio. Não era incômodo nem nada do tipo, nós somente queríamos degustar de uma boa refeição na companhia um do outro, pelo menos de minha parte era assim. Depois de ajuda - lo com a louça, nos jogamos em seu sofá. Sua cabeça contra meu peito, seus dedos passeando por minhas cicatrizes por sobre minha blusa distraidamente.
- Quer sorvete?
- Não sou muito fã!
- Um crime! Dudu te olharia assutado nesse momento.
- Ele faria com certeza. Ele doido por sorvete não é? - me lembro de nossas muitas conversas sobre ele. Mesmo tendo visto o menino por uma única vez no hospital meses atrás e por uns poucos segundos, eu sentia como se conhecesse ele por toda a vida.
- Sei que estamos em nosso encontro, um pouco improvisado eu sei. Mas você não me respondeu a minha pergunta. - diz um momento depois.
O silêncio é só o que há entre nós. Sei do que ele está falando. Sobre minha volta para Londres. Um tempo atrás, a resposta seria um certo e imediato, sim. Mas agora. Tem ele e em algum momento ele passou a significar muito para mim, sem que eu me desse conta. É assustador.
- Não é minha opção no momento.
- Essa resposta não me deixa nenhum um pouco seguro. Não temos um relacionamento mas nossa...
- Eu entendo.
Como eu entendo. Ergo seu queixo suavemente, seus olhos azuis escuros estão temerosos e aquilo me quebra em algum nível.
- Se eu voltar para Londres, você será o primeiro a saber. Acredite. - digo o mais calmo possível. Ele assente engolindo em seco.
- Ok...
- Namora comigo?
- Hum...o que?
- Você me ouviu. - beijo seus lábios me demorando por alguns segundos.- Marquei esse encontro para oficializar o que temos, agimos como se fossemos namorados, então agora é oficial.
- Ainda não aceitei.
- Vai fazer isso difícil para mim não é?
- Sangue de Luana com certeza. - Luara surge do nada entre nós. Um sorriso amplo brincando em seus lábios.
- Jesus Cristo tia!
- Aceita logo, deixa de cu doce!
- É deixa de cu doce Pedrinho! - brinco, recebendo um tapa no peito.
- Vou fazer você suar um pouco mais. - ele ri descaradamente. Batem a porta. - Está esperando alguém tia?
- Não! - vai até a cozinha e pega um copo com água.
Pedrinho parece petrificado enquanto o homem diante dele espera ser convidado para entrar com as mãos nos bolsos frontais. Minha mão vai para suas costas, dando meu apoio de alguma forma.
- Podemos conversar?
- Tudo bem! Quer algo para beber?
- Não! - entra ficando de pé. A porta se fecha e logo estamos nós quatro na sala.
- Então? - Pedrinho diz com os braços cruzados.
A postura defensiva é nítida nele. Sua tia não está muito diferente. O ar ao redor parece estalar tamanha a tensão. Pedrinho mais do que ninguém está com medo, ele tenta não demonstrar mas eu vejo. Ainda que por trás de seus sorrisos. A família toda está pronta para uma guerra tanto que desde que Vinícius apareceu aqui procurando pela irmã mas saiu sem saber da existência da sobrinha, já estive em contato com dois advogados muito bons do Rio de Janeiro e São Paulo. Pelo que percebi Vagner seu pai biológico, que ainda não conheci e Henrique, tem contatos. Como tio Mika me explicou, eles não duvidavam do meu potencial como um dos melhores advogados de Londres mas toda a ajuda é bem vinda.
- Começamos de forma errada ok? - passa as mãos pelos cabelos loiros. - Como eu imaginava, o investigador que contratei assim que cheguei do exterior havia sido comprado por meus pais, suprimindo algumas informações de mim. Então eu só tive uma porcentagem das informações completas que tenho hoje.
- Que seriam? - ele grunhe sabendo do que se trata.
- Antonella!
- Ligaram para você. Disse que não estava interessado em cuidar da sobrinha. - Pedrinho diz entre dentes. Vinícius ri sem humor.
- Não recebi ligação alguma. Estava no escuro. - o silêncio é pesado. Meu namorado é quem quebra o silêncio.
- Bem? Vai tira - la de mim? É isso que veio dizer? - sua voz racha em meio a um soluço. O abraço de lado, beijando seu pescoço.
- Não! - diz apressadamente, com as mãos no ar. - Eu quero participar da vida dela. Ela é uma parte da irmã que perdi tão precocemente.
- Eu...- Luara esfrega os braços do sobrinho. Tento manter a calma, Pedrinho não pode se exceder. Para que Ella não seja a mais prejudicada ficando no meio de uma disputa sem sentido, é preciso calma.
- Olha só, Raquel me disse quão bom rapaz você é. E eu acredito. Pela sua reação vejo o quanto a ama. Só quero poder fazer por ela, o que não fiz por minha irmã. - uma única e solitária lágrima escorre por sua bochecha, ele a limpa com o dorso da mão. - Olha, se quiser podem programar um dia e horário para que eu possa vê - la. É só o que peço.
Meu agora namorado aperta as mãos em punhos ao lado do corpo, fechando os olhos, puxa o ar com força. Com as mãos trêmulas, prende os cabelos que lhe ocultavam o rosto bonito e de traços firmes. Ele e a tia trocam um olhar que só tem significado entre eles.
- Tudo bem! - o homem solta o ar com força, parecendo não acreditar que receberia um "sim" como resposta. - Ela estava um pouco doente hoje e...
- É grave?
- Não. Era febre principalmente e com isso ela tinha oscilações de humor. Mas a febre baixou graças a Deus. Ela está dormindo, então você realmente só irá vê - la, ok?
- É o suficiente para mim! - assente freneticamente.
- Vou ligar para seus pais.
- Vamos? - sinto seus dedos entrelaçarem aos meus.
Pedrinho termina de abrir a porta do quarto de Ella. Somente uma lâmpada com um formato de uma nuvem, iluminava o ambiente. Ao lado do berço, Hulk com todo o seu tamanho, repousava parecendo dormir calmamente. Mas soltou um rosnado baixo assim que farejou o ar, na certa pegando um cheiro diferente.
- Hulk, quieto garoto!
Parecendo sentir sendo observada, a bebê se move. Solta um som fofo enquanto aperta seu navio de pelúcia. Logo os olhos cinzentos errantes se abrem, mesmo que ela não tenha visão as vezes parece que ela pode nos ver por dentro. Vinícius ofega enquanto seus olhos estão fixos nela, se antes seu choro era contido. Agora ele não se importa, pois seus ombros balançam conforme ele chora de maneira dolorida. Não sei se de arrependimento ou de emoção.
- Ela tem os olhos dela.
- Sim! Foi a primeira coisa que notei assim que ela os abriu pela primeira vez. - volto minha atenção para o porta retrato sobre a cômoda perto do berço.
De repente a menina se contorce como se algo a estivesse incomodando. Seu biquinho rosado trêmulo. Pedrinho se inclina e a pega. Como em um passe de mágica, ela se acalma, enterrando o pequeno rostinho no peito de seu pai. A passos lentos Vinícius se aproxima, os olhos brilhando em felicidade.
- Diga oi ao seu tio Ella!
Ella finalmente conheceu tio Vini. O que acham?
16/08/2019
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