O PEDIDO - ANDRÉ
Rítmicas.
Assim estão as batidas de seu muito vivo, pulsante e forte coração. Coração esse que por pouco não parou de bater meses atrás por causa de pessoas guiadas pela maldade banhada em preconceito puro e simples. Me lembrar do dia que senti meu mundo se partir ao meio, me traz uma angústia sem igual. Me lembrar de suas mãos frias e imóveis por três meses seguidos é como me afogar em um mar de dor.
Acaricio seus cabelos escuros. Agora um pouco mais curtos. No entanto não lhe tira sua beleza quase hipnotizante. Aspiro seu perfume que nunca mudou, o qual me traz a certeza de que, sim. Ele está aqui, vivo e comigo e é tudo o que importa. Beijo seu pescoço, ele geme baixinho e quase nos viro para que eu possa devorar sua boca. O que se torna impossível. As crianças estão em casa e o som de suas risadas vindo através do corredor é como bálsamo para minha alma. Tom está com elas, o menino não saiu de perto deles desde quando chegou de mochila gritando que estava livre do inferno. A escola no caso.
Nunca me vi nesse cenário. Com uma casa que agora tem literalmente uma cerca branca, dois cachorros, dois filhos e um homem que me ama com loucura. Sim, agora posso afirmar isso. O homem mostra em todos os instantes como me ama e eu apenas busco recompensa - lo.
- O que acha de jantarmos fora hoje? - ele murmura um "hurum". Seus dedos brincando com minha camisa. Seus movimentos param de repente, acho que se dando conta do que concordou.
- Não podemos, se lembra que hoje vamos para a casa de minha mãe? A mulher vai pirar se não aparecermos lá.
Dou de ombros, recebendo um olhar atravessado como se não me importasse com o jantar em questão. O que é mentira. Tenho dona Luana como a figura mais próxima de uma mãe desde o momento que fomos unidos pela dor de quase perder Pedrinho. Ela me apoiou em tantos momentos. Momentos onde eu só queria ficar sozinho mas não podia. Ella e Dudu precisavam de mim. Meu nome não constava em suas certidões de nascimento como seu pai. Mas eu me via como um e tinha Pedrinho. Sei que mesmo preso naquela cama e em coma, iria gostar de saber que eu cuidei dos seus bebês.
- Homem louco, querendo atrair a fúria de Luana Bianco em sua direção.
- Já liguei desmarcando. - informo completamente despreocupado. Sua boca se abre em surpresa fingida e quero enfiar minha língua em sua boca. Merda, engulo em seco tentando frear meus pensamentos nada puros.
- Está respirando, então acho que tudo bem. Vamos no Otto?
Sua carinha ansiosa me faz realmente beija - lo. Seguro sua nuca, ele dá um gritinho mas não tarda em me segurar firmemente pela minha camisa. Logo o tenho em meu colo, seu corpo tão colado ao meu que nem ao menos a mais suave brisa do início da tarde pode passar através de nós. Mergulho minha língua em sua boca quente e envolvente, ele geme e eu também. Nossas respirações se tornam uma. O desejo falando mais alto. Pedrinho rebola em meu colo, eu sendo o portador do juízo da relação, o afasto com o coração dolorido além de outras partes de mim.
Rindo histericamente, se coloca de pé muito rápido. Ele cambaleia apertando o joelho no processo. Grunhindo de dor, eu o seguro firmemente pela cintura. Sua respiração está rápida, gotas de suor lhe cobrem a testa e vejo como aperta a mandíbula com força por causa da dor. Beijo sua testa demoradamente, seguido por seu nariz e por último, sua boca gostosa. Depois de um instante, olha para mim. Tenta me oferecer seu bonito e aquecido sorriso. O que sai mais como uma careta.
- Está doendo muito?
- S - sim...
- Desde quando? - ele olha para o chão. - Pedrinho...
- Hoje de manhã.
Respiro profundamente, o envolvendo em um abraço, ajudo - o a se sentar novamente. Todo o desejo foi embora, sendo substituído por preocupação. Odeio quando ele faz isso. Ignora o quanto pode a dor para não incomodar ninguém. Como se cuidar dele e dos meus filhos fosse algum incômodo. O deixo por um momento indo em direção ao quarto para buscar seus remédios. Os quais toma desde que saiu do hospital. Após despertar do coma, Pedrinho foi praticamente revirado do avesso com exames para ver se ficaria ou não com sequelas. Foi um alívio saber por Saint e o médico que o atendeu que nenhum dano neurológico foi feito a ele mas seu joelho nunca mais seria o mesmo. Por isso ele faz fisioterapia três vezes por semana e toma remédios para a dor.
Volto com uma garrafa d'água para ele que toma com uma careta. Beijo sua testa e espero. Aos poucos a cor vai voltando para seu rosto.
- Quando estiver com dor, me fala por favor Pedrinho.
- Não estava tão ruim. Só levantei muito rápido.
- Mesmo assim. Agora voltemos ao tópico jantar fora. - ele me lança um sorriso agradecido quando não insisto no assunto. - Regina e tio Mika voltam hoje de viagem. Ela vai fazer um jantar, só achei que gostaria de ir.
- Eu vou. Estou com saudades do tio Mika.
- Que Regina não o escute falando assim. A mulher te ama.
- Eu sei, sou irresistível. - me pisca um de seus olhos azuis escuros. Reviro meus olhos sem evitar.
Ainda sendo embalados pelo som da alegria das crianças, pego Pedrinho no colo, nos deitando no sofá, aguardo o remédio fazer efeito. No início da tarde começo a ficar nervoso com a aproximação do horário do jantar. Não menti quando disse que o jantar era para comemorar a chegada dos meus tios de sua Lua de mel. Uma que durou um mês inteiro em alto mar. Ainda sou ridicularizado por Luara pela lerdeza segundo ela.
Sim, desde que Pedrinho acordou do coma, eu venho tentando arranjar um jeito de pedi - lo em casamento. Mas a cada vez que tomo coragem, algo acontece. Quando meu tio se casou, senti - me ainda mais pressionado. Não que fosse um fardo casar com Pedrinho, no nosso caso só iríamos oficializar a nossa união pois moramos juntos desde que saiu do hospital.
Aproveitando que ele está no chuveiro, cantando como se estivesse em um show e quase desgraçando os tímpanos desavisados, abro a última gaveta do guarda - roupa, que mantenho trancada. Após abri - la, fico alguns segundos encarando a caixinha vermelha com admiração. Abro - a lentamente como se fosse a primeira vez em Londres. Admiro a jóia um pouco mais, no entanto, tenho que guarda - la quando o chuveiro é desligado. É hoje que mudo meu status com o homem da minha vida.
Fecho tudo novamente e estou pronto para pegar as roupas que vou usar, quando meu filho entra no quarto. Seus olhos estão arregalados quando corre até mim. O pego no colo.
- O que foi filho? - meu coração parece dobrar de tamanho toda vez que o chamo assim e ele me recompensa com um "papai" animado.
Ele me chamou assim quando Pedrinho chegou em casa do hospital já havia uma semana. Mas como era um teimoso, decidiu tomar banho sozinho. Senti uma fraqueza no joelho, caindo no banho. Como Dudu estava mais perto e ouviu o grito do pai. Saiu correndo me chamando. Só que não foi o "tio André" como de costume. Mas sim um desesperado "papai" aquele foi um dos melhores dias da minha vida.
- Minha irmã está estranha.
- Estranha como?
- Ela está muito quieta. E chorando muito.
- Vamos vê - la tudo bem? Não é nada, vai ver.
Confirmo o que Dudu disse, ao chegar no quarto e ao ver minha filha, noto o quão quieta está. Suas bochechas estão vermelhas e pisca os olhos devagar. Com as costas mão, sinto o quão quente está. Praguejo mentalmente, pego - a no colo, beijando seu rostinho.
- O que houve amor?
- Febre. - olho por sobre meu ombro, Pedrinho veste sua bermuda de tecido fino. Dudu que havia descido do meu colo, agarra as pernas do pai.
- Tadinha da minha bebê. Vou pegar o anti térmico.
- Vou ligar para meu tio avisando que não vamos.
- Não amor, você vai. Ele deve estar com saudades. Eu fico com ela.
O sigo até o banheiro, onde na prateleira acima do espelho do banheiro, ficam os medicamentos. Ella deita sua cabeça em meu ombro, sua pequena mão segurando firmemente minha blusa. A balanço suavemente, enquanto o pai prepara a medicação. É um martírio faze - la beber o líquido mas depois de muito choro, conseguimos.
Dudu observa a tudo atento e com um pouco de medo. As vezes acho que a perda de sua irmã o afeta mais do que demonstra. Ele tem feito acompanhando com um psicólogo infantil e tem melhorado. Deitamos na nossa cama, Dudu enroscado em Pedrinho mas sua atenção na irmã que está deitada em meu peito. Quando a febre se mostra quase insistente, ambos dormem, olho por sobre a cabeça de nosso filho. Pedrinho tem os olhos quase fechados, mas estão fixos em mim.
- Eu te amo. - murmura baixinho antes de fechar por completo.
- E eu também.
A madrugada se mostrou longa. A febre de Ella não muito alta, ia e vinha, só tendo fim lá pelas três da madrugada. Não movemos as crianças, elas pareciam muito confortáveis entre nós. E eu queria curtir um pouco mais deles.
Agora, sentado no pé da cama, girando a pequena caixa em minha mão, penso que é agora. Não posso mais adiar. Pedrinho seria meu marido, nem se fosse para fazer um simples pedido de casamento. Eu teria seu sim. Sinto um movimento pensando ser uma das crianças já despertas, mas ao me virar um par de olhos azuis escuros e miúdos de sono. Os cabelos escuros apontando para todas as direções. Ele sorri largamente mas aos poucos, como em câmera lenta, ele desaparece ao notar o objeto que seguro como se minha vida dependesse disso.
- Oh meu Deus! É o que estou pensando? - leva a mão a boca.
- Não fala nada Pedrinho. Só me deixa falar! - passo a mão livre por meus cabelos. Me sentindo nervoso.
- Tudo bem, só diz logo homem! - diz alegremente.
- Eu comprei esse anel em Londres. Quando o vi na joalheria foi amor a primeira vista. A pedra azul escura que ele carrega me lembrou seis olhos imediatamente. Então estava decidido a te pedir em casamento, encontrei com London e percebi que o problema não era eu. Nunca fui eu. Que eu poderia ser feliz ao lado do homem que eu amo. Mas tudo mudou quando soube que te atacaram tão covardemente. Eu vi parte de mim sendo arrancado brutalmente pela vida. Mais uma vez. Mas então você venceu a morte e voltou para mim. Para nós. Mas nunca encontrava uma oportunidade para oficializar nossa união. Sempre acontecia algo que me impedia de te dizer as três palavras que estão entaladas em minha garganta tem tantos meses. - pigarreio sentindo o indício de lágrimas se apoderarem de mim.
Antes de Pedrinho, o antigo André nunca choraria por nada. Mas esse André. Que é amado, tem uma família que supera os laços sanguíneos e que também pode amar intensamente, chora sem um pingo de vergonha.
- Estou esperando homem!
- Pedrinho, não me atrapalha.
Nós rimos entre lágrimas.
- Pedro Melo Bianco, aceita...- não há tempo para terminar minha sentença. Seu grande corpo de alguma forma consegue passar por sobre nossos filhos. Se lançando contra mim. Sem esperar pelo movimento brusco, logo estamos no chão. Uma confusão de pernas e braços e seus lábios estão contra os meus. Poderosos, ávidos e só meus. Sua língua quente se choca contra a minha, me redendo ao beijo que nunca perde a novidade para mim. Sempre sendo intenso.
- É claro que sim! Ah nossa pensei que nunca faria o pedido! - pega a caixinha caída ao lado de minha cabeça. Abre ela e logo enfia o anel em seu dedo. Balançando os dedos, se esquecendo de minha existência. - Ah é lindo!
- Que bom que gostou. - acaricio seu rosto, me demorando na falha que há em sua sobrancelha.
- Entenda uma coisa André! - deixa um beijo estalado em meus lábios. - Eu amo tudo o que você faz.
- Guerra de travesseiros papai!
Não dá tempo de desviarmos do pequeno corpo se chocando contra nós. Pedrinho se vira rapidamente, fazendo cócegas em suas costelas, arrancando gargalhadas altas e contagiantes dele. Logo um resmungo nos alerta de uma certa garotinha. Me ergo pegando Ella, trazendo ela para a bagunça, tendo a certeza de que a melhor coisa que fiz na vida, foi vir para essa cidade. Encontrando o amor em um lugar improvável, do qual vou sar sempre grato.
Está aí gente esse bônus. O qual planejava postar tem um tempo. Espero de coração que gostem e como podem ver, André continua lerdo kkkkkk
19/01/2020
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