Eu Vejo Uma Luz - Parte 2
— Abre a porra dessa boca logo!
Quando acordei, Gustavo estava enfiando a cabeça de Maria Clara dentro de um barril como água.
— Para! Você vai matá-la! — Gritei em desespero.
— Cala a boca, você vai ser o próximo.
— Não faça isso com ela, por favor! — Implorei mais uma vez.
— Cala a boca! — Antes que eu dissesse outra coisa, Gustavo se aproximou com um taco de beisebol e acertou minha cabeça.
Lá vai eu apagando novamente...
***
(Agora)
Após eu ficar desacordado fui despertando aos poucos.
Esse local que estamos presos é extremamente frio e escuro — somente uma fraca luz está sobre nossas cabeças. Olho lentamente para cima com a cabeça ainda latejando e ao olhar na direção das escadas vejo uma silhueta. Em um primeiro momento pensei que fosse outro cúmplice de Artur e Gustavo, mas o corpo estava parado como se estivesse espionando.
Quando a pessoa das sombras deu um passo em direção ao feixe de luz ficou reconhecível: era a Vanessa.
Meu coração acelerou.
Há uma esperança!
Depois de tantas horas de desespero ver uma luz no fim do túnel é revigorante.
Quando ela percebeu que eu a vi ela fez um sinal em minha direção.
Devido a escuridão eu não consegui ver direito o que ela estava tentando me dizer, mas só de ver — mesmo que não seja claramente — um rosto amigo, meu coração se aqueceu. Confesso que ao acordar e ver a garota sendo maltratada fez com que eu perdesse minhas esperanças.
Olho para o lado e vejo Maria Clara encharcada e com a cabeça caída para trás. O seu rosto está vermelho e com alguns ferimentos — provavelmente feitos pelo anel que está em um dos dedos de Gustavo.
Olho para baixo e vejo que o barril está tombado. E os dois rapazes estão discutindo.
Ao que parece, Artur descobriu quem é o amigo dele.
— VOCÊ NÃO DEVERIA TER MENTIDO PARA MIM! — Artur esbravejou e partiu para cima de Gustavo.
Vanessa aproveitou a brecha e apareceu.
— Mãos para o alto!
Ela chamou reforços.
— O que você está fazendo aqui? — Gustavo estava confuso.
— Mãos para cima! Sou da polícia.
Em desespero, Gustavo tirou um canivete do bolso e pegou Artur como refém.
— Você ficou louco, cara? — Artur disse tentando se soltar.
— Fica quieto! Se você se aproximar eu vou matá-lo.
Vanessa deu um passo a mais e ele começou a cortar o pescoço de Artur, então ela parou.
— Me deixa sair daqui ileso que eu solto ele. Eu quero sair do país!
— Tudo bem, vamos deixar você ir embora. Fique calmo, não machuque seu amigo. — Ela deu dois passos para trás — Vou deixar você sair.
— Não tente nenhuma gracinha! JOGUE A ARMA PRA CÁ! — Ele esbravejou.
Com muita habilidade, Vanessa jogou a arma na direção de Gustavo. Quando ele afrouxou um pouco o braço, do pescoço de Artur, ela segurou-lhe o braço e com um só movimento derrubou o canivete e libertou Artur.
Gustavo revidou e lhe derrubou, mas com sua habilidade Vanessa conseguiu lhe dominar, colocando as algemas em seus braços.
De repente, vários homens armados surgiram no cômodo e um deles me desamarrou.
Sem pensar duas vezes, fui socorrer Maria Clara. Devido ao frio do local acrescido da água gelada na qual foi exposta, seu corpo está sofrendo de hipotermia. Sua temperatura está terrivelmente baixa.
Preciso aquecê-la!
— Rápido, me deem suas camisas!
Alguns policiais cederam suas camisas, então eu a cobrir com elas. Peguei-a e a carreguei até lá fora. Por sorte, uma ambulância estava chegando.
Quando a ambulância estava fechando a porta, senti uma forte dor na cabeça e tudo foi ficando escuro e silencioso.
***
Enquanto estou despertando, sinto um calor sob minha mão. Ainda com o olhar embaçado, vejo minha mãe olhando para mim com lágrimas nos olhos.
— Meu filho, você está bem? — por um segundo penso que seu coração despedaçado vai sair pela boca.
— Estou bem, mãe. Está tudo bem. Isso pode acontecer nessa profissão. — Tento tranquilizá-la.
— Pare com isso, meu filho. Por favor, volte para o hospital.
— Mãe, essa é a primeira vez depois de muito tempo que eu estou me sentindo vivo. Após toda a tensão eu estou feliz. E sabe o que é mais engraçado? Enquanto eu estava amarrado, impotente, eu não estava preocupado comigo. Eu queria apenas salvar àquela menina. Eu acho que isso é um bom sinal.
— Até onde vai sua teimosia? O que você quer provar com isso tudo? Que seu pai está errado? Que você tem direito de estragar sua vida? Oh, meu filho. Pare com isso, eu lhe peço!
É novamente suas lágrimas começam a cair. O interessante é que essa lágrima não é de comoção e sim de atuação.
É disso que eu sempre quis fugir. São desses momentos que eu corro. São atitudes como essa que me fez desistir de nossa família.
Nesse momento, claramente, não é uma mãe que está chorando, mas Eugênia Palácio, esposa do doutor José Roberto Palácio. E, visivelmente, essa atitude foi pré determinada.
— Filho, o seu pai só quer o seu bem. Pare de ser cabeça dura e volte para o hospital. — As lágrimas secaram tão rápido... — Se você não voltar em seis meses, o seu pai passará a clínica para sua irmã. Você perderá tudo.
Sinto um aperto no coração, mas não é por medo de perder o cargo de presidente de uma clínica e sim por não ter a compaixão da minha família nem quando corri risco de vida.
Que vergonha que eu tenho dessa família!
***
Depois que minha mãe foi embora, uma enfermeira veio ver se o soro está acabando. Enquanto ela examina o plástico quase vazio e começa a colocar outro, Vanessa entra no quarto.
— Como ele está? — Ela pergunta à enfermeira.
— Ele está bem. Os exames estão normais. Assim que acabar esse soro ele pode ir para casa. — Ela disse e nos deixou.
É a primeira vez que fico sozinho com ela. Sinceramente, não sei o que dizer.
— Eu preciso do seu depoimento. Mas não precisa ser agora. Descanse por hoje. Você deve ter ficado assustado com tudo que aconteceu. Eu sinto muito por ter demorado a chegar. Por minha causa você esteve em perigo. E devido ao meu erro, mesmo não achando que você esteja qualificado para essa divisão eu lhe deixarei escolher. Pense com cuidado.
Eu não sei se isso foi um conselho ou uma ameaça — apesar de tudo ter soado como a segunda. O interessante é que apesar do tom de descaso, seus olhos são distintos: mostram um temor. Uma súplica.
Nunca imaginei que Vanessa agiria assim. Minha teoria era que ela me estrangularia.
Isso significa que ela tem um coração.
— Vou deixá-lo por enquanto. Vou falar com a enfermeira que você passará a noite aqui. Dois policiais ficarão de olho. Qualquer coisa os chame. Amanhã veremos qual será sua escolha. Até mais ver.
Com um aceno de cabeça ela deixou o quarto, dando espaço para o silêncio reinar.
Fico olhando para o gotejar do soro. Tão lento que aos poucos vai me ninando... Os meus olhos aos poucos vão se fechando...
E por fim adormeço.
Dessa vez sem levar qualquer pancada.
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Até que enfim ele dormiu de forma natural...
E essa mãe falsiane aí? Aff. Que família.
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Obrigada pela leitura, você é um amorzinho ❤
Obs.: Adicionei o BookTrailer que uma amiga fez para a história ao Prólogo. Dê uma olhada lá ❤
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